004

Nos afastamos e seguimos para o elevador. Minha mãe que nos esperava por ali limpou uma lágrima e meu padrasto logo estendeu um lenço para ela.

— Mamãe, não chore, ou eu irei borrar a maquiagem. — Pedi com a voz trêmula.

Ela me deu um abraço e meu padrasto me abraçou também. Esforcei-me para não chorar. Um casamento devia ser um processo feliz, mas eu estava tremendo por inteiro, assustada.

— Eu sinto que falhei em proteger você, minha filha. — Ela disse aos soluços, apertando os braços com força ao meu redor.

— Ninguém falhou em proteger ninguém. — Meu padrasto disse. — Estarei sempre aqui para proteger vocês duas, custe o que custar.

Sei que Irineo está dando o seu melhor e que apesar de não poder impedir que eu me case com alguém dentro da Máfia; ele está lutando bravamente naquilo que acredita. Por mais que eu tenha medo do meu noivo, eu também sei que meu padrasto não me abandonaria à má sorte. Deve haver um motivo para Duncan Delvecchio ter me escolhido como sua noiva e para que Irineo tenha permitido nosso casamento.

Sei que pode parecer maluquice da minha parte, mas eu confio muito em Irineo e em seu julgamento. Ele tem sido um verdadeiro pai para mim, me dando carinho e conselhos. Seu jeito doce e amável é que acende em mim a necessidade de ser uma boa filha para ele.

— Não se preocupem comigo, — minha voz soou trêmula pela emoção, mas eu a fiz sair bem firme, para que eles soubessem que eu ficaria bem. — Ainda vai levar um tempo para eu me casar, não vão se livrar tão fácil de mim. — Brinquei.

Minha mãe se afastou limpando as lágrimas e Irineo logo deu a ela seu lenço do paletó com o qual ela secou os olhos, se esforçando para não borrar a maquiagem.

— Vamos, Antonella, dê crédito para Vicenza, ela é esperta. — Tentou acalmar os ânimos.

— Claro, é um casamento, devemos comemorar. — Minha mãe disse devolvendo o lenço. — Os Delvecchios também são aliados adequados, não casaria minha filha com qualquer um.

— Eu não me casaria com qualquer um e acredito no julgamento de vocês. — Tentei os tranquilizar, embora naquele momento nem eu pudesse acreditar naquilo. — Se acreditam nisso, vou honrar com a minha parte.

Meu padrasto estava lidando com problemas maiores e eu sabia que o meu casamento era uma parte importante para nos garantir proteção. Eu podia encarar um casamento em troca de alguma segurança.

— Eu sei que você é uma boa menina, Vicenza. — Minha mãe me olhou com alguma admiração faiscando em seu olhar.

— Se serve de algum consolo, Duncan faz sucesso com as garotas da Sociedade, há muitas que esperam por uma proposta de casamento. — Meu padrasto tentou.

Eu dei um riso baixo e cobri levemente a boca com a mão, balançando a cabeça. Eu podia imaginar o porquê.

— Imagino que sim! Ele tem muito boa aparência.

Quando o elevador abriu, uma onda de sons distantes da festa invadiu o corredor. As risadas e conversas animadas dos convidados ecoavam suavemente, me dando uma sensação de que eu não poderia nunca escapar do que estava prestes a acontecer. Não que eu fosse dar de noiva fugitiva, não há escapatória, mas eu estava buscando acreditar que aquele não era o fim do mundo. Dos homens disponíveis na máfia, Duncan foi escolhido por meus pais por algum motivo. Eu precisava descobrir qual.

— Mesmo? — Meu padrasto encarou-me confuso, segurando a porta do elevador para nós duas.

— Eu concordo, vi algumas fotos e nos encontramos com ele pessoalmente há algumas semanas, mas… — Minha mãe passou e segurou o meu braço, tentando ficar mais animada. — Quero saber como você sabe disso, mocinha?

— Ah, eu o vi no seu casamento, mãe. — Não era de todo mentira, mas daí a dizer que ele tinha causado uma boa impressão em mim, já era outra história.

— Ouviu isso, Irineo? — Minha mãe virou-se para o marido sorridente. — Ela o viu em nosso casamento.

Irineo franziu as sobrancelhas e esquadrinhou o meu rosto desconfiado. Eu tinha certeza que o incidente com Duncan não havia passado despercebido para ele durante a festa, nada escapa esse homem, mas eu tinha meus truques.

Dei um sorriso.

— Bem, eu ainda era muito nova para dançar com ele, na época! — Brinquei me divertindo.

— Ainda é muito nova para muitas coisas, comporte-se! — Enciumado como um verdadeiro pai, ele ralhou.

Caminhamos em direção à sala de reuniões onde o contrato seria assinado, cada passo ressoando no chão de mármore polido. 

— A festa já começou? — Minha mãe olhou para o final do corredor, onde ficava o salão, não iríamos para lá ainda, só depois de assinar o contrato.

— Sabe como minha família é, minhas irmãs estão ansiosas por esse contrato. — Irineo disse e colocou a mão nas minhas costas. — Sinto muito que esse peso recaia sobre você, Vicenza.

— Irineo… — Virei-me para ele e segurei suas mãos. — Você me salvou e também salvou a minha mãe, é o mínimo que posso fazer para retribuir.

Eu não estava mentindo. Endureceria, aguentaria qualquer coisa! Eu prometi a mim mesma que o faria. 

Continuamos a andar e eu sentia a ansiedade aumentar, meu coração batendo mais rápido e meus dedos trêmulos agarrando a saia do vestido. As vozes alegres e a música festiva tornavam-se um pano de fundo distante enquanto nos aproximávamos da porta fechada. Cada passo parecia mais pesado, cada respiro mais difícil. Meu corpo inteiro estava tenso, uma mistura de medo e antecipação apertando meu peito.

Paramos diante da porta de madeira maciça e puxadores dourados. A porta se abriu e, pelas frestas, eu já espiava o interior com curiosidade crescente, vislumbrando apenas silhuetas indistintas. Eu via somente partes, os dedos longos, os papéis do contrato… era como um sonho, um dejavú.

A porta se abriu completamente e o ambiente se revelou um espaço escurecido com uma mesa grande e imponente no centro, com cadeiras de madeira e estofados brancos. O recinto estava cercado pelos guarda-costas sérios e advogados de semblantes graves. Uma mulher de postura rígida também estava presente, ao lado de Duncan, cuja figura se destacava.

O nó na minha garganta apertou e eu estava respirando tão nervosa que o meu peito subia e descia. Duncan Delvecchio estava sentado à mesa, fazendo meu coração acelerar como se eu estivesse dentro de um carrinho na curva mais perigosa da montanha russa. Suas mãos habilidosas estavam repletas de anéis, aquele dourado com o brasão de sua família no dedo indicador era o mais chamativo e capturava o meu olhar.

Ele dobrava as folhas do contrato transformando-as em sapos de origami, que saltavam com um leve toque do seu indicador. Alguns já estavam espalhados pelo chão. Aqueles papéis, tão cruciais a ponto de me tirarem o fôlego, eram tratados como meros brinquedos em suas mãos.

A fascinação pela sua personalidade intrigante me prendia completamente. Duncan Delvecchio tinha um magnetismo instigante, uma personalidade inconstante que agitava completamente o meu coração. 

Como um homem dez anos mais velho do que eu pode mexer tanto comigo dessa forma?

Sigue leyendo en Buenovela
Escanea el código para descargar la APP

Capítulos relacionados

Último capítulo

Escanea el código para leer en la APP