Juan Carlos HernandezÀ noite, Nina demorou a dormir, mas não mencionou a mãe. Ela estava muito empolgada e me ajudou a tirar os panos dos móveis e arrumar seu quartinho. Quando finalmente deitamos, já era de manhã, e ela nem queria dormir, queria falar com a nossa vizinha. Não sei o que essa mulher tem de tão mágico.Nina sempre foi muito tímida e não costuma falar com estranhos, mas com a vizinha, tudo fluiu tão naturalmente, como se ela tivesse superpoderes, um toque de magia. Há algo nela que eu não consigo explicar.Acabei dormindo com Nina às cinco e meia da manhã, e nós acordamos às dez. Já sabia que seria uma briga tirá-la de casa.— Papito, não quero ir para o hospital — disse, cruzando os braços e fazendo bico enquanto eu escolhia sua roupa.Ela, que vivia no hospital quando era menor, agora não gosta muito. Provavelmente não terei uma filha médica.Mas hoje nem vamos ao hospital. Tenho uma lista de coisas a fazer antes de começar a trabalhar.— Meu amorzinho, nós não vamos
Rosa FernandezEu queria tanto vir a este lugar. Quando paramos na porta, meus olhos se encheram de lágrimas. A saudade bateu forte e Juan Carlos notou minha emoção, sorriu para mim.Não sei por que os trouxe até aqui, mas quando estou com eles, sinto-me mais forte, mais segura. Mesmo com muita saudade, tenho medo de não encontrar as pessoas certas. O lugar parecia exatamente como me lembrava: a sorveteria ainda tinha o mesmo cheiro doce de baunilha e morango misturados, as cadeiras de madeira envernizada onde costumávamos sentar.Assim que entramos, confirmei meus sentimentos. Realmente deveria estar ali. Nem sabia o quanto sentia saudades até entrar naquele lugar e as lembranças me invadirem. Até o cheiro era igualzinho.— Estão prontos para experimentar o melhor sorvete de suas vidas? — disse, sorrindo.Pude ver meu avô Augustin; ele estava exatamente como me lembrava. Com seus cabelos brancos como a neve e o sorriso gentil que sempre acolhia a todos. Como não adotou meu pai legalm
Juan Carlos Eu sei que eu deveria ter deixado a Rosa falar a verdade; afinal, são a família dela. Mas não me pareceu certo, o que é meio louco, afinal a verdade tem que ser o correto, mas não tem como dizer a verdade que pode tirar a felicidade da minha filha, ela estava tão feliz com os "avós". Fiquei observando a Rosa; notei que ela ficou meio sem graça quando me mostrou a prótese, e estou preocupado com ela, ela machucada e se esforçando muito, pegou até a minha filha no colo, ela com certeza é uma pessoa única, o jeito dela é tão doce. Eu fiquei meio curioso para saber a história toda, entender como ela perdeu a perna porque ela tem essa sobra no olhar, porque ficou longe da família por tantos anos que puderam deduzir que ela tem uma filha de quase seis anos, mas não podia ser tão intrometido, a única coisa que eu poderia ter certeza é que aquela mulher é maravilhosa, e muito forte. — Rosa, vamos embora, eu preciso ir ao mercado. — falei para ela. — Certo, tem problema eu ir c
Juan Carlos Acordei com uma dor horrível na coluna; acabei dormindo no sofá com a minha filha em cima de mim.Eu deveria ter um sofá mais confortável.Levantei-me com cuidado, peguei a Nina no colo e a levei para o quarto, colocando-a na cama. Fui tomar um banho e me arrumar, pois hoje preciso me apresentar no hospital e levar todos os documentos que estão faltando para confirmar a matrícula da Nina na escola nova.Arrumei minha pasta e estava mentalmente listando se já estava quase tudo pronto quando lembrei de uma coisa.— Ai meu Deus, a Nina! Eu simplesmente esqueci... com quem vou deixá-la? Com certeza sou o pior pai do mundo, quem esquece da própria filha?Entrei no quarto dela e vi que ela ainda dormia. Ela é um anjinho e uma menina tão esperta, mas só tem cinco anos. Não posso deixá-la sozinha.— Filhinha — chamei, fazendo carinho no rosto dela para acordá-la.— Já vou, Papito — ela falou com os olhos fechados.— Vou fazer o café da manhã. Não demoro e já venho te chamar de no
