Narração Diana
Mais uma vez deixando meu currículo na secretaria desportiva.
Que saudade de você, maninho. Você não deixaria que zombassem assim de mim como o treinador da equipe de basquete estava fazendo.
Sinto sua falta.
Meu irmão morreu há 3 anos num terrível acidente. Toda a situação me fez sentir culpada por essa desgraça e, desde então, o mundo não é mais o mesmo para mim.
Não vou ficar aqui contando a história de Bernardo, mas o principal motivo de eu querer tanto entrar para o time de monitoras de basquete é porque meu irmão foi um grande jogador desse esporte, nessa universidade. O futuro dele era promissor.
Cheguei derrotada ao apartamento. Eu não era pobre, mas também aquele apartamento era muito caro para pagar sozinha só com minha mesada, então eu dividia com outros dois colegas: Mari e Plínio.
Se eu ficava exausta na faculdade, imaginem em casa. Eu dividia apartamento com dois maconheiros que deixavam a casa imunda.
Encontrei caixas e caixas do Ifood espalhadas pelos cômodos. Quando joguei tudo na lixeira e passei o aspirador na casa, notei que meu pó de café tinha acabado. Eu precisava beber bastante daquele líquido para me concentrar e estudar. O treinador Montanha (sim, esse era o sobrenome dele) repetia que se eu não melhorasse as notas nunca entraria para a equipe.
Esse cara já estudou cálculo? Começo a achar que ele usa isso como motivo para não me aceitar na equipe. Mas, o que ele tem contra mim?
Infeliz dos infernos.
Quando a porta do elevador abriu, a minha vida mudou completamente. Aquela pessoa que eu vi marcaria a minha história.
Eu pensei que ia morrer.
O garoto mais lindo que eu já vi na vida estava ali parado, com as mãos no bolso e cara de poucos amigos.
Ele não era brasileiro. Devia ter 1,85 de altura, corpo grande e muito bem torneado, recoberto por caras peças da Gucci. Seu cabelo era liso e escuro, com um corte elegante, e olhos grandes e lindos, castanhos. O rosto dele era perfeitamente simétrico, seu queixo era largo, sem barba. Ele deu uma contraída no maxilar e eu achei que estava apaixonada naquele momento.
Só não desmaiei porque ele estava sustentando uma expressão bem séria.
Até que ele abriu a boca suavemente para dizer:
— Com licença. — E só isso. Bem seco. Porém, foi aí que eu tive certeza que o amava. Que voz. Meu Deus, que voz. Era aveludada e grave, se não fosse um cantor, com certeza o mundo da música estava perdendo um fenômeno.
Ele teve que apertar um botão para segurar a porta do elevador, pois eu estava tão fascinada que não lhe dei passagem e a porta ia se fechar.
Só então notei que tinha outra pessoa com ele, menor em estatura, e provavelmente não era brasileiro também. Ambos tinham traços coreanos, mas o menor tinha mais. E era uma gracinha, seu cabelo era colorido de loiro artificialmente, e ele tinha uma pele de dar inveja a qualquer blogueira.
— Desculpe, pode nos dar licença? — Pediu o rapaz menor e fofo. E ofereceu um sorriso gentil.
— C-claro. — Respondi, gaguejando e percebendo a grande jumenta que eu estava sendo bloqueando a passagem dele ao admirá-los. Finalmente, deixei que passassem e entrei no elevador em seguida. O rastro de perfume que aquele rapaz de Gucci deixou me desnorteou completamente.
A porta se fechou, mas fiquei por minutos parada dentro do elevador, tentando entender onde eu estava. Esqueci até o meu nome.
Acreditam em amor à primeira vista?
E em condenação à primeira vista?
Acho que estou mais para o segundo caso.
Meu Deus, aquele rapaz lindo desceu no mesmo andar que eu moro. Ele seria meu vizinho? Ou estaria visitando alguém? Ai, céus.
Fiquei tão nervosa que saí andando pela rua. Esqueci o que ia comprar. Peguei um papel higiênico no mercado e voltei ao apartamento. Quando fui me sentar para estudar, peguei minha xícara e me lembrei do que eu ia fazer.
Droga, o café!
O menino absurdamente lindo me deixou completamente lesada.
Eu fui estudar assim mesmo. Adormeci três minutos depois, no primeiro exercício de Física.
Acordei com o despertador às sete horas da manhã, fiz uma chapinha no cabelo para disfarçar que eu não o lavava há 3 dias, joguei uma roupa larga no corpo e fui para a faculdade. No caminho, limpei meus óculos com a barra da camiseta.
Até que sou uma garota bonita, meus cabelos ruivos sempre chamavam a atenção dos garotos quando eu era adolescente, mas depois que se envolviam e perdiam a curiosidade, eles sumiam de repente. Talvez eu seja desinteressante.
Primeira aula do dia: Computação. Eu entrei na sala segurando um café extra forte sem nada de açúcar, que era para começar a sessão de tortura com raiva. O vapor do café logo ligou meus sentidos, jurei que iria anotar tudo e ser bem produtiva.
Sentei em minha cadeira e coloquei meu casaco nas costas dela. Quando olhei inadvertidamente para trás, quem eu encontro no fundo da sala?
Deus só pode existir.
O menino do elevador. Sim, o bonitão que me deixou sem ar.
— Tae! — Gritou um menino do time de basquete, passando pela porta, sem se importar que outros ouvissem o assunto. — Não se esqueça das seletivas do basquete hoje.
