Parte 2...Ela recebia uma pequena pensão do governo pelos anos de trabalho na fábrica de sapatos, mas depois que Anelise se casou com Haroldo, começou a receber uma mesada que ele lhe enviava. No início ela se negou, porém Haroldo era ótimo para convencer os outros e ela aceitou. Isso fez com que vivesse mais tranquila, sabendo que a avó não tinha mais problemas com dinheiro.Anelise não sabia bem quanto tempo ela ficaria na cidade, mas esperava que fosse pouco. Só o suficiente para finalizar seu plano e nem um dia a mais.O quarto que tinha sido da avó ficaria para ela agora e o dela iria montar um pequeno escritório para poder trabalhar e falar com a família. Apesar de estar longe, não deixaria de ficar ligada no que acontecia por lá.Não era nada fácil estar ali após todos os anos e passou um bom tempo chorando, deitada na cama da avó, abraçada ao seu travesseiro. Chorou tanto que ficou sem lágrimas.Respirou fundo. Ela sabia de quem era a culpa por não ter cuidado da avó como s
Parte 3...Ela foi irônica. Ele ficou rígido.— Vim confirmar se era você. O que faz aqui na cidade?— Pensei em aproveitar que tive que voltar, para roubar sua família de novo - foi mais irônica e cruel na piada, lhe devolvendo o olhar frio na mesma moeda — É uma boa hora para roubar mais coisas - indicou a casa com a cabeça — Agora tenho onde esconder melhor.Ele ficou incomodado com a resposta e enfiou os dedos no cabelo, o sol brilhando entre os fios. Incrivelmente bonito, ela pensou. Mas conseguiu se segurar do impacto de vê-lo e manter o semblante calmo e sem mudanças.Ela lembrava como era enfiar os dedos naquela cabeleira macia e farta. Sempre gostou de seu cabelo.Ele soltou um suspiro fundo.— Três semanas depois de tudo, Jason voltou até nossa casa e confessou que você nunca roubara nada.Ela balançou a cabeça. Jason era um dos supostos amantes que a mãe dele pagara para mentir e criar histórias sobre ela. De acordo com o plano nojento e perverso dela, Anelise tinha mais d
Parte 4...— Onde você esteve todo esse tempo?— Longe - ela respondeu de modo displicente.— E o que fez?— Muitas coisas - ela mexeu os lábios de um lado para outro — Você vai querer um dossiê de minha vida? Tenho que anexar a folha corrida da polícia, provando que não roubei mais ninguém?Ele puxou o ar fundo. Ela estava sendo muito cínica e isso era irritante.— Não precisa agir dessa maneira - ele gesticulou — Eu não vou te atacar.— Eu agradeço - o sorriso dela não chegou aos olhos — Se você já disse o que queria - mostrou as sacolas — Eu tenho que entrar. As sacolas estão pesadas. E se você for me expulsar da cidade, pode esperar até que eu resolva os assuntos de minha avó?A cara que ela fazia era digna de um prêmio. A garota de antes jamais conseguiria fingir dessa forma.— Não tenho nenhuma intenção de fazer isso.— De novo, você quer dizer - ela meneou a cabeça — Só pra lembrar.A lembrança do dia em que finalmente entendeu que ela tinha ido embora da cidade, voltou com for
Parte 5...Quando ele olhou para a mão esquerda dela, Anelise ficou aliviada de ter se lembrado de retirar as duas alianças que usava. Uma era dela e a outra do marido. Usava as duas juntas desde que Haroldo morrera. O fazia presente na vida dela.A mão dele não tinha aliança. Ela não entendeu porque ele nunca se casou com a patricinha que a irmã dele era amiga. Valéria Franca. Uma loira oxigenada muito fresca e chata que que frequentava a casa dele.Márcia já tinha insinuado antes mesmo da confusão que Valéria queria se casar com Mathias.— E é sério?— Bastante - ela agora riu de leve.— E... Vocês são amantes? Namorados? - ele questionou carrancudo.— Fomos namorados - ela pensou no marido antes de se casarem de vez.— Não são mais?— Não quero me prender a ninguém. Não faz bem ao meu lado emocional ficar presa - ela alfinetou de novo — Está ótimo do jeito que está. Uma sombra recaiu sobre o pensamento dele. Era estranho pensar nela com outro. Ainda era.— E porque seu bom amigo
