Rosa Na manhã seguinte, seguimos nossa rotina como de costume, mas dessa vez fomos de carro. O dia passou tão rápido que, quando percebi, já era a hora da saída. Como na véspera, Juan me esperava no portão e, para minha surpresa, me entregou outra rosa branca. — Você é muito fofo — murmurei, segurando a flor com carinho. Ele sorriu, um pouco sem jeito. — Só queria te ver sorrindo. Assim que ele se afastou, senti um olhar atravessado sobre mim. Senhorita Grey, a professora que sempre tinha um comentário na ponta da língua, estava parada na porta, de braços cruzados. — Dando em cima do pai da minha aluna, senhorita Fernández? Revirei os olhos internamente, mas preferi ficar calada. Engolir sapo às vezes é mais saudável do que discutir. — Oi, meninas! — outra professora apareceu, sorrindo. — Oi! — respondemos juntas. Aproveitei a deixa e escapei para a sala, onde arrumei minhas coisas até que todos os meus alunos fossem embora. Quando fui até a sala dos professores guardar um
Juan Carlos Hernandez Depois da conversa com Rosa, eu tinha certeza de três coisas: a primeira, ela nos colocava sempre em primeiro lugar; a segunda, eu estava certo em recusar a promoção; e a terceira, eu não podia perdê-la de jeito nenhum. Com essa certeza, fui dormir mais tranquilo. Mas, por algum motivo, uma menininha invadiu meus pensamentos. Pequena demais, frágil demais… Se tivesse quatro anos, era muito. Sozinha nas ruas com a mãe, que ainda por cima estava grávida. Meu coração apertou. Tive uma noite péssima de sono. De manhã, levantei cedo, arrumei a Nina para a escola e me preparei para o trabalho. Mas, mesmo ocupado, aquela menina não saía da minha cabeça. Na hora do almoço, resolvi ir ao mesmo lugar onde as tinha visto no dia anterior. E lá estava ela, segurando uma cestinha de flores. Me aproximei devagar. — Oi, princesinha, lembra de mim? — perguntei, sorrindo. Ela me olhou desconfiada e logo virou o rosto na direção da mãe. Resolvi ir até a mulher. — Mãe! — a
"Rosa"— Rosa, Rosa — ouvi gritos estridentes e pancadas na porta que faziam as paredes do meu minúsculo quarto estremecerem.Quem me vê neste quarto, onde só cabe uma cama de solteiro e eu muitas vezes tenho que ficar curvada para não bater a cabeça, já que fica debaixo da escada, pensaria que sou pobre ou vivo de favor neste lugar. Mas a verdade é que tudo nesta casa é meu, e o lugar é muito grande, tem seis quartos. Porém, minha avó não me deixa dormir no andar superior; na verdade, ela nem gosta quando fico aqui.Saí do meu cubículo com cuidado, não podia fazer barulho e não queria bater a cabeça novamente, muito menos cair.— Finalmente você acordou — minha avó falou, já toda elegante.— Desculpa, eu fui dormir um pouco mais tarde...— Só espero que não tenha ido falar com um namoradinho. Você sabe que nenhum homem vai te amar. Afinal, quem vai querer namorar uma assassina e uma deficiente? — ela falou e me empurrou, fazendo-me cair.— Vovó! — Ramona gritou de cima da escada e ve
RosaFui diretamente falar com o meu advogado e tive uma ótima notícia: finalmente consegui mudar os laudos que minha avó tinha feito, dizendo que eu não tinha capacidade de cuidar do meu próprio dinheiro.Finalmente saiu o resultado da minha pós-graduação. Eu queria estudar no México, onde morei há alguns anos e sou apaixonada, mas acho que chegou a hora de voltar para minhas raízes. Estou tentando voltar para Buenos Aires.Eu nem acreditei quando vi que consegui a vaga.— Parabéns, Rosa — disse meu professor Gabriel, com os olhos brilhando de orgulho. — Você conseguiu a vaga, e a concorrência estava acirrada.— Obrigada, professor. Nem acredito que vou voltar para a Argentina — falei, tentando conter as lágrimas de emoção que ameaçavam cair. Meu coração batia acelerado, uma mistura de excitação e alívio.— Sei que você está bem empolgada, e é muito bom te ver sorrir. Eu sei que você só fez trabalhos como estagiária, e você precisa de vivência em sala de aula. Por isso, te indiquei p
