Com as publicações do Soares, o caso ganhou repercussão nacional.
- Agora, tenho repórteres e curiosos acampados no portão das minhas terras – fechei minhas mãos em punhos e enxerguei, pela janela do escritório, vários carros que tinham acabado de chegar e outros que chegaram na noite anterior. Alguns eram da imprensa e outros de curiosos do mundo midiático.
Um alarme sinalizou o recebimento de um e-mail e fui até minha mesa.
- Chegou o e-mail de um cliente importante cancelando o contrato com a minha empresa – engoli em seco, grudei os olhos na tela do notebook e sentei na cadeira de encosto alto. Era o gerente de uma grande rede de supermercados – Foi um contrato que demorei meses para fechar o negócio – coloquei as mãos, unidas pelos dedos, cobrindo a boca e fechei os olhos. - É o primeiro de muitos - apontei para o notebook e me joguei no encosto da cadeira. A preocupação era com meus pais, principalmente com a saúde da mãe. O dinheiro para o sustento deles era o de menos, eu poderia vender ou arrendar a fazenda da capital. Meus pais são pessoas muito simples e honestas e não saberiam lidar com isso tudo.
- Estou encaminhando o número de um advogado para você. É o melhor que conheço – o inspetor compartilhou o contato comigo.
Liguei para ele, imediatamente, e contei exatamente o que aconteceu. Como o Santori, ele me explicou que não existia nada de concreto contra mim, porém os indícios eram muito fortes, o que exigiria uma investigação minuciosa. As publicações do pai dela viralizaram nas redes sociais e as coisas poderiam complicar para mim. E complicaram mesmo. No dia seguinte, a polícia entrou e revirou a minha casa atrás de provas, principalmente no escritório. Assisti a tudo literalmente de braços cruzados e apoiado no batente da janela do escritório. Não acredito que as coisas chegaram a este ponto.
- Senhor, encontrei uma escuta clandestina embaixo da mesa – um dos investigadores falou.
- Arkel, quantas pessoas entraram no seu escritório nos últimos meses? – O inspetor colocou as luvas, pegou a escuta das mãos do perito e examinou o pequeno fone.
- Não lembro exatamente, mas posso fazer uma lista de quem eu me lembrar – Indignado, fechei uma das mãos em punho e o mordi.
- Arkel, alguém entrou aqui sem você? – Santori me olhou por cima dos óculos.
- Você – exclamei com uma mão no quadril e a outra apontei o indicador para ele. - Entrou aqui sem mim no dia do sequestro, não lembra? – Não me intimidei.
- Claro que lembro – contrariado, o inspetor assentiu. - Foi assim que souberam dos rastreadores e o horário que vocês saíram de casa.
Encarei o inspetor que sabia da injustiça que iria se dar. Era uma questão de dias para chegarem e anunciarem a pior notícia de todas. E, dias depois, o pior merda aconteceu.
Não sou um homem que acredita na sorte, sou daqueles que corre atrás. Ao menos, era como eu pensava até poucos dias. Estou na delegacia, preso como principal suspeito do sequestro e assassinato da minha namorada. Neste momento, preciso que a sorte me ajude que o cara que eu parei para ajudar naquela estrada apareça; sorte que os caras que sequestraram a minha namorada sejam presos ou que alguma coisa aconteça e mude a minha sorte. Não sei como as coisas chegaram a esse ponto.
Lá fora, o policiamento foi reforçado para não me lincharem. Os policiais que me escoltaram até a delegacia, são os mesmos que chegaram com o inspetor Santori - da capital paulista - na noite de domingo e ficaram plantados na varanda da casa da fazenda até hoje de manhã quando o delegado deu a ordem de prisão. A região que moro é pacata e não tem crimes de repercussão nacional. As reportagens e fotos que aparecem no noticiário são das vítimas dos graves acidentes na estrada federal. As pessoas gritaram palavras de ódio logo que o carro estacionou na porta da delegacia.
- ASSASSINO – gritou o dono de um pequeno mercado local.
- VOCÊ É UMA VERGONHA PARA A NOSSA CIDADE – gritou o dono de uma loja de material de construção que ampliou o lugar para atender mais clientes. Com a minha fábrica, as construções e reformas aumentaram na cidade.
- TOMARA QUE APODREÇA NA CADEIA – nem sei quem gritou. Não consegui erguer a cabeça.
