MadelaineEstaciono a caminhonete vermelho em frente à farmácia, e suspiro aliviada ao desligar o motor ruidoso. Essa caminhonete do meu pai é uma relíquia de 96, e não posso negar o quanto é terrível de dirigir, especialmente para quem se acostumou com carros automáticos como eu. Mas com a venda dos outros dois carros da fazenda, restou apenas ela.O céu já está azul, com poucas nuvens no céu. A cidade parece envolta em uma tranquilidade quase palpável. As ruas estão praticamente desertas, exceto por algumas poucas pessoas que se acomodam em cadeiras de fio nas portas de suas casas, conversando calmamente. A cena é nostálgica, e uma sensação de paz invade meu peito. Aqui, o tempo parece passar de uma forma diferente, mais lenta e suave.Desço da caminhonete, e Carrie faz o mesmo. Dou uma olhada ao redor. A farmácia à minha frente chama minha atenção. O letreiro é novo, iluminado por LEDs brancos, uma modernidade que destoa das fachadas antigas e desgastadas das casas vizinhas. A fa
MadelaineA poeira levanta sob os pneus da caminhonete enquanto dirijo pela estrada de terra que leva até a fazenda. O sol lança um brilho dourado sobre os campos e as árvores, mas meu coração está inquieto. Carrie e eu conversamos todo o percurso, o que me deixa feliz por estarmos sendo companhia uma para outra. Ela contou um pouco da história do tal James e de como ele ainda ama a falecida esposa.De maneira sutil eu tentei dizer para ela que seria melhor ela seguir a vida e deixar de lado essa paixão platônica.À medida que me aproximo, vejo a cena que faz meu sangue gelar, meu pai está sentado na calçada da varanda, a expressão grave, com minha mãe, Natalie e Oswald ao redor dele. Algo está errado. Sinto um frio na espinha.Paro a caminhonete bruscamente e desço, o coração acelerado. Carrie corre ao meu lado, a preocupação estampada no rosto dela. Nos aproximamos.— O que está acontecendo? — pergunto, com minha voz tremenda.Meu pai está pálido, mais do que jamais o vi. Meu
Madelaine Estou furiosa, e não sei como consegui chegar tão rápido aqui sem cair do cavalo. Ao menos estou ficando boa nisso. Diante de mim está a casa da fazenda do desgraçado, enorme, duas vezes maior que a dos meus pais. Desço do cavalo com cuidado, o chão ainda está escorregadio depois da chuva da noite passada, apesar do sol forte que faz agora.De repente, ouço vários latidos atrás de mim, assustando o cavalo.— Calma, Caramelo, — digo, tentando acalmar o animal.Vários cachorros correm na minha direção, um de cada cor, inclusive tem um Husky. Penso no calor que o pobre animal deve estar sentindo.— Se acalmem galera, eu sou uma amiga — minto.Aos poucos, eles param de latir. São todos fofos, sempre quis ter um cachorro, mas em New York nunca tive tempo para isso. Na fazenda dos meus pais, não temos mais cachorros desde que os dois últimos morreram de velhice e doença. Minha mãe pegou trauma.Afirmo para mim mesma que não vou me distrair. Puxando Caramelo pela rédea, apr
Madelaine É como se ele estivesse feliz em me ver.— Não faz ideia do quanto te procurei naquele hotel loirinha...Ouço o homem que me trouxe murmurar um "nossa".Ele só pode estar de brincadeira.— Eu não sei do que você está falando? — digo ríspida.Ele dá uma risada olhando para baixo.Ele está se achando o máximo né?— Lúcio pode ir, eu resolvo aqui com a loirinha — ele fala.— Madelaine, meu nome é Madelaine. E você pode colocar uma camisa?Ele ri, se aproxima da porteira e pega uma camisa xadrez, veste e começa a fechar os botões.— Satisfeita? — sua voz é carregada de ironia.— Não eu não estou nenhum pouco satisfeita. Por que você não deixa o meu pai em paz? Ele não quer vender nada para você! — ergo a voz com dedo em riste.Ele sorri e eu cerro o punho irritada.O filho da mãe não está me levando a sério.— Por que você quer tanto que meu pai venda a fazenda? — pergunto, buscando me concentrar no motivo de estar aqui.Por que tinha que ser ele? Talvez no fundo
