Narração Diana
Assim que chegamos ao estacionamento do prédio, toda vez que alguém passava perto da gente no percurso até o apartamento dele, Tae segurava minha mão. Mas, era só ficarmos sozinhos que ele se afastava de mim e andava à frente.
Tentei dar uma de maluca e escapar para meu apartamento quando chegamos ao nosso andar, o sétimo, mas Tae me puxou para o seu pelo braço.
Quando entrei lá, vi que o apartamento estava impecavelmente organizado e limpo. Ele aparentemente tinha chamado a empregada ultimamente. Então, o que ele queria comigo?
— Tire meu casaco. — Ele falou, seco, assim que fechou a porta. Bem, se eu não reivindicasse muito, talvez ele parasse de ter ideias mirabolantes.
Eu fiz todo o esforço para tirar o casaco dele, já que ele não moveu uma palha.
— Da próxima vez, vista um com zíper. — Reclamei.
— Calada. — Tae murmurou e ficou de braços abertos enquanto eu colocava seu casaco no cesto de roupa suja. — Não está esquecendo de nada, não, cadelinha?
— Você me pediu que tirasse seu casaco.
— Vou tomar banho de roupa?
Ele já estava me enchendo o saco. Não tenho bola de cristal para adivinhar o que ele quer.
— Eu não vou tirar sua calça. — Falei — Lembre-se do acordo. Nada sexual.
— Só a camisa. E os sapatos.
A camisa dele saiu com uma facilidade absurda. O problema foi que meus dedos tocaram os gominhos da barriguinha trincada dele instintivamente. A pele de Tae era tão cheirosa, tão lisa. Seu corpo me atraía muito e meus instintos responderam automaticamente. Senti uma descarga elétrica atravessar meu corpo. Ele tinha os ombros largos, era grande.
— Olha o assédio. — Tae murmurou.
Voltei a mim enquanto ele se sentava no sofá. Tive que desatar os nós dos tênis dele, tirar suas meias. Eu estava agachada, mas minhas costas doeram.
— O que mais você quer? — Perguntei. Provavelmente, ele vai querer alguma comida.
— Minhas pantufas. — Ele disse. — Lá no quarto.
Eu nunca tinha entrado no quarto de Tae. Parecia um quarto de manicômio, só tinha cama e armário. Não me admira que ele seja assim tão louco.
Coloquei as pantufas dele na porta do banheiro, e ele abriu a porta no mesmo momento.
— Esfregue minhas costas, cadelinha. — Exigiu.
— Olhe o acordo!
— São as costas. Eu cumpro a minha parte quando sou obrigado a abraçar você.
Ele devia ser advogado, sabe tirar argumentos da bunda muito bem.
— Entre na banheira. — Falei. — Por favor... Supremo senhor do universo.
Tae entrou na banheira, sorridente, depois de tirar o resto da roupa enquanto eu olhava para outro lado. Eu fui lá me sentar na borda da banheira, com uma bucha para esfregar as costas dele. A pele de Tae era realmente uma coisa de outro mundo. Era harmoniosa, sem um único ponto de imperfeição, era quente e macia. Seus braços eram longos, sua estrutura óssea era marcante, suas clavículas eram protuberantes. Seu semblante parecia tão angelical enquanto eu passava a espuma pelos seus ombros! Não parecia um diabinho malicioso.
Toquei a nuca dele, instintivamente. Seus olhos se reviraram quando improvisei uma massagem em seus fios lisos.
Eu gostei da sensação. Gostei de tê-lo em minhas mãos. Foi bom provocar reações nele. Mas, é claro que ele não gostava de ser rendido por alguém.
— Pare. — Ele ordenou. Inferno, ele não podia ter a mínima sensação de estar nas mãos de alguém que já ligava seu alerta. — Massageie meus pés.
Tive que colocar uma toalha sobre minhas pernas para massagear os pés dele cheios de espuma. Os pés dele eram grandes e, seus dedos, longos. Fiz bastante espuma e o massageei nos dedos, nos calcanhares, em tudo. Fiz um trabalho sensacional, modéstia à parte.
Tae soltou um gemido depois de quase adormecer com minha massagem, e eu fiquei sentida com seu gemido. Fiquei surpresa.
De repente, a porta do banheiro se abre bruscamente e Shimin vê aquela cena.
