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7. Eu Sou Uma Cadelinha

Narração Diana

Voltamos à sala.

Quando fui sentar em minha cadeira, Tae apontou com o indicador o espaço ao seu lado.

Não. Ele não ia me fazer arrastar cadeira no meio da aula.

Fingi que não entendi e virei para o quadro. O professor explicava a matéria sem nenhuma vontade de viver, assim como eu.

Recebi uma mensagem no WhatsApp e já sabia quem era.

Deus, faz ele parar.

“senta aqui” Tae disse.

“depois dessa aula eu troco a cadeira de lugar, por favor”

“agora”

“Eu tenho muita vergonha de arrastar cadeira no meio da aula. Vou chamar a atenção de todo mundo”

“E daí? Não perguntei”

“🤬”

“olha a boca 🤐”

“Pelo amor de Deus, Tae… me peça qualquer outra coisa”

“🙄”

“Você gosta de pedir coisas que me deixam constrangida, não é??”

“😘”

Lá fui eu arrastando a mesa para o lado dele. O professor ficou olhando. Todo mundo ficou olhando. Quando fui colocar a cadeira perto dele, Tae a puxou para mais perto, entediado.

— Quer que eu sente no seu colo? — perguntei.

— Não me lembro de ter autorizado você a ser debochada. — Ele falou, sério, colocando o lápis atrás da orelha e encostando a cabeça na parede para dormir.

— Você não dorme de madrugada?

— Durmo. — Ele murmurou — Tenho distúrbios de sono. Aliás... — Ele me entregou uma lista de exercícios — Vá fazendo todos para mim. E faça com uma letra diferente da sua, ou de algum jeito que o professor não entenda que foi... Como vocês chamam mesmo?

— Cola?

— Isso. Não sei o que essa palavra tem a ver com o ato, mas tudo bem. — Ele foi dormir.

Quase caí da cadeira. Não é possível. Sempre que eu penso que vou suportar os pedidos dele, ele me vem com coisa nova.

---

Começou a cair uma chuva chata no fim do dia. Eu estava com raiva porque eu havia sido feita de idiota. Fiz várias coisas por Tae enquanto ele não fez nada além de me dar um beijo nervoso na frente da sala.

Juntei meu material enquanto Tae acordava de seu sono.

— Que horas são? — Tae perguntou, demorando a lembrar onde estava.

— 16h. A aula acabou mais cedo. — Respondi.

— Ok. — Ele disse. Eu me levantei para ir embora, mas ele me puxou pela mão — Aonde a madame pensa que vai?

— Ué? Vou embora! — Reivindiquei, sendo forçada a me sentar na cadeira de novo porque ele me puxou. Daí lembrei do protocolo. — Posso, Majestade?

— Agora, sim. — Ele deu um sorriso largo — Você só precisa de um estímulo para aprender. Onde estão os meus exercícios?

Revirei os olhos até enxergar meu cérebro e entreguei as respostas em folha de ofício. Tive o maior trabalho de fazer uma letra parecida com a dele nas tarefas. Tae recebeu as folhas com um largo sorriso, se levantou e me estendeu a mão.

— Venha, meu amor. — Ele disse, em alto e bom som. Tive que rir da falsidade.

Segurei a mão dele, mas aquilo não era o suficiente, eu me permiti ir mais além.

— Amor, eu quero um chocolate quente. E biscoitos. — Pedi. Tae segurou meu queixo e o beijou.

— Tudo por você, meu amor. — Ele tinha um sorriso tão lindo no rosto que eu fiquei ruborizada. Em momentos como esse, eu me deixava levar. Tae pegou minha mochila e levou-a em seu ombro.

Até aí, eu estava adorando.

Andar de mãos dadas com ele dava uma moral indescritível. Era como desfilar na passarela. Todos olhavam. Todos comentavam e diziam:

— A Diana é muito sortuda.

— Quem é esse rapaz tão lindo?

— O que ele viu nela? Que inveja!

Ele sorria. Sabia que esse tipo de situação ia me deixar mudada. Ia me fazer aceitar o acordo.

Fomos até a cafeteria e Tae me comprou um chocolate quente lindo com marshmallows e biscoitos com formatos de corações. Ele mesmo escolheu cada biscoito com enfeites e detalhes em rosa.

Se ele fazia isso sem amor, imagina se fosse com amor. Ele sabia ser um doce, acho que não era porque não queria.

As meninas passaram, dizendo:

— Que lindos comendo biscoitinhos cor-de-rosa!

— Como eu queria um namorado assim!

Eu dei um sorriso de canto de rosto. 

Era meu namorado, mas não era.

Tae me observou comendo. Aqueles olhos dissimulados dele. Tão misterioso. Eu nunca saberia o que era real e o que não era ali. Ele estava pensativo, e disse:

— Você é realmente linda.

Fiquei ruborizada e respondi.

— Obrigada.

Eu precisava não me deixar levar por esses elogios, pois eram falsos. Nem por seus beijos, que também não tinham nada de sincero. Por fim, tinha que matar essa vontade de querer que isso fosse sincero.

Se Tae fosse naturalmente assim, seria admirado e adorado de verdade, como Shimin é. Não precisaria fazer propostas e acordos.

