Capítulo 017Os olhos gananciosos do concierge caíram sobre a minha bolsa Chanel apoiada em cima do balcão e eles se arregalaram. Talvez pela minha aparência, tenham imaginado que eu fosse uma turista. Queriam me cobrar o dobro do preço pelo quarto daquele hotel três estrelas. E eu podia pagar.Resolvi entrar para fugir de Duncan Delvecchio e a sua corja de seguranças que rondava a cidade de Veneza me caçando como um lobo farejador faminto. Todavia, de uma coisa eu tinha certeza: ele nunca seria capaz de me encontrar ali.Peguei as chaves e subi pelo elevador que foi rangendo até o andar. O local não era tão luxuoso quanto ao que eu já tinha me acostumado, mas me trazia uma nostalgia boa de quando eu e minha mãe vivíamos sozinhas em uma vida simples, mas feliz, sem essas complicações da sociedade.Adentrei o pequeno corredor iluminado por uma irritante luz amarelada e segui para o quarto que eu tinha reservado por uma noite, um dos poucos disponíveis na cidade. Foi um milagre encontr
Duncan respirava pesadamente, a raiva pulsando em suas veias. Ele olhou ao redor do quarto, o olhar feroz pousando em mim. Era como se seu olhar pesasse mil âncoras, pois não consegui me mover diante de sua presença. Ele parecia ameaçador, respirando quebrado.— Você acha que pode fugir de mim, Vicenza? — Sua voz era grave e ameaçadora, Levantei-me tentando manter a calma, mas o meu coração estava batendo descompassado. Eu estava completamente nua por baixo daquele roupão e isso só piorava tudo naquele momento. — Duncan, eu só precisava de um tempo para pensar. — Pedi como uma domadora de touros faria se estivesse em meu lugar.Duncan parecia furioso. Seus vinte e três centímetros a mais do que eu eram um reforço de como ele era superior a mim em todos os sentidos e eu podia apenas olhar para cima, encarando-o. Seu maxilar trincou, a curva de seus lábios estava acentuada para baixo, com desgosto e ira.— Pensar? — Ele riu amargamente, ventando pela boca. — Você some sem aviso, sem e
Quando saí do quarto de hotel, percebi que os guardas de Duncan estavam todos por lá. Ele deve tê-los chamado imediatamente após eu ter fugido e considerando que estava amanhecendo, eu havia sido encontrada muito depois.Confesso que me deu uma satisfação incontrolável perceber que pelo menos por umas horas eu tornei a vida de Duncan um inferno ainda pior do que ele conseguia tornar a minha. Ele me fez trocar de roupa e me colocou dentro da Ferrari mais uma vez, quando pegou o seu celular e me entregou, antes de acelerar o motor com um ronco alto.— Ligue para seus pais e diga que vai passar a noite em Veneza comigo.Peguei o aparelho de sua mão e sorri malvada:— Mas eu não vou passar a noite com você, querido.— Em quartos separados, num hotel que preste. — Insistiu, indisposto ao debate.Revirei os olhos e fiz como ele pediu, ligando para minha mãe e avisando que estava tarde e Duncan estava muito cansado para dirigir, mas que iríamos logo pela tarde, assim que acordássemos.— Sati
O calor de Duncan irradiava nas minhas costas, uma presença sufocante que me fazia estremecer, embora ele ainda nem tivesse se encostado em mim. Abracei-me com mais força ao edredom e me encolhi, como se pudesse me proteger da proximidade dele. O cheiro de nicotina estava presente suavemente no ar, se misturando ao seu aroma amadeirado e cítrico.Meu coração disparava com a ideia de que ele pudesse colocar a mão em mim de alguma forma. Afinal, éramos noivos, mas não tínhamos nenhuma intimidade. Quando pensei que ele pudesse gostar de mim, tudo se revelou como uma jogada suja, um truque de cartas. Duncan era o tipo de jogador que escondia suas cartas, que nunca mostrava todos os naipes que tinha à disposição e, por algum motivo, isso me deixava desconfiada e irritada.A personalidade dele era incrivelmente fora do comum e surpreendente, mas também assustadora. Eu não estava preparada para lidar com um homem como ele, doze anos mais velho e cheio de segredos. Ele já era um homem formado
