O aroma dentro do carro era opressor, dominado pelo perfume de Duncan. Uma mistura de notas amadeiradas e cítricas que, embora sofisticadas, se tornavam esmagadoras em um espaço tão confinado. O cheiro se infiltrava em meus sentidos, tornando impossível ignorar sua presença ao meu lado.Minhas mãos apertavam forte a mochila, quando tive finalmente coragem de cortar o silêncio incômodo entre nós:— Onde você está me levando? Meus pais sabem que veio aqui? Aliás, o que você está fazendo desse lado da cidade uma hora dessa? Não devia estar em seu cassino cuidando dos negócios, uhm?Duncan não tirou os olhos da estrada, mas pude ver o sorriso de canto em seu rosto. — Seus pais sabem onde você está, — respondeu com a voz controlada, mas com um tom de impaciência nítido em seu timbre rouco. — Quanto ao meu cassino, ele pode esperar. Agora, fique quieta e coloque o cinto de segurança.— Ele pode esperar? Não pareceu que podia quando me deixou plantada esperando você voltar. — Alfinetei.— Ts
Capítulo 012Duncan estava esperando em pé encostado na parede e mexendo no celular, ele tinha optado por uma roupa mais casual, porém igualmente elegante. Notei que ele vestia-se sempre de preto. Ele me encarou devagar, seu olhar passeando pelas minhas roupas, avaliando minha escolha com uma aprovação silenciosa.— Está perfeita, — por um momento, pude ver uma suavidade em seus olhos que raramente aparecia.— Não vai me dizer onde vamos? — Questionei me aproximando dele.— Estragaria a surpresa, pequena.— Então é uma surpresa? — Queria arrancar alguma informação sobre o local onde ele me levaria, mas Duncan ficou misterioso o tempo todo.— E eu? — Ele mudou de assunto erguendo os braços. — Estou aprovado?— Hmmm, está faltando algo. — Provoquei com um tom de piada. Olhei ao redor e meus olhos viram uma arara com cachecóis, eu fui até lá e peguei um vermelho escuro para ele, me aproximei. — Não sei onde vamos, mas está esfriando, vista esse também.Ele se inclinou para frente, esper
Capítulo 013Em determinado ponto do caminho, percebi que o carro estava seguindo em direção a Veneza e seus arredores. Nunca havia estado lá antes, então estava animada com aquele passeio.— Estamos indo para Veneza?— Bem, agora já está difícil eu dizer a você que não. — Ele riu leve.Durante a viagem a música foi a única coisa que permaneceu entre nós. Duncan era um homem cheio de contrastes, com um gosto refinado, mas ao mesmo tempo, casual. Peguei meu celular e respondi rapidamente às mensagens das minhas amigas, que queriam saber por que Duncan tinha me buscado na escola. Não queria que ele achasse que eu o estava ignorando para ficar no celular, mas também queria acalmá-las.— Nunca estive em Veneza, isso me deixa ansiosa. — Guardei o celular na bolsa e peguei o gloss, retocando o batom, conforme nos aproximávamos do destino.— Você vai gostar e quem sabe a vista possa acalmar o seu coração para me desculpar por causa do incidente do noivado.— Espere um pouco… — Tampei o gloss
Capítulo 014Enquanto caminhávamos e comíamos, nos aproximávamos das gôndolas. Aproveitei aquele pequeno momento raro de paz entre nós para conhecê-lo melhor. Eu não sabia nada sobre ele, exceto o que ouvi da boca de outras pessoas e o que vi no casamento de minha mãe.— Você tem irmãos?— Não tenho. — Ele respondeu, colocando as mãos nos bolsos da calça.— Primos?Balançou a cabeça negando.— As pessoas mais próximas a mim são meus amigos, Pietro e Enzo. — Duncan revelou.— Como se conheceram?— Na escola. Estudamos juntos no Collegio Palazzo Splendore, como grande parte da sociedade. São meus amigos desde aquela época.Ouvir Duncan mencionar seus amigos de longa data desde os tempos de escola trouxe uma sensação de conforto e admiração. Era reconfortante pensar que ele cultivava laços profundos e era fiel aos seus companheiros, como demonstrou ao defender a honra da irmã de Pietro Labruto confrontando Di Marino. Essa faceta de sua personalidade revelava um lado protetor e leal que e
