Capítulo 4

Rosa

Eu estava encantada com aquela menininha. Como eu podia sentir algo tão grande por um ser que eu nem conhecia direito? Seus olhos brilhavam como estrelas, e seu sorriso era uma luz em meio à minha noite.

No elevador, ela segurou na minha mão e sorriu para mim, e eu sorri de volta para ela. Seu toque era quente e reconfortante, como se já nos conhecêssemos há muito tempo.

— Então, Rosa, qual é o seu apartamento? — ele me perguntou com um sorriso brincalhão que fazia suas rugas de expressão ficarem ainda mais evidentes.

No condomínio, há 15 andares, e apenas dois apartamentos por andar, o que torna os apartamentos espaçosos e privados, quase como pequenas casas suspensas.

Saímos juntos do elevador, e ajudei-o com a Nina, que estava segurando na minha mão. Pelo visto, ela não queria me soltar, e eu também não queria me despedir deles. Porém, minha perna estava doendo demais, e eu só queria ir para o meu apartamento, tirar esta roupa e a prótese que me apertava a cada passo.

— O meu é o 802, e o seu? — falei, tentando esconder a dor na minha voz.

— Então, eu sou seu vizinho. O meu é o 801 — ele falou sorrindo. — Filha, tchau para a Rosa. Ela precisