Três

Daniel

Minha mãe diz que estou virando bicho do mato e acho que ela tem razão.

Chego no hotel, exausto e agoniado. Passei o dia inteiro em Austin, e isso já foi suficiente para mim. O barulho constante dos carros, as sirenes, e a pressa das pessoas me deixaram tonto. O cheiro de fumaça e a luz artificial me sufocam. Parece que tem uma eternidade desde que morei aqui.

Só consigo pensar na tranquilidade da fazenda e como eu queria estar lá agora.

Não consigo me imaginar vivendo aqui novamente. A cidade grande não é para mim.

É engraçado me lembrar do quanto eu desejava morar na cidade grande quando ainda era garoto e vivia na fazenda.

Só Erin para me fazer passar um dia todo aqui. Minha irmã sabe muito bem como ser convincente.

E também seria egoísta da minha parte não participar dos eventos de sua formatura. Meus pais também fariam picadinho de mim se eu não viesse.

Estou orgulhoso dela, minha irmã caçula já é uma mulher formada em odontologia, parece que foi ontem que ela era aquela garotinha banguela me seguindo para todos os lugares. E em alguns meses estará casada.

Deveria estar agora enchendo a cara no baile de formatura de Erin . Mas é impossível ficar no mesmo ambiente em que Edward e Lindsay estão, já que ela não perde a oportunidade de se jogar para cima de mim, me deixando extremamente desconfortável. Será que ela pensa que eu sou igual meu irmão? Não entendo e nem faço questão de entender esses joguinhos de Lindsay. As vezes chego a me perguntar se ela é maluca, e como não enxerguei isso quando estávamos juntos.

Ela conseguiu me enganar muito bem nos nossos dois anos juntos, ou eu me permiti ser enganado, já que estava cego de amores pela m*****a.

Não sinto mais nada por ela, nem ao menos mágoa. Por mais que tenha sido dilacerante descobrir no dia em que pediria Lindsay em casamento que ela estava tendo um caso com meu irmão mais velho, irmão esse que era casado na época, com uma mulher incrível e dois filhos.

Foi de lascar.

Era o meu irmão, quem eu sempre admirei. O choque foi tão grande que não consegui reagir, fiquei simples parado olhando para os dois e tentando raciocinar toda a merda que eu presenciei, Lindsay e Edward se agarrando no sofá da sala dela.

Logo eu, que achava que isso nunca aconteceria comigo. Hoje tenho a impressão de que aquilo que dizem sobre todo mundo um dia ser corno é a mais pura verdade, todo mundo já foi ou ainda vai ser.

A única reação foi mandar os dois traidores para o inferno e fugir, ir para onde eu não pudesse ouvir meus pensamentos e não deixar minha raiva me sufocar. Vendi meu apartamento, minha clínica e o haras, e comprei uma fazenda o mais longe possível daqui.

Meus pais não entenderam a minha atitude, e eu escolhi poupá-los da canalhice do meu irmão, já que a saúde do meu pai estava debilitada por causa de uma cirurgia que ele havia feito para retirada de um tumor. Mas o contrário de mim Edward não parecia muito preocupado com o bem-estar dos nossos pais, já que dois meses depois do fatídico dia ele anunciou o seu divórcio com Cristina, assumindo seu relacionamento com Lindsay em seguida.

Meus pais ficaram em choque, então ligaram os pontos e entenderam o porque de eu ter ido para o interior com tanta pressa. Eu não acompanhei o caos de perto, tudo que sei foi contado por Erin , mas parece que meu pai quase deserdou meu irmão.

Depois de um tempo tudo foi se normalizando e eu passei a conviver com meu irmão agora casado com a minha ex, por insistência dos meus pais. As primeiras vezes que estive no mesmo ambiente que eles foi um verdadeiro inferno, mas com o tempo todo o sentimento ruim foi se dissipando, essa era a minha família e talvez Edward tenha me feito um enorme favor, já que Lindsay passou a se mostrar uma pessoa insuportável. Edward nunca conseguiu me encarar de verdade, talvez por vergonha ou receio de que eu venha falar sobre o quanto ele foi traíra.

Mas eu jamais faria tal coisa.

Indiferença, foi tudo que passei a sentir por Edward e Lindsay, e parece que isso feriu o ego dela, e então ela passou a tentar me seduzir. Será que ela pensa que sou o mesmo idiota de seis anos atrás?

Oh mulherzinha lazarenta.

Se quer vejo beleza nela. Acho que o que ela tem por dentro ficou refletido do lado de fora depois de tanta cirurgia plástica. E olha que até onde eu sei esses negócios servem para deixar o povo mais bonito, não parecendo boneco de cera.

Se ela continuar fazendo esses trem na cara logo ela ficará igual aquela Anabelle dos filmes de terror.

E aparentemente meu irmão conseguiu ser ainda mais cego do que eu ignorando completamente as atitudes absurdas da mulher. Já que se oferecer para mim é o de menos, até porque Erin já me contou sobre o caso dela com o personal. Poderíamos até avisá-lo, mas duvido muito que ele acreditaria e levaria numa boa. Se bem que na minha vez ninguém me avisou.

Nunca vou entender, na verdade nem quero, como um homem que sempre admirei por sua inteligência, sucesso e por ter uma família linda se prestar a isso. Mas ao menos ele parece feliz.

Pode até parecer que eu sou trouxa, mas eu jamais vou desejar mal algum para o meu irmão, eu realmente quero que ela seja feliz. E sinceramente queria que isso acontecesse com ele bem longe de Lindsay.

