Parte 4...— Onde você esteve todo esse tempo?— Longe - ela respondeu de modo displicente.— E o que fez?— Muitas coisas - ela mexeu os lábios de um lado para outro — Você vai querer um dossiê de minha vida? Tenho que anexar a folha corrida da polícia, provando que não roubei mais ninguém?Ele puxou o ar fundo. Ela estava sendo muito cínica e isso era irritante.— Não precisa agir dessa maneira - ele gesticulou — Eu não vou te atacar.— Eu agradeço - o sorriso dela não chegou aos olhos — Se você já disse o que queria - mostrou as sacolas — Eu tenho que entrar. As sacolas estão pesadas. E se você for me expulsar da cidade, pode esperar até que eu resolva os assuntos de minha avó?A cara que ela fazia era digna de um prêmio. A garota de antes jamais conseguiria fingir dessa forma.— Não tenho nenhuma intenção de fazer isso.— De novo, você quer dizer - ela meneou a cabeça — Só pra lembrar.A lembrança do dia em que finalmente entendeu que ela tinha ido embora da cidade, voltou com for
Parte 5...Quando ele olhou para a mão esquerda dela, Anelise ficou aliviada de ter se lembrado de retirar as duas alianças que usava. Uma era dela e a outra do marido. Usava as duas juntas desde que Haroldo morrera. O fazia presente na vida dela.A mão dele não tinha aliança. Ela não entendeu porque ele nunca se casou com a patricinha que a irmã dele era amiga. Valéria Franca. Uma loira oxigenada muito fresca e chata que que frequentava a casa dele.Márcia já tinha insinuado antes mesmo da confusão que Valéria queria se casar com Mathias.— E é sério?— Bastante - ela agora riu de leve.— E... Vocês são amantes? Namorados? - ele questionou carrancudo.— Fomos namorados - ela pensou no marido antes de se casarem de vez.— Não são mais?— Não quero me prender a ninguém. Não faz bem ao meu lado emocional ficar presa - ela alfinetou de novo — Está ótimo do jeito que está. Uma sombra recaiu sobre o pensamento dele. Era estranho pensar nela com outro. Ainda era.— E porque seu bom amigo
Parte 6...— Cuidado com esse aí, menina.Ela saiu dos pensamentos e olhou para a professora parada ao lado dela, com a sobrancelha levantada.— O que disse?— Esse aí tem fama de trocar de mulher como troca a cueca - deu uma risadinha — Você não tem maturidade para se envolver com ele. Melhor nem começar. Essa gente se acha.— Eu só conversei rápido com ele.— E ele a convidou para sair, eu ouvi - se inclinou para ela, balançando a cabeça — Ouça o que eu digo. Essa gente é podre de rica e a mais podre é a mãe dele - comentou — A irmã dele é uma peste disfarçada de boa menina - apontou o dedo — Se você vacilar, essa família vai te engolir como uma sucuri com a presa - avisou.— Por que está me dizendo isso? - franziu os olhos.— Porque eu conheço sua avó e sei que ela a criou muito protegida, sem mostrar as maldades do mundo. Homens como ele só querem se divertir. Anote minhas palavras.A professora bateu de leve no ombro dela e se afastou. Anelise ficou pensativa, mas achava que ela
Parte 1...Ela acordou cheia de saudades de seus bebês. Sabia que estavam bem, mas sentia falta deles, de sua voz de sono pela manhã e mais ainda dos beijos e abraços.Anelise tinha muita sorte de ter filhos carinhosos e apegados a ela. Isso fazia sua vida mais fácil.Quando Haroldo ainda era vivo, ele colocava os dois na cama com eles e contava histórias até que dormissem, depois os levava para suas camas. Mesmo com muito trabalho ele sempre tinha tempo para a família reunida.Ele era um homem formidável e fazia tudo pela família. Depois de um tempo ela aprendeu a amá-lo e quando lhe contou que estava grávida de novo, foi emocionante. Tão diferente de Mathias. Eram homens opostos.Ela suspirou. Seria seu primeiro dia na direção de seu plano. Escolheu as roupas simples que comprara em um brechó, tênis e uma bolsa pequena. Tudo o oposto de suas roupas de grifes famosas, de seus sapatos de designer único.Apenas por baixo ela continuava a mulher rica que era. Sua roupa íntima era da V
