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Com o latido muito próximo dos cães, Alex olhou para trás, acabou se desequilibrando e caiu. Virou e os cachorros estavam há menos de 100 metros dela. — Meu Deus – ela abraçou os joelhos e apoiou a cabeça neles. — BRUTUS, JOE e DRAGON. PAREM – Leonel, um dos seguranças gritou e em seguida assobiou bem alto. Sem abrir os olhos, Alex sentiu o amontoado de grãos de areia e pequenas pedrinhas atingirem desde os tornozelos até os joelhos. Abriu um dos olhos e os cães estavam bem na frente dela, com a respiração ofegante e a língua para fora. — Alex, você assustou a gente — o segurança falou. — Eu? — Alex encarou os três quadrúpedes digitígrados que, naquele momento, pareciam dóceis e inofensivos. — Qual é o problema com os animais dessa casa? — Arregalou os olhos para os seguranças. — O único dia da semana que faz sol nesse lugar e eu nem consigo fazer uma caminhada — Alex tomou quase a garrafinha inteira de água. — Fale com o senhor Arkel sobre isso — Leonel, cauteloso, falou. — Eu
Assim que desceu para o café da manhã, antes das seis da manhã daquela quarta-feira, Alex escutou Arkel conversando com Catarina na cozinha. — Não acredito que ele está aqui – Alex falou para si, paralisada no último degrau da escada. – Alex, a casa é dele e tem o direito de entrar e sair a hora que quiser — respirou fundo e andou até a cozinha. — Bom dia Catarina — Alex esperou um pouco e continuou. – Bom dia senhor Arkel. Catarina respondeu, encarou Arkel e saiu da cozinha sem dizer nada. — Gostou da festa da igreja? — Arkel a encarou. — Gostei — Alex bateu as pontas dos dedos da mão direita na mesa e o encarou. — Quer um pedaço de bolo de laranja? — Arkel perguntou com a espátula na mão direita. — Pode deixar que eu pego — Alex puxou o prato de bolo, tomou a espátula da mão de Arkel e cortou um pedaço do bolo como se fosse um pedaço de carne duro e cheio de nervos. A vontade dela era pegar aquele prato de bolo e quebrar na cabeça dele. A gentileza do empresário a estava a
— A foto é uma montagem, tipo parece, mas não é. — Como? — Alex largou a caneta com desdém. — É a filha da Lola e não a beijei, foi uma montagem. — Arkel, você está me subestimando. — O que eu preciso fazer para você acreditar? — Simples. A Lola e a Malú brotam, do nada, na minha frente e confirmam sua história. Com certeza, elas não farão isso. — Fechado — na sua opinião, Arkel ganhou uma pequena batalha. — Quero minha passagem para voltar de São Paulo na segunda-feira cedo após as reuniões mensais da Corp. — Alex fez um quadrado sobre o círculo, sobrepôs o traço ao desenho e o encarou. — Quer me castigar — Arkel falou. — O que eu quero é passar o final de semana com as minhas amigas. Aliás, quero um final de semana para sair e ver gente. É melhor do que ficar aqui sozinha, trancada e vigiada. Eu desmarquei um compromisso com elas para voltar com você no sábado. — Você não está trancada e nem sendo vigiada — Arkel precisou se segurar para não erguer o tom de voz. Não queria
Antes de descer para o café da manhã, Alex consultou a previsão do tempo para o dia seguinte, sexta-feira santa, um feriado triste para ela. Chegou na cozinha e Arkel já estava lá. — Bom dia – Alex esperou um pouco e continuou. — Cadê a Catarina? — Bom dia Alex — Arkel colocou a última fatia de pão integral no seu sanduiche triplo com queijo e creme de legumes. — A Catarina foi passar a páscoa com a irmã dela. Alex o encarou e colocou suco de laranja no copo, depois preparou seu pão integral com uma fatia de queijo. — Amanhã é feriado, sexta-feira de páscoa. — Eu sei — ela, exasperada, falou. — Temos um almoço amanhã. Quer dizer, se quiser ir. São uns amigos meus. Se não quiser, ficaremos aqui. — Iguais aos da balada? — Não. Eles são como eu — Arkel ergueu os olhos. Alex não entendeu e não quis perguntar o que ele quis dizer. — Sim quero sair um pouco. — Seu café com leite — Arkel preparou uma xícara com mais leite do que café e a colocou ao lado do copo de suco dela. Termi
