Madelaine Desço do ônibus e aguardo o motorista tirar minhas duas malas do bagageiro com a cara de quem comeu e odiou, aparentemente ele não está nem um pouco satisfeito com o seu trabalho. E eu nem posso julgá-lo. Noto que as malas estão cobertas de poeira. Agradeço ao homem e ouço ele resmungar sobre o tamanho e o peso das minhas malas. É triste saber que tudo que você tem cabe dentro de duas malas. Não, eu não vou lamentar. O karma vai fazer todos os fios de cabelo de Alvim cair, e aquele pau fino nunca mais vai subir. Essa cidade, essa rodoviária, meu Deus, é o ápice do fim do mundo. Os bancos estão meio caídos, a pintura está descascada, não vejo se quer uma bilheteria ou um balcão de informações. Mas é claro que não vai ter algo assim aqui, estou em um buraco. Olho para os lados, tentando encontrar um ponto de táxi, mas já sei que isso é pedir demais. Um ponto de táxi? Aqui? Se tiver sorte, posso achar uma carroça estacionada. Nem sinal de vida. Decido me aproximar da ú
Madelaine Se eu achei o ônibus ruim, e porque eu não imaginava que esse projeto de carro seria ainda pior. Eu poderia ter recusado, falando que iria pedir para minha mãe ou alguém da fazenda me buscar. Mas seria uma desfeita grande com Joanna que se empenhou para que o Caipira me levasse até a fazenda. Meus pais sempre me falavam que era muito perto, mas acho que eles não estavam falando a verdade, parece que tem uma eternidade que eu estou dentro desse carro ouvindo música Latina e espirrando de dois em dois minutos. Pelo menos consigo olhar a paisagem bucólica pela janela do carro, que pelo menos está limpa, diferente do resto do carro. Já está praticamente de noite, e o calor deu um lugar a imã chuva fina, acompanhada de uma brisa fria. O homem segue cantando, aliás assassinando a língua espanhola, batendo os dedos no volante. Apesar de excêntrico, me tratou com muito respeito, fazendo com que eu me sentisse segura, no decorrer do percurso na estrada deserta e cheia de buraco
Madelaine — Me desculpe mãe! Me desculpe! — digo sem sair do seu abraço.— Não acredito que você está aqui — segura o meu rosto olhando para mim, seus olhos estão cheios de lágrimas. — Eu sinto por muito... — digo com a voz embargada.— Oh minha filha! Não chore! Eu estava com tantas saudades — Volta a me abraçar.O seu abraço trazia consigo a sensação de lar, que a muito tempo eu não sentia.— Como você chegou aqui? Meu Deus! Você está toda molhada? Um pigarro faz nos duas nos afastarmos.John estava tentando arrastar as minhas malas pelas escadas. E por incrível que pareça ele conseguiu. Mas ele não disse que estava com a coluna ruim na hora de empurrar o carro?— Oh John, muito obrigado por ter trazido minha menina — minha mãe vai até ele puxando as malas.— Não tem de que não dona Mariza, tamo aqui para o que precisar — diz ajeitando a gola da camisa.A chuva havia cessado.— Quanto lhe devo? — Minha mãe pergunta ao homem.— Ah que isso dona Mariza, deve nada não — coça a cabe
Madelaine Depois de um banho, e descobrir que meus pais tinham montado um quarto incrível para mim, o que fez chorar por mais uns bons minutos, minha mãe me mostrou toda a casa e terminamos o tour no lugar onde eu estava mais ansiosa para conhecer, a cozinha, eu estou morrendo de fome. Escolhi contar toda merda que eu vivi, eles não fizeram nenhuma pergunta para mim sobre o motivo de eu ter vindo para morar aqui. Eles apenas me receberam de braços abertos, e estavam mais que felizes por me ter aqui.E a felicidade deles será o suficiente para eu deixar toda merda que eu vivi para trás.Mas não era justo que eles ficassem no escuro. Mas talvez não tenha sido uma decisão tão boa dado as feições do meu pai com o que acabei de falar.—Eu sabia, aquele cabelo lambido e aquelas pernas fina nunca me enganou — meu pai bate na mesa com os olhos faiscando.Não posso negar que meu pai sempre torceu o nariz para Alvim. Mas nunca achei uma implicância válida.— Walter você não pode estressar. Pe