Os policiais que trabalham na delegacia da cidade, me olham desconfiados. Um deles, que passou com uma pasta embaixo do braço, foi meu amigo na escola. O outro ao fundo, que pegou uma xícara de café na mesinha - ao lado da sala onde o delegado está fazendo a segunda ou terceira ligação – jogou futebol comigo no campinho perto do rio.
Não me importei de sair de casa sem tomar o café da manhã. A única coisa que sinto falta, é de uma xícara de café. Com o frio de hoje, o pretinho fresco e fumegante aquece até a alma.
Ainda tenho hematomas da agressão que sofri no domingo. Era para ser um domingo normal. Me arrependo amargamente de parar para ajudar aquele homem de idade ao lado de um carro que parecia quebrado. A Beatriz implorou que eu parasse para ajudá-lo. Era uma armadinha e eu não percebi.
O domingo não foi marcante apenas para mim. O delegado me ligou para ajudar a filha de um casal de São Bernardo do Campo que morreu em um trágico acidente de carro. Era para ajudá-la na liberação dos corpos. Não sei quem a ajudou.
O inspetor Santori não permitiu que me algemassem; nem que me jogassem no camburão como a um criminoso. Graças a Deus, ele me colocou pessoalmente no banco de trás e ordenou que não ligassem as sirenes. Serei eternamente grato a ele por isso. Imagine a angústia dos meus pais assistindo minha prisão pelo noticiário nacional.
- Arkel, seu café – ergui os olhos para o inspetor Santori – a Catarina me pediu para entregá-lo a você pessoalmente – assenti e girei o corpo para consultar as horas no relógio da parede atrás de mim e, alguns dos policiais ao meu redor, colocaram as mãos em suas armas presas ao coldre embaixo do braço. Agora sou um cara perigoso.
A lista dos investigados era extensa, assim como a minha perplexidade por estar no meio de uma trama.
Soares publicou outro vídeo nas redes sociais, onde relatou as descobertas da polícia e classificou meu depoimento como mentiroso.
Eu juro que tentei, mas não consegui. Amaldiçoei e xinguei o Soares e a corja que fazia parte daquela sujeira.
Cheguei no presídio há 26 dias e estou ansioso para falar com meu advogado que chegará daqui a pouco. Não posso reclamar, o cara tem se empenhado para me tirar daqui. Espero que seja mesmo, não posso ficar por muito tempo neste lugar perigoso e insalubre. A plantação de produtos orgânicos e a fábrica de geleias geraram dezenas de empregos e não podem parar. Meus negócios esquentaram a economia da região e minha mãe precisa continuar o tratamento contra o câncer.
Não paro de pensar nos marginais que me agrediram naquela estrada. Era para eles estarem presos, não eu. Pra mim, o inspetor matou a xarada. Quem a sequestrou e a matou queria atingir alguém ligado a ela. Alguém com algo contra mim ou contra os pais dela.
Graças a Deus, meu advogado chegou. Estou muito ansioso para falar com ele.
- Bom dia Arkel – o advogado me olhou, jogou o corpo para trás e tamborilou os dedos na mesa.
- Bom dia – a minha magreza e meus olhos fundos, o assustaram.
- Quanto tempo ficarei preso? – Perguntei assim que o advogado tirou o processo de uma pasta de couro escuro.
- Três a seis meses, se não encontrarem nada de concreto, eles têm que soltá-lo.
- O que me preocupa são os contatos de peso do pai dela.
- É para se preocupar mesmo, mas também tenho meus contatos e pode pegar mal deixarem você aqui mais que o necessário.
A repercussão na internet fez muito barulho e o caso ganhou popularidade. O Soares conseguiu acelerar a minha prisão.
- Tem algumas pessoas postando que sua prisão foi precipitada e que não existem provas suficientes e concretas contra você. Alegam que existe alguém querendo incriminá-lo.
- Não é o que muitos pensam.
- Não mesmo.
- Quem está questionando a minha prisão?
- O nome dela é Lola Joe e foi modelo por mais de 10 anos. Hoje, é uma consultora de imagem e influencer famosa na internet, muito conhecida entre os empresários, artistas e socialites. Ela tem milhões de seguidores.
Encarei o advogado desacreditado. Eu precisaria bem mais do que as postagens de uma ex modelo para me tirar da prisão.
- Arkel, pedirei um teste de paternidade para saber se você é o pai da criança que a Beatriz estava esperando. É um teste específico e demorado porque é com base nos restos mortais da criança.
Fiquei de cara, perplexo mesmo e arregalei meus olhos.