Já eram 09h40 e Arkel esperou no escritório, já que não a encontrou em lugar algum da parte debaixo da casa. — Estou pronta. Com o mesmo sorriso do final de semana deles, Alex parou na porta do escritório. Com uma roupa meia— estação, sandália preta de tiras e salto grosso, uma bolsa a tiracolo e um cardigã preto à mão, já que a temperatura iria cair no final da tarde, após uma chuva rápida e volumosa. — Linda como sempre – Arkel foi até ela e a beijou, daquele jeito só dele. Assim que abriram a porta da entrada, os cães a saudaram. — Parece que você tem seguidores fiéis. — Eles gostam de mim — Alex fez um carinho em cada um e desceu as escadas com os cães ao lado dela. Cooper correu na direção deles. — Arkel – o guarda— costas tirou o celular do bolso e mostrou 4 fotos para Arkel. – O ônibus que seguia para a procissão tombou na ponte – Cooper encarou Arkel com preocupação. – Alguns foram levados pela correnteza, outros se afogaram e tem bastante gente ferida. — Como pod
Alex, A sorte é para todos e, de repente, ela muda de lado. Quem diria que eu seria adotada aos sete anos por um casal louco para cuidar de uma criança sem lar. Os casais preferem os recém-nascidos. Eles perderam o filho para uma doença degenerativa e, dois anos depois, decidiram adotar um. Ficaram eufóricos com a ligação e não entenderam que era uma menina. Como eu disse, a sorte é para todos. - Assim que eu coloquei meus olhos naquela menina magrela e assustada, me derreti - foi o que o meu pai disse com a fala embargada. As lágrimas escorreram dos olhos da minha mãe. Eles me contaram esse segredo quando completei 10 anos. Foi minha terceira festa de aniversário. Na manhã do último domingo, em São Paulo Acordei atrasada e, apesar de ser domingo, hoje é o último dia dos jogos da faculdade. Sou uma das voluntárias e preciso sair logo. Antes, quero ligar para meus pais. - Mãe ... – quem fala do outro lado não é a minha mãe. – Quem fala? - Será que roubaram o celular dela? - Não d
O embrulho no meu estômago e a dor de cabeça só pioraram. Joguei os óculos sobre o notebook e desmoronei na cadeira. As lágrimas rolaram descontroladamente. Aquilo não podia verdade. As lembranças dos jantares, viagens e passeios com ela estavam bem frescas na minha memória. A preocupação da minha namorada em ir comigo até o aeroporto e aguardar meu embarque eram uma prova de amor para mim. Um tempo depois da notícia trágica, consegui pensar um pouco melhor. Aquele mal-estar e o desespero pelo que aconteceu, permaneceram. Que ideia a minha de parar para um desconhecido naquela estrada deserta. - Onde ela está? – sentei e espirei forte para que a dor no meu peito saísse com o ar dos pulmões. Inclinei a cabeça para trás e cobri os olhos com as mãos. As lágrimas escorriam. - Em um lugar difícil de chegar no meio da mata. - Iremos de carro até um pedaço ... – pensei um pouco. - Andaremos por dentro da mata ... - peguei a carteira e as chaves do carro que estavam na estante, logo atrás
Com as publicações do Soares, o caso ganhou repercussão nacional. - Agora, tenho repórteres e curiosos acampados no portão das minhas terras – fechei minhas mãos em punhos e enxerguei, pela janela do escritório, vários carros que tinham acabado de chegar e outros que chegaram na noite anterior. Alguns eram da imprensa e outros de curiosos do mundo midiático. Um alarme sinalizou o recebimento de um e-mail e fui até minha mesa. - Chegou o e-mail de um cliente importante cancelando o contrato com a minha empresa – engoli em seco, grudei os olhos na tela do notebook e sentei na cadeira de encosto alto. Era o gerente de uma grande rede de supermercados – Foi um contrato que demorei meses para fechar o negócio – coloquei as mãos, unidas pelos dedos, cobrindo a boca e fechei os olhos. - É o primeiro de muitos - apontei para o notebook e me joguei no encosto da cadeira. A preocupação era com meus pais, principalmente com a saúde da mãe. O dinheiro para o sustento deles era o de menos, eu