DanielEncho a caneca com café quente enquanto olho o dia amanhecer. O cheiro do orvalho invade minhas narinas, despertando um amor profundo pela fazenda. Os sons da manhã, o canto dos pássaros, as cores que pintam o céu, eu amo tudo aqui.O tempo que passei em Austin foi suficiente para me deixar louco para voltar para casa. Além de ver minha irmã se formar, a única coisa boa daquele final de semana foi conhecer Madelaine.Mesmo tentando afastar os pensamentos sobre a mulher que praticamente fugiu de mim após de uma noite incrível ela insiste em não sair da minha mente. Por um instante, desejo que ela estivesse aqui, ao meu lado, vendo o nascer do sol. Quando a imagino sorrindo, não consigo tirar aquele sorriso lindo da cabeça.Trouxe a calcinha dela como uma espécie de amuleto. E já aceitei que é isso a única coisa que restou da nossa noite.Mas não posso ficar preso nisso. Ela foi embora sem deixar nem um telefone. Tenho muito a fazer: dois potros para domar e a tentativa de co
Madelaine Acordo lentamente, os lençóis macios e quentes ainda envolvendo meu corpo. Um som me desperta completamente: batidas na porta. Meu coração acelera, e ouço a voz do meu pai, chamando por mim.— Madelaine? Filha? O relógio digital antigo sobre a mesa de cabeceira marca 5:35.Preocupada salto da cama, os pés descalços tocando o chão frio. Eu corro até a porta, abrindo-a rapidamente, encontrando meu pai com um sorriso no rosto.O que é um bom sinal. — Pai? — não consigo segurar o Bocejo.— Oh minha filha, eu não devia ter te acordado. Ainda não descansou direito — fala, coçando a cabeça.— Tudo bem pai, não se preocupe. O senhor precisa de alguma coisa?— Então minha filha, você disse que queria ajudar aqui na fazenda, e que queria aprender como funciona as coisas por aqui, se você quiser eu posso começar a te mostrar agorinha mesmo...Mas só se você quiser filha.— Claro pai, quero sim. Agora? — dou uma rápida olhada para o relógio.— Aqui na fazenda as coisas começ
Madelaine Já faz uma semana que estou na fazenda dos meus pais. Aos poucos, vou me acostumando com a rotina e, honestamente, não é tão ruim quanto eu imaginava. Agora, conheço cada canto da fazenda e cavalgo tão bem que é como se fizesse isso há anos. Hoje mesmo me arrisquei a juntar as vacas no pasto. Não deu muito certo. Acordo antes do sol nascer e acompanho meu pai em todos os seus afazeres, enquanto minha mãe cuida de tudo na casa. Sinto uma exaustão profunda, pois trabalhar no campo é muito diferente do que fazia no banco, trancada em uma sala com ar-condicionado.Também acho que desenvolvi uma fobia de galinha, depois que duas simplesmente voaram em cima de mim.Nesse tempo, fui à cidade três vezes. Tento não reclamar do jeito como todos olham para mim e cochicham. Sweetwater é pequena, mas tem tudo o que meus pais precisam. E também tem uma cidade maior a trinta quilômetros.As pessoas aqui são curiosas demais, mas também muito hospitaleiras e gentis. Toda vez que vou
MadelaineEstaciono a caminhonete vermelho em frente à farmácia, e suspiro aliviada ao desligar o motor ruidoso. Essa caminhonete do meu pai é uma relíquia de 96, e não posso negar o quanto é terrível de dirigir, especialmente para quem se acostumou com carros automáticos como eu. Mas com a venda dos outros dois carros da fazenda, restou apenas ela.O céu já está azul, com poucas nuvens no céu. A cidade parece envolta em uma tranquilidade quase palpável. As ruas estão praticamente desertas, exceto por algumas poucas pessoas que se acomodam em cadeiras de fio nas portas de suas casas, conversando calmamente. A cena é nostálgica, e uma sensação de paz invade meu peito. Aqui, o tempo parece passar de uma forma diferente, mais lenta e suave.Desço da caminhonete, e Carrie faz o mesmo. Dou uma olhada ao redor. A farmácia à minha frente chama minha atenção. O letreiro é novo, iluminado por LEDs brancos, uma modernidade que destoa das fachadas antigas e desgastadas das casas vizinhas. A fa