Parte 6...
Ela passou o resto dia pensando no que Hugo lhe dissera. Era claro que ele não aprovava suas ações, mas poderia tentar ver que a questão maior era ter o controle dos negócios.
A pequena companhia Free Carnes já estava quase nas mãos dela, só faltava o alvo maior que era a empresa dele.Estava guardando as roupas simples que havia comprado nas malas usadas que Ludimila lhe dera para levar. Ela não entendera nada quando quis comprar suas malas velhas e ela fez um breve resumo do que queria. Não contou detalhes pois isso não importava, mas a informou de que seria um tipo de espiã.Ludimila riu, mesmo não entendendo nada do que ela dissera. O importante era ajudá-la.— Pode ficar com elas, são velhas.— Eu vou pagar por elas, assim poderá comprar outras.— Tudo bem, então - sorriu e saiu do quarto.— Mami... Onde “cê” vai? - Beatriz subiu na cama carregando seu velho urso de pelúcia azul.— Mamãe vai fazer uma viagem de trabalho.— E vai demorar?Ela olhou o rostinho lindo de sua pequena. Beatriz estava gorducha, o que a deixava ainda mais linda. Ela era muito parecida com o pai. Tinha os mesmos cabelos loiros de Haroldo e os olhos castanhos esverdeados. Era muito inteligente e ativa.Antes dela responder, Alan entrou no quarto.— Vai viajar de novo mamãe?— Só por um tempo, meu amor - beijou sua cabeça — Eu preciso ir por causa dos negócios, você sabe.— Ah, mãe - fez um bico contrariado.Ela respirou fundo. Apesar de amar loucamente os filhos, ela não poderia deixar de seguir seus planos por causa deles. Os dois estavam bem e ficariam seguros sob os cuidados de Felipe e Ludimila.Alan era teimoso e determinado, mas muito carinhoso. Fisicamente ele era a cópia do pai. O cabelo preto muito escuro, olhos castanhos, nariz bem feito e a boca grande vermelha. Com certeza ele seria tão alto quanto Mathias. Seus dois filhos eram parecidos com os pais fisicamente, mas tinham muito dela emocionalmente, especialmente no gênio.Ela amou Haroldo ao seu modo, mas Mathias conquistou seu coração e seu corpo antes. Tinha sido seu primeiro amor. Eram dois homens diferentes no físico e no caráter.O que Mathias tinha feito com ela não era perdoável. Por mais que os anos passassem, ela não conseguiria esquecer tudo o que sentiu quando ele usou seu corpo e se aproveitou de sua inocência.Ela realmente acreditava no que ele dizia e caiu como uma tonta nos braços dele.A vergonha tinha sido tão grande quanto o medo de pagar por algo que nunca tinha feito. Tinha sido tão humilhante ouvir tudo o que a irmã dele dizia sobre ela. Falsas acusações. A mãe também tinha pisado nela e era a mais interessada em afastar os dois.Porém, ele tinha dado o golpe final em seu coração. O que poderia ter sido uma linda história de amor, acabou sendo um pesadelo em sua vida. Ela não merecia isso. Ela mentiu a idade porque sabia que ele não namorava garotas menores de idade e quando ele a notou, ela não quis perder a chance. Já o admirava há algum tempo em segredo e o achava o homem mais lindo que ela já vira. Era uma tonta de dezesseis anos contra um homem de vinte e oito. A diferença de mentalidade entre eles era maior do que a idade que era só um número.Quando o caso deles começou, ela acreditou que ele a amava. Ele dizia que ela era a única que o fazia perder o controle.A mãe e a irmã dele a odiavam. Para as duas, ela não era ninguém. Não tinha nome importante e com certeza não tinha uma fortuna assim como eles. Ela era só a neta órfã de uma velha empregada da fábrica de sapatos local.E ela trabalhava na escola municipal fazendo faxina por meio salário, em um programa de ajuda a jovens adolescentes da prefeitura.Para Luíza e Márcia Mazzaro, era uma vergonha que seu filho e irmão amado se misturasse com uma qualquer. Uma garota do povo, como a chamaram uma vez. Fechou os olhos recordando as palavras de Márcia.— Você é uma coitada sem classe - riu — Esse cabelo horroroso cor de ferrugem velha, magrela e esquisita - ela gargalhou com maldade — Espero que tenha aproveitado para comer enquanto estava com meu irmão. Parece um palito de pé.Enquanto ela e a mãe diziam coisas horríveis para ela, Mathias ria e a olhava estranho. Ele acreditou em tudo o que elas disseram e não a defendeu em nenhum momento.