Um mês inteiro se passou, e meu vizinho não vinha me levar para a faculdade, mas não faz mal, depois de conversar com o porteiro. Seu Jair um homem de mais ou menos cinquenta anos, descobri que não era tão difícil assim ir e voltar da faculdade pegando um ônibus. E de fato não era. Me perdi umas vezes? Sim, não nego. Chorei até o cobrador me colocar dentro de outro ônibus e conversar com o motorista. Quando chegou a minha vez de descer o carecão estava rindo. Mas eu cheguei em casa e isso era o mais importante.
As loiras Rebecca e Letícia, ainda implicavam comigo, mas aprendi a ignorar gente desse tipo. Foco na minha carreira, fingia que não as via e direcionava toda a minha raiva nos estudos. Até porque se começasse a matança por raiva, meu vizinho seria o primeiro.Já era sábado aproveitei bem o dia. Li bastante, comi, assisti e quando o sedentarismo cobrou dos meus rins, levantei e limpei a casa. Dei uma olhada no celular e lembrei que minha mãe deveria estar surtando. Digitei o número dela, e logo ouvi a sua voz, toda preocupada. Tadinha.— Tati? Ao fundo escutei meus irmãos brigando feito cachorros, não ia dar o braço a torcer, mas estava morrendo de saudades dos pegas deles em casa. As vezes a bagunça me fazia falta.— Está tudo bem aí? - Perguntei.— Claro filha. E aí? Está se dando bem na escola?Não. Não gosto de passar o dia com gente chata e mesquinha que ficam se gabando o quanto os pais pagam em cada mensalidade. Fora que toda vez que invento sair de ônibus volto chorando..— Claro mãe. Aqui está tudo ótimo. Adoro estudar.— Mentirosa.— Que é isso mãe? - Fingi surpresa.— Nunca gostou de estudar Tatiana. Se não fosse isso, também sei que nesse momento está com a cara de bunda .— Credo mãe. Eu só estou cansada e assustada. Cidade nova. Você sabe...Conversamos bastante. Choramos um pouquinho, falamos mal dos vizinhos chatos e depois de muito tempo, desliguei. Voltei aos meus estudos, foquei no futuro e escutei um estrondo. Meu vizinho deu o ar da graça, colocou as musicas ridículas de balada, e fazia tanto barulho que parecia estar tendo um ataque epilético. Respirei fundo, e voltei a ler, mas estava tão alto que eu não conseguia prestar a mínima atenção, e poxa vida, eu tenho prova na segunda. Eu estava tão nervosa, que respirava feito um boi bravo.Coloquei meu chinelo de pedrinhas, estava de short creme e camisa pólo feminina amarelo, que dava contraste mo meu cabelo ruivo. Toda menininha. Invoquei minha cara feia, e mentalizei um barraco.Saí pela porta, e bati na dele tão forte dessa vez, que ele abaixou o som na hora, e pude ouvir ele vindo correndo pelo corredor.Então a porta se abriu, e meus olhos quase saltaram da órbita.Um moreno alto, de olhos cor de mel, sobrancelhas perfeitamente cheias e alinhadas, do jeito me beija, lábios carnudos, cabelo castanho claro. E não parava por aí. Ele era forte, musculoso, e para fechar o pacote gostosura, usava uma camisa coladinha e shorts de sarja preto. Ele era o tipo galã do cinema e sabia disso, pelo menos minha cara de caipira carente devia fazer ele se sentir assim. Ele estava me encarando na porta com um sorriso ladino.Eu, como sou retardada engasguei com aquela visão, mas respirei fundo, fechei os olhos por uns segundos, limpei a garganta e falei;— Será que você pode chamar o Marcelo?Ele olhou para dentro, e voltou a me encarar, sorrindo;— Sou o Marcelo. - A voz dele era grave e macia. Sei lá, acho que a falta de macho me fazia ver e ouvir coisas.— Oi, sou sua nova vizinha, e como a gente mora coladinho, e você está ouvindo música muito alto, eu não estou conseguindo estudar, e segunda tenho prova. - Soei firme. — Desculpa ruiva, você é tão quieta que achei que não estava em casa. Mas prometo não fazer barulho.— Muito obrigada. - Empinei o queixo.— Por nada. - Ele ficou lá, me olhando, e eu sem saber o que fazer, fui tateando a parede até encontrar a maçaneta da porta.— Então... falou.Na hora em que com muito custo eu abri a porta ele disse;—Tati né?— Isso.— Prefiro te chamar de ruiva. E, a propósito, é de verdade? - Ele apontou para minha cabeça.— Meus cabelos? Sim, natural como a luz do dia.