Ainda sentia meu coração palpitando. A sensação de suas mãos agarradas na minha cintura e costas, a forma com que ele me olhou preocupado… Eu vi algo dentro dele que até então eu não tinha percebido e isso tocou fundo o meu coração.— Che palle… — Duncan se levantou primeiro e segurou nas minhas mãos me forçando para cima. Ele segurou no cotovelo, indicando que tinha machucado, mas foi somente por um instante, se virou rápido para mim. — Se machucou?— Não… — Ele estava batendo a mão em meus joelhos, como se quisesse limpar e eu senti um arrepio desconfortável com seu gesto. Era tão íntimo! — Mas você se machucou.— Estou bem, não se preocupe, pequena. — Ele me guiou para longe da gôndola e me levou para a entrada do bar que havia sido escolhido.Eu sentia minhas pernas fracas. — Vamos sentar lá dentro, eu já reservei uma mesa e está ventando muito para ficar na área externa. — Duncan disse.Me surpreendi sobre a reserva, mas concordei, sendo guiada por ele até um local reservado em
Com raiva, embolei o casaco nas mãos com o cachecol vermelho e o atirei contra suas costas. A roupa bateu nele e caiu no chão. Ele se virou para mim, surpreso, ainda segurando a caneta Mont Blanc bico de pena com a mão.— Vicenza?— Não acredito nisso, Duncan!— Eu não disse para esperar no bar? — Ralhou.— E desde quando você manda em mim, seu ridículo? — Retruquei. — Você me usou! Não acredito que fingiu um encontro comigo para fazer negócios!Enquanto eu falava, percebi que apenas havia caído em mais um teatro de Duncan Delvecchio. Ele era um homem articulado e o que tinha de lindo, tinha de cruel! Era mesmo um mau-caráter, capaz de tudo para ganhar vantagens nos negócios. O homem que estava com ele ficou pálido e fechou a pasta. Ele parecia surpreso que alguém havia descoberto sobre as tramoias de Duncan, mas a presença daquele senhor apenas me deixou mais nervosa ainda!— Pequena…— Na verdade, você é exatamente assim, sem escrúpulos, um completo inconsequente — esbravejei, vomi
Capítulo 017Os olhos gananciosos do concierge caíram sobre a minha bolsa Chanel apoiada em cima do balcão e eles se arregalaram. Talvez pela minha aparência, tenham imaginado que eu fosse uma turista. Queriam me cobrar o dobro do preço pelo quarto daquele hotel três estrelas. E eu podia pagar.Resolvi entrar para fugir de Duncan Delvecchio e a sua corja de seguranças que rondava a cidade de Veneza me caçando como um lobo farejador faminto. Todavia, de uma coisa eu tinha certeza: ele nunca seria capaz de me encontrar ali.Peguei as chaves e subi pelo elevador que foi rangendo até o andar. O local não era tão luxuoso quanto ao que eu já tinha me acostumado, mas me trazia uma nostalgia boa de quando eu e minha mãe vivíamos sozinhas em uma vida simples, mas feliz, sem essas complicações da sociedade.Adentrei o pequeno corredor iluminado por uma irritante luz amarelada e segui para o quarto que eu tinha reservado por uma noite, um dos poucos disponíveis na cidade. Foi um milagre encontr
Duncan respirava pesadamente, a raiva pulsando em suas veias. Ele olhou ao redor do quarto, o olhar feroz pousando em mim. Era como se seu olhar pesasse mil âncoras, pois não consegui me mover diante de sua presença. Ele parecia ameaçador, respirando quebrado.— Você acha que pode fugir de mim, Vicenza? — Sua voz era grave e ameaçadora, Levantei-me tentando manter a calma, mas o meu coração estava batendo descompassado. Eu estava completamente nua por baixo daquele roupão e isso só piorava tudo naquele momento. — Duncan, eu só precisava de um tempo para pensar. — Pedi como uma domadora de touros faria se estivesse em meu lugar.Duncan parecia furioso. Seus vinte e três centímetros a mais do que eu eram um reforço de como ele era superior a mim em todos os sentidos e eu podia apenas olhar para cima, encarando-o. Seu maxilar trincou, a curva de seus lábios estava acentuada para baixo, com desgosto e ira.— Pensar? — Ele riu amargamente, ventando pela boca. — Você some sem aviso, sem e