— Meu filho vai se casar com outra, com alguém do nosso meio - a olhou feio — Ele só estava se divertindo com você enquanto a hora do casamento não chega. Sua burra!Luíza queria que ele casasse com Amanda Figueroa, filha de um deputado e dono de várias fazendas. Eles eram da mesma idade e já os tinha visto juntos antes. Mas ele nunca se casou. Nem com Amanda e nem com outra mulher. Não sabia porquê.— Mami, mami - Bianca a chamou alto.— Oi, meu amor - sorriu, saindo de seu pensamento — O que é, minha linda? - respondeu lhe dando atenção.— Mami, eu quero ter uma cobra também - pulou na cama animada — Você deixa?— Agora não - ela dobrou uma calça — Já disse que só quando você estiver mais velha.Parte 7...— O Alan tem - fez um biquinho.— Porque eu sou mais velho e sou homem - disse sério.— Não é porque você é homem, meu amor - ela disse — É porque você tem quase dez anos e me mostrou que é responsável. Sua irmã pode ter uma também, mesmo ela sendo mulher - fechou uma das malas — Homens e mulheres são capazes de fazer a mesma coisa.— Mas os homens são mais fortes.— Homens e mulheres são iguais, Alan. As diferenças existem por igual em todos - o ensinou — Há mulheres que são mais fortes do que alguns homens no físico e na capacidade mental. A diferença é única, não é geral. Não se avalia a capacidade pelo gênero.— É sim - Bianca fez uma cara engraçada — Papai disse que mamãe era mais forte do que ele - balançou o cabelo.Ela sorriu emocionada.— Você lembra do que o papai dizia, meu amor? - a puxou para um abraço apertado.— Às vezes eu lembro - ela passou os bracinhos pelo pescoço da mãe e deitou a cabeça.— Eu também lembro, mãe - ele se agarrou a ela também.Momentos c
Parte 8...— Agora vamos ver quem não vai dormir - Felipe riu.— Me conta uma história, Felipe?— Qual você quer?— A do herói japonês.— Que história é essa? - Anelise alisou a cabeça do filho e o beijou na bochecha.— O Felipe está me contando um monte de histórias, mãe - ele riu — Essa ainda falta terminar.— Vou contar só uma e você vai dormir - Felipe avisou.— Certo.Felipe o colocou no chão.— Você não deveria viajar agora. Ainda está se recuperando - falou para ela.— Eu também acho - Ludimila pegou Bianca no colo — Dê um beijo de boa noite na mamãe e vamos para o quarto.— Boa noite, boneca - a beijou — Durma bem.Felipe ainda pediu que ela adiasse ou o levasse com ela, mas Anelise negou.— Sou seu guarda-costas - lembrou-a.— E é excelente - tocou seu ombro — Mas prefiro que fique ao lado das crianças.— E a gente vai brincar - Alan o abraçou.— Viu só que serviço bom? - ela riu — Onde vai ganhar um abraço gostoso assim?— Só mesmo aqui - ele riu e saiu levando Alan pela mão
Parte 1...Mathias estava focado no documento aberto em sua tela do notebook. Há dois dias estava ocupado com a burocracia da empresa, o que era uma chatice e que o mantinha ocupado até demais para o gosto dele, que preferia ficar no campo.Sua secretária bateu na porta e abriu um pouco.— Entre, Priscila.Ela entrou trazendo uma bandeja pequena com café e colocou a xícara na mesa ao lado do notebook.— Tem duas chamadas de sua prima, Camila - informou.— Na certa quer me pedir outro empréstimo - tirou os óculos.— Ela disse que tem algo importante para lhe falar. Pediu que ligasse para ela assim que possível.Camila era sua prima em segundo grau e tinha uma língua maior do que o corpo. Adorava três coisas. Dinheiro, fofoca e homem. Não se dava bem com nenhum deles.Ele mesmo já a ajudara com um empréstimo que ela levou quase três anos para pagar de volta. Mas não era de ligar para ele no trabalho. Ficou curioso.— Obrigado, Priscila. Vou ligar para ela.— Ok. Volto daqui a pouco para
Parte 2...Ela recebia uma pequena pensão do governo pelos anos de trabalho na fábrica de sapatos, mas depois que Anelise se casou com Haroldo, começou a receber uma mesada que ele lhe enviava. No início ela se negou, porém Haroldo era ótimo para convencer os outros e ela aceitou. Isso fez com que vivesse mais tranquila, sabendo que a avó não tinha mais problemas com dinheiro.Anelise não sabia bem quanto tempo ela ficaria na cidade, mas esperava que fosse pouco. Só o suficiente para finalizar seu plano e nem um dia a mais.O quarto que tinha sido da avó ficaria para ela agora e o dela iria montar um pequeno escritório para poder trabalhar e falar com a família. Apesar de estar longe, não deixaria de ficar ligada no que acontecia por lá.Não era nada fácil estar ali após todos os anos e passou um bom tempo chorando, deitada na cama da avó, abraçada ao seu travesseiro. Chorou tanto que ficou sem lágrimas.Respirou fundo. Ela sabia de quem era a culpa por não ter cuidado da avó como s
