Dois

Madelaine

A batida forte na porta faz eu me sentar na cama.

— Abre a porta Maddy! — Dailah grita do outro lado.

Faço uma careta.

— Não estou me sentindo bem — digo.

E não é exatamente uma mentira.

— Você está assim a dias. Já chega, abre a porta! Não me faça pegar a cópia da chave — diz firmemente.

Não posso esquecer que estou na casa dela de favor, ela tem todo direito de fazer isso.

— Não precisa, já vou abrir! — grito jogando o cobertor no chão.

Vou até a porta me esquivando da bagunça.

— O que foi? — pergunto, abrindo a porta vendo Dailah me olhando com os braços cruzados e com uma expressão nada amistosa.

Coço os olhos, vendo Candice surgir atrás de Dailah me olhando com uma expressão incrédula.

— Meu Deus! — Ela fala cobrindo a boca com as mãos.

— Eu te disse — Dailah fala olhando para ela.

— Eu não acredito que você está nesse estado Maddy — Candice fala colocando as mãos na cabeça.

Olho para meu pijama manchado e levando o braço aproximando o meu rosto da axila sentindo um odor horrível, faço uma careta.

Candice faz uma cara de nojo.

— Você está um lixo! E eu já estou cansada de te ver assim. Cadê aquela mulher foda que metia medo na gente? — Dailah fala esbarrando em mim e entrando no quarto — meu Deus isso aqui tá um lixo.

— Me desculpe — digo abaixando a cabeça, me sentindo envergonhada.

— Não peça desculpas Madelaine, você não é assim. Olhe só para você. Já chega — Candice fala me entregando uma sacola entrando no quarto em seguida.

A sigo, vendo ela e Dailah se entreolharem.

— Você não vai se autodestruir por causa de gente escrota. Não vai mesmo — Dailah afirma cruzando os braços.

Jogo a sacola na cama e me jogo em seguida.

— Você se livrou de um embuste, saiu de um emprego que estava sugando sua alma, isso não o fim do mundo — Dailah fala juntando as embalagens do chão.

— Embuste que roubou o meu apartamento, meu carro e a minha dignidade — falo rápido.

— Olha amiga, o que aquele merda fez é horrível, mas tenha certeza de que em algum momento ele vai pagar por isso, o carma é real e ele adora ferrar com gente que nem ele, pode demorar, mas pode ter certeza que vai rolar — Candice dá uma piscadela e um sorriso maléfico.

Eu realmente espero que ela esteja certa.

— Espero no mínimo que a siliconada meta um chifre nele o deixe sem nenhum centavo — completa esfregando as mãos.

Dou uma risada fundo e ela me acompanha.

— E aquele seu emprego era uma merda. Você não tinha vida, você respirava por aquele banco e olha o que aconteceu — Dailah completa.

— Não precisa jogar na minha cara — respiro fundo.

— Não estou jogando nada na sua cara, estou aqui fazendo você enxergar o lado bom no meio de tudo isso. A sua vida não acabou Madelaine — diz num tom repreensivo.

Traída, roubada e desempregada, acho que não tem lado bom nisso.

— Você precisa reagir, encontrar um emprego, conhecer um cara gostoso e pauzudo que te faça ver estrelas — Candice fala me fazendo dar uma risada.

— Sabemos que você não sabe o que é um orgasmo há anos

— E ainda aceitou casar-se com aquele ovo mole — Candice finge um vômito.

— Quando foi que minha vida sexual virou pauta? — pergunta, tentando ficar séria.

— Estamos mentindo?

O pior é que elas tinham razão, o sexo com Alvim estava sendo horrível, na verdade nunca foi dos melhores, no final eu nem sentia mais vontade de transar.

Meu Deus! Como eu ia me casar com alguém que nem me fazia gozar?

— Qual é Maddy você nem amava ele, seus olhos nem brilhavam quando falava dele, ele era insuportável — Dailah revira os olhos.

No final elas estavam certas sobre aquele energúmeno.

— Mandei currículos seus para todos os lugares possíveis — Andresa fala.

Arregalo os olhos espantada.

— Marquei terapia online para você, te mandei o link no W******p — Dailah completa.

— Vocês o que?

— O que ouviu — respondem em uníssono.

Por que elas estavam fazendo isso?

— Eu não preciso de terapia — afirmo me levantando e pegando meu celular na cômoda.