Juan CarlosEstava colocando minha filhinha para dormir.— Não esqueça o bichinho — falei, pegando o elefante de pelúcia que ela tem desde que estava na barriga. Comprei quando soube que seria pai, e a Nina adora ele. São inseparáveis.— Papito, eu não estou com sono, e também não quero viajar amanhã — ela choramingou.— Meu anjinho, o papito já te explicou várias vezes que temos que ir. O papai vai trabalhar lá agora — falei, e ela fez bico e sentou, cruzando os braços.— Mas e se a mamãezinha voltar e eu não estiver aqui? Eu sonhei com ela ontem e ela falou que não falta muito para nos encontrarmos. Por favor, papito, fica aqui, por favor — ela pediu com aqueles olhinhos lindos, e me dói vê-la assim.— Filha, já está na hora de dormir — falei, depositando um beijo na testa dela, e a deitei e a cobri.Fiquei fazendo carinho na cabeça dela até ela adormecer.Saí do quarto; a casa já está quase toda vazia. Tem apenas umas caixas e as malas. Estávamos dormindo em colchões no chão.Termi
RosaEu estava encantada com aquela menininha. Como eu podia sentir algo tão grande por um ser que eu nem conhecia direito? Seus olhos brilhavam como estrelas, e seu sorriso era uma luz em meio à minha noite.No elevador, ela segurou na minha mão e sorriu para mim, e eu sorri de volta para ela. Seu toque era quente e reconfortante, como se já nos conhecêssemos há muito tempo.— Então, Rosa, qual é o seu apartamento? — ele me perguntou com um sorriso brincalhão que fazia suas rugas de expressão ficarem ainda mais evidentes.No condomínio, há 15 andares, e apenas dois apartamentos por andar, o que torna os apartamentos espaçosos e privados, quase como pequenas casas suspensas.Saímos juntos do elevador, e ajudei-o com a Nina, que estava segurando na minha mão. Pelo visto, ela não queria me soltar, e eu também não queria me despedir deles. Porém, minha perna estava doendo demais, e eu só queria ir para o meu apartamento, tirar esta roupa e a prótese que me apertava a cada passo.— O meu
Juan Carlos HernandezÀ noite, Nina demorou a dormir, mas não mencionou a mãe. Ela estava muito empolgada e me ajudou a tirar os panos dos móveis e arrumar seu quartinho. Quando finalmente deitamos, já era de manhã, e ela nem queria dormir, queria falar com a nossa vizinha. Não sei o que essa mulher tem de tão mágico.Nina sempre foi muito tímida e não costuma falar com estranhos, mas com a vizinha, tudo fluiu tão naturalmente, como se ela tivesse superpoderes, um toque de magia. Há algo nela que eu não consigo explicar.Acabei dormindo com Nina às cinco e meia da manhã, e nós acordamos às dez. Já sabia que seria uma briga tirá-la de casa.— Papito, não quero ir para o hospital — disse, cruzando os braços e fazendo bico enquanto eu escolhia sua roupa.Ela, que vivia no hospital quando era menor, agora não gosta muito. Provavelmente não terei uma filha médica.Mas hoje nem vamos ao hospital. Tenho uma lista de coisas a fazer antes de começar a trabalhar.— Meu amorzinho, nós não vamos
Rosa FernandezEu queria tanto vir a este lugar. Quando paramos na porta, meus olhos se encheram de lágrimas. A saudade bateu forte e Juan Carlos notou minha emoção, sorriu para mim.Não sei por que os trouxe até aqui, mas quando estou com eles, sinto-me mais forte, mais segura. Mesmo com muita saudade, tenho medo de não encontrar as pessoas certas. O lugar parecia exatamente como me lembrava: a sorveteria ainda tinha o mesmo cheiro doce de baunilha e morango misturados, as cadeiras de madeira envernizada onde costumávamos sentar.Assim que entramos, confirmei meus sentimentos. Realmente deveria estar ali. Nem sabia o quanto sentia saudades até entrar naquele lugar e as lembranças me invadirem. Até o cheiro era igualzinho.— Estão prontos para experimentar o melhor sorvete de suas vidas? — disse, sorrindo.Pude ver meu avô Augustin; ele estava exatamente como me lembrava. Com seus cabelos brancos como a neve e o sorriso gentil que sempre acolhia a todos. Como não adotou meu pai legalm