Parte 3...Ela foi irônica. Ele ficou rígido.— Vim confirmar se era você. O que faz aqui na cidade?— Pensei em aproveitar que tive que voltar, para roubar sua família de novo - foi mais irônica e cruel na piada, lhe devolvendo o olhar frio na mesma moeda — É uma boa hora para roubar mais coisas - indicou a casa com a cabeça — Agora tenho onde esconder melhor.Ele ficou incomodado com a resposta e enfiou os dedos no cabelo, o sol brilhando entre os fios. Incrivelmente bonito, ela pensou. Mas conseguiu se segurar do impacto de vê-lo e manter o semblante calmo e sem mudanças.Ela lembrava como era enfiar os dedos naquela cabeleira macia e farta. Sempre gostou de seu cabelo.Ele soltou um suspiro fundo.— Três semanas depois de tudo, Jason voltou até nossa casa e confessou que você nunca roubara nada.Ela balançou a cabeça. Jason era um dos supostos amantes que a mãe dele pagara para mentir e criar histórias sobre ela. De acordo com o plano nojento e perverso dela, Anelise tinha mais d
Parte 4...— Onde você esteve todo esse tempo?— Longe - ela respondeu de modo displicente.— E o que fez?— Muitas coisas - ela mexeu os lábios de um lado para outro — Você vai querer um dossiê de minha vida? Tenho que anexar a folha corrida da polícia, provando que não roubei mais ninguém?Ele puxou o ar fundo. Ela estava sendo muito cínica e isso era irritante.— Não precisa agir dessa maneira - ele gesticulou — Eu não vou te atacar.— Eu agradeço - o sorriso dela não chegou aos olhos — Se você já disse o que queria - mostrou as sacolas — Eu tenho que entrar. As sacolas estão pesadas. E se você for me expulsar da cidade, pode esperar até que eu resolva os assuntos de minha avó?A cara que ela fazia era digna de um prêmio. A garota de antes jamais conseguiria fingir dessa forma.— Não tenho nenhuma intenção de fazer isso.— De novo, você quer dizer - ela meneou a cabeça — Só pra lembrar.A lembrança do dia em que finalmente entendeu que ela tinha ido embora da cidade, voltou com for
Parte 5...Quando ele olhou para a mão esquerda dela, Anelise ficou aliviada de ter se lembrado de retirar as duas alianças que usava. Uma era dela e a outra do marido. Usava as duas juntas desde que Haroldo morrera. O fazia presente na vida dela.A mão dele não tinha aliança. Ela não entendeu porque ele nunca se casou com a patricinha que a irmã dele era amiga. Valéria Franca. Uma loira oxigenada muito fresca e chata que que frequentava a casa dele.Márcia já tinha insinuado antes mesmo da confusão que Valéria queria se casar com Mathias.— E é sério?— Bastante - ela agora riu de leve.— E... Vocês são amantes? Namorados? - ele questionou carrancudo.— Fomos namorados - ela pensou no marido antes de se casarem de vez.— Não são mais?— Não quero me prender a ninguém. Não faz bem ao meu lado emocional ficar presa - ela alfinetou de novo — Está ótimo do jeito que está. Uma sombra recaiu sobre o pensamento dele. Era estranho pensar nela com outro. Ainda era.— E porque seu bom amigo
Parte 6...— Cuidado com esse aí, menina.Ela saiu dos pensamentos e olhou para a professora parada ao lado dela, com a sobrancelha levantada.— O que disse?— Esse aí tem fama de trocar de mulher como troca a cueca - deu uma risadinha — Você não tem maturidade para se envolver com ele. Melhor nem começar. Essa gente se acha.— Eu só conversei rápido com ele.— E ele a convidou para sair, eu ouvi - se inclinou para ela, balançando a cabeça — Ouça o que eu digo. Essa gente é podre de rica e a mais podre é a mãe dele - comentou — A irmã dele é uma peste disfarçada de boa menina - apontou o dedo — Se você vacilar, essa família vai te engolir como uma sucuri com a presa - avisou.— Por que está me dizendo isso? - franziu os olhos.— Porque eu conheço sua avó e sei que ela a criou muito protegida, sem mostrar as maldades do mundo. Homens como ele só querem se divertir. Anote minhas palavras.A professora bateu de leve no ombro dela e se afastou. Anelise ficou pensativa, mas achava que ela