Parte 6...— Cuidado com esse aí, menina.Ela saiu dos pensamentos e olhou para a professora parada ao lado dela, com a sobrancelha levantada.— O que disse?— Esse aí tem fama de trocar de mulher como troca a cueca - deu uma risadinha — Você não tem maturidade para se envolver com ele. Melhor nem começar. Essa gente se acha.— Eu só conversei rápido com ele.— E ele a convidou para sair, eu ouvi - se inclinou para ela, balançando a cabeça — Ouça o que eu digo. Essa gente é podre de rica e a mais podre é a mãe dele - comentou — A irmã dele é uma peste disfarçada de boa menina - apontou o dedo — Se você vacilar, essa família vai te engolir como uma sucuri com a presa - avisou.— Por que está me dizendo isso? - franziu os olhos.— Porque eu conheço sua avó e sei que ela a criou muito protegida, sem mostrar as maldades do mundo. Homens como ele só querem se divertir. Anote minhas palavras.A professora bateu de leve no ombro dela e se afastou. Anelise ficou pensativa, mas achava que ela
Parte 1...Ela acordou cheia de saudades de seus bebês. Sabia que estavam bem, mas sentia falta deles, de sua voz de sono pela manhã e mais ainda dos beijos e abraços.Anelise tinha muita sorte de ter filhos carinhosos e apegados a ela. Isso fazia sua vida mais fácil.Quando Haroldo ainda era vivo, ele colocava os dois na cama com eles e contava histórias até que dormissem, depois os levava para suas camas. Mesmo com muito trabalho ele sempre tinha tempo para a família reunida.Ele era um homem formidável e fazia tudo pela família. Depois de um tempo ela aprendeu a amá-lo e quando lhe contou que estava grávida de novo, foi emocionante. Tão diferente de Mathias. Eram homens opostos.Ela suspirou. Seria seu primeiro dia na direção de seu plano. Escolheu as roupas simples que comprara em um brechó, tênis e uma bolsa pequena. Tudo o oposto de suas roupas de grifes famosas, de seus sapatos de designer único.Apenas por baixo ela continuava a mulher rica que era. Sua roupa íntima era da V
Parte 2...— Você tem experiência como garçonete?— Não - ela mexeu o ombro — Mas eu sempre trabalhei duro em outros empregos.— Bem, não é um bicho de sete cabeças - guardou a folha na gaveta — Logo você pega o jeito, as meninas vão te ajudar e eu também. Não sou uma feitora de escravos. Gosto de gente trabalhadora e responsável.— Ah, isso eu sou.— Ótimo. Pode começar agora mesmo. Os horários nós acertamos mais tarde quando eu fizer a planilha de trabalho incluindo você - explicou — Tem uma hora de descanso e as gorjetas são suas. Alguns dias vai pegar o horário noturno. Algum problema?— Não, de forma alguma.Lorena franziu o rosto.— Quantos anos você tem?— Farei vinte e sete em breve.— E não tem ninguém para sair à noite? Um namorado?— Não!O modo rápido e frio como ela falou chamou a atenção.— Certo... Acho que te entendo - ela sorriu balançando a cabeça — Nada de homens em sua vida, não é? Sei bem como é isso.Lorena não insistiu em questionar nada. Passou os detalhes do s
Parte 3...— E por acaso você conhece mais de uma? - ele mexeu a cabeça — Porque eu só conheço a que eu namorei e me abandonou.Luiza ficou chocada com a revelação. Esse era um nome que ela tinha colocado no fundo da gaveta e que esperava nunca mais voltar a ouvir na vida.— Não pode ser - ela cruzou os dedos das mãos apertando.— Pode sim. Eu a vi... Falei com ela... E lhe dei um emprego.— Você fez o que? - ela quase gritou.Luiza sentiu uma pancada, como um fio de medo que o passado voltasse para assombrá-la agora e que fosse muito pior do que foi na época. Ela já tinha vivido tempo demais guardando o erro e a culpa de ter afastado o filho de Anelise.Ela sabia que tinha forçado uma ideia na cabeça do filho e que isso iria afastá-lo de vez se chegasse a descobrir toda a verdade. Seria péssimo para ela.Ele jamais aceitaria o que ela e a irmã haviam feito. Elas guardavam o segredo a todo custo, como se fosse um pecado inconfessável. Só que Anelise era o outro lado da história e ela