A decoração da festa tinha sido exatamente como imaginei, mas agora que eu olhava para ela, via que talvez eu tivesse sido muito ingênua na escolha de alguns elementos. As cores que escolhi eram para representar uma pintura renascentista com ares de vernaglia; aquela nostalgia da primavera.Rosas exuberantes em tom rosa claro eram expostas puras em vasos longos dourados. Os pratos tinham bordas douradas e rosas delicadas pintadas à mão por uma artista talentosa. Os lustres eram pendurados, com cristais que expunham feixes de luzes brilhantes e reluziam as lâmpadas amareladas. O salão fora coberto por um tapete cinza claro, os sofás, de couro branco, adornados com almofadas douradas e rosas. Nas mesas, em estilo provençal, haviam arranjos arrojados.A única coisa destoando naquela decoração toda era um adorno de pomba que deveria representar fidelidade, harmonia e união entre os noivos e que agora eu suspirava resignada só de olhar para ele. Como haveria paz entre eu e Duncan?! Como eu
Duncan tirou seu paletó o jogou sobre meus ombros. Dei um salto e olhei para o lado. Sentir o calor dele sobre o meu, foi como receber um abraço. O perfume intenso estava impregnado em sua roupa, me envolvendo. Meus olhos capturaram o coldre que ele usava, que lembrava um suspensório e segurava as duas armas nas costas.Engoli em seco encarando as pistolas cromadas de um metal levemente dourado, indicando que eram personalizadas. Quando ele transita para a leveza dessa forma, quase me esqueço de que Duncan é um homem perigoso.— O que está fazendo? — Questionei.— Está frio.— Eu posso pegar uma estola com uma das responsáveis pela festa, não precisa se preocupar. — Tirei o paletó e devolvi para ele.Fiquei segurando a peça no ar, mas Duncan não se mexeu. A única coisa que ele fez foi tirar o cigarro dos lábios e soltar a fumaça pela boca. O breve silêncio entre nós foi preenchido pelo som da música no salão, uma balada lenta.Duncan cortou o momento com um “tsc”.— Você quer me mostra
A brisa outonal batia fresca em meu rosto, queimando levemente minhas bochechas. Em frente ao Collegio Palazzo Splendore, as folhas das árvores estavam em tons vibrantes de laranja, vermelho e amarelo. Avistei Ottavia de longe, seus cabelos ruivos da cor do cobre sempre chamavam a atenção, mesmo em dias nublados. Ela levantou do banco ao me ver e veio rápido em meu encontro, segurando o celular enquanto puxava os fones de ouvido, a mochila Fendi balançando de um lado para o outro.— Vicenza! — Ela me abraçou e um sorriso espalhou no meu rosto. — Que saudades!— Também senti sua falta. — Respondi apertando os braços ao redor da minha amiga.De repente ela começou a farejar meus cabelos e roupas.— Uau, que cheirinho bom, é o novo perfume da coleção que a empresa do seu pai lançou? Aquele com cheirinho de pêssego?— Sim, é ele.— Ai! Eu estou louca para comprar. Assisti a propaganda com o Mattia! Ele é tão lindo! Você chegou a conhecê-lo? Foi por isso que você sumiu nas férias? Não me di
Alguns dias depois…O ambiente da biblioteca era tão ensurdecedoramente silencioso que meus fones de ouvido tocavam uma playlist das minhas bandas favoritas de K-pop. Estiquei os braços em um espreguiçamento discreto e verifiquei o relógio do tablet, controlando meu tempo com precisão.Após alguns dias de retomada à minha rotina habitual, consegui, de certa forma, empurrar os problemas com Duncan para o fundo da mente — embora a pulseira no meu pulso me lembrasse dele quase o tempo todo. O calendário avançava inexoravelmente e, a cada dia, eu me percebia menos como solteira e me enchia de uma ansiedade crescente.Aproveitava o horário vago para pesquisar arte abstrata para as aulas particulares com minha tutora de arte no famoso ateliê da cidade. A tarefa era apresentar um tema de trabalho e aprimorar minha estética, mas encontrar informações relevantes estava se provando uma dificuldade.Ainda com os fones nos ouvidos, levantei-me da mesa e fui até a estante de arte, navegando pelos c
