Madelaine Desço do carro com um peso no peito que não consigo descrever. Torence acena e parte, me deixando sozinha na calçada da fazenda. Cada passo até a porta da frente é uma luta contra o nó na minha garganta. A imagem de Daniel se recusando a me ouvir ainda está fresca na minha mente. Ele nem se deu ao trabalho de ouvir o que eu tinha a dizer. Nem mesmo ficou feliz por mim, por essa conquista pela qual eu trabalhei tanto.Quando recebi a proposta, eu não consegui pensar em mais nada. A oportunidade de trabalhar no banco internacional era tudo o que eu sempre quis. Anos de dedicação, de esforço incessante, sem descanso. Finalmente, meu esforço estava sendo reconhecido. Tentei imaginar um futuro onde poderíamos manter nosso relacionamento à distância. Com a internet, tudo seria mais fácil. Poderíamos nos falar todos os dias, compartilhar nossas vidas mesmo de longe. Mas ele nem sequer quis ouvir essa possibilidade. Ele simplesmente se fechou, e isso doeu mais do que eu poderia ex
Daniel Estou na varanda da casa, observando o horizonte com um nó na garganta. A brisa do entardecer traz um alívio temporário, mas não consegue dissipar o peso no meu peito. Madelaine vai embora para New York hoje, e a realidade disso me atinge como um soco. A dor cresce dentro de mim, e não consigo ignorar o vazio que a ausência dela vai deixar. Sei que ela tem uma carreira brilhante esperando por ela em New York, mas o egoísmo dentro de mim grita para que ela fique. Para que ela escolha este lugar, estas pessoas, e, principalmente, para que ela me escolha. Aumento ainda mais a música, viro a garrafa de vinho, porque ela vai embora e eu preciso acabar com esse diacho vinho, começo a desafinar a letra da música, me jogando na cadeira. Meu orgulho caiu quando subiu o álcool Aí deu ruim pra mim E pra piorar, tá tocando um modão de arrastar O chifre no asfalto Tô tentando te esquecer Mas meu coração não entende De novo, eu fechando esse bar Afogando a saudade num querosene —
MadelaineO aroma do chá de erva-cidreira mistura-se com o frescor da manhã, trazendo uma serenidade que há tempos não sentia. Sentada na varanda, observo o nascer do sol. Os raios dourados vão tingindo o horizonte com tons quentes, e um sorriso suave surge em meu rosto. Há meses, essa paisagem se tornou minha companheira diária, uma lembrança constante de que a felicidade, às vezes, está onde menos esperamos.Já se passaram seis meses desde que decidi trocar a correria da cidade grande por este refúgio no interior. Cada dia aqui tem sido um presente, um resgate de algo que eu nem sabia que havia perdido. Estar perto dos meus pais tem sido uma bênção indescritível. Posso finalmente ajudá-los na fazenda, algo que sempre desejei, mas nunca pude fazer, presa à rotina frenética do meu antigo emprego.Trabalhar no banco cooperativo trouxe uma paz que eu nunca pensei em alcançar. A carga horária é leve, permitindo-me desfrutar de momentos simples e preciosos. Agora, tenho tempo para viver d
Madelaine Sabe quando temos a sensação de que estamos vivendo um pesadelo? Pois eu tenho me sentido assim todos os dias.Desde o momento em que descobri que o filho da puta do meu ex-noivo tinha vendido o meu apartamento, meu carro e ido embora para os Alemanha.E agora postava fotos românticas com a minha antiga vizinha Camille. Ele me fez de idiota de todas as formas que se pode imaginar. Como eu pude ser tão idiota e não perceber nada? Todas aquelas conversas entre os dois no corredor, e ele sempre falando que estava dando dicas de investimento para ela. Ele estava era investindo aquele pau mediano na minha vizinha.Por que aquele filho da puta me deu aquele anel? Anel que eu joguei pela janela do uber, duvido muito que aquilo tinha algum valor. E se tinha espero que quem encontrar tenha muito mais sorte do que eu.Roubada e traída, uma combinação e tanto. O filho da puta me deixou literalmente na merda. E como ele conseguiu fazer isso? O desgraçado me fez assinar a droga de u