- Vocês ficaram distantes por mais de dois meses, sem nenhuma intimidade e, alguns dias depois que voltaram, ela fez o teste e não te falou da gravidez. Sinceramente, há uma grande chance de você não ser o pai da criança.
Não pensei na possibilidade de não ser o pai. A Beatriz era imatura, não pensei que teria coragem de transar com outro cara.
- Faça mesmo, quero saber a verdade - o sequestro e a morte brutal, a descoberta da gravidez, as postagens do Soares e a avalanche de coisas que aconteceram em seguida, não me deixaram pensar sobre não ser o pai. Pelo tempo que ficamos distantes era bem possível que eu não fosse o pai da criança.
Nada mais me surpreende neste caso. Nem acredito que estou em casa e, muito menos, no que descobriram sobre a falecida e o amante dela. Fiquei preso por mais de 3 meses. O Soares quis me ferrar na internet com mais uma publicação fantasiosa porque não conseguiu abafar o que foram descobrindo. A coisa piorou num grau que nem eu acreditei. Começou com o escândalo que eu não era o pai da criança. Com isso, foram atrás do cara que a traidora tirou a foto de rosto colado logo após darmos aquele tempo. Geremias Odea é o nome do homem que ela jurou que não conhecia e que não aconteceu nada entre eles. Quem diria que eram amantes, antes mesmo de começarmos a namorar. Para mim, ele é o pai da criança e tem um dedo e dos grandes no sequestro e morte dela. Se não for, cadê o cara que sumiu do mapa sem deixar rastro algum. É duro dizer que foi o que me tirou da prisão. Antes eles na fogueira do que eu. Com exceção de um milagre, algo teria que acontecer para que ao menos um cliente grande voltass
No painel de voos online aparecia a mensagem alarmante “Embarque Imediato” para a cidade que viajaria com minhas amigas, que estavam bastante atrasadas. Não tinha muito o que fazer e imaginei embarcar naquele avião sozinha. Escolhi esperar por elas, afinal, que graça tinha passar os últimos dias das minhas férias sem a companhia das minhas amigas. Aguardei na porta da sala de embarque, impaciente, que aparecessem no corredor que os passageiros eram direcionados após o check-in. - Cadê aquelas duas!? A única coisa que sabia é que minhas amigas chegaram ao aeroporto, graças a localização que compartilharam, em tempo real pelo celular. “Última chamada para o voo ...” Que aflição. Acabaram de anunciar a última chamada para o nosso voo e as desmioladas nem chegaram no fundo do corredor. Chegar ao aeroporto com antecedência era algo simples para mim. Quanto as minhas amigas, nunca conseguiam ser pontuais, muito menos chegar com antecedência. Ao contrário, sempre chegaram faltando min
Sem perder tempo, Arkel entrou no bar e se apoiou no balcão perto da porta e de frente e a alguns metros da mulher com as pernas e o traseiro que aguçaram sua imaginação. O garçom assumiu uma postura mais profissional e foi ao encontro do empresário que pediu água com gás, limão e gelo. Arkel bebeu um gole da água refrescante e congelou os olhos em Alex. Sem querer, mirei um cara que ergueu o copo para me cumprimentar. O cara é bem o meu tipo. Não parece um turista, pelas roupas que usa. Quem sabe não está a negócios ou a trabalho. Para estar no bar a esta hora, deve ter um cargo importante. A abordagem me surpreendeu e não sei o que fazer. O que a personagem do romance que leio faria no meu lugar? Para disfarçar, corrigi minha postura e fingi mexer no celular. Sentei na banqueta do bar e cruzei as pernas. Sei que elas são de arrasar. Arkel não entendeu nada. Lembrou o que ela falou no check-in. Eram solteiras e a agitação das amigas falando sobre os “gatos a espera delas” garanti
O táxi parou a quarenta metros da entrada da balada. Elas pagaram o motorista e caminharam até o lugar. Já na pista de dança - após enfrentarem uma fila de respeito - com a música agitada e alta, mal conseguiam escutar uma à outra. - Amiga, gostei daqui, parece bem animado. Hoje, quero me acabar de tanto beijar. - Não consigo escutar – Sato gritou e apontou para o ouvido. Os garçons esbanjavam masculinidade, com os peitorais e braços musculosos à amostra, já que a calça era a única peça que vestiam. Apesar de frequentar baladas naquele estilo, Carol ficou alucinada com o lugar. Assim que o transe passou, procurou pela amiga que não estava mais ao seu lado. Há um bom tempo parada, se deu conta que em um lugar assim, a sobriedade era algo proibido para ela. Foi até o bar e pediu algo forte para beber. - Com bastante gelo – sorriu quase se derretendo para o barman. - Pode deixar – falou ele retribuindo o deslumbramento dela. Conversaram por alguns minutos, entre um drinque e outro