Narrador
— Pode se vestir um momento, maninho? — Shimin tinha os olhos doentios depois daquele flagra..
— Na verdade, não posso, não. — Respondeu Tae. — Estou ocupado.
Shimin engoliu toda a sua raiva com muito esforço, deu um sorriso, fez uma mesura e saiu.
— Acho que é melhor eu sair daqui. — Disse Diana.
— Você não vai a lugar algum. — Disse Tae, irredutível. — Shimin que engula a inveja dele por eu ter uma namorada que lava meus pés.
Tae se levantou, completamente nu, e Diana não conseguiu desgrudar os olhos do monumento que ele tinha entre as pernas. Sem nenhum tipo de vergonha, ele se cobriu com seu roupão felpudo, já que ela estava paralisada e estática, olhando. Tae deu um sorriso encantador ao notar que ela estava completamente encabulada, e perguntou:
— Gostou do que viu?
— Isso é assédio. — Diana virou o rosto.
— Podia ter feito isso que fez agora e virado o rosto. Mas, você é uma cadelinha bem safada.
Diana quis estrangulá-lo.
— Agora já chega, eu vou embora. Não posso ficar aqui até a hora de dormir, tenho minhas coisas a fazer.
Tae suspirou.
— É assim mesmo? Já vai me abandonar? Não são nem 19h.
— São 20:21.
— Ah. — Ele suspirou de novo e fez um beicinho. — Tudo bem. Eu deixo que você vá embora.
Ele emoldurou o rosto dela com as mãos delicadamente e inclinou seu rosto para beijá-la. Ele era alto, então precisou se abaixar bastante. Os beijos dele a deixavam calminha e sem reação. E ele adorava isso.
— Aqui não precisa fingir. — Ela virou o rosto, envergonhada. — Estamos no seu banheiro.
— Exato. — Ele riu da expressão zangada dela e a beijou de novo. Foi difícil abrir os olhos quando o beijo se acabou, ela sentiu que tudo tinha valido a pena. Sentiu-se sem forças para negar qualquer outra coisa que ele fosse pedir. — Vá, antes que eu tenha novas ideias.
Diana saiu do banheiro, pegou sua mochila, se despediu de Shimin com um aceno e se foi. Shimin estava no bar degustando um licor para se acalmar. Quando Tae saiu do banheiro e foi calmamente em direção ao quarto, Shimin falou, em coreano:
— Ainda não acabou essa palhaçada?
— Não e não se meta nisso. — Tae respondeu, em coreano, estava inexpressivo.
— Tae, pare com isso, você não é assim. Sei que ainda há esperanças para você.
Ignorando o que o irmão falou, Tae foi para o seu quarto. E Shimin o seguiu, interceptando-o antes que colocasse os fones de ouvido.
— O que você viu, Tae? O que aconteceu naquela casa que te deixou assim?! Hein?! — Shimin afastou os fones de ouvido do irmão.
Tae ficou paralisado, provavelmente estava se lembrando ou pensando em algo. Depois, voltou-se a Shimin, pegou os fones de ouvido da mão dele e foi deitar-se em sua cama.
— Essa garota gosta de você! — Disse Shimin — Não viu o jeito que ela te olha?
— Vi.
— E você não sente absolutamente nada? Nem ao menos culpa?
— Ela não está sendo enganada, se é o que pensa. — Tae se cobriu com o cobertor, ansioso que o irmão parasse de falar.
— Quer dizer que ela sabe que você não sente nada por ela e aceita? O que ela ganha em troca de lavar seus pés? — Shimin perguntou, horrorizado.
— Minha atenção.
— Estúpido! — Shimin fechou a porta do quarto com força, provocando risadas no irmão.
Narração Diana
Naquela noite eu não conseguiria dormir. Eu tinha uma porção de coisas a fazer... E pouco tempo. Plínio fez uma festinha, tinha bituca de cigarro pelo apartamento todo. Eu não conseguia estudar com aquele fedor. Eu ia morrer de tristeza.
Fui dormir exausta. Ouvi os gritos de Shimin no apartamento ao lado, mas como falavam em coreano eu não entendia nada.
O dia seguinte foi bem comum e sem grandes novidades. Exceto que Tae me levou para a faculdade, carregou minha mochila e me fez sentar do ladinho dele de novo. Dessa vez, no entanto, ele não dormiu na aula, apenas ficou me observando enquanto eu anotava a matéria.
