Cinco

Madelaine

Ganhei anos de vida depois de um banho quente. Era tudo que eu precisava depois de um voo horroroso na classe econômica com uma escala desnecessária, acho que as empresas aéreas fazem isso de propósito.

Termino de secar o cabelo no instante em que vejo que Dailah está me ligando por vídeo.

Ela não iria desistir até que eu atendesse, já que não havia respondido as mensagens dela.

Ela e Candice eram um poço de preocupação.

— Oi — atendo segurando o celular e me sentando na cama.

— Ela atendeu Candice, sua vadia desnaturada...— grita, e vejo Candice surgir detrás dela.

— Estou exausta, quis tomar um banho antes de ligar para vocês — ajeito o cabelo olhando minha imagem na tela.

Dailah revira os olhos.

— A gente estava preocupada com você — Candice fala pegando o celular da mão de Dailah.

Dou uma risadinha.

— Estou bem, e ainda na civilização — brinco.

Ela balança a cabeça de um lado para o outro.

— Sabe o que eu a Dailah pensamos disso, ainda mais você indo assim, sem nem falar nada para os seus pais — fecha o semblante.

— Ela enlouqueceu Candice — ela faz uma careta prendendo o cabelo em um coque.

— Gente, meu pai está doente, cheio de problemas, eles precisam de mim — afirmo.

— Mas poderia ser só uma visita, não ir para ficar de vez — Dailah insiste.

Eu pensei nessa possibilidade, porém quando minha mãe contou sobre tudo que estava acontecendo e o risco de perder a fazenda, eu soube que eles precisavam de mim, e eu já não tinha mais nada em New York. Não queria ficar incomodando Candice e Dailah, elas já tinham as suas vidas.

— Você não vai aguentar morar no meio do nada — Candice fala.

Fácil não seria, mas eu precisava.

Balanço a cabeça.

— Você está na casa da Dailah? — pergunto buscando desviar o assunto.

— Luan está de plantão, e Dailah não estava a fim de sair hoje, vamos ver um filme e comer porcaria — levanta um pacote de bala de goma.

— E está faltando você aqui, sua desnaturada — Dailah grita.

— Eu já estou com saudades — falo fazendo um beicinho.

— Acho bom que esteja — Candice fecha a cara.

Eu queria estar lá com elas agora.

— Bom, como viu, estou bem — dou um sorriso amarelo — Vou pedir algo para comer e tentar dormir — digo.

— O QUE!? — Dailah grita tomando o celular da mão de Candice.

— Aí...não grita Dailah — Candice a repreende.

— Você enlouqueceu? Está na terra do country, dos melhores barzinhos, terra dos cowboys, e vai pedir algo para comer e tentar dormir?

— É isso mesmo — confirmo dando um sorrisinho.

— Você vai passar uma maquiagem, vestir uma roupa gostosa e vai sentar em um desses barzinhos maravilhosos que eu sei que tem aí — fala com o dedo erguido.

Dou uma risada.

— Não ri de mim sua vadia — fecha a cara.

— Não é uma boa ideia, amanhã vou pegar estrada em um ônibus que nem vende passagem online — argumento.

— Maddy! Dailah tem razão, você devia sair e tomar uma bebida sei lá...

Talvez uma bebida me fizesse bem. Por um instante salivo por uma taça de vinho.

— Está tarde, e eu estou cansada — suspiro.

— Você se enfiar no meio do mato Maddy, aproveite o seu último dia na civilização, e não vem com essa de que está tarde, não é nem meia noite ainda — insiste.

Candice dá uma risada.

— No hotel que você está tem um bar não é? Lembro de ver nas fotos que você me mostrou — Candice fala, ficando ao lado de Dailah.

Invés de pedir serviço de quarto, descer para beber uma taça de vinho e comer alguma coisa, não seja uma ideia tão ruim.

— Talvez eu faça isso — digo sem muito ânimo.