Madelaine A batida forte na porta faz eu me sentar na cama.— Abre a porta Maddy! — Dailah grita do outro lado.Faço uma careta.— Não estou me sentindo bem — digo.E não é exatamente uma mentira.— Você está assim a dias. Já chega, abre a porta! Não me faça pegar a cópia da chave — diz firmemente.Não posso esquecer que estou na casa dela de favor, ela tem todo direito de fazer isso.— Não precisa, já vou abrir! — grito jogando o cobertor no chão.Vou até a porta me esquivando da bagunça.— O que foi? — pergunto, abrindo a porta vendo Dailah me olhando com os braços cruzados e com uma expressão nada amistosa.Coço os olhos, vendo Candice surgir atrás de Dailah me olhando com uma expressão incrédula.— Meu Deus! — Ela fala cobrindo a boca com as mãos.— Eu te disse — Dailah fala olhando para ela.— Eu não acredito que você está nesse estado Maddy — Candice fala colocando as mãos na cabeça.Olho para meu pijama manchado e levando o braço aproximando o meu rosto da axila sentindo um od
DanielMinha mãe diz que estou virando bicho do mato e acho que ela tem razão. Chego no hotel, exausto e agoniado. Passei o dia inteiro em Austin, e isso já foi suficiente para mim. O barulho constante dos carros, as sirenes, e a pressa das pessoas me deixaram tonto. O cheiro de fumaça e a luz artificial me sufocam. Parece que tem uma eternidade desde que morei aqui. Só consigo pensar na tranquilidade da fazenda e como eu queria estar lá agora.Não consigo me imaginar vivendo aqui novamente. A cidade grande não é para mim. É engraçado me lembrar do quanto eu desejava morar na cidade grande quando ainda era garoto e vivia na fazenda.Só Erin para me fazer passar um dia todo aqui. Minha irmã sabe muito bem como ser convincente. E também seria egoísta da minha parte não participar dos eventos de sua formatura. Meus pais também fariam picadinho de mim se eu não viesse. Estou orgulhoso dela, minha irmã caçula já é uma mulher formada em odontologia, parece que foi ontem que ela
MadelaineAcho que nunca passou pela minha cabeça que em um sábado à noite eu estaria desembarcando em um avião em Austin.Nem sei por que isso me surpreende, já que há algumas semanas eu tinha um apartamento, um carro, um emprego e um energúmeno que eu chamava de noivo. E agora... Bem, pode se dizer que eu estou voltando para a casa dos meus pais.Quase trinta anos morando com os pais. Seria cômico se não fosse trágico.Uma casa que eu nunca fui capaz de tirar um tempo para visitar. E mesmo que seja no meio do mato, isso não é uma justificativa.Escolhi parar de lamentar o meu fracasso pessoal e fazer o papel de filha, de uma boa filha.Receber a ligação da minha mãe, e saber que quase perdi meu pai, me desmontou. Não saberia descrever tudo que senti ao ouvir cada palavra dita pela voz embargada de minha mãe, mas remorso, isso eu consigo afirmar que senti e ainda estou sentindo.Como eu pude ser tão negligente? Como eu pude colocar o meu trabalho a frente das pessoas que eu mais amo
Madelaine Ganhei anos de vida depois de um banho quente. Era tudo que eu precisava depois de um voo horroroso na classe econômica com uma escala desnecessária, acho que as empresas aéreas fazem isso de propósito.Termino de secar o cabelo no instante em que vejo que Dailah está me ligando por vídeo.Ela não iria desistir até que eu atendesse, já que não havia respondido as mensagens dela.Ela e Candice eram um poço de preocupação.— Oi — atendo segurando o celular e me sentando na cama.— Ela atendeu Candice, sua vadia desnaturada...— grita, e vejo Candice surgir detrás dela.— Estou exausta, quis tomar um banho antes de ligar para vocês — ajeito o cabelo olhando minha imagem na tela.Dailah revira os olhos.— A gente estava preocupada com você — Candice fala pegando o celular da mão de Dailah.Dou uma risadinha.— Estou bem, e ainda na civilização — brinco.Ela balança a cabeça de um lado para o outro.— Sabe o que eu a Dailah pensamos disso, ainda mais você indo assim, sem nem fal