— Por que eu? — Resolvi perguntar. — Tem um milhão de garotas por aí que são loucas por você e venderiam a alma para que você as humilhasse e pisasse na cara delas.

— Quantas delas foram flagradas com toneladas de fotos minhas? Fotos tiradas sem a minha permissão, inclusive. — Tae respondeu, perguntando.

— Não quer comer biscoitos? — Perguntei, desconversando sobre a parte que me tocava.

— Não gosto de biscoitos. Só como chocolates, às vezes. — Ele murmurou. E viu mais um grupo entrando na cafeteria. Então, segurou minha mão sobre a mesa. — Sabe, seus olhos são os mais lindos e brilhantes que já vi.

O plano deu certo. As pessoas ouviram e comentaram sobre nós:

— Eu daria minha alma para ser a Diana!

— Inferno de garota sortuda!

— Ela enfeitiçou ele! Qual o nome da mãe de santo?

Eu estava ocupada demais para me irritar. Fiquei ruborizada com as palavras de Tae. Ele mente, mas diz coisas tão lindas. Pouco a pouco, eu ia me iludindo.

Desisti, eu não conseguia separar as coisas. Não era possível analisar friamente.

A chuva começou a cair. Só eu tinha trazido guarda-chuva, então Tae o pegou da minha mão e o segurou. E me abraçou, puxando minha cintura para que coubéssemos ali embaixo.

Eu juro que não queria ficar vermelha, mas fiquei. E, ainda mais, quando ele colocou um bombom na minha mão.

— É Lindt. — Murmurei ao ver a marca do bombom. — Nunca provei.

Tae deu uma piscadinha e um sorriso encantador e disse:

— É o meu preferido.

Ele me deu seu chocolate preferido, algo que lhe deixa feliz. Eu o amo.

---

Como previsto, o encanto se acabou quando entramos no carro de Tae. Ele jogou nossas mochilas no meu colo e estendeu-me sua mão.

— Beije. — Ele disse, inexpressivo.

Revirei os olhos. Estava demorando muito.

— Beije ou saia do carro. — Ele exigiu.

Eu beijei a mão dele, cheia de raiva. Mas, sei que não era o pior que ele poderia fazer para mim.

Tae empurrou o dedo na minha boca depois que beijei a mão dele. Seu dedo entrou quase na minha garganta. Ele riu. Eu me afastei, mas ele ordenou:

— Fique parada.

Engoli em seco.

— Está doido, é?! — Grudei as costas na porta do carro.

Ele segurou meu rosto com uma mão, de modo que minha boca naturalmente fez um bico. Senti seu dedo molhado pela minha saliva em minha bochecha. E ele apertou meu rosto. Sua expressão era de arrogância.

— O que você é? — Tae perguntou, mordendo o lábio.

— Como assim?

— Você é uma cadelinha. — Ele falou, me olhando com asco e superioridade. — Fale.

— Não exagere.

— Fale! — Ele apertou os olhos, seríssimo — Fale agora mesmo.

— Por que está me pedindo isso?

Tae me soltou e voltou a sentar-se corretamente em seu banco. Ficou sério.

— Saia. — ele falou. Eu tinha vontade, mesmo, mas estava caindo o céu lá fora de tanta chuva. — Não ouviu?

Ele abriu a janela e eu senti as gotas de chuva.

— Eu sou uma cadelinha. — Falei, baixinho.

— Você é o quê?

— Cadelinha. — Repeti, cheia de raiva.

— Está com raiva, cadelinha? — Tae fechou a janela e riu. Como não respondi, ele colocou o dedo no meu ouvido. Empurrei a mão dele e ele não gostou e continuou colocando o dedo lá.

Se eu gritasse ou o empurrasse, seria pior. Então eu cuspi na mão dele. Foi involuntário, mas eu não me arrependi, pois isso o fez parar. Tae odiou minha atitude, então direcionou seu dedo sujo com meu cuspe à minha boca e disse:

— Lambe. — Ele ordenou, aguardando que eu abrisse a boca para lamber.

Onde isso ia parar? Eu comecei a equilibrar o choro. Era muita humilhação, eu comecei a tremer. Meu coração me mandava obedecer tudo que ele falava, mas minha mente me mandava correr.

Eu pensei nos carinhos dele e nas suas declarações. Eu não podia viver sem isso. Não podia viver mais sem ver a cara dura das pessoas quando andávamos de mãos dadas na faculdade. Não podia aceitar mais a minha vidinha inútil e sem graça.

Eu tinha que aceitar as loucuras dele.

Revirei os olhos.

Abri a boca.

Tae riu alto.

— Ora, cadelinha, eu não sou porco. Mas, você me fez muito feliz aceitando.

Ele secou sua mão na calça e beijou meus lábios, me fazendo suspirar por ele desistir dessa ideia absurda. Eu tremia. Ofegava.

Talvez aquele beijo tenha sido a única coisa real entre mim e ele até então, pois ele parecia apaixonado depois de ter suas vontades asquerosas realizadas. Foi um beijo sincero pelos motivos mais repugnantes.

Eu te odeio, Tae.

Ele ligou o carro e fomos embora.

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