Liam Rodrigues Vou andando para o hospital, que não é muito longe do meu apartamento. Assim que chego, vejo que é exatamente o que esperava. Dirijo-me à recepção, o hospital não estava até bem tranquilo, e me informaram para me encaminhar para o sexto andar. Assim que entrei no elevador ouvi uma voz desesperada. — Segura o elevador, por favor! — Uma médica muito linda entra apressada.A— Obrigada. Aperta o quarto para mim, por favor — ela pede, sorrindo. Aperto o botão e seguimos calados por um tempo até ela interromper o silêncio. — Hum, sexto andar... Você é o novo cirurgião? — Sou sim — respondo, olhando para frente. Ela não fala mais nada e sai quando paramos no quarto andar. Não demora muito e chego ao sexto andar. O andar, aparentemente administrativo, é mais sério que os outros. Vou até a mesa da secretária. — Bom dia, eu sou o Juan Carlos Hernández. — Bom dia. Você é o novo cirurgião geral do hospital? — ela pergunta. Afirmo com a cabeça. — Seja bem-vindo — ela sorri. É
Rosa Fernandez Às vezes, fico olhando para a Nina e me perco em pensamentos. Não sei como explicar o que sinto por essa menininha. Eu sempre amei crianças, o amor delas é o mais puro que existe. Trabalhar ao redor delas sempre me trouxe alegria. Mas com a Nina, é diferente. Ela me completa de uma maneira que nunca imaginei. O vazio que carrego dentro de mim é preenchido a cada segundo que passo com ela, trazendo uma paz tão profunda. Eu mal a conheço, mas já a amo tanto que chega a doer. Não entendo como isso é possível, mas sei que ela me faz sentir bem e feliz de uma maneira que ninguém mais consegue. Hoje estou radiante. Quase não acreditei quando me disseram que eu era a mais nova professora. Sei que vou dar o meu melhor. A Nina ficou tão feliz quanto eu, e fomos juntas para a escola. Ela ficou quentinha ao meu lado enquanto eu conversava com a diretora, que até me deu a lista de material escolar dela, já que o Juan havia esquecido. Quando saímos da escola, voltamos para nossa
Rosa Fernandez Fomos andando e conversando até um local com brinquedos. Alma pegou a menina, que tinha no máximo uns dois anos. Ela era muito linda, a cara da mãe. A mais velha não parecia muito com ela, mas ambas tinham um brilho encantador. Nina logo me deu o Biju, e pelo que o Juan me contou, ela não desgruda dele de jeito nenhum. Sentamos e pedi o almoço. Encontramos um restaurante à moda brasileira que tinha arroz com feijão, e a sensação de familiaridade me confortou. — As aulas já vão começar, graças a Deus — Alma falou com um sorriso no rosto, e eu ri também, notando que Nina e Luz tinham saído da mesa. — Nina, Nina, cadê você? — chamei no ritmo da música da Moana, tentando não deixar a preocupação transparecer. — Eu tô aqui! — ela cantou, vindo até mim e me abraçando. Não consegui segurar a risada. — Não faça mais isso, por favor. Não saia de perto, se não você me mata do coração, meu amor — falei, e ela me abraçou apertado, com os olhinhos brilhando de arrependimento.
Juan Carlos Hernandez Esperei o diretor do hospital por mais de uma hora. Ele estava em um grande conflito com a filha, e fui obrigado a esperar que terminassem a conversa, que terminou com ela saindo furiosa. Ele ficou lá por um tempo, tentando se recompor, antes de finalmente me chamar. Ele parecia um pouco nervoso, mas tentou ser neutro. Afinal, ele já conhecia meu trabalho e falou um pouco sobre o que esperava de mim. Avisou que a situação estava complicada: estavam faltando dois cirurgiões, e até que eles voltassem, os horários seriam bagunçados. — O senhor lembra que te falei que tenho uma filha? — perguntei, esperando que ele entendesse a situação. — A maioria dos médicos também tem filhos. Espero que isso não seja um empecilho... — ele respondeu, um pouco impaciente. — Minha filha não é um empecilho, ela é minha prioridade. E eu não tenho suporte aqui, estou em um novo país... — expliquei, tentando manter a calma. — Vai ser temporário — ele respondeu, mas sem muita convic