Capítulo 4 Confronto na Fazenda

Luana Dutra

A tarde estava quente, e eu mal tinha começado a segunda metade do meu dia de trabalho. Estava no celeiro, organizando algumas ferramentas, quando ouvi passos firmes se aproximando. Reconheci de imediato: era Helena, uma das trabalhadoras mais antigas da fazenda. Tinha algo no olhar dela que não me agradava.

— Luana — começou ela, sem rodeios —, podemos conversar?

Me endireitei, limpando as mãos na calça jeans. Helena não era de fazer cerimônia, mas o tom dela era diferente hoje, mais carregado.

— Claro, Helena. O que foi?

Ela cruzou os braços, olhos semicerrados.

— Tenho visto como você e Jonas têm estado próximos ultimamente.

Suspirei, tentando manter a calma. Já sabia onde isso ia parar.

— Jonas é meu patrão, Helena. Estamos apenas trabalhando juntos para manter a fazenda funcionando bem.

Ela deu um passo à frente, invadindo meu espaço pessoal.

— Não me venha com essa, Luana. Todo mundo aqui já percebeu que há algo mais entre vocês dois. Não finja que é só trabalho.

Me senti como se tivesse levado um soco no estômago. Eu e Jonas realmente tínhamos nos aproximado, mas não era nada do que Helena estava insinuando. Nossas conversas, os momentos que compartilhamos, eram de genuína amizade, de um apoio mútuo para superar nossos passados difíceis.

— Você está enganada! — respondi firme, mas minha voz tremeu um pouco. — Não há nada além de respeito e amizade entre mim e Jonas.

Helena riu, mas era um riso sem alegria, cheio de desprezo.

— Respeito? Amizade? Você acha que alguém vai acreditar nisso? Você, a novata que aparece do nada e logo se torna a queridinha do patrão? Desculpe, mas isso não cola.

Tentei respirar fundo, mas meu coração batia rápido. Antes que eu pudesse responder, Jonas apareceu na porta do celeiro, atraído pelos gritos. Seus olhos imediatamente focaram em Helena e depois em mim, percebendo a tensão no ar.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou, a voz calma, mas com um toque de autoridade.

Ela se virou para ele, sem um pingo de hesitação.

— Estou tentando entender a relação entre o senhor e Luana, patrão. Parece que nossa nova colega aqui está recebendo tratamento especial.

Jonas franziu a testa, claramente irritado.

— Helena, você está ultrapassando os limites. Luana é uma funcionária dedicada, e qualquer relação que temos é puramente profissional.

Ela não recuou, e eu admirei a coragem dela, mesmo que estivesse direcionada contra mim.

— E você espera que todos nós acreditemos nisso? Olhe para ela, patrão. Todo mundo vê como vocês dois são próximos.

Eu sentia o calor subindo no meu rosto. Queria desaparecer, mas sabia que precisava enfrentar isso.

— Helena, eu sei que você tem suas suspeitas, mas eu nunca faria nada para comprometer meu trabalho aqui. Respeito todos vocês e, principalmente, Jonas.

Jonas deu um passo à frente, colocando-se entre mim e ela.

— Confio em Luana. Ela tem sido uma parte vital da equipe, e não admito que você ou qualquer outro a trate dessa forma. Se tiver algum problema com isso, podemos discutir de maneira civilizada, mas não assim.

Helena olhou para Jonas, depois para mim, e eu vi algo mudar em seu olhar. Talvez fosse o tom definitivo de Jonas, ou a minha sinceridade. De qualquer forma, ela deu um passo atrás, ainda relutante.

— Só estou preocupada com a fazenda. — disse ela, a voz menos agressiva. — Não quero que nada a prejudique.

Jonas assentiu, a tensão em seus ombros diminuindo um pouco.

— Todos estamos, Helena. Mas isso não justifica atacar Luana. Vamos trabalhar juntos, com respeito. É só isso que peço.

Helena olhou para mim uma última vez antes de sair do celeiro. Soltei um suspiro de alívio, minhas mãos ainda tremendo. Jonas se virou para mim, a preocupação evidente em seus olhos.

— Você está bem?

Assenti, ainda tentando recuperar o fôlego.

— Sim, só... não esperava isso.

Ele colocou uma mão reconfortante no meu ombro.

— Sinto muito que tenha passado por isso. Helena é leal, mas às vezes exagera.

— Eu entendo. Só quero fazer meu trabalho bem e ajudar na fazenda.

Jonas sorriu, um sorriso pequeno, mas sincero.

— E está fazendo. Não deixe que isso te desanime.

Eu sorri de volta, sentindo um pouco do peso sair dos meus ombros. As coisas não seriam fáceis, mas com o apoio de Jonas, eu sabia que podia enfrentar qualquer desafio.

Depois que ele saiu, fiquei um momento sozinha no celeiro, refletindo. Helena tinha razão em uma coisa: minha relação com Jonas era especial, mas não da forma que ela pensava. Era uma amizade construída em respeito e entendimento mútuo, algo que eu não estava disposta a deixar que mal-entendidos destruíssem.

Continuei meu trabalho, mais determinada do que nunca a provar meu valor e a ganhar o respeito de todos na fazenda. A tarde passou devagar, mas a brisa suave e o som dos animais ao redor me ajudaram a encontrar paz novamente. Eu sabia que mais desafios viriam, mas também sabia que tinha força para enfrentá-los.

O sol já começava a se pôr quando terminei minhas tarefas. Caminhei em direção à casa principal, as palavras de Helena ainda ecoando na minha mente. Sabia que não seria fácil mudar a opinião dela e de outros, mas estava disposta a tentar. Afinal, a fazenda era mais do que um lugar de trabalho para mim; era um refúgio, um novo começo. E eu faria o possível para mantê-la assim.

Chegando à casa, encontrei Jonas no alpendre, olhando para o horizonte. Ele se virou ao ouvir meus passos, e eu vi uma preocupação genuína em seus olhos.

— Quer conversar? — perguntou ele, sua voz suave.

Assenti, sentando ao lado dele. Às vezes, as palavras não eram necessárias. A companhia silenciosa era suficiente para lembrar que, apesar dos desafios, eu não estava sozinha.

Enquanto o céu mudava de cor, percebi que a fazenda era mais do que um trabalho; era uma família. E, como em qualquer família, haveria desentendimentos e conflitos. Porém, com compreensão e respeito, poderíamos superar qualquer coisa juntos.

A noite caiu, e com ela, uma nova determinação cresceu dentro de mim. Eu não deixaria que mal-entendidos ou preconceitos definissem meu lugar ali. Eu era forte, e com o apoio de Jonas e a vontade de provar meu valor, enfrentaria qualquer desafio de cabeça erguida.

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