— As estradas estão fechadas, senhor — disse o concierge, devolvendo o cartão de crédito preto para Duncan. Sua voz ressoou pelo saguão luxuoso e vazio do hotel. Eu me vi encarando Duncan, cuja expressão mostrava um breve descontentamento com a notícia.Acordei mais tarde para encontrar Duncan já vestido, eu me apressando para nos prepararmos. Minhas roupas novas haviam chegado, e eu optei por um conjunto confortável de calça jeans e suéter, adequado para a longa viagem de carro. Depois de algumas palavras rápidas no elevador com seus dois guardas, concordamos em sair para comer no caminho de volta para casa, saindo do hotel na esperança de chegar antes do anoitecer.— Che palle! Mas o que aconteceu? — Duncan questionou, sua frustração transparecendo em cada palavra.— Um acidente com colisão e incêndio, senhor — explicou o homem atrás do grande balcão de madeira maciça. — Não é algo comum de acontecer, sinto muito.— Ah — murmurei, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. — Então
Meus pensamentos estavam em um turbilhão, minha cabeça girava. O silêncio no táxi me trouxe um pouco de calma e peguei o celular, com a mão trêmula, buscando encontrar um destino para acalmar meus nervos e reorganizar pensamentos.Veneza tinha vários lugares, mas alguns eram chatos demais ou movimentados demais, acabei escolhendo uma galeria de arte que não ficava muito próxima.Arte sempre me trouxe uma forma de paz, motivo pelo qual eu comecei a pintar, primeiro era terapêutico e depois se tornou uma forma de expressão. Olhar para arte era uma tentativa fraca de me reconectar comigo mesma.Pedi ao motorista que me levasse até lá e ele concordou.Meu coração ainda estava a milhão quando entrei na galeria e foi até estranho ser abruptamente envolvida pelo silêncio reverente e a luz suave que banhava as obras de arte. Respirei fundo absorvendo o ambiente e acalmando aos poucos minha alma.Duncan era um maldito furacão incontrolável! Eu sei que não sou fácil, mas ele conseguia despertar
O perfume amadeirado e cítrico deu lugar ao forte aroma de café torrado e manteiga conforme nos aproximávamos da cafeteria. Indiquei silenciosamente uma mesa próxima a um enorme painel fotográfico, repleto de imagens antigas da cidade. O tom sépia das fotos trouxe um alívio aconchegante aos meus olhos.Ao me sentar, olhei para Duncan e percebi algo inquietante nele. Pela primeira vez, seu sobretudo não estava perfeitamente alinhado nos ombros, pendendo ligeiramente para a direita. Seus olhos escuros tinham um leve contorno avermelhado, que o fazia parecer alterado.Senti nervosismo e culpa enormes ao olhar para ele. Duncan parecia realmente abalado pelas minhas palavras e atitudes, o que me deixou chocada. Não esperava que ele reagisse assim. Meu coração estava apertado, devastado, por estar noiva dele em pura obrigação e eu me sentia sufocada por sua presença tão marcante e intensa. É pior que andar em uma montanha russa… eu nunca fui muito fã de grandes aventuras, gosto de rotina e
As palavras que eu tanto esperava finalmente saíram da boca de Duncan:— Entendo o quanto isso é importante para você. — Soltou um suspiro genuíno, pesado. — Não estou ignorando a seriedade da situação, só… preciso de um pouco de tempo para encontrar as palavras certas.Não imaginei que Duncan Delvecchio era um homem que tinha dificuldade de se comunicar. Ele sempre me pareceu alguém que se destacava pela sua presença marcante, um homem com uma aura de confiança quase arrogante. Ele parecia direto e espontâneo, como se tivesse um roteiro a ser seguido… ou nenhum, dado o quanto eu sabia sobre ele. Sua extrema capacidade de improvisar nas situações mais inesperadas dava-lhe uma impressão de desdém pelas regras convencionais e um talento inato para lidar com a vida de maneira audaciosa. Essa revelação foi um choque. O homem que eu pensava ser um estrategista infalível e um mestre das palavras revelava, na verdade, um lado vulnerável que lutava para se expressar de maneira clara.O garço