Daniel — Qual a probabilidade disso acontecer? É destino Daniel — Torence fala batendo a mão na mesa, depois de eu contar a ele sobre Madelaine, e claro que não dei muitos detalhes, mas falei o suficiente para meu amigo saber que ela tinha bagunçado minha cabeça.E ele definiu os meus pensamentos desde a tarde de ontem quando Madelaine personificou na minha frente.Destino, Deus, seja lá o que ou quem foi sabia o quanto eu queria ver ela de novo. Quando que eu imaginaria que a loirinha fujona era filha de Walter?. Está mais que explícito que ela está com ódio de mim. Mas eu realmente não quis fazer mal a saúde do pai dela. Ele ganha muito mais se vender as terras para mim, do que deixar elas serem leiloadas pelo banco.Acontece que agora eu não sei como agir. Madelaine nem me deu a chance de falar com ela.Ela tem o mesmo gênio terrível do pai, isso se não for pior.A razão diz para eu deixar isso para lá e esquecê-la , ela que foi embora do meu quarto sem deixar um númer
Madelaine Desligo a chamada de vídeo com Dailah e Candice e solto um suspiro frustrado. Minha cabeça gira com o escândalo que elas fizeram quando contei que havia reencontrado o homem com quem transei em Austin e que ele era o homem que estava importunando o meu pai para que ele vendesse a fazenda.Ainda bem que liguei para elas hoje, se eu tivesse ouvido toda essa baboseira ontem eu teria surtado ainda mais.Elas transformaram minha história em uma novela barata, criando uma fanfic onde ele e eu estamos destinados a ficar juntos. Como se fosse possível me apaixonar por um homem como ele.Levanto do sofá, ainda processando a enxurrada de risadas e especulações das minhas amigas. Elas acham que é romântico. Romântico! Mal sabem elas o quanto estou irritada. Daniel não é só um cara qualquer que conheci e que gerou uma transa casual. Caminho pela sala, tentando dissipar a raiva. Mas ela só aumenta. Meu pai está exausto, preocupado com as investidas incessantes de Daniel. E eu? Eu e
Madelaine Tento convencer Carrie de que o que tive com Daniel não passou de sexo casual. Eu contei para ela porque precisava da opinião de uma pessoa sã, e não de quem ficasse vendo coisa onde não tem, como Dailah e Candice.Acontece que me ferrei, Carrie agiu que nem elas, e o pior, ela está perto e não tem como desligar a chamada.— É tipo aqueles romances de amores impossíveis — ela esfrega as mãos.Eu devia ter segurado minha língua dentro da boca.Já não bastava eu ter que ficar desconversando toda vez que meus pais perguntavam o que tinha conversado com Daniel.— Não tem romance algum garota — jogo um pedaço da casca de mexerica que estou descascando nela.— Você não disse ele te procurou lá no tal hotel? — Foi o que ele falou. Mas quem garante que isso verdade? Ela dá de ombros. — Ele é um partidão, desde que cheguei aqui todo mundo só fala maravilhas dele, só tem um ou outro que não gosta, mas acho que é pura inveja... — fala olhando para as unhas.— Ele só um idi
MadelaineMeu pai faz questão de nomear todas as vacas, e sei que essa ela tem um cuidado especial. — Ele tá com as patas pra fora, uma judiação, vamos ter arrumar ajuda — fala coçando a cabeça por cima do chapéu. Eu preciso ir atrás de um veterinário o mais rápido possível. Tem que ter um na cidade. — Eu posso ajudar! — Daniel ergue a mão, e Oswald se vira para ele.— A é? Você é veterinário por acaso? — cruzo os braços olhando para ele. — Na verdade, sou — diz orgulhoso.— Vai embora daqui — peço. — Estou falando a verdade, sou veterinário e zootecnista, posso mesmo ajudar — afirma.— O Fellout entende dessas coisas — Oswald fala com um certo desdém.Veterinário e zootecnista, duas faculdades, não posso negar que estou surpresa. Ele não é só um cowboy gostoso de calça colada.Se ele pode mesmo ajudar, resolveríamos isso logo, a vaca e o bezerro não correria risco. Ir atrás de um veterinário na cidade levaria muito mais tempo.— Tudo bem! Faz o que tem que fazer — dig