Depois do chifre eu não tive outro relacionamento, o máximo algumas transas esporádicas. Não que eu tenha ficado traumatizado, na verdade fiquei um pouco, mas nenhuma mulher que conheci foi capaz de aquecer meu coração e me fazer querer algo mais que uma noite.

E agora estou tentando não ter nenhum envolvimento, porque descobri a uns meses que minhas aventuras não estavam sendo vista com bons olhos na cidade. Uns adjetivos um tanto peculiares se referindo a mim, como galinha, desavergonhado, devasso e por aí vai. Está aí o lado ruim de morar em cidade pequena, todo mundo sabe da minha vida, e se bobear sabem até mais coisas do que eu.

Marquei presença na formatura de Erin , e agora eu só quero cair na cama, descansar e pegar meu rumo antes mesmo do sol nascer.

Olho para o relógio em meu pulso percebendo que ainda é pouco mais de meia noite. Talvez uma ou duas cervejas antes de ir dormir me fizesse bem.

Passo pelo hall do hotel que escolhi aleatoriamente por um app, o lugar é de alto padrão, é o que eu mereço depois de um dia todo aqui nessa cidade.

Eu poderia ficar na casa dos meus pais, mas como eles estavam hospedando meus tios com toda certeza a casa estaria um verdadeiro caos.

Olha em direção ao bar e percebo o mesmo quase vazio.

Olho mais uma vez para o relógio, tirando o celular do bolso.

Vejo uma notificação de mensagem de Torence no W******p, onde ele diz que Ruby e o potrinho estão bem e que Walter está fora de perigo e já recebeu alta.

Respiro aliviado. Eu precisava das terras do homem para aumentar a formação de pasto, mas não queria que ele morresse. Ainda mais logo depois de eu ter feito uma oferta três vezes maior do que sua fazenda vale. Ao invés do homem aceitar, quitar suas dúvidas com o banco e ficar tranquilo ele fez foi me desgraçar, faltou me xingar de santo, porque de resto.

O sujeito é osso duro de roer, eu poderia esperar e comprar a fazenda quando o banco leiloasse, porque acho muito difícil ele conseguir pagar o que ele deve, já que a fazenda do homem está indo de mal à pior. Mas eu não quero ser injusto, e preciso aumentar os pastos para ficar tranquilo no próximo ano, sem precisar recorrer a silagem, por isso tenho tanta pressa.

O celular começa a vibrar e com a palavra mãe na tela, com certeza está ligando para me dar um sermão, ativo o não perturbe e coloco o celular no bolso do paletó, me sentando em um dos bancos altos de frente ao balcão do bar enquanto tiro a gravata colocando-a no bolso em seguida.

Peço uma cerveja, e o barman se apressa em trazê-la. Viro a longneck que está bem gelada, do jeito que eu gosto.

Observo o lugar enquanto bebo, lugar bastante atrativo e silencioso, o que me agrada ainda mais.

O som das festas do interior parece tão mais agradáveis do qualquer outro som aqui. Logo teríamos baile da colheita de Sweetwater , com cavalgadas, exposição de gado, rodeio e vários shows de artistas famosos. E esse eu estaria participando de toda organização por insistência de John o prefeito de Sweetwater . E por incrível que pareça eu estava animado com isso, mesmo sabendo o tanto de dor de cabeça que eu iria ter.

Termino a cerveja notando uma movimentação no lugar, dois casais que são visivelmente hóspedes se sentam em uma mesa afastada do balcão. E fico agradecido por isso, já que eles estão visivelmente bêbados.

Peço outra cerveja e antes do barman me entregar noto-o paralisar e olhar para entrada do lugar como se estivesse hipnotizado.

Pego a cerveja de sua mão dando uma risadinha, me virando para entrada em busca de saber o que havia chamado tanto a atenção do rapaz.

Então entendo tal reação. Uma mulher, parada na entrada do bar.

Meu coração dispara e minha boca seca instantaneamente. Não consigo desviar o olhar, sou capturado pela presença dela, como se fosse a única pessoa no lugar.

Ela é loira, seus cabelos brilhando sob a luz suave do bar. O corte médio realça suas feições delicadas e ao mesmo tempo, traz um ar de mistério. Seus olhos azuis brilhantes e atentos, varrem o ambiente enquanto ela caminha com confiança.

Seus ombros são finos e elegantes, descendo para uma cintura que parece desenhada por um artista. O vestido preto que ela usa é discreto, mas absurdamente sexy, contornando suas curvas com uma perfeição hipnotizante. A cada passo, vejo suas pernas longas e torneadas ganharem vida, seus movimentos são quase uma dança silenciosa.

Apesar de ser baixa, os saltos que ela calça lhe conferem alguns centímetros a mais, ressaltando ainda mais sua sensualidade natural. Ela é um espetáculo, gostosa em todo o sentido da palavra.

Estou de pau duro só de olhar para ela.

Puta que pariu, que mulher gostosa.

Há muito tempo uma mulher não chamava minha atenção dessa maneira com apenas um olhar. Estou hipnotizado. Ela caminha com elegância e se senta em uma mesa a alguns metros do balcão onde estou. É nesse momento que nossos olhares se cruzam.

Sinto um frio na espinha, como se o tempo tivesse parado. Um sorriso discreto surge nos lábios dela, e eu mal consigo respirar.

Levo a garrafa de cerveja aos lábios sorvendo um gole generoso, me virando para a frente lentamente, disposto a não deixar escancarado o meu desespero para finalizar a noite com ela em minha cama.

Será que eu estou ficando maluco ou algo do tipo?

Eu nem sei se a mulher está acompanhada. Tomara que não esteja.

Não costumo hesitar quando o assunto é flerte, sou bom demais nisso.

Então por que raios eu estou sentindo as minhas pernas tremerem?

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo