Jonas OliveiraAcordei com o canto dos galos, o sol ainda tímido no horizonte. Hoje era o grande dia, o festival de colheita. Fazia anos que a comunidade não se reunia para celebrar algo em grande estilo. Sentia um frio na barriga, uma mistura de ansiedade e expectativa. Vesti minha camisa xadrez, calcei as botas e desci as escadas da casa grande.A cozinha já estava em alvoroço. Dona Lourdes, a cozinheira, estava a mil com as panelas, assando bolos e preparando quitutes. Luana estava ao lado dela, ajudando com as tortas de maçã. Ela parecia tão concentrada e serena, o que sempre trazia um ar de paz para o ambiente.— Luana, tudo pronto por aqui? — perguntei, tentando disfarçar a apreensão.— Quase tudo, Jonas. Dona Lourdes é uma mestre, em breve estará tudo no ponto. — respondeu ela com um sorriso que sempre me acalmava.Fui até o celeiro, onde os outros empregados da fazenda já estavam cuidando dos últimos detalhes. As mesas foram montadas, as cadeiras arrumadas em volta do palco im
Luana DutraO sol já começava a se pôr quando notei a agitação na área das vacas. Uma delas, a Morena, estava prestes a parir. Apressada, corri até a casa principal para avisar Jonas. Ele estava na varanda, limpando algumas ferramentas.— Jonas, a Morena está prestes a ter o bezerro! — disse, ofegante.Ele levantou os olhos, a preocupação evidente no rosto. Deixando tudo de lado, veio na minha direção.— Vamos, não temos tempo a perder.Voltamos juntos para o estábulo, onde a Morena estava deitada, claramente em desconforto. O céu alaranjado começava a se transformar em tons de roxo e azul, e a noite se aproximava rapidamente. Senti um arrepio percorrer minha espinha. Não sabia exatamente se era pela situação ou pela presença de Jonas ao meu lado.— Trouxe as luvas e os equipamentos, Luana? — perguntou ele, enquanto colocava os itens sobre uma mesa improvisada.— Estão aqui. — respondi, estendendo-lhe um par de luvas.A Morena soltou um gemido alto. Nunca havia visto um parto de perto
Jonas OliveiraA viagem estava marcada para o início do verão. Fazia tempo que não via minha família toda reunida, então misturava-se um misto de ansiedade e nostalgia no meu peito. A última vez que todos se encontraram, as coisas não terminaram tão bem. Havia mágoas não resolvidas, palavras não ditas e silêncios carregados de significados.Parti cedo, deixando a fazenda sob os cuidados de Luana. Ela estava se saindo bem e confiava que tudo ficaria em ordem na minha ausência. A viagem até a casa dos meus tios foi tranquila, com paisagens familiares passando pela janela do carro. Quando cheguei, fui recebido com abraços calorosos e sorrisos sinceros, o que trouxe uma sensação de pertencimento.— Jonas! Quanto tempo! — minha tia Clara me envolveu em um abraço apertado, e pude sentir o cheiro de lavanda que sempre me lembrava dela.— Tia Clara, que bom te ver! — retribuí o abraço, sentindo a familiaridade aconchegante.A casa estava cheia. Meus primos corriam pelo quintal, e pude ouvir o
Luana DutraEstava um dia quente na fazenda. O sol brilhava intensamente, espalhando seu calor por cada centímetro do campo. Enxuguei o suor da testa com o dorso da mão, ajustando o chapéu de palha para proteger o rosto. Jonas caminhava ao meu lado, com um ar tranquilo e experiente que eu ainda estava aprendendo a decifrar.— Hoje vou te mostrar como preparar a terra para o plantio. — ele disse, quebrando o silêncio que pairava entre nós. Seus olhos, que geralmente pareciam distantes, estavam cheios de determinação.Eu assenti, sentindo uma mistura de ansiedade e curiosidade. Não fazia muito tempo que eu havia chegado aqui, fugindo de um passado que preferia esquecer. Encontrar um lugar onde me sentisse útil era mais do que um alívio; era uma redenção. Jonas, com sua paciência e sabedoria, parecia ser a chave para essa transformação.Ele se abaixou e pegou um punhado de terra, deixando-a escorrer entre os dedos.— A terra é a base de tudo, Luana. Se não cuidarmos bem dela, nada do que
