Capítulo 5 Atração inesperada

Jonas Oliveira

A manhã na fazenda estava fresca, e o sol refletia nas águas do rio, criando um espetáculo de brilhos e sombras. Decidi caminhar até a margem, buscando um momento de paz antes de enfrentar o trabalho do dia. Foi então que ouvi uma melodia suave, quase como um sussurro carregado pelo vento. Segui o som, curioso.

Ao me aproximar, a visão de Luana apareceu. Ela estava sentada em uma pedra, cantando com os olhos fechados, totalmente alheia à minha presença. Sua voz, doce e serena, se misturava com o murmúrio do rio, criando uma harmonia que parecia mágica. Não consegui evitar; fiquei parado, apenas observando.

Luana, tão envolvida em sua canção, não percebeu quando pisei em um galho seco, que estalou alto. Seus olhos se abriram de repente, arregalados de surpresa. Em um reflexo desajeitado, ela tentou se levantar rapidamente, mas acabou escorregando na pedra molhada, caindo de bunda no chão com um baque surdo.

Corri até ela, preocupado.

— Está tudo bem, Luana? — perguntei, estendendo a mão para ajudá-la a levantar.

Ela aceitou minha mão, as bochechas tingidas de um vermelho intenso. Quando nossos olhares se encontraram, senti uma corrente elétrica passar entre nós. Por um momento, ficamos ali, imóveis, as mãos entrelaçadas, como se o tempo tivesse parado.

— Sim, estou bem — respondeu ela, desviando o olhar rapidamente, tentando esconder o constrangimento.

— Me desculpe, eu não queria te assustar. — soltei sua mão, mas aquele breve contato deixou uma sensação estranha, um calor que não parecia querer ir embora.

Luana se levantou, ajeitando as roupas e tentando recuperar a compostura. Eu me abaixei para pegar o chapéu que ela deixara cair, entregando-o a ela com um sorriso.

— Você canta muito bem, sabia? — comentei, tentando aliviar a tensão no ar.

— Obrigada. É só um hobby — disse ela, enfiando o chapéu na cabeça e puxando a aba para esconder o rosto.

Nós dois ficamos em silêncio por alguns instantes, o som do rio preenchendo o espaço entre nós. Eu não conseguia tirar os olhos dela, e parecia que havia algo não dito, algo pairando no ar.

— Gosto de vir aqui para pensar — confessei, tentando continuar a conversa. — É um bom lugar para clarear a mente.

Luana assentiu, ainda evitando meu olhar.

— Eu também. Gosto da tranquilidade daqui.

Enquanto falávamos, percebi que havia algo diferente em Luana. Não era só a surpresa do momento, mas uma espécie de vulnerabilidade que eu não notara antes. Queria perguntar mais, entender melhor o que se passava na mente dela, mas não sabia como sem parecer intrusivo.

— Luana... — comecei, mas fui interrompido pelo som de risadas vindo da direção da fazenda. — Acho que o pessoal já começou a trabalhar.

Ela olhou para mim, e por um breve segundo, vi um sorriso tímido se formar.

— Sim, é melhor voltarmos. — concordou ela, virando-se para começar a caminhar de volta.

Seguimos lado a lado, o silêncio entre nos agora parecia mais confortável, como se aquele momento perto do rio tivesse criado uma nova conexão. Meus pensamentos estavam a mil, tentando processar o que havia acabado de acontecer. Algo mudara, mas eu ainda não conseguia entender exatamente o quê.

Quando chegamos à fazenda, Luana se afastou rapidamente, voltando às suas tarefas como se nada tivesse acontecido. Eu, por outro lado, não conseguia parar de pensar naqueles minutos à beira do rio. Sentia que havia mais ali, algo que precisava ser explorado, mas não sabia como ou quando.

Passei o resto do dia distraído, minha mente voltando repetidamente àquela cena. O jeito como ela cantava, a surpresa em seus olhos, a sensação de nossas mãos entrelaçadas... tudo isso formava um mosaico de emoções que eu não conseguia ignorar.

À noite, depois de um dia de trabalho duro, fui até a varanda da casa principal, olhando para o céu estrelado. O silêncio da noite era reconfortante, mas minha mente continuava agitada. O que estava acontecendo comigo? 

No dia seguinte, decidi que não podia deixar as coisas como estavam. Precisava falar com Luana, mesmo sem saber ao certo o que queria dizer. Esperei até encontrar uma oportunidade, quando ela estava sozinha no estábulo, cuidando dos cavalos.

— Luana, podemos conversar? — perguntei, entrando devagar para não assustá-la.

Ela se virou, parecendo surpresa, mas não assustada desta vez.

— Claro, Jonas. O que foi? — perguntou, continuando a escovar um dos cavalos.

— Sobre ontem, lá no rio... — comecei, procurando as palavras certas, no entanto, meu nervosismo me fez travar.

Ela parou o que estava fazendo e olhou para mim, seus olhos refletindo a luz suave do estábulo.

— Sim? O que quer falar sobre ontem? Prefiro esquecer aquela situação embaraçosa. — disse ela, com honestidade.

— Não era nada em especial. Quero pedir que tenha mais cuidado, você poderia ter se machucado ontem. — disse, dando um passo em sua direção.

Ela suspirou, colocando a escova de lado e se aproximando.

— Jonas, não precisa se preocupar. Eu sou forte, veja bem. — disse de maneira divertida, mostrando seus pequenos músculos dos braços.

— Eu sei, Luana. Apenas quero que saiba que me preocupo com você, por favor, seja mais cuidadosa, está bem? — toquei seu braço levemente, sentindo aquele mesmo calor de antes.

Ela assentiu, afastando-se e sorrindo constrangida.

— Terei cuidado. E eu preciso continuar o meu trabalho agora. 

Acabei dando uma gargalhada. Luana ficara nitidamente envergonhada. Ora, ora, ela estava me expulsando? Sim, era isso!

— Me quer tão longe assim? Devo me sentir ofendido? — questionei mirando em seus olhos. 

— Eu? Que isso! Somos amigos, patrão e funcionária. Estou aqui para trabalhar, então preciso trabalhar e conversar em outro momento. É apenas isso. — disse ela de forma nervosa.

— Vou te poupar desta vez! 

Ali no estábulo, com os cavalos como testemunhas silenciosas, saí com um sorriso no rosto e um sentimento diferente e perigoso. Luana me lembrou que eu ainda era um homem e ela uma mulher, algo que há anos não sentia após a perda da minha esposa. 

Eu sabia que precisava ser cauteloso para não deixar que aquele sentimento novo estragasse a amizade que construímos. Tudo que menos queria era magoá-la, sabendo do seu passado com um relacionamento abusivo.

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