Parte 2...— Você tem experiência como garçonete?— Não - ela mexeu o ombro — Mas eu sempre trabalhei duro em outros empregos.— Bem, não é um bicho de sete cabeças - guardou a folha na gaveta — Logo você pega o jeito, as meninas vão te ajudar e eu também. Não sou uma feitora de escravos. Gosto de gente trabalhadora e responsável.— Ah, isso eu sou.— Ótimo. Pode começar agora mesmo. Os horários nós acertamos mais tarde quando eu fizer a planilha de trabalho incluindo você - explicou — Tem uma hora de descanso e as gorjetas são suas. Alguns dias vai pegar o horário noturno. Algum problema?— Não, de forma alguma.Lorena franziu o rosto.— Quantos anos você tem?— Farei vinte e sete em breve.— E não tem ninguém para sair à noite? Um namorado?— Não!O modo rápido e frio como ela falou chamou a atenção.— Certo... Acho que te entendo - ela sorriu balançando a cabeça — Nada de homens em sua vida, não é? Sei bem como é isso.Lorena não insistiu em questionar nada. Passou os detalhes do s
Parte 3...— E por acaso você conhece mais de uma? - ele mexeu a cabeça — Porque eu só conheço a que eu namorei e me abandonou.Luiza ficou chocada com a revelação. Esse era um nome que ela tinha colocado no fundo da gaveta e que esperava nunca mais voltar a ouvir na vida.— Não pode ser - ela cruzou os dedos das mãos apertando.— Pode sim. Eu a vi... Falei com ela... E lhe dei um emprego.— Você fez o que? - ela quase gritou.Luiza sentiu uma pancada, como um fio de medo que o passado voltasse para assombrá-la agora e que fosse muito pior do que foi na época. Ela já tinha vivido tempo demais guardando o erro e a culpa de ter afastado o filho de Anelise.Ela sabia que tinha forçado uma ideia na cabeça do filho e que isso iria afastá-lo de vez se chegasse a descobrir toda a verdade. Seria péssimo para ela.Ele jamais aceitaria o que ela e a irmã haviam feito. Elas guardavam o segredo a todo custo, como se fosse um pecado inconfessável. Só que Anelise era o outro lado da história e ela
Parte 4...Ele sofreu muito com sua partida. Realmente era apaixonado por Anelise, mas ela o traíra da pior forma possível e ainda tentara roubar sua família.Foi isso o que ele pensou no momento da revelação e enlouqueceu de raiva e frustração.Só que um tempo depois, Jonas contou a verdade para sua mãe. Anelise nunca participara do roubo. Ela nem mesmo sabia. E o mais estraho foi que a mãe não quis mandar prendê-lo, com a desculpa de proteger seu nome das fofocas.Ela afirmou que isso não seria bom para os negócios e sujaria o nome da família com um escândalo. Dizia que muitos que tinham inveja do poder deles iria aproveitar a chance.Ele errou em não insistir, em deixar que ela resolvesse, apenas por ser cabeça dura. Ficou com muita raiva. Só quando soube que ela nem sabia do roubo que ele começou a prestar atenção.Ele errou muito. Deveria ter ido ao fundo dessa sujeira, mesmo com toda decepção, mas estava muito magoado e com o ego ferido para pensar direito.Se sentia fraco por t
Parte 5...Três dias haviam se passado. Anelise aproveitou para se entrosar com os funcionários. Mentalmente ela gravou o jeito de cada um para saber como prosseguir.Alguns eram mais falantes e esses eram os que interessavam realmente. Eram mais expansivos. Ela gostou de uma garçonete chamada Diana.Era uma negra, alta, magra, muito bonita, com vinte anos de idade e um sorriso enorme. Diana morava em um cortiço com os pais e fazia supletivo para terminar o curso. Era animada e parecia ser uma pessoa positiva.Ela a fez recordar seu próprio passado. De certa forma elas eram parecidas. Diana também tinha uma certa ingenuidade, apesar da idade e isso a fez simpatizar de cara com ela.Aproveitou o horário do almoço para ficar por dentro de alguma notícia sobre a família. O restaurante era de Mathias, mas já sabia que a mãe dele aparecia muito no local.Foi bom saber para poder se preparar. Também percebeu que Lorena não era muito simpatizante da mãe e nem da irmã dele. Estava de olhos e