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9. O Jogador Novo

Narração Diana

Sim, eu agora sou parte da equipe.

Sou eu quem apita o início do treinamento e o fim. Claro que não é toda vez, e que trabalho com as assistentes mais velhas, de outros anos. Todas são de cursos diferentes, e são as maiores fãs da equipe. Dizem que as assistentes têm mais amor à camisa que os jogadores.

Fiz amizade com Julieta, uma garota fofa, baixinha e simpática que me ensinou tudo, inclusive procedimentos básicos de massagem e todas passamos por um cursinho de primeiros-socorros. As listas de telefones estavam sempre disponíveis e fomos instruídas sobre como e quando ligar para a polícia, SAMU, dedetização e etc.

O treinamento de combate a incêndio era obrigatório. As roupas dos rapazes deviam ir para a lavanderia até as 20h de cada dia, é claro que nos revezamos e eu levava os cestos nas quintas-feiras. Éramos 5 meninas, dávamos conta.

Eu estava feliz de verdade depois de muito tempo. Apesar do trabalho duro, ganhamos muito respeito por sermos da assessoria, afinal éramos nós que guiávamos o treinamento dos jogadores.

Eu me vinguei de tudo que Tae me fez obrigando-o a fazer 80 abdominais na minha frente.

— Diana, pelo amor de Deus! — Tae lamentava enquanto fazia os abdominais e suava horrores. Aquela linguinha de fora não ia me fazer derreter dessa vez. As instrutoras estavam rindo da cena, pois parei na frente dele para observar.

Os outros meninos não tinham condições de rir, estavam apavorados comigo. Eles corriam pela trigésima vez em volta do ginásio chorando e me amaldiçoando até a quarta geração da minha prole.

Quando o treinador Montanha voltou eu apitei para que eles terminassem a atividade.

Busquei água para todos e supervisionei o trabalho do massageador.

Depois do treino, Tae me olhava de rabo de olho, irritado, jogado no chão da quadra. Ele tinha feito muitas cestas.

— Estou orgulhosa de você. — Falei.

— Não pense que vou te perdoar. — Ele murmurou, espalhado no chão, e segurando o rosto, com os cotovelos apontados para cima. O suor grudava seus cabelos lisos à sua testa.

— Nem se eu disser que você é maravilhoso, perfeito, incrível? — Propus.

Ele tentou segurar o sorriso.

— Nem assim — Murmurou, sorrindo abertamente agora. Ele se derretia todo por elogios.

Ah aquele sorriso que eu tanto amo.

— Assistente! — Romeu gritou e eu tive que correr. Ele estava com cãibras e eu tive que fazer massagem nele do jeito que me ensinaram. Seus músculos pareciam pedra e eu ajudei a aliviar sua dor. Aos poucos, os gemidos de Romeu foram passando e ele ficou bem de novo. Suspirei. Peguei bem pesado no treino deles, mas era uma forma de fazer com que me respeitassem.

— A assistente nova é muito boa! — Ouvi os jogadores murmurando.

— Ela é muito competente.

— Ela é barra pesada. Não vai dar moleza.

Meu peito inflou de orgulho na hora, só parei de me achar quando Tae tirou minhas mãos da perna de Romeu.

— Tá, tá, deixa que eu faço a massagem. — Disse Tae, pegando o pé de Romeu e o entortando.

— Ah! — Romeu gritou. — Assistente!

— Tae, solte ele imediatamente! — Apitei e Tae soltou o pé de Romeu. — Não é hora de brincar.

Tae fez uma expressão azeda e foi para o vestiário tomar banho, sem arrependimentos.

---

Naquele dia, fomos para casa e Tae estava bem irritado e silencioso, e não me deu nenhuma ordem. Não comentei nada porque não queria realmente tarefa alguma. Eu queria passar ilesa.

Tae me esperou entrar em meu apartamento, com as mãos nos bolsos, e depois foi para o seu. E só. Recebi um "Boa noite" e nada demais. Talvez ele estivesse tão cansado que não queria nada além de desmaiar na cama.

Ledo engano.

4:45 da manhã o corno me liga insistentemente. Atendi o celular com um ódio sepulcral.

— Mas que merda... — Comecei a xingar, e nem consegui terminar.

— Estou com cãibras! — Disse Tae. — Quero massagem.

— Peça ao Shimin!

— A culpa é sua, você me castigou no treino. Além do mais, se você fez no Romeu, por que não pode fazer em mim?

O pessoal do piso de baixo deve ter achado que tinha um exército atravessando o corredor. Pisei com a força do ódio até chegar ao apartamento de Tae. Para minha surpresa, Shimin estava acordado, estudando, e abriu assim que toquei à porta. Ele usava um óculos de aro redondo que o deixava muito fofo.