A lista de presença chegou à nossa mesa e fui assiná-la.
— Seu nome é Diana Antonieta? — Tae riu.
— Monteiro. — Completei.
Ele digitou "Antonieta apelido" no google e encontrou respostas interessantes.
— "Tonha". — Tae leu e riu. — Vou te chamar de Tonha.
— O que me admira é você saber ler com "nh". — Zombei. Ele deu um sorrisinho vitorioso e depois ficou sério.
— Você não recebeu nenhum e-mail hoje?
— Não, por quê? — Indaguei.
— Nada. — Ele se levantou e saiu da sala. Acho que ia fazer xixi ou algo assim.
Uns dez minutos depois, eu recebi um e-mail do clube.
"O Pinheiros Esporte Clube tem o prazer de informar que sua inscrição foi efetuada com sucesso. Bem-vinda à equipe."
Sequei minhas lágrimas, que caíram antes que eu terminasse de ler o e-mail todo. Deu certo! Finalmente deu certo!
Não consegui esperar Tae voltar à sala. Eu tive que me pendurar no pescoço dele no corredor, mesmo.
— Calma. — Ele falou, entendendo meu momento de angústia ao receber meu pulo. — Você merece.
Fiquei em silêncio, não conseguia esboçar nada naquele momento. Eu só conseguia pensar no meu irmão, e em como ele ficaria orgulhoso. Como eu precisava daquilo para pedir-lhe desculpas.
— Está tudo bem? — Ele perguntou, inocentemente. — Se não estiver bem, podemos ir para casa.
— Estou bem. — Murmurei, com voz de choro, ainda escondida no pescoço dele. Só então notei que eu estava literalmente pendurada nos braços de Tae. Meus pés estavam suspensos. Desci. — Desculpe.
— Eu não sabia que era assim tão importante para você. — Ele comentou. Aquele foi um dos momentos mais íntimos que já tivemos, muito mais do que quando o vi pelado e ensaboado. Senti empatia em seu rosto, finalmente.
— Sim, é muito. — Sequei o rosto. — Meu irmão jogava basquete.
— Jogava? Não joga mais?
— Ele se foi alguns anos atrás. — Dei um sorriso muito triste e consegui segurar o choro. — Mas, eu estou bem. Obrigada por ter me ajudado.
Forcei um sorriso e respirei fundo, com os olhos vermelhos.
Tae segurou uma mecha do meu cabelo e ficou pensativo, acho que analisava as suas palavras.
— Esqueça a aula. Vamos ao ginásio. Venha, vamos.
Eu estava tão empolgada! Quando entrei na quadra, respirei fundo. Eu agora era parte da equipe. Ainda podia ver meu irmão correndo pela quadra, fazendo uma cesta e levando a multidão à loucura.
As últimas imagens que eu tinha dele... eram cruéis.
O treinador Montanha veio até mim e disse:
— Você tem muitas tarefas a fazer. As equipes do segundo e terceiro ano precisam dos uniformes e toalhas, vamos, ande!
Eu estava empolgada e fui correndo no mesmo momento.
Já estava pronta para ser serviçal novamente.
Narração DianaSim, eu agora sou parte da equipe.Sou eu quem apita o início do treinamento e o fim. Claro que não é toda vez, e que trabalho com as assistentes mais velhas, de outros anos. Todas são de cursos diferentes, e são as maiores fãs da equipe. Dizem que as assistentes têm mais amor à camisa que os jogadores.Fiz amizade com Julieta, uma garota fofa, baixinha e simpática que me ensinou tudo, inclusive procedimentos básicos de massagem e todas passamos por um cursinho de primeiros-socorros. As listas de telefones estavam sempre disponíveis e fomos instruídas sobre como e quando ligar para a polícia, SAMU, dedetização e etc.O treinamento de combate a inc&
Shimin deu um pulo de dois metros depois de derramar o chá quente em sua próprioa perna, e eu peguei um pano para ajudá-lo a limpar e minimizar as dores.— Soobin está aqui? — Shimin murmurou, ignorando a dor da queimadura, enquanto eu pressionava o pano de prato insistentemente contra sua perna.— Sim. Eles discutiram no vestiário, eu soube. — Claro que eu não diria que ouvi tudo de fofoqueira que sou.— Sabe, ele é um primo de Tae. Eles eram muito próximos quando eram mais novos, mas... Por algum motivo se estranharam depois de adultos.Como assim por algum motivo? Esclareça melhor isso aí.— Sinto muito. — Falei,
NarradorTae ficou no corredor por um bom tempo, pensando. Diana estava muito esguia, provavelmente ficou bem magoada com ele.Todas as vezes em que ele fazia algo que a magoava, sentia-se momentaneamente saciado, e péssimo no segundo seguinte.E não mudava de atitude.O celular dele apitou. Mensagem de um número desconhecido em coreano: só podia ser Soobin.Certeza."Que saudades, primo. Estou grato à minha tia por me dar seu número. Vamos combinar de sair. Mande um abraço para Shimin."Tae entrou em seu apartamento e fechou a porta com tanta força que a janela tremeu. Bufava.