A alguns metros, no fundo do menor dos mezaninos, Arkel e o dono do local conversam - no escritório administrativo do estabelecimento - sobre o garçom baleado na frente de casa acidentalmente, durante a madrugada, em uma batida policial após sair da casa noturna. Ele trabalhava durante a tarde no resort e a noite na casa noturna. - Conheço o delegado que investiga o caso e, na verdade, o rapaz não estava sendo investigado. O problema é que ele se encaixava na descrição do suspeito. - A polícia atirou primeiro e perguntou depois - Arkel tamborilou os dedos na perna. - Isso é o que está sendo investigado, parece que um dos policiais está envolvido e, para não ser delatado, atirou na pessoa errada. - O pessoal do resort comentou que ele é filho único e fazia jornada dupla para pegar o tratamento da mãe doente. - Na verdade, não sei muito sobre a intimidade de meus funcionários e nem quero saber – fez uma cara de desinteresse o jogou os dedos da mão no ar. - Ele é um bom funcionário
- Não sei, pensarei em algo a caminho do resort. Senhoras, encontro as três amanhã às 9h, no mesmo bar. Não esqueçam que vocês não me conhecem - Arkel falou apontando o dedo indicador para elas, assim que Cooper sinalizou para irem embora. Arkel não podia permanecer muito tempo em lugares abertos sem uma inspeção minuciosa. Com o celular em mãos, pesquisou o perfil da escritora, e entrou no carro do meio. Assim que o carro da frente andou, o carro que Arkel estava acelerou e o último os seguiu. - Aqueles brutamontes são os guarda-costas dele? – Sato perguntou. - Ele nos deu uma ordem? - Parece que sim. - Quem é ele? – Carol Perguntou. - O nome dele não me é estranho. - O importante é que a Alex está interessada nele. - E o mais importante é que ele também está – Carol piscou para a amiga - e não é um profissional da noite, pelo menos, não precisaremos mentir para ela. - Mais perfeito que isso, impossível. - Precisamos ir. Acordarei com olheiras, se eu não dormir algumas horas
- Amigas, disfarcem. Aquele homem que me cumprimentou ontem está aqui. Sato e Carol trocaram olhares e, em seguida, arrastaram os olhos para o empresário. - Gente, era para disfarçar - Alex revirou os olhos. - Quem? – Sato disfarçou, enfim. Se fez de desentendida, para a amiga não perceber. - Sato, é aquele cara de ontem. - Já estou me sentindo bem melhor – Carol falou bem-humorada. – Ah, lembrei que você ficou péssima porque perdeu a chance de conhecê-lo e, quem sabe, dar uns amassos nele, quem sabe passar uma noite agradável ou até passar o final de semana inteiro com ele – Carol ergue a voz e lançou um olhar indagador para Alex. - Pelo amor dos deuses amiga, vê se não dá bobeira agora. Se ele der um sinal de fumaça, agarra o homem, literalmente. - Não se preocupem, eu já entendi que não posso esperar que as coisas aconteçam como nos romances. Quero que saibam que não desisti de encontrar o homem, digamos, ideal. Hoje, serei mais pé no chão e farei de tudo para passar uma noite
Ao andar para encontrá-lo, Alex pensou em como não agir. “Não posso me afastar, não posso mudar de assunto, não posso empurrá-lo e preciso entrar no clima”. A concentração e a falta de coragem a impediram de encará-lo. Assim que chegou onde o empresário estava, não o encontrou. - Você está com algo que é meu – Arkel se materializou atrás dela e sussurrou. O que aconteceu a seguir, foi bem conveniente para ele. Alex se assustou e, ao girar o corpo, acabou enroscando o pé na banqueta do bar e se desequilibrou. Arkel a segurou pela cintura e a puxou. Alex, para não dar de cara com aquele peitoral bem definido, apoiou as mãos nele. - Você está bem? – Arkel perguntou com um sorriso nos lábios, afinal, queria surpreendê-la e cair literalmente em seus braços, facilitou e muito as coisas para ele. - Me desculpe – Alex falou, se afastou e arrumou a saída de banho, quase na cintura. Constrangida e desajeitada, estendeu a mão para ele. – Seu lenço – Foi a única frase que conseguiu murmurar.