05.

No painel de voos online aparecia a mensagem alarmante “Embarque Imediato” para a cidade que viajaria com minhas amigas, que estavam bastante atrasadas. Não tinha muito o que fazer e imaginei embarcar naquele avião sozinha. Escolhi esperar por elas, afinal, que graça tinha passar os últimos dias das minhas férias sem a companhia das minhas amigas.  Aguardei na porta da sala de embarque, impaciente, que aparecessem no corredor que os passageiros eram direcionados após o check-in.

- Cadê aquelas duas!?

A única coisa que sabia é que minhas amigas chegaram ao aeroporto, graças a localização que compartilharam, em tempo real pelo celular.

“Última chamada para o voo ...”

Que aflição. Acabaram de anunciar a última chamada para o nosso voo e as desmioladas nem chegaram no fundo do corredor.  

Chegar ao aeroporto com antecedência era algo simples para mim. Quanto as minhas amigas, nunca conseguiam ser pontuais, muito menos chegar com antecedência. Ao contrário, sempre chegaram faltando minutos para o embarque, o que me fazia amaldiçoá-las. São como irmãs para mim e minha fúria desaparecia em minutos. O suficiente para desfazer o ar de contrariedade e a minha carranca.

- Chegamos, chegamos – Carol e Sato gritaram, ao longe, assim que surgiram no corredor. Acenaram e correram em minha direção. Com o escândalo que faziam, pensei em entrar rapidamente naquele avião e fechar a porta. Por sorte, apenas a comissária com cara de poucos amigos assistiu o disparate. Nem esperei que chegassem e revirou meus olhos. Impaciente, girei o corpo e caminhei com passos morosos e cara de paisagem, em direção ao portão de embarque. Apresentei o bilhete para a comissária que estendeu a mão e o pegou.

- Boa viagem, senhora – a comissária me encarou e sorriu falsamente assim que o leitor de código de barras apitou.

- Obrigada – fingi um sorriso com as afobadas atrás de mim.

- O que aconteceu? – Perguntei assim que acomodei minha bagagem de mão e o blazer no compartimento superior, logo acima dos assentos.

- Você não vai acreditar no que aconteceu – a Carol sentou no assento do meio ainda com dificuldade para respirar.

- Pode apostar que sim – cruzei meus braços na frente do corpo e a encarei.

- Eu me mudei há mais de um mês e a Sato esqueceu. No momento de solicitar a corrida, escolheu “Casa Carol” como destino intermediário e imagine a confusão.

- Esqueçam isso, o que importa é que chegamos.

- E a gincana? – Carol perguntou.

- Ganhei – respondi, orgulhosa. A vontade de matá-las se foi.

- Pela quarta vez? – Carol ergueu as sobrancelhas em sinal de interrogação e mostrou os quatro dedos da mão para mim.

- A sexta – falei bem empolgada.

- Quantos suspeitos?

- Oito.

- Quantas páginas descreveram o crime?

- Geralmente 11 páginas e um elemento surpresa. Quase caí na pegadinha, digamos – pisquei para elas.

Conversamos outros assuntos e o tempo passou rápido demais.

- Senhores passageiros ... - o comandante anunciou o pouso do avião.

Enfim, chegamos ao resort ...

- PQP gente – a Carol gritou, ao sair do carro de aplicativo, girando no mesmo lugar com os braços abertos. A empolgação dela é de admirar.

- Gostei do lugar – no primeiro degrau, falei. – Quero muito descansar.

- Só se for durante o dia, porque suas noites já tem agenda certa – Carol encarou Sato, como se pedisse ajuda.

- Não esqueça que este final de semana você conhecerá um cara e algo tem que acontecer amiga – cantarolou Sato. – Serão as 3 melhores noites da sua vida.

- Se o cara topar e eu me agradar do cara.

Alex ignorou totalmente o que as amigas tagarelaram depois. Enquanto subia os degraus do resort, contemplou a fachada moderna e de bom gosto. O jardim amplo e muito bem cuidado, deram um charme especial ao lugar.

No saguão do hotel, Alex fazia o check-in das três, Carol e Sato foram em direção à praia artificial. Alex não percebeu que o multimilionário Carlos Romero Arkel se aproximou, a encarou de cima a baixo e assistiu o embate com o recepcionista.

- Senhorita, no e-mail apenas informa quarto com lugar para três. Há uma pergunta no formulário se tem preferência pelas acomodações.

- Senhor, preenchi no aplicativo como solteira para nós três e recebi a confirmação dos dados cadastrados. Entendo que o quarto deve ter uma cama de solteiro para cada uma. Você não quer que eu passe os últimos dias das minhas férias dormindo de conchinha com uma das minhas amigas, quer?

Nesse instante, Arkel sorriu, ergueu uma das sobrancelhas e se afastou. Sinalizou para o gerente se aproximar.

- Qual o nome dela? – Arkel perguntou.

- É Alex, senhor.

- Guarde o nome e a ficha dela – Arkel não conseguia desgrudar os olhos dela.

O empresário explicou ao gerente como corrigir o mal-entendido e ele foi até o check-in.

- Um minuto, senhorita – o gerente puxou o recepcionista pelo braço e repassou as instruções.

Curiosa e ansiosa pelo desfecho com a reserva, deu as costas para a recepção e andou na direção onde as amigas foram. Arkel contemplou seu traseiro. Era redondo e empinado. Assim que Alex retornou, desceu seus olhos do rosto dela para seus peitos, coxas e retornaram para o rosto. O empresário gostou e imaginou mil coisas e, em todas, Alex estava nua ou com uma lingerie preta, minúscula e sexy. O corpo dele reagiu.

