06.

Sem perder tempo, Arkel entrou no bar e se apoiou no balcão perto da porta e de frente e a alguns metros da mulher com as pernas e o traseiro que aguçaram sua imaginação. O garçom assumiu uma postura mais profissional e foi ao encontro do empresário que pediu água com gás, limão e gelo. Arkel bebeu um gole da água refrescante e congelou os olhos em Alex.

Sem querer, mirei um cara que ergueu o copo para me cumprimentar. O cara é bem o meu tipo. Não parece um turista, pelas roupas que usa. Quem sabe não está a negócios ou a trabalho. Para estar no bar a esta hora, deve ter um cargo importante. A abordagem me surpreendeu e não sei o que fazer. O que a personagem do romance que leio faria no meu lugar? Para disfarçar, corrigi minha postura e fingi mexer no celular.  Sentei na banqueta do bar e cruzei as pernas.  Sei que elas são de arrasar.

Arkel não entendeu nada. Lembrou o que ela falou no check-in.  Eram solteiras e a agitação das amigas falando sobre os “gatos a espera delas” garantiu que queriam encontrar um par para os dias que viriam. Se foram ao bar de encontros, era porque estavam atrás dos solteiros. Ele não era acostumado a levar foras, ao contrário, as mulheres sempre correspondiam. O empresário visualizou uma mensagem no celular, a respeito de um dos garçons do resort, baleado pela polícia na porta de casa. Colocou o copo, com a bebida pela metade, em cima do balcão, olhou para ela e saiu contrariado.

Concluí que o melhor era sorrir para ele. Segura da minha estratégia, girei para o lado oposto para disfarçar e depois voltei os olhos para ele. Para minha surpresa, o homem interessante desapareceu.

Fiquei sem jeito e decepcionada comigo mesma. Continuei parada, mexendo no celular.

Alex não notou que Carol e o garçom conversavam com os olhos grudados nela.  

- Já sei como a Alex conseguirá a noite que tanto espera – Carol cochichou para Sato.

- Como?

- Contrataremos um profissional da noite. Só um homem do ramo para cumprir as três noites. A gente explica o que ele precisa fazer e, pagando bem, que mal tem?

- A Alex ficará furiosa, se descobrir.

- Se descobrir, portanto, “boca de siri” amiga. A Alex não para de mexer naquele celular. Assim que entramos, percebi que os homens não tiraram os olhos dela. Acontece que a criatura está de frente para o balcão e esquece que o mundo também gira ao redor dela. O pior é que o tempo está passando e daqui a pouco o final de semana já era.

- Como acharemos o cara?

- Conversei com o gostoso do bar que me passou o endereço de uma casa noturna, onde tem uns caras que fazem esse tipo de serviço e cobram bem.

- Vamos para piscina, quero pegar um sol e dar um mergulho – passei pelas minhas amigas que não paravam de cochichar. Não quero nem saber o que é. Caminhei em direção à praia artificial para me distrair.

- Que horror, um homem ergue um copo e espera que você dê aquele sorriso com as pernas abertas.

- Você está falando de que amiga? – Carol, sentada na espreguiçadeira e passando o bronzeador nas pernas e nos braços, me perguntou.

- Nada – falei aborrecida. Não consigo acreditar que deixei uma oportunidade assim escapar. Raramente me interesso por alguém.  Não me conformo.

- Quer que eu passe bronzeador nas suas costas? – Carol perguntou. - Se eu deitar nessa cadeira, só erguerei este corpo daqui em quarenta minutos e será para dar um mergulho.

- Eu quero – Sato falou.

- Não me diga que você está pensando em trabalho? – Carol me perguntou.

- Estou pensando o quanto eu quero encontrar um homem interessante, mesmo que seja para passar uma noite antes de ir para aquele fim de mundo.

- Jura? - As minhas amigas falaram ao mesmo tempo.

- Eu não acredito – Carol apontou o indicador para Sato.

- Pode apostar que sim – falei, morosamente, deitada na espreguiçadeira, de olhos fechados. A imagem dele não saía da minha cabeça.

- Eu tenho um plano em mente e acredito que pode dar certo – a Carol cruzou as pernas e apoiou as mãos para trás na espreguiçadeira.

- Pode falar – nem abri meus olhos.

A Sato também sentou na cadeira, com o sol nas costas e o álcool na cabeça.

A coisa toda aconteceria no bar que foram, o ponto de encontro dos solteiros, sem que a Alex soubesse da contratação de um profissional da noite.

- Você nos mostra um homem que interessa a você e nós mostramos um que acreditamos que goste. Se o seu escolhido não agradar, você conversa com o que escolhermos.

- Não sei se dará certo – comentei desanimada. Imaginei, ao menos, iniciar uma conversa com o homem interessante.

- Você quer que aconteça ou não?

- É claro que eu quero – expirei forte, afinal, queria que acontecesse com o cara do bar – acontece que eu estrago tudo.

- Como assim? O que foi que a gente perdeu?

- Tinha um homem bem interessante no bar que flertou comigo e, como demorei para corresponder ... – bufei. - Conclusão? – inspirei o ar para os pulmões. - Ele cansou de esperar e foi embora.

- Qual deles? Aquele da última mesa ou aquele que estava com um amigo perto do banheiro? – Carol me chacoalhou pelo braço.

- Nenhum deles – ergui o indicador e balancei de um lado para o outro, como a um para-brisas. - Era um cara bem alto perto da porta.

- Amiga, na próxima, seja mais rápida.

- Serei mesmo.

- Estou indo pegar mais uma bebida, quer? – Carol falou e jogou a cabeça para o lado dos bares, indicando para Sato ir junto.

- Uma água mineral com gás e bastante gelo - falei. Queria mesmo é pegar uma bebida forte e me acabar na ressaca.