—Legal, gostei.Entrei até cega de vergonha, tentei trancar a porta, mas minha mão tremia tanto que a chave caiu, abaixei para pegar, mas parecia que a chave queria brincar de pega comigo. Era uma mãozada na chave, e uma escorregada bruta. — Fica aí, ridícula. - Chutei a chave.Depois me arrependi e peguei ela do chão. Claro, se eu perdesse a chave não tinha como sair. Ou eu tinha que ir pelo lado do meu vizinho, ou pular do prédio.Eu já tive um namorado, ele era bonito também, namorei com ele durante três longos anos. Danilo era alto, por trabalhar com cavalos ele também era forte, mas o Marcelo era um patamar de beleza que nem se compara com nenhum agroboy da minha cidade. E olha que tinha uns de encher os olhos.Eu acabei o namoro com o Danilo porque ele não aceitou minha decisão de fazer faculdade fora da cidade. Nem fiquei triste, ele só sabia falar de cavalo mesmo. Aliás, descobri pouco depois de resolver as coisas da faculdade, que ele enfeitava minha cabeça, e o pior de tudo. Dava umas voltinhas no meu cavalo com as trouxas da cidade.Meu cavalo tadinho, era veículo de escapadas do Danilo.Para a minha maior decepção, meu coração estava acelerado.Na minha mente eu não parava de ver o Marcelo, com aquele sorriso de lado e aquela camiseta apertada. o cara era lindo, mesmo desarrumado. Acho que era coisa de rico viu.Cara, eu moro ao lado de um verdadeiro deus grego. Agora eu percebi que, essa história de filho de rico ser feio está errada. Cuspi para cima e caiu na cara. O cara é lindo...Marcelo, meu lindo vizinho sumiu de novo, e eu já estava ficando louca, só estudava e comia, Ainda não tinha amigos, e os que achei ter, não me mandavam uma simples mensagem. Nada. Então, o jeito era assistir no tempo que me sobrava. Porquê até arrumar a casa eu fazia em tempo record.Foi aí que decidi falar com o seu Jair outra vez. Ele nem disfarçava a cara de bunda quando me via. — Bom dia Seu Jair. - Dei o ar da minha graça no balcão, na maior cara de pau.— Bom dia menina. - Ele me respondeu.— Se o senhor estiver sabendo de alguém que talvez esteja precisando de uma babá, ou sei lá mais o quê. Pode me indicar? - Apontei para mim.— Não está conseguindo custear a faculdade? – Ele me mediu de baixo a cima.— Não é isso. - Vencida senti meus ombros caírem. — Estou cansada de não fazer nada sabe.— Olha eu fiquei sabendo que uma doutora que mora aqui, quer alguém pra olhar o filho dela, ele tem sete anos, e não para um minuto, ela e o esposo trabalham bastante, o filho mais velho
Nas duas semanas que trabalhei na casa dos ricos, passei por muitas coisas.Primeiro o doutor Hebert tentou me cantar, depois tentou me dar dinheiro, que eu não aceitei, obvio. Tranquei a porta da minha casa, e fiz o sinal da cruz, precisava me focar nos estudos e fugir de um safado velho estava me deixando apreensiva. — Qualquer hora acerto um soco na carona dele. – Falei para o meu reflexo na porta do elevador. — Idiotão.O elevador chegou, e com ele meu maior pesadelo. O Doutor Hebert, que de cara já me deu um sorriso ladino. Ele só podia estar lá de propósito, já que morava abaixo de mim.— Tatiane. – Ele escorou a mão branca na porta do elevador. — Acredita que estava pensando em você?— Hum. – Dei um sorriso amarelo. — Errou o andar? Porque aqui é um pouco diferente do seu. – Me afastei dele com o coração na mão, era só alguns andares. O velho safado tocou no meu cabelo, e passou a língua nos lábios finos.— Sabe que não precisa ficar trabalhando assim, eu posso te oferecer
Assim que abri a porta da minha nova moradia o telefone começou tocar, pelo horário eu já sabia quem era.— Tati, está livre?Como se eu pudesse opinar. Pensei.— Sim. Acabei de chegar da...— preciso de você agora.— Ok.O mulherzinha chata, já me esperava na porta, junto do tarado velho do marido dela.Me aproximei com meu olhar matador e encarei a minha patroa.—Bom, hoje tem gente em casa, Brendon está daquele jeito, ele e o irmão não se dão bem. Então, não deixe eles dois perto por muito tempo.— Pode deixar Senhora.Enquanto ela falava algumas coisas, que eu esquecia assim que entrava pela porta, Brendon veio correndo e me deu um abraço tão gostoso, que eu quase me derreti.-— Tati, hoje eu não tenho muito dever de casa.— Hum, e?— Vamos assistir de novo! – Brendon me disse como se fosse a melhor coisa a se fazer. — Tudo bem, mas antes você vai estudar, depois tomar banho, e por último? Precisava passar a impressão de ser uma pessoa totalmente responsável e educadora.— Filme