- Mil desculpas, senhorita – o recepcionista voltou após alguns poucos minutos. – Não temos mais quartos na torre C, mas temos um quarto vago com três camas de solteiro na torre A, lembrando que é uma área com vista para nossa praia.

- A praia artificial?

- Sim senhora, sem nenhum custo adicional.

- Meu nome é Alex – nem acreditei.

O recepcionista assentiu.

- Pedido de desculpas registrado – sorri para demonstrar minha satisfação com a solução dada para o mal-entendido.

Arkel, do outro lado, também sorriu. Nada como uma mulher satisfeita, pensou ele.

O recepcionista concluiu o check-in e me entregou os 3 cartões.

- Você não vai acreditar, existem vários bares molhados ao redor da praia e muitos gatos a nossa espera – Carol falou em “alto e bom som” , antes mesmo de chegar ao elevador.

- Carol, pare de fazer escândalo – caminhei em direção ao elevador e expliquei a elas o mal entendido no check-in.

Assim que o concierge do resort descarregou nossas malas no meio do quarto, caminhamos direto para a janela e conferimos a vista para a praia artificial.

- Nossa, a gente vai acordar e dar de cara com essa miragem, já começamos nossas férias com o pé direito – a Carol, empolgada, falou – garota, você nasceu mesmo com o ... virado para a lua hein?!

Ergui uma das sobrancelhas para minha amiga.

- Enfim, um final de semana de descanso – lembrei das noites e finais de semana que passei trabalhando nos últimos meses. Comecei a desfazer minhas malas e organizei minhas roupas e acessórios, cuidadosamente, na minha parte do armário e os cosméticos e necessaire no banheiro.

A Carol simplesmente debruçou sua mala sobre a cama e já foi separando a roupa de banho, sandália, filtro solar, bolsa e chapéu. Os óculos escuros também eram essenciais.

A Sato abriu a mala, a menor delas, e separou uma sacola com as roupas de banho, um necessaire com os cosméticos e outra sacolinha com o tamanco.

A agitação no resort era contagiante, assim como nossa empolgação. Ao notarmos o grupo de solteiros transitando no saguão assim que saímos do elevador, trocamos olhares. Diferente do que pensei, os solteiros e disponíveis eram muitos e as solteiras também. Ao menos, a oferta era párea para a demanda. O sol forte do final da manhã lotou os bares e as filas se fizeram por todo lugar.

- Cadê a Carol? – Sato olhou de um lado para o outro.

- Cadê aquela garota – a Carol conseguia desaparecer na nossa frente. Não sei como ela conseguia.

Alex não percebeu um par de olhos famintos em sua direção.

Bem perto delas, Arkel conversava com o gerente do resort. A distância era suficiente para que grudasse os olhos nas pernas dela. A imaginação fértil do empresário foi longe com aquela saída de banho curta. Imaginou suas mãos subindo por trás das coxas bem definidas em direção ao norte e parando nas nádegas dela.

- Aqui meninas - Carol voltou alguns minutos depois, correndo e acenando para nós, parecendo uma ambulância com a sirene ligada. Que sufoco.

- Será que a Carol não consegue ser discreta? – pergunte envergonhada.

- Vocês não acreditam o que achei.

- Um cara escrito “me beija” na testa – Sato falou impaciente.

- Pode apostar que tem alguns que sorriram para mim de um jeito que insinua bem mais que um beijo - Carol, quase sem fôlego, respondeu.

- Fale logo, amiga – com uma das mãos escondi a lateral direita do rosto. Eram muitos olhares em cima de nós. A Carol não é nada discreta, diferente de mim.

- Tem um bar lá dentro que serve porções, lanches e bebidas geladas e está aberto – Carol falou com a fala esganiçada e sacudindo as mãos abertas na altura dos ombros – sabem qual é a melhor? –  Negamos com a cabeça. - Não tem fila.

- Vamos logo – não perdi tempo e as puxei na direção do saguão do resort.

***

Arkel, de olho em Alex, não perdeu tempo ...

- Veja para onde aquelas três estão indo, principalmente a mulher com traje de banho bordô, e reporte ao senhor G. - Arkel apontou na direção das amigas e falou ao garçom que passou naquele exato momento.

- Sim senhor – o garçom, para não as perder de vista, saiu apressado atrás delas.

Já no final do corredor, perto dos elevadores, avistamos a porta larga de madeira e entramos.

- Senhor G., as senhoras entraram no bar de encontros – o garçom passou o recado ao gerente e Arkel escutou em “alto e bom som”. Era hora de agir.

Interessado em abordá-la antes que outro tentasse, Arkel concluiu a conversa com o gerente e foi ao encontro das meliantes.

***

Lá dentro, ficamos na outra ponta do balcão, longe da porta, e começaram a fazer o pedido ...

- Uma soda italiana de frutas vermelhas, com bastante gelo – era o meu predileto.

- Uma caipirinha de limão com vodca e bastante gelo também – a Carol pediu com o dedo indicador no lábio inferior e os olhos no garçom na sua frente. Ela não tem jeito.

- São duas dessa, por gentileza – Sato, um pouco acanhada, falou.

Olhamos para Sato primeiro e depois trocamos olhares surpresos. Sato sempre bebia sucos ou água mineral com gás e gelo.

- Não lembro desse lugar no app do resort – a Carol falou.

- Senhoras, o bar fica aberto 24 horas por dia e 7 dias da semana. Aqui é considerado um point de encontro dos solteiros a fim de encontrar um par e, quem sabe, ir além daqui. Se é que vocês me entendem – os olhos negros como a noite piscaram para minha amiga Carol.

- Amei a ideia – Carol segurou o copo com uma das mãos e o canudo próprio para mexer a bebida na outra. Não tirou os olhos dele.

Odette Carmonna

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