Narração DianaSoobin não me respondia desde o fora federal que dei nele ontem. Ficou dois dias sem aparecer no treino e eu fiquei preocupada com isso.Peso na consciência.Eu não podia dissolver a equipe assim. Meu trabalho era fortalecer os laços deles e contribuir para que a equipe ficasse mais unida.Sou uma péssima assistente.Mais uma vez olhei a nossa conversa e fiquei péssima. Talvez eu devesse ter abordado a situação de outra forma. Quer dizer, o que ele estava fazendo era errado. Mas, talvez, eu devesse neutralizá-lo em vez de agredi-lo com palavras, não sei.Estávamos na aula de desenho ge
Narração DianaEu estava toda contente com meu celular novo, muitas funcionalidades, câmera perfeita. Tae sorria ao me ver feliz.— Obrigada. Eu nem sei se deveria aceitar, é muito caro.— Eu quebrei o seu. — Ele disse, ansioso para me ver mexendo no brinquedo novo.— Era só consertar a tela.— Não gosto de dar presentes pela metade. — Ele disse.— Tudo bem. — falei, super feliz de verdade. Nem estava acreditando no presente que ganhei. Aquele celular valia muito mais que qualquer serviço que eu tenha feito a ele. Como funcionária de Tae, me senti recompensada pelo serviço abusivo
Narração Diana— O quê?! — Fiquei sem voz depois do grito que dei.— É isso aí. Tae é tão possessivo, calculista e ciumento que fez a primeira namorada ele se matar. — Soobin revelou.Aquilo era muito sério.Muito, muito sério.Soobin não poupou agressividade em suas palavras, e como consequência disso, minha voz sumiu. Não consegui falar nada, e eu esperava muito que não fosse uma mentira de Soobin. Na verdade, eu queria muito que fosse mentira.Confesso que foi forte demais para mim, eu precisava muito ir embora. Eu prec
Narração Diana— Ah, Diana... — Tae suspirou. — A minha primeira namorada foi uma pessoa muito tímida. Estudamos juntos desde o jardim de infância, mas ela sempre foi muito misteriosa. Ela tinha uma mãe alcoólatra que... colocava homens estranhos dentro de casa, então... ela nunca me disse o que aconteceu, mas eu imaginei. — Tae ficou inconsolável nesse momento, com lágrimas se equilibrando em suas pálpebras. Elas ficaram presas ali firmemente. — Talvez seja algo ruim sermos discretos desse jeito. Não falamos o que sentimos, e isso vai nos consumindo por dentro. Ela poderia ter se apoiado em mim, mas... não conseguiu.— Eu... sinto muito! — Ergui a mão para tocar o braço de Tae, mas desisti. Eu havia dito algo horrível por cu
NarradorTae não ficou horrorizado com o pedido dela. Na verdade, aquiesceu obedientemente, como um funcionário que aceita abrir mão de suas férias com os filhos.Trouxe Diana para perto pela mão até que o tronco dela se uniu ao seu delicadamente. Depois, puxou-a ainda mais para si tocando gentilmente suas costas. E uniram seus lábios. Ela sentiu a língua dele percorrendo um caminho delicioso em sua boca, por um segundo sentiu como se estivessem na mesma sintonia. Diana abriu os olhos, e viu que ele estava entregue, de olhos fechados e expressão suave.O beijo cessou deixando saudades no mesmo instante, pois a boca dele era macia e tinha um lindo sinalzinho no lábio superior que ela aproveitou para passar a língua quando estavam em contato.<