Numa noite de folga, eu e a Rosana, uma das empregadas da fazenda, decidimos ir para a cidade e nos divertir. A rotina na fazenda, por mais gratificante que fosse, podia ser exaustiva. Precisávamos de uma pausa. Então, pegamos a caminhonete velha do Jonas e seguimos pela estrada de terra, com as luzes dos faróis iluminando nosso caminho.— Faz tempo que não saio. — comentei, tentando disfarçar a excitação na minha voz.Rosana riu, ajustando o volume do rádio que tocava uma música animada de sertanejo.— Nem me fale. A última vez que fui ao bar da cidade foi antes de você chegar. Precisamos disso, Luana.A cidade estava relativamente calma quando chegamos. As luzes dos postes lançavam um brilho amarelo nas ruas, e as vitrines das lojas ainda exibiam suas mercadorias. Estacionamos a caminhonete e saímos em direção ao bar que Rosana tanto falava. Ele ficava em uma esquina movimentada, com uma fachada simples, mas acolhedora. O som de risadas e música nos recebeu antes mesmo de cruzarmos
Estava na cidade, tentando me acostumar com a rotina de comprar mantimentos para a fazenda. Cada ida ao mercado era um lembrete da minha nova vida, distante de tudo que conhecia. Enquanto pegava algumas maçãs, senti um arrepio. Olhei ao redor e vi pessoas comuns, cuidando de suas próprias vidas. Mas algo não estava certo. Havia aquela sensação incômoda, uma impressão de que alguém me observava.Passei para a seção dos vegetais, tentando ignorar o desconforto, mas ele só aumentava. Meu coração começou a bater mais rápido. Tentei me concentrar nos produtos à minha frente, mas não conseguia afastar a sensação de ser vigiada. "Fernando?" O pensamento me gelou. E se ele tivesse me encontrado?Agarrei uma cabeça de alface e me virei rapidamente, tentando identificar o observador. Não vi ninguém conhecido, mas a paranoia não desaparecia. Acelerei o passo, indo em direção ao caixa. Precisava sair dali. Minha respiração estava rápida e superficial, e meu corpo começou a tremer.Enquanto pagava
Jonas OliveiraLá estava eu, sentado na varanda da fazenda, olhando o horizonte tingido pelo pôr do sol. A vida havia sido um turbilhão de emoções e dificuldades, mas ali, naquele momento, senti uma estranha sensação de paz. Era como se o universo estivesse me dando uma trégua. Luana saiu da casa com duas xícaras de chá. Seus passos eram leves, quase silenciosos, mas eu conseguia sentir sua presença antes mesmo de vê-la.— Trouxe um chá pra gente, Jonas. — disse ela, com um sorriso suave nos lábios.Aceitei a xícara, deixando o calor do chá aquecer minhas mãos. Ficamos em silêncio por um momento, apenas apreciando a companhia um do outro. O silêncio entre nós não era desconfortável; era uma trégua bem-vinda, um espaço para respirar.— Sabe, Luana — comecei, depois de um gole do chá —, tem sido difícil encontrar motivos para seguir em frente, mas desde que você chegou, sinto que algo mudou.Ela me olhou, seus olhos castanhos refletindo a luz dourada do sol poente. Havia uma profundidad
Luana DutraAcordei cedo naquela manhã, antes mesmo do sol começar a despontar no horizonte. O ar fresco da madrugada me despertava, e eu sabia que precisava aproveitar ao máximo aquelas horas de tranquilidade antes que a rotina da fazenda começasse. Vesti minhas roupas de trabalho, calcei minhas botas e saí silenciosamente, tentando não fazer barulho ao fechar a porta.Caminhei até o estábulo, sentindo o orvalho nas folhas de grama roçar meus tornozelos. O som suave dos animais acordando me fez sorrir. A vida na fazenda tinha um ritmo próprio, um compasso tranquilo que me dava paz. Porém, nos últimos dias, algo parecia fora de sintonia. Pequenos incidentes estavam ocorrendo, e eu não podia ignorar a sensação de que alguém estava sabotando nossos esforços.Enquanto cuidava dos cavalos, ouvi passos atrás de mim. Virei-me e vi Jonas se aproximando, com a expressão séria.— Bom dia, Luana. — disse ele, tentando esconder a preocupação na voz.— Bom dia, Jonas. Está tudo bem?Ele suspirou,