O aroma dentro do carro era opressor, dominado pelo perfume de Duncan. Uma mistura de notas amadeiradas e cítricas que, embora sofisticadas, se tornavam esmagadoras em um espaço tão confinado. O cheiro se infiltrava em meus sentidos, tornando impossível ignorar sua presença ao meu lado.Minhas mãos apertavam forte a mochila, quando tive finalmente coragem de cortar o silêncio incômodo entre nós:— Onde você está me levando? Meus pais sabem que veio aqui? Aliás, o que você está fazendo desse lado da cidade uma hora dessa? Não devia estar em seu cassino cuidando dos negócios, uhm?Duncan não tirou os olhos da estrada, mas pude ver o sorriso de canto em seu rosto. — Seus pais sabem onde você está, — respondeu com a voz controlada, mas com um tom de impaciência nítido em seu timbre rouco. — Quanto ao meu cassino, ele pode esperar. Agora, fique quieta e coloque o cinto de segurança.— Ele pode esperar? Não pareceu que podia quando me deixou plantada esperando você voltar. — Alfinetei.— Ts
Capítulo 012Duncan estava esperando em pé encostado na parede e mexendo no celular, ele tinha optado por uma roupa mais casual, porém igualmente elegante. Notei que ele vestia-se sempre de preto. Ele me encarou devagar, seu olhar passeando pelas minhas roupas, avaliando minha escolha com uma aprovação silenciosa.— Está perfeita, — por um momento, pude ver uma suavidade em seus olhos que raramente aparecia.— Não vai me dizer onde vamos? — Questionei me aproximando dele.— Estragaria a surpresa, pequena.— Então é uma surpresa? — Queria arrancar alguma informação sobre o local onde ele me levaria, mas Duncan ficou misterioso o tempo todo.— E eu? — Ele mudou de assunto erguendo os braços. — Estou aprovado?— Hmmm, está faltando algo. — Provoquei com um tom de piada. Olhei ao redor e meus olhos viram uma arara com cachecóis, eu fui até lá e peguei um vermelho escuro para ele, me aproximei. — Não sei onde vamos, mas está esfriando, vista esse também.Ele se inclinou para frente, esper
Capítulo 013Em determinado ponto do caminho, percebi que o carro estava seguindo em direção a Veneza e seus arredores. Nunca havia estado lá antes, então estava animada com aquele passeio.— Estamos indo para Veneza?— Bem, agora já está difícil eu dizer a você que não. — Ele riu leve.Durante a viagem a música foi a única coisa que permaneceu entre nós. Duncan era um homem cheio de contrastes, com um gosto refinado, mas ao mesmo tempo, casual. Peguei meu celular e respondi rapidamente às mensagens das minhas amigas, que queriam saber por que Duncan tinha me buscado na escola. Não queria que ele achasse que eu o estava ignorando para ficar no celular, mas também queria acalmá-las.— Nunca estive em Veneza, isso me deixa ansiosa. — Guardei o celular na bolsa e peguei o gloss, retocando o batom, conforme nos aproximávamos do destino.— Você vai gostar e quem sabe a vista possa acalmar o seu coração para me desculpar por causa do incidente do noivado.— Espere um pouco… — Tampei o gloss
Capítulo 014Enquanto caminhávamos e comíamos, nos aproximávamos das gôndolas. Aproveitei aquele pequeno momento raro de paz entre nós para conhecê-lo melhor. Eu não sabia nada sobre ele, exceto o que ouvi da boca de outras pessoas e o que vi no casamento de minha mãe.— Você tem irmãos?— Não tenho. — Ele respondeu, colocando as mãos nos bolsos da calça.— Primos?Balançou a cabeça negando.— As pessoas mais próximas a mim são meus amigos, Pietro e Enzo. — Duncan revelou.— Como se conheceram?— Na escola. Estudamos juntos no Collegio Palazzo Splendore, como grande parte da sociedade. São meus amigos desde aquela época.Ouvir Duncan mencionar seus amigos de longa data desde os tempos de escola trouxe uma sensação de conforto e admiração. Era reconfortante pensar que ele cultivava laços profundos e era fiel aos seus companheiros, como demonstrou ao defender a honra da irmã de Pietro Labruto confrontando Di Marino. Essa faceta de sua personalidade revelava um lado protetor e leal que e