— Quem sabe você não encontra um cowboy e tira a prova sobre o que dizem sobre eles — Dailah diz bastante empolgada.

Dou uma risada.

— O que dizem sobre eles? — Candice pergunta tentando pegar o celular.

— Eles têm uma pegada surreal, queria experimentar — se abana.

— Não obrigada — digo.

— Esqueci que você só gosta de engomadinhos — Dailah faz uma careta

— Não é isso, é que esses homens mais rústicos não fazem muito o meu tipo...— afirmo.

— Vai se arrumar, coloque uma roupa que deixe gostosa, estaremos esperando uma foto — Candice fala agora segurando o celular.

— Isso mesmo. E se encontrar um cowboy, me faz um favor. Senta gostoso nele — Dailah enfia na frente de Candice dando uma piscadela.

Dou uma risada, pensando, que a última coisa que eu precisava era de sexo casual.

Caminho pelo corredor que leva ao bar do hotel.

As paredes do corredor são adornadas com quadros abstratos, e a iluminação é suave, criando uma atmosfera acolhedora e elegante.

Aceitei que mereço uma bebida hoje, depois da viagem longa e de toda a merda que tenho vivido. E logo estarei longe da cidade grande e de tudo que estou acostumada. Uma despedida de toda agitação, Austin não é New York, mas parece um tanto agitada quanto.

Sei que isso fará com que minhas amigas me deixem em paz. Mesmo sabendo que tudo isso é preocupação, e que elas querem me ver bem.

Caminho em direção ao bar, meus saltos ecoando levemente no chão de mármore. Vestir este vestido preto foi uma escolha perfeita; discreto, mas com um corte que acentua minhas curvas de maneira sutil. Me sinto bem, confiante, como em muitos dias não sentia. E, honestamente, estava com saudade de usar saltos. A maquiagem é discreta, apenas um delineado leve nos olhos, mas o batom vermelho dá aquele toque de ousadia que senti que estava precisando.

À medida que me aproximo do bar, ouço o som suave de conversas e o tilintar de copos. O bar é elegante, com poltronas de couro e mesas de madeira escura.

Paro na entrada do lugar, olhando ao redor. Uma onda de insegurança paira sobre mim, mas escolho não ceder.

É só um bar, e eu só vou tomar uma taça e vinho e comer algo leve. Não tenho com o que me preocupar.

O local não está cheio, alguns casais que nem notam a minha presença.

Passo os olhos pelo local, escolhendo onde iria me sentar. Dou alguns passos adentrando o lugar. A mesa de frente ao balcão parece atrativa.

Tenho a sensação de estar sendo observada, e ergo o olhar, agora em direção ao balcão, onde um barman olha em minha direção. Mas não é isso que chama a minha atenção e sim o homem, sentando-se ali, segurando uma garrafa de Corona na mão, olhando diretamente para mim. E não é qualquer tipo de olhar.

Eu deveria me incomodar, mas ao invés disso meus olhos percorrem cada centímetro dele. E, que homem, alguém como ele não passa despercebido.

Ele veste um terno preto impecável, que destaca perfeitamente sua figura atlética. A camisa branca sem gravata dá um toque de despretensão sofisticada.

Seus cabelos castanhos estão penteados para trás, revelando um rosto marcante com traços bem definidos, com uma fina camada de barba. Os olhos azuis, intensos e penetrantes, varrem o ambiente com uma mistura de curiosidade e confiança, um charme natural que o torna irresistível. Tento disfarçar, para que ele não perceba que estou o devorando com os olhos.

Percebo que estou a centímetros da mesa que escolhi.

Sinto os olhos dele ainda sobre mim. Deve ser algum tipo de pegadinha, eu não sou do tipo que chama a atenção de alguém tão gostoso assim.

Nossos olhares de cruzam no instante em que me sento. E percebo que meus lábios estão curvados em um sorriso.

Que merda eu acabei de fazer?

Ele leva a longneck até os lábios, se vira para o balcão ficando de costas para mim.

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