Jonas OliveiraAcordei com o canto dos galos, o sol ainda tímido no horizonte. Hoje era o grande dia, o festival de colheita. Fazia anos que a comunidade não se reunia para celebrar algo em grande estilo. Sentia um frio na barriga, uma mistura de ansiedade e expectativa. Vesti minha camisa xadrez, calcei as botas e desci as escadas da casa grande.A cozinha já estava em alvoroço. Dona Lourdes, a cozinheira, estava a mil com as panelas, assando bolos e preparando quitutes. Luana estava ao lado dela, ajudando com as tortas de maçã. Ela parecia tão concentrada e serena, o que sempre trazia um ar de paz para o ambiente.— Luana, tudo pronto por aqui? — perguntei, tentando disfarçar a apreensão.— Quase tudo, Jonas. Dona Lourdes é uma mestre, em breve estará tudo no ponto. — respondeu ela com um sorriso que sempre me acalmava.Fui até o celeiro, onde os outros empregados da fazenda já estavam cuidando dos últimos detalhes. As mesas foram montadas, as cadeiras arrumadas em volta do palco im
Luana DutraO sol já começava a se pôr quando notei a agitação na área das vacas. Uma delas, a Morena, estava prestes a parir. Apressada, corri até a casa principal para avisar Jonas. Ele estava na varanda, limpando algumas ferramentas.— Jonas, a Morena está prestes a ter o bezerro! — disse, ofegante.Ele levantou os olhos, a preocupação evidente no rosto. Deixando tudo de lado, veio na minha direção.— Vamos, não temos tempo a perder.Voltamos juntos para o estábulo, onde a Morena estava deitada, claramente em desconforto. O céu alaranjado começava a se transformar em tons de roxo e azul, e a noite se aproximava rapidamente. Senti um arrepio percorrer minha espinha. Não sabia exatamente se era pela situação ou pela presença de Jonas ao meu lado.— Trouxe as luvas e os equipamentos, Luana? — perguntou ele, enquanto colocava os itens sobre uma mesa improvisada.— Estão aqui. — respondi, estendendo-lhe um par de luvas.A Morena soltou um gemido alto. Nunca havia visto um parto de perto
Jonas OliveiraA viagem estava marcada para o início do verão. Fazia tempo que não via minha família toda reunida, então misturava-se um misto de ansiedade e nostalgia no meu peito. A última vez que todos se encontraram, as coisas não terminaram tão bem. Havia mágoas não resolvidas, palavras não ditas e silêncios carregados de significados.Parti cedo, deixando a fazenda sob os cuidados de Luana. Ela estava se saindo bem e confiava que tudo ficaria em ordem na minha ausência. A viagem até a casa dos meus tios foi tranquila, com paisagens familiares passando pela janela do carro. Quando cheguei, fui recebido com abraços calorosos e sorrisos sinceros, o que trouxe uma sensação de pertencimento.— Jonas! Quanto tempo! — minha tia Clara me envolveu em um abraço apertado, e pude sentir o cheiro de lavanda que sempre me lembrava dela.— Tia Clara, que bom te ver! — retribuí o abraço, sentindo a familiaridade aconchegante.A casa estava cheia. Meus primos corriam pelo quintal, e pude ouvir o
Luana DutraEstava um dia quente na fazenda. O sol brilhava intensamente, espalhando seu calor por cada centímetro do campo. Enxuguei o suor da testa com o dorso da mão, ajustando o chapéu de palha para proteger o rosto. Jonas caminhava ao meu lado, com um ar tranquilo e experiente que eu ainda estava aprendendo a decifrar.— Hoje vou te mostrar como preparar a terra para o plantio. — ele disse, quebrando o silêncio que pairava entre nós. Seus olhos, que geralmente pareciam distantes, estavam cheios de determinação.Eu assenti, sentindo uma mistura de ansiedade e curiosidade. Não fazia muito tempo que eu havia chegado aqui, fugindo de um passado que preferia esquecer. Encontrar um lugar onde me sentisse útil era mais do que um alívio; era uma redenção. Jonas, com sua paciência e sabedoria, parecia ser a chave para essa transformação.Ele se abaixou e pegou um punhado de terra, deixando-a escorrer entre os dedos.— A terra é a base de tudo, Luana. Se não cuidarmos bem dela, nada do que