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Capítulo 6 Uma mãe preocupada

Luana Dutra

O telefone da fazenda estava ali, antigo e robusto, pendurado na parede da cozinha. Era um desses aparelhos que quase não se vê mais, com disco giratório e um fio em espiral que parecia ter vivido décadas de histórias. Havia uma sensação de urgência no ar enquanto eu me aproximava. A saudade misturada com o medo fazia meu coração bater descompassado. Precisava falar com minha mãe, precisava ouvir sua voz, precisava que ela soubesse que eu estava bem, mesmo que não pudesse revelar onde estava.

Peguei o fone com mãos trêmulas e disquei os números com cuidado. Cada giro do disco parecia eternizar o momento, deixando meus nervos à flor da pele. Quando a chamada começou a conectar, senti um frio na espinha. O toque do outro lado parecia ecoar pelo tempo, e cada segundo parecia uma eternidade até que a voz conhecida e amada atendesse.

— Alô? — a voz da minha mãe soou como um bálsamo. Um turbilhão de emoções me envolveu. Era a primeira vez que eu ouvia sua voz desde que tinha fugido.

— Mãe, sou eu, Luana.

— Luana! Graças a Deus, você está bem? Onde você está, minha filha? — a preocupação na voz dela era evidente.

— Estou bem, mãe. Estou segura, mas não posso te dizer onde estou. É para minha segurança... e para a sua também. — minha voz saiu embargada, lutando contra as lágrimas que ameaçavam cair.

Houve um silêncio do outro lado da linha, mas eu podia quase ouvir os pensamentos da minha mãe rodopiando. Ela sempre foi uma mulher forte, mas eu sabia que minha situação estava corroendo sua alma.

— Eu entendo, minha filha. Sei que você tem medo de que Fernando te encontre... — ela não precisou terminar a frase. O nome de Fernando soava como um eco sombrio de um passado que eu estava desesperada para deixar para trás.

— Sim, mãe. Ele tentou me matar, e eu sei que não vai desistir até conseguir. — a dor e o medo na minha voz eram inconfundíveis. — Mas aqui estou segura. As pessoas aqui são boas. — olhei pela janela da cozinha, onde Jonas estava cuidando dos cavalos. A presença dele me dava um estranho sentimento de segurança.

— Fico feliz em saber que você está segura. Só queria poder te abraçar, saber que está mesmo bem. — a voz dela tremia, e eu sabia que estava chorando.

— Eu também queria isso, mãe. Mas preciso que confie em mim. Um dia, quando tudo isso acabar, eu volto para casa. Prometo.

— Eu confio, minha filha. Só quero que você se cuide. Não baixe a guarda, nunca. Fernando é perigoso. — a preocupação dela era quase palpável.

— Eu sei, mãe. Estou sendo cuidadosa. Jonas, o dono da fazenda onde estou, é uma pessoa boa. Ele me protege. — senti um calor invadir meu peito ao falar dele. Jonas tinha se tornado uma âncora em meio à tempestade que era minha vida.

— Ele parece ser um homem bom. Que Deus o abençoe por cuidar de você. — a voz dela era de gratidão.

— Ele realmente é, mãe. Ele tem seus próprios demônios para lidar, mas juntos estamos tentando superar nossas dores. — Eu queria contar mais, mas sabia que não podia me estender.

— Fico mais tranquila sabendo disso, Luana. Por favor, me ligue sempre que puder. Sua voz é tudo que tenho agora. — o desespero na voz dela era sufocante.

— Vou ligar, mãe. Sempre que puder. — olhei ao redor, sentindo uma pontada de culpa por não poder dizer mais. — Te amo, mãe. E diga ao papai que eu o amo também.

— Nós também te amamos, minha filha. Fique bem e não se esqueça que estamos aqui, esperando por você.

— Eu sei. Adeus, mãe. — com lágrimas nos olhos, desliguei o telefone. Ficar longe era uma das coisas mais difíceis que eu já tinha feito, mas era necessário. Eu sabia que era a única forma de proteger a mim mesma e a minha família.

Voltei para a cozinha, onde o cheiro de café fresco me acolheu. Jonas estava na porta, observando-me com aquele olhar que dizia muito mais do que palavras poderiam expressar. Ele não precisava perguntar; sabia que eu tinha falado com minha mãe.

— Tudo bem? — perguntou ele, com sua voz grave e reconfortante.

— Sim, falei com ela. Estão bem, mas preocupados, como sempre. — dei um sorriso fraco, tentando afastar a tristeza que ainda pesava no meu peito.

— Vai ficar tudo bem, Luana. Estamos fazendo o que podemos para te manter segura. — ele se aproximou e colocou a mão no meu ombro, oferecendo um conforto silencioso que eu tanto precisava.

Assenti, sentindo a gratidão encher meu coração. A vida na fazenda estava longe de ser fácil, mas era uma nova chance, um novo começo. E com Jonas ao meu lado, eu sentia que podia enfrentar qualquer coisa.

Os dias na fazenda eram cheios de trabalho duro, mas havia uma paz que eu não encontrava há tempos. Cada amanhecer trazia uma nova esperança, uma nova oportunidade de reconstruir minha vida. E cada noite, enquanto olhava para as estrelas, pensava na minha mãe e no quanto ela se sacrificava para me manter segura, mesmo à distância.

A conexão com Jonas também se fortalecia a cada dia. Descobríamos segredos sobre o passado de sua família através do antigo diário que eu encontrara. Cada página revelava mais sobre os segredos escondidos e as dores não ditas. E, de alguma forma, esses segredos nos aproximavam ainda mais, criando uma cumplicidade que nos ajudava a enfrentar nossos próprios medos e traumas.

Às vezes, sentávamos juntos à beira do rio, em silêncio, apenas apreciando a companhia um do outro. Havia uma serenidade nesses momentos que eu não trocaria por nada. Jonas era um homem complexo, cheio de cicatrizes, mas também de uma bondade rara. E essa bondade me dava forças para continuar, para acreditar que dias melhores viriam.

— Luana, você já pensou em contar onde você está para sua mãe? — perguntou ele uma noite, enquanto observávamos o pôr do sol.

— Já pensei, mas tenho medo do que isso pode causar. Ela já sofreu tanto por minha causa. Não quero que ela carregue mais esse peso. — respondi, olhando para o horizonte.

— Entendo. Mas saiba que você não está sozinha. Estou aqui para o que precisar. — ele sorriu, e aquele sorriso aquecia meu coração.

— Obrigada, Jonas. Você também não está sozinho. — respondi, sentindo uma conexão ainda mais forte com ele.

A vida na fazenda seguia, com suas rotinas e desafios, mas agora, com a certeza de que eu não estava mais sozinha. Cada ligação para minha mãe me dava forças para continuar, e cada dia ao lado de Jonas me fazia acreditar que, apesar de tudo, a vida ainda podia ser bela.

E assim, entre telefonemas, diários antigos e dias de trabalho árduo, fomos construindo uma nova história. Uma história de superação, de amizade e, quem sabe, de amor. Porque, no fim das contas, são esses momentos que nos definem e nos dão forças para seguir em frente, não importa o quão difícil a jornada possa ser.

A ligação para minha mãe foi um ponto de virada. Ela sabia dos riscos, entendia o perigo, mas também confiava que eu estava fazendo o melhor para me proteger. E essa confiança, esse amor incondicional, era o que me mantinha forte, mesmo nos dias mais difíceis. 

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