Acordei com o sol batendo no meu rosto e um nó na garganta. Há dias venho tentando ignorar o que sinto, mas hoje, ao abrir os olhos e lembrar do sorriso de Jonas, percebi que não dá mais para fugir. Estou apaixonada por ele. Sentir isso é como carregar um segredo que pode explodir a qualquer momento. Preciso disfarçar, esconder, continuar a rotina como se nada estivesse acontecendo.Desci para a cozinha e comecei a preparar o café. A cafeteira soltava seu aroma reconfortante enquanto eu mexia nos armários procurando a xícara favorita de Jonas. Ouvi passos leves atrás de mim.— Bom dia, Luana. — disse ele com sua voz rouca de sono.Me virei rapidamente, sentindo minhas bochechas queimarem.— Bom dia, Jonas. Dormiu bem?Ele sorriu, e aquele sorriso... Ah, aquele sorriso me desarmava completamente.— Dormi sim. E você?— Bem também. — menti. Passei a noite toda pensando nele, virando de um lado para o outro na cama.Ele se aproximou, pegou a xícara que eu segurava e nossos dedos se tocar
A tempestade veio sem aviso. Os primeiros pingos caíram como se o céu estivesse rasgando, e logo estávamos no meio de um aguaceiro. Eu e Jonas estávamos tentando recolher os animais para dentro do estábulo quando a chuva nos alcançou. Em segundos, estávamos ensopados.Corremos até o abrigo, rindo como duas crianças. Os relâmpagos cortavam o céu, seguidos por estrondos que faziam o chão tremer. Ao nos vermos finalmente protegidos, rimos ainda mais. Senti a água escorrendo pelo meu rosto, pingando do cabelo e encharcando minhas roupas.— Isso foi insano! — eu disse, tentando tirar a água dos olhos.Jonas sorriu, seus dentes brilhando na penumbra do estábulo. Ele estava tão encharcado quanto eu, sua camisa colada ao corpo, delineando cada músculo. Tentei não olhar, mas era impossível. Engoli em seco, sentindo um calor inesperado subir pelo meu corpo.— É, parece que a gente não vai secar tão cedo. — ele respondeu, tirando a camisa molhada. O gesto foi casual, entretanto fiquei sem palavr
Jonas OliveiraEstava sentado no velho alpendre da fazenda, o sol se pondo ao longe, tingindo o céu de laranja e vermelho. Aquele era o meu refúgio, um lugar onde podia pensar e, ultimamente, desabafar com Pedro, meu amigo de longa data. Pedro chegou pontualmente, como sempre, trazendo uma garrafa de cachaça. Sentou-se ao meu lado e, após alguns goles, começamos a falar sobre a vida, como sempre fazíamos.— Cara, tá complicado... — soltei, quebrando o silêncio.— O que foi dessa vez? — Pedro perguntou, já sabendo que o assunto era Luana.Suspirei profundamente, sentindo o peso das palavras que estavam por vir. Olhei para o horizonte, buscando coragem na vastidão do campo.— É a Luana. — admiti. — Ter ela por perto e não poder abraçá-la, beijá-la... é uma tortura. Eu não sei mais o que fazer.Pedro assentiu, como quem compreendia a profundidade do meu dilema. Ele conhecia toda a história, desde o dia em que Luana chegou à fazenda, fugindo de seu passado sombrio. Tínhamos nos aproximado
Luana DutraEu andava pelas ruas da cidade, observando vitrines e respirando o ar fresco de um dia ensolarado. Meus olhos se fixaram em um par de botas exposto na vitrine de uma loja. Eram robustas, de couro marrom, com detalhes que lembravam a vida na fazenda. Imediatamente pensei em Jonas. Ele estava sempre calçando suas botas surradas, que claramente já haviam visto dias melhores. Entrei na loja, sentindo a excitação crescer dentro de mim.— Posso ajudar? — perguntou a vendedora, com um sorriso amigável.— Sim, gostaria de ver aquelas botas ali na vitrine.Ela pegou o par e me mostrou de perto. Eram ainda mais bonitas ao toque, macias, mas resistentes. Sabia que Jonas as amaria. Sem pensar duas vezes, comprei as botas e me apressei a voltar para a fazenda.Quando cheguei, o sol já começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa. Jonas estava na varanda, uma figura imponente contra o céu alaranjado do entardecer. Sua robustez era evidente, com ombros largos e braços fortes que r