— Diana, que bom vê-la! O que faz acordada? — Shimin deu aquele sorrisinho lindo em que seus olhos se fecham.

— Seu irmão me convenceu de que está à beira da morte! — Murmurei, entrando de pijamas no apartamento dele e indo em direção ao quarto de Tae. Com certeza meu cabelo estava tão desgrenhado que Shimin deve ter rido quando me retirei.

Abri a porta de Tae com o pé. Eu queria ver um óbito na minha frente para justificar o horário em que ele me chamou, queria ver uma carnificina. 

Nada disso.

Tae estava em pé mexendo no despertador quando me viu e mergulhou de peixinho na cama.

— Sem chance! — Gargalhei alto, sem vontade. — Eu vi. Estúpido!

Virei as costas para ir embora antes de trucidá-lo por fingir a cãibra, mas ele me chamou. Continuei indo embora e ele disse:

— Já passou a cãibra! — Tae disse, devidamente coberto até o nariz.

— Você não está com cara de quem teve cãibra. — Grunhi, irritada.

— A cãibra não foi na cara. — Ele respondeu.

— Até mais! — Chega de discutir com idiotas, pensei.

— Não vai — Ele pediu alto, sem se importar que Shimin ouvisse. — Pelo amor de Deus!

— Não tenho tempo para suas brincadeiras, Kim Tae.

Ele arregalou os olhos quando ouviu seu nome todo, ficando boquiaberto. Depois fez um beicinho que realmente não tinha nada a ver com seu "eu" que estava me obrigando a sair do carro outrora. Não entendi. Mas, meu coração derreteu, fazer o quê?, não consigo controlar.

— Deita aqui comigo. — Ele apontou um espaço ao seu lado na cama.

— E por que eu faria isso?

— Eu não pedi nada a você ontem. Está me devendo.

O maldito tinha que ser corretor de imóveis. Sempre vinha com uma carta na manga.

Eu me deitei ao lado dele. Seria muito difícil dormir naquela situação, principalmente porque minhas bochechas estavam completamente ruborizadas. Isso porque Tae me cobriu com seu cobertor e me abraçou.

— Diana, você está bem? — Ele perguntou. E a voz dele falando assim, baixinho e tão perto, me fazia passar mal. Olhei para o lado e vi seus grandes olhos reluzindo à meia luz do abajur.

— Estou ótima. — Grunhi, escondendo minhas bochechas no cobertor. O ar ligado no máximo fazia aquele lugar muito confortável. Não sei por que ele tinha insônias. — Por que não estaria bem?

— Porque seu coração parece uma batedeira.

O antebraço dele estava no meu peito, e isso me deixou ainda mais nervosa. Eu estava passando mal, meu peito nunca bateu tão acelerado.

— Deve ser o meu sangue bombeando o ódio pelo meu corpo. — Menti. Eu não ia falar que estava nervosa pela presença dele.

— Ah... — Tae suspirou e ficamos em silêncio. Isso foi ótimo, porque eu estava com falta de ar. Eu sentia o peito dele em meu braço esquerdo, e nossas intimidades não tocavam uma à outra. Quando pensei que Tae ia roncar, ele quebrou o silêncio de outra forma, falando baixinho. — Eu não gosto quando toca outras pessoas.

Eu sabia que estava demorando.

— Isso é irrelevante. — Murmurei. — Vamos dormir.

— Por que é irrelevante? — Tae apoiou a cabeça no braço.

— Se está falando dos procedimentos de fisioterapia, saiba que são minha obrigação e você não pode fazer nada quanto a isso. Está fora do acordo.

Ele fez um beicinho que era a coisa mais linda que Deus criou. Por que ele estava tão diferente naquela noite? Não dando ordens, e sim, pedindo as coisas e sendo fofo. Talvez seja pelo horário absurdo.

— Tudo bem. — Ele murmurou, entendendo incrivelmente rápido o que eu declarei, e virou de costas para dormir.

"Dormir" era exagero. Íamos cochilar até às 6 da manhã, no máximo às 6:30.

Meu cansaço logo me abateu e eu consegui a incrível proeza de cochilar perto daquele homem. Ele usava uma camiseta branca que evidenciava sua clavícula bem delineada e forte. Só de reparar isso, significa que estou bem cadelinha, mesmo. Céus. Quando acordei, senti cócegas no meu rosto. Tae estava usando meu próprio cabelo para me cutucar suavemente. Eu estava sentindo o triplo de sono, teria sido melhor ter ficado acordada.

— E o despertador? — Perguntei, coçando os olhos com força para ver se o sono ia embora.

— Vai tocar em 1 minuto. — Ele disse, indo lá desligar antes que tocasse.