- Me ajuda aqui Sato, só tenho duas mãos - Carol a puxou pelo braço. As conspiradoras caminharam em direção ao bar mais distante para planejar o que fariam.

- Amiga, o negócio é o seguinte: se você gostar do cara, se j**a em cima – ergui meus óculos e encarei a Carol. - Quer dizer, se j**a de cabeça.

- As coisas não precisam acontecer em um piscar de olhos – baixei meus óculos. - Não sei ser assim.

- Amiga, se você quer passar um final de semana daqueles com um homem interessante, tem que apressar as coisas. Se não der certo, parte para outro.

As amigas, exaustas e satisfeitas por aproveitarem o sol e a água, subiram após o pôr do sol que, aliás, foi um espetáculo.

- Não consigo abrir a porta com meu cartão – reclamei após passar o cartão e a porta não abrir.

Sato passou o cartão dela e funcionou.

- Não acredito que o meu está com problema – falei assim que a porta abriu. – Precisarei trocar na recepção.

- Estou pensando em ir numa balada no centro da cidade, o que acham? – Carol falou encarando Sato que sabia que era a deixa para colocarem em prática seus planos.

- Eu topo – Sato respondeu, como combinaram que fariam.

- Hoje estou bem desanimada e não serei uma boa companhia. Quero ficar aqui e continuar minha leitura. Podem ir, não me importo, amanhã serei outra pessoa.

- Não tem graça jantar sozinha.

- Irei ao restaurante – Coloquei um short destroyer jeans, uma camiseta de algodão e tênis branco assim que tomei banho.

- Amiga, você precisa estar aberta aos relacionamentos e deixar que as coisas aconteçam. Se ficar plantada nesse quarto esperando que o homem dos seus sonhos apareça, nunca encontrará um. Você precisa sair e se mostrar para o mundo, na verdade, se mostrar para os homens - Carol trocou olhares com Sato.

- Hoje não, mas eu sei que você está coberta de razão. Quero ler e relaxar um pouco – fui até o armário de cabeceira e manuseei os 3 romances que coloquei na bagagem. - Prometo que amanhã acordarei animada e disposta – mirei a capa do meu romance favorito e falei. - Já entendi que aquele homem surpreendente só existe nos romances que leio.

Na verdade, Alex não tinha nenhuma referência de casais apaixonados ou relacionamentos normais. Nem queria lembrar o que presenciou entre os pais biológicos. Lembrou do casal que a adotou, consumido pelo desgaste dos anos de luta contra a doença que tirou o menino deles. Em anos, raramente falaram o nome dele. Sempre que se referiam como “nosso menino”. Eles eram muito companheiros e dedicados como pais, mas o sofrimento não deixou espaço para demonstrarem o que sentiam um pelo outro. Apenas queriam continuar a missão como pais. Por isso, Alex encontrou na leitura um modelo de casal perfeito e passou a acreditar que o correto eram aqueles relacionamentos.

Alguns minutos depois que as amigas saíram, desceu para jantar com o estojo dos óculos, celular e o romance. Antes, andou até a portaria para trocar o cartão do quarto.

- Senhor.

- Boa noite, Alex.

- Boa noite – me debrucei no balcão da recepção e estranhei o gerente saber meu nome. Acredito que faça parte da política do bom atendimento do resort.

- Em que posso ajudá-la?

- Não consigo abrir a porta com meu cartão.

- Só um minuto – o gerente se afastou.

Nesse momento, Arkel e os seguranças cruzaram o salão do hotel.

- Quanto tempo até chegarmos lá? – Arkel perguntou para Cooper com os olhos grudados em Alex apoiada no balcão da recepção.

– Quinze minutos.

- Marquei daqui a quarenta e cinco minutos – Arkel encarou Cooper. – Sairemos em 20min.

- Aguardaremos lá fora – Cooper saiu com os outros seguranças em direção à saída logo atrás da recepção.

- Seu cartão Alex.

- Obrigada

Alex caminhou para o restaurante e Arkel imaginou que jantaria com alguém. Será que era um homem? Alex era muito atraente e aquele shorts era demais. Era possível perceber que o sutiã dela era branco e Arkel imaginou que a calcinha também. Como não marcou o short, com certeza, era um fio dental. Arkel a imaginou com uma lingerie branca.

- Que safada.

Já no corredor, Arkel aguardou alguns minutos na porta até o garçom acompanhá-la na mesa perto da janela.

- Ela está esperando por alguém? – Arkel, com os olhos nela, perguntou ao garçom assim que passou por ele.

- Senhor, acredito que não. O pedido é para uma pessoa – nesse momento, Alex colocou os óculos e começou a ler o romance.

- E a bebida? – Arkel, sem tirar os olhos dela, perguntou.

- Apenas para uma pessoa, senhor.

- O nome dela é Alex, passe uma mensagem ao senhor G. se ela jantar com alguém.

Como não conseguia tirar os olhos dela, aguardou alguns minutos perto do bar. Não seria nenhum sacrifício permanecer por mais alguns minutos a contemplando. Algo nela o atraía. Quem sabe se remarcasse o compromisso? Não. Era um assunto muito grave e precisaria ser esclarecido logo. Como Alex não olhou para os lados e nem consultou o celular atrás de mensagens, Arkel concluiu que ela não esperava ninguém para jantar, o que o deixou mais tranquilo. Há anos fazia abordagens mais diretas às mulheres. Com ela, queria ser mais cauteloso. Alex o deixou confuso. Mais uma vez, não entendeu nada. Será que era comprometida? E a agitação com as amigas após o check-in para encontrar os solteiros? Após quinze minutos, o empresário decidiu ir embora. Caso contrário, se atrasaria. No dia seguinte, daria um jeito para que Alex o notasse.

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