— Todo mundo precisa de terapia Madelaine.

Respiro fundo sentindo um engasgo.

— Por que vocês estão fazendo isso? — tento não embargar a voz.

— Porque te amamos, e queremos ver você bem. Você é uma mulher foda Madelaine, inteligente, linda, intimidante, temos orgulho de você.

Elas estão dispostas a me fazer chorar.

Dailah e Candice são minhas melhores amigas a anos, nos conhecemos no ensino médio e nunca mais nos afastamos. Nós três somos completos diferentes, Dailah é uma ruiva linda e sarada, formada em educação física, é apaixonada por esportes, já participou de vários campeonatos esportivos, não é chegada a relacionamentos, sempre optou por algo mais casual. Candice é uma negra linda, cabelos longos e cacheados, alta e magra, sempre chamou a atenção por onde passa, sempre falei que ela deveria ter seguido a carreira de modelo, é formada em fisioterapia, sempre foi a mais romântica de nós três, se casou a dois anos com um cardiologista que conheceu no hospital que trabalha. Eu sou a mais baixinha de nós três, por isso abuso do salto alto, não tenho nada muito atrativo, ou uma beleza fora do normal, só mais uma loira pálida e comum, que precisa de muita maquiagem para se sentir bonita.

Nossas personalidades são completamente diferentes, e acredito que são essas diferenças que nos completam. Elas são a família que eu escolhi, e posso dizer com convicção que escolhi certo.

— Na sacola tem roupa de treino e um tênis, tome um banho, vista e vamos correr no parque e depois tomar um café superfaturado — Dailah diz indo até a cama e tirando as coisas dentro da sacola.

— Queremos a nossa amiga de volta — Candice vem até mim e me puxa para um abraço.

Logo Dailah se junta a nós em um abraço triplo. Então eu desabo, deixo as lágrimas descerem, enquanto sou amparada por elas.

Era a primeira vez que chorava na frente delas dessa forma. Elas sempre me viram como uma mulher forte, e agora eu sinto que parecia outra pessoa.

— Estamos aqui por você — Dailah afaga os meus cabelos.

— Obrigada — digo em meio aos soluços — Eu amo vocês.

— Vou te soltar porque seu desodorante venceu — Candice fala e eu fecho a cara.

— Idiota! — faço uma careta.

— Já ligou para seus pais? — Dailah pergunta.

Nego com a cabeça.

— Você precisa falar com eles — Candice cruza os braços.

— Eu vou ligar, só não é o momento — digo dando de ombros — Acho melhor eu tomar banho, e me arrumar — digo para desconversar.

Não quero falar sobre como me sinto em relação a contar o que aconteceu comigo para os meus pais agora.

Se eu me negar a sair, tenho certeza que elas me arrastam para fora. Elas estão empenhadas. E não posso negar que eu precisava dessa sacudida.

***

Termino de secar o cabelo e tento prender ele em um pequeno rabo de cavalo, pela primeira vez desde que cortei sinto saudade dos fios longos, escolhi cortar porque me pouparia mais tempo em me arrumar e também pensei que poderia me fazer parecer mais séria.

Aumento o buraco na camada de ozônio exagerando no desodorante, trauma. Borrifo perfume, passo protetor solar e um gloss.

O sacode das minhas amigas me fizeram bem. Eu estava precisando ouvir tudo que elas disseram, no fundo eu sabia de tudo aquilo, mas não queria aceitar. E como se dormir, chorar e comer porcaria fosse mais fácil. Mas estava me arrastando para o fundo do poço.

Talvez amanhã eu acorde deprimida, e tudo bem, mas eu estou disposta a mãe esforçar e não deixar que toda essa merda seja eminente.

O barulho do meu celular vibrando chama minha atenção. Olho ao redor procurando pelo aparelho no meio da bagunça. Assim que o encontro vejo que se trata de uma ligação da minha mãe.

Sinto um frio na espinha.

Eu disse para ligar somente em caso de emergência, o que faz com que eu a atenda rapidamente.

— Mãe?

Ouço sua respiração irregular do outro lado da linha.

— Fi...filha — ela está chorando.

Sinto minhas pernas amolecerem.

— Mãe está tudo bem? — minha voz soa trêmula.

— O seu pai, filha...— soluça.

— O que...que houve com o papai? — sinto um calafrio ainda maior.

— Ele teve um princípio de infarto...

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