— Ok — Tae abriu um olho para responder e já fechou-o novamente para dormir. Ele estava na última fileira, com a cabeça encostada na parede, braços cruzados e boca aberta. Parecia aqueles trabalhadores às 4h da manhã dormindo no trânsito da Avenida Brasil.
Na sala, ninguém deu muita bola para o aluno novo. A maioria eram homens e uma ou outra menina, como acontece geralmente em turmas de engenharia, todos mais focados em tirar 10 do que em respirar.
Tae.
O nome do pai dos meus filhos. Estou me iludindo muito?
Ele nunca vai me notar.
Narração DianaTae é o nome dele.Quando eu vi aquela beldade se mudar para o apartamento ao lado, não imaginei que teríamos tanto contato.Ele era um gênio do basquete. Fez 8 cestas seguidas de 3 pontos na seletiva. Nem se esforçou. Ele fazia parecer que era fácil.Eu só olhava e admirava. Suspirava.Certas coisas nunca serão nossas.Uns nasceram para brilhar, outros para as sombras. Tae nasceu para iluminar mais que o sol com seu sorriso. Ele fazia uma cesta e soltava uma risada tão linda e gostosa que todas as torcedoras morriam de amor. O treino começou a encher de mulheres inesperadamente. Cada cesta d
NarradorTae atendeu ao telefonema da mãe, Jieun, enquanto mastigava uma torrada que Shimin, seu irmão querido, preparou com todo o carinho.— Está tudo bem, Tae? — Ela perguntou, em coreano, e Tae respondeu no mesmo idioma:- Claro, mãe.- Seu irmão disse que está se destacando no basquete.- Meu irmão fala demais - Tae lan&c
Narrador— O que disse? — O diretor do instituto de tecnologia arregalou os olhos. Era um homem de 50 e poucos anos, doutor, vasta experiência acadêmica. Nunca viu um aluno tão abusado e corajoso.Não tinha tempo para besteiras.— Precisa de um cotonete? — Tae perguntou ao diretor. — Veio até aqui me confessar que agrediu um aluno?— Estou falando com as paredes aqui
Narração DianaTae entregou o microfone a alguém, reposicionou o holofote ao seu local de origem e desceu do palco. É claro que ninguém desgrudou os olhos dele. Eu estava completamente em choque depois de sentir aquela luz e todas as atenções sobre mim. Não movi um dedo, nem conseguia respirar. Ele veio andando em minha direção, cada passo dele provocava mil palpitações em meu peito. Tae pegou educadamente a minha mão e a beijou.Não se ouvia uma cigarra naquele momento.Seus olhos reluziram um brilho inexpressivo por baixo daqueles cabelos pretos.Tae sorriu. Tinha algo em seu doce sorriso que me fez duvidar de sua inocência. Não sei exatamente o que era. Não, n
NarradorShimin acordou sentindo o cheiro de ovos. Ele jamais imaginou que seu irmão prepararia uma saborosa refeição assim tão cedo, Tae tomava café na cafeteria apenas. Porém, quando chegou à cozinha, viu que Tae lia o jornal pacificamente enquanto a luz dourada da manhã entrava pela janela. Uma xícara de café liberava uma fumaça quentinha da caneca de Tae.— Você contratou outra empregada, Tae? — Shimin perguntou, vendo alguém no fogão, e sua voz fez Diana olhar para trás. As olheiras intensas de Diana fizeram Shimin dar quatro passos para trás — V... Você? O que Diana está fazendo no nosso apartamento a essa hora?— De onde a conhece? — Indagou Tae, levantando uma sobr
Narração DianaVoltamos à sala.Quando fui sentar em minha cadeira, Tae apontou com o indicador o espaço ao seu lado.Não. Ele não ia me fazer arrastar cadeira no meio da aula.Fingi que não entendi e virei para o quadro. O professor explicava a matéria sem nenhuma vontade de viver, assim como eu.Recebi uma mensagem no WhatsApp e já sabia quem era.Deus, faz ele parar.“senta aqui” Tae disse.“depois dessa aula eu troco a cadeira de lugar, por favor”
Narração DianaAssim que chegamos ao estacionamento do prédio, toda vez que alguém passava perto da gente no percurso até o apartamento dele, Tae segurava minha mão. Mas, era só ficarmos sozinhos que ele se afastava de mim e andava à frente.Tentei dar uma de maluca e escapar para meu apartamento quando chegamos ao nosso andar, o sétimo, mas Tae me puxou para o seu pelo braço.Quando entrei lá, vi que o apartamento estava impecavelmente organizado e limpo. Ele aparentemente tinha chamado a empregada ultimamente. Então, o que ele queria comigo?— Tire meu casaco. — Ele falou, seco, assim que fechou a porta. Bem, se eu não reivindicasse muito, talvez ele parasse de ter ideias mir
Narração DianaSim, eu agora sou parte da equipe.Sou eu quem apita o início do treinamento e o fim. Claro que não é toda vez, e que trabalho com as assistentes mais velhas, de outros anos. Todas são de cursos diferentes, e são as maiores fãs da equipe. Dizem que as assistentes têm mais amor à camisa que os jogadores.Fiz amizade com Julieta, uma garota fofa, baixinha e simpática que me ensinou tudo, inclusive procedimentos básicos de massagem e todas passamos por um cursinho de primeiros-socorros. As listas de telefones estavam sempre disponíveis e fomos instruídas sobre como e quando ligar para a polícia, SAMU, dedetização e etc.O treinamento de combate a inc&