— Acordou antes do despertador?

— Eu não dormi. — Ele murmurou e foi em direção à sala. Bem, ele realmente tinha distúrbios do sono. Por isso dormia a aula toda.

— Desliga esse ar, pelo amor de Deus. — Implorei, morrendo de frio. Parecia que estávamos no polo norte.

Ele o fez e eu finalmente saí debaixo dos cobertores.

Shimin nos viu saindo do quarto e ficou dando risadinhas. Ele achou que tínhamos feito aquelas saliências?

— Já fiz café. — Disse Shimin, dando uma piscadinha para Tae, que pegou a garrafa térmica inexpressivamente e encheu duas xícaras.

Fiquei envergonhada só de pensar que ele estava achando aquilo de nós. Shimin fez uma cara terrivelmente saliente quando viu Tae me entregando uma xícara de café. Ele deve achar que sou a maior cachorra na cama que se pendura no ventilador de teto e cai sentada no negócio. Ou que peço surra.

Eu quase afundei na cadeira enquanto Shimin sorria olhando para nós dois. Tae tomava seu café normalmente.

— Quero torradas. — Disse Tae para mim. Bufei, morrendo de sono, e fui fazer as torradas dele. Eles comiam kimchi com qualquer coisa, mas com torrada era o fim do universo, então nem olhei enquanto ele comia.

O dia foi normal. Tae não estava com seu senso de superioridade atacado ultimamente, então melhor para mim. Depois da aula, fomos ao treino.

Eu era assistente da equipe de basquete e "namorava" um dos jogadores. Isso era fantástico.

Tae tinha estado calmo ultimamente.

Até agora.

Um novo jogador entrou na equipe. O treinador gostou tanto dele que o convocou mesmo fora do período de formação da equipe. Ele se chamava Soobin e, adivinhem, era coreano, também. Ele era alto, esbelto, sua pele era uniforme e clara. Seus olhos eram pretos, como seus cabelos, dando-lhe um ar misterioso. O sorriso debochado era emoldurado por lábios rosados, ele era daqueles caras marrentos com habilidades. Lindo de morrer.

Era muito estranho mais um coreano na faculdade, eles vinham por todos os lados, olhei para o bueiro para ver se ia sair outro coreano dali.

Não, não era coincidência, e eu soube quando fui distribuir os produtos de limpeza no vestiário.

— Não vai me cumprimentar, Tae? — Era a voz de Soobin. Ele não era tão fluente quanto os meus vizinhos, e seu sotaque era bonitinho.

Não ouvi resposta. Eu não chegava a entrar muito no vestiário quando os meninos estavam lá. Eu me retinha ao armário de limpezas, que ficava logo na entrada, quando muito necessário, então não vi a reação de Tae.

— Eu vim aqui só para te encontrar e você me despreza. — Disse Soobin. Ele estava esbanjando seu português com classe.

— Pelo visto você não tem nada para fazer, mesmo. — Tae respondeu.

Eles tiveram uma discussão breve e impessoal, agora em coreano, que eu não entendi. E acho que mudaram de idioma justamente para não lavar roupa suja na frente de ninguém. Mas, eu sabia que aquilo não ia ficar daquele jeito.

Dias se passaram.

No sábado, Shimin me convidou a tomar um chá. Eu iria para lá e depois visitaria minha mãe.

Shimin fazia biscoitos amanteigados deliciosos, e seu olhinho fechado enquanto ele sorria me dava felicidade de viver. Eu amava visitar Shimin.

— Estou feliz que veio me ver. — Ele disse, me servindo um pouco de chá de ginseng.

— Não é sempre que temos oportunidade de conversar. — Sorri. Ele deu uma risadinha sapeca, acho que se lembrou do dia em que eu dormi lá, e que ele acha que Tae e eu transamos loucamente até eu ficar assada.

— Oh, é mesmo. Tae foi para sua aula de português, então podemos falar livremente.

— E você, não tem aulas de português? — perguntei.

— Eu parei com minhas aulas. Sabe, não estou dando conta do curso de português e da faculdade, não sou gênio como meu irmão.

— Gênio? — Eu me surpreendi. — Ele dorme a aula toda.

— É o jeito dele. Mas, Tae nunca tirou nota baixa.

Fiquei pensativa. Continuei tomando chá com ele e comendo biscoitos até ter coragem de falar abertamente.

— Desculpe a intromissão, mas... O que há com o novo jogador de basquete? — Indaguei.

— Quem?

— Soobin. Ele veio da Coreia há pouco tempo e Tae o conhece. Você sabe o que houve entre eles?

Shimin congelou seu sorriso e deixou a xícara de chá tremer em seus dedos, derramando um pouco em sua perna.

Eu falei besteira?

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