- Não há razão para submetê-la aos testes antes dos seis meses. Faremos quando findar o prazo. – Foi irredutível.Agradeci e segui em direção ao corredor, quando o celular tocou. Imediatamente meu coração disparou ao ver quem era.- Você prometeu que me daria o tempo que pedi. – Arrisquei – Estou com sérios problemas.- Seus problemas não têm nada a ver comigo, Maria.- No momento que me pede uma quantia absurda em dinheiro em troca da vida das pessoas que amo, meus problemas têm tudo a ver com você.- Só liguei para lembrá-la de que estou aqui, querida sobrinha. E que não terá um dia a mais de prazo além do que combinamos. - Obrigada por lembrar-me, querido tio. Fico imensamente grata por sua atenção e preocupação com a minha memória. – Fui irônica e pela primeira vez me senti um pouco mais segura e com menos medo dele.A ligação foi encerrada. Daltro não era inatingível. Ele também devia ter seus pontos fracos. E eu os encontraria, um a um. Mas já que ele não me deixaria em paz e h
Dimi puxou-me e caí quase por cima dele na espreguiçadeira. Acabei ocupando um mínimo espaço que tinha ao seu lado, sentando-me, enquanto ele me apertava entre seus braços. Depois de alguns minutos matando a saudade, nos soltamos.- Fazia um tempo que você não vinha na minha casa. Devo pensar que estou morrendo? – gracejou.- Não faz tanto tempo assim... – Falei, certa de que realmente fazia, visto que nem lembrava quando tinha sido a última vez.- Geralmente nos víamos em lugares digamos... Reservados. – Deu um tapinha nas minhas costas, rindo.- Hum, não lembro desta parte. – Comecei a rir também.Antes que eu pudesse conter, Gatão pulou sobre a espreguiçadeira, com seu tamanho e peso gigantescos, pondo a cabeça sob minha mão para ser acariciado, enquanto deitava em cima de Dimitry.Dimitry começou a alisá-lo também. Nossas mãos se encontraram nos pêlos de Gatão, sem querer. Olhei em seus olhos claros e falei:- Lembro de cada momento... Coisas boas não precisam ser esquecidas. Crei
Dimitry olhou para o nada, em silêncio. Os olhos pareciam longe, enquanto pensava. Imaginei que ele estivesse tão confuso e perplexo quanto eu fiquei com toda aquela história surreal.- Não vai me contar quem foi, não é mesmo?- Não posso... Pela sua segurança. E das pessoas que amo.- Você está sendo chantageada?- Não.Ele balançou a cabeça, confuso:- Quem está fazendo isso com você?- Não é o que está pensando... Eu só...- Precisa contar ao seu pai.- Não posso...- Me diga o nome. Eu posso tentar ajudar.- Dimi, por favor, não me peça isso. Só quero que entenda que não foi Robin e não acuse um inocente.- Robin nunca foi inocente. Sempre foi um filho da puta.- Ele não é tão filho da puta assim.- Só falta me dizer que vai reatar com ele. – Dimitry foi irônico.- Eu não vou reatar com ele. Sequer gosto de Robin. Mas assim como todo mundo, ele também tem seus monstros. Ainda assim, não mandou dar aquela surra em você.- Não foi uma surra. Foi tentativa de assassinato. Sequer sei
Depois do jantar, eu já estava na cama quando ouvi uma batida leve na porta e Theo entrando.- Posso... Dormir com você?Comecei a rir, não conseguindo me conter.- Do que está rindo?- Cheguei a ver você ainda criança... Com seu travesseiro nos braços...- Foram poucos anos que tive medo de dormir sozinho.- Quem em sã consciência prefere um sofá a uma cama quentinha e confortável?- Eu me sentia seguro ao seu lado, raio de sol. – Falou, se jogando com força na cama, ao meu lado, com um sorriso de orelha a orelha.- Temos tantas lembranças boas...- Que guardaremos para sempre.- Como está tudo com relação à Málica? – Eu quis saber, já que no dia anterior não havia perguntado.- Ela segue dizendo que não fará o exame.- Isso é muita loucura!- Sabe o que é mais estranho? Os pais dela não se manifestarem e agirem como se nada estivesse acontecendo. O mínimo que poderiam fazer era ligar e me chamar de qualquer coisa, menos de santo, por duvidar furtivamente que o filho é meu. No entant