Acordei atordoada e com o meu celular tocando. Sabe aquela hora da manhã, que todo som é ensurdecedor? Pois é, foi assim que eu me senti.Nem me dei ao trabalho de levantar, simplesmente girei o corpo e peguei meu celular.— Alô?-— Tati? Olha, vou fazer uma festinha hoje, meus pais resolveram alugar um espaço, já que eu não quis fazer em casa. É só para os amigos mesmo. Então você topa vir?— Eu? Ah... Espera aí... Mas quem tá falando?Ele riu tão alto, que tive vontade de desligar na mesma hora.— É o Roberto. Roubei seu número da minha mãe. Então você vai né?— Vou sim, mas onde é mesmo? – Limpei a baba do rosto e sentei na cama. Como se eu soubesse onde era a de ouvir falar.— Não se preocupe, vou ver se alguém te leva.— hum, tá ok. – Respondi, eu só queria mesmo era dormir.— Te vejo lá.Desliguei o celular, fiquei sentada olhando em volta do quarto. O pior foi que eu fui pega de surpresa e concordei em ir, mas eu nunca fui de sair muito. As festas que eu ia, ou era com meus p
— Gente é sério, aconteceu. Mas depois o Marcelo meio que sumiu, sei lá, as vezes eu não sou tão boa de cama assim. – Dei me sorriso amarelo.Mas logo não deu pra segurar a risada. Rimos tão alto que uns garotos que estavam saindo na nossa frente, pararam para olhar. Rebeca e Letícia riram mais ainda.— Tati, ele esta super na sua garota, vai por mim, eu conheço bem a raça. – E o pior é que Rebecca sempre sabia das coisas. A bichinha tinha um olho esperto.—Ele estava bêbado, e eu devo ter embebedado só de beija-lo. Não é possível que eu tenha sido tão liberal assim— O momento estava propício amiga. Aproveite, não é sempre que um gato desses cai na nossa rede.Não sei se foi impressão minha, mas Letícia estava meia azeda. A não ser o momento que riu das minhas loucuras, de resto se calou e emburrou a cara.— Ou o cara deve ser um vampiro sexualmente perigoso. – Crispei as sobrancelhas, surpresa com Rebecca.— Eu estaria lá ainda, toda seca, não acha?A baixinha aqui não via mais que
Alguma coisa diferente... Não sei o que é, mas não consigo parar de pensar nela. Na verdade desde o dia que ela bateu na minha porta toda emburrada e mandona, eu fiquei assim. Talvez eu fosse masoquista, ou apreciasse uma doida. No dia da festa, foi a gota, parecia que eu ia enlouquecer. Vê-la dançando para mim, entregue ao momento, a luz lançando cores no cabelo cobre dela. Tatiana tinha que ser minha, dancei com ela como um cão, defendendo a caça, precisei de muito controle para não tomá-la ali mesmo, na frente de todos. Depois tentei beber para esquecer, mas acabei nos braços dela, naquela piscina. O cheiro dela me fez sair desse plano, eu a queria e a tive, senti as carnes macias dela em mim, os gemidos dela com a boca meio aberta e os olhos verdes felinos revirados de prazer. Depois, só me restou a vergonha. Tatiana se entregou á mim sem saber da brincadeira suja que estava participando. Louco de ciúmes, queria poder estar onde ela estava, saber de todos os olhos que a
Um mês havia se passado e Marcelo resolveu fazer igual o relâmpago Marquinhos, mais rápido que o Katchau, sumiu. Me sentia usada, chateada, e muito, muito irritada.— Ele foi lá em casa, conversou com minha mãe. Estamos namorando sério.- Rebecca fez uma baita de uma cara de besta.— E ainda me deu uma aliança de prata. Olha!? - Era enorme e tinha o nome dele gravado por fora. Eu não usaria, mas dei uma risadinha amarela, era minha amiga, se ela estava feliz, eu também estava.— Poxa Re, estou feliz por vocês, o Roberto é muito legal, sei que vai fazer você feliz. - Dei umas batidinhas na mão dela.— Mas e vocês dois? O Roberto me falou que o Marcelo e você estão se entendendo também.— Hã? Nós, nós estamos bem,- MENTIRA.— O Marcelo é muito ocupado, mas nos falamos sempre.- Falei olhando para o pátio, fingindo estar prestando atenção em outras coisas. — Quer dizer, as vezes ele some mas está tudo bem. Eu também estudo muito.Mentira pura. Queria dar uns tapas naquela cara safada dele.—
Só que o Sábado chegou e com ele o nada.Nada do Marcelo e a sua carona de pau. Nem ligou, nem mandou mensagem, nem sinal de vida. A começar por semana passada. O dia que fomos na casa dos pais dele, fiquei com cara de BOSTA olhando para o nada, e repetindo para mim mesma que nunca mais me sujeitaria a passar por isso.Comecei o dia de TPM. Comecei meu dia nervosa, com o rosto oleoso, o cabelo embaraçado, cólica e vontade de matar um. Pois é, meu sábado foi assim.Sentei na cama, olhei no celular, nove horas em ponto. Levantei e fui direto para o banheiro tomar uma ducha. Depois coloquei a pior roupa que eu tinha, peguei minha caneca, um pacote de bolachas e fui direto para a sala assistir minha TV. Nem tive tempo de firmar a bunda no sofá e já tinha alguém me ligando. Ao olhar no visor vi o nome da minha amiga.— Tati?— Oi Re.— Nossa, pela voz você está um trapo.— TPM.- Na verdade não era só isso, mas eu ia deixar para soltar os cachorros em outra pessoa.— Vamos fazer a festinh