- Pode falar... – Ele sentou-se na cama, me encarando.Contei-lhe toda a minha mentira sobre ter sido aceita para o MBA na Universidade de Stanford e que teria que ficar afastada. Ele só ouvia, sim dizer nada. Por fim, completei:- Mas... Me preocupa o fato de deixar papai com a responsabilidade da North B. sozinho, principalmente pela nova fase na qual ele entrará, que é a da hemodiálise.- De tudo que me contou, sua única preocupação é esta? E quanto a nós?- Eu... Já decidi, Theo. E não voltarei atrás.Aquilo me doía como se uma faca cravasse meu peito, mas não tinha outra opção. Era para protegê-lo, assim como toda nossa família.- São dois anos... Bastante tempo. – Ele observou, com a voz fraca, enquanto nos encarávamos, sentados no meio da cama, um de frente para o outro.- Talvez menos... – Mal ele sabia que não seria tudo isso de tempo, mas a mentira precisava ser crível.Ele não disse nada. Os olhos seguiam nos meus e eu conseguia sentir sua respiração ofegante enquanto o pei
O grande dia chegou. E não lembro de ter ficado tão nervosa na vida. Já havia deixado as malas prontas e me despedi dos meus pais na noite anterior. Quanto a Theo, deixá-lo dormindo na minha cama, sem ao menos ter podido transar com ele na noite anterior era o que mais me doía.Desde que perdemos o nosso filho, não houve uma noite sequer em que ele não tivesse passado junto de mim, fazendo-me cafuné e enxugando minhas lágrimas, sendo que também sofria a perda. Ficou ao meu lado em todos os momentos.Ele sabia que eu ia embora naquele dia, mas não esperava que fosse fugir dele, evitando ao máximo a despedida olho no olho, temendo não ter coragem.Justo naqueles dias que antecediam a partida, tínhamos vivido momentos perfeitos. E isso fazia doer ainda mais.Claro que depois eu ligaria e justificaria exatamente a verdade: não queria chorar na despedida e não quis que doesse tanto. Aquela seria a única verdade que eu lhe contaria.Tirei uma foto dele adormecido na minha cama, para usar no
- Porque eu não sou capaz de me despedir olhando nos olhos dele. Me faltaria coragem. Deixar Theo é a pior parte disto tudo. Vivemos dias inexplicáveis de tão bons depois da perda do bebê. Embora isto tenha nos quebrado emocionalmente, nos uniu. E estamos tentando, a cada dia, ser mais compreensivos, tolerantes e... Confiar um no outro.- Confiar... – ele olhou para Anon – Um exercício diário de acreditar no que o outro diz, sem ter certeza de que ele fala a verdade.- Ou mesmo dizer a verdade... Independente das consequências... Na certeza de que a outra parte crê em você. – Anon completou.- A vida dele poderia estar em risco se eu fizesse isso.- E já não está? – Ben me encarou – Ou o capotamento não faz parte disto tudo?Abaixei os olhos novamente, pela primeira vez chegando a conclusão de que talvez eu não estivesse agindo de maneira correta ao esconder de Theo.- Se pessoas correm risco e são as que você mais ama, precisa preveni-las, querida. Não é uma brincadeira de detetive e
- Morar aqui? – Anya me olhou da cabeça aos pés – Você só pode estar brincando!- Tio Daltro! – Gritei, pondo a cabeça entre a porta.- Ele... Não mora aqui, garota!- Tio Daltro! – insisti – Preciso que retire as minhas malas do carro.- Só pode... Estar louca! – Ela continuou, confusa.Empurrei-a e entrei, sem ser convidada. Gatão me acompanhou e assim que viu um cachorro no corredor, saiu correndo atrás do pequeno, carregando a guia pelo chão, que enganchou na mesinha próxima da parede, virando-a com tudo que tinha sobre ela: porcarias. Escutei os objetos caindo pela casa, sem me importar.Sentei-me e cruzei os braços, descansando a cabeça no encosto do sofá, suspirando:- Este lugar é sempre quente assim? Onde está o condicionador de ar para eu ligar?- Não temos estas porcarias. Iremos comprar com o dinheiro que nos dará.- Hum... Sobre isso, poderia ligar para “titio Daltro”? – debochei – Quero lhes entregar um presente. Mas precisa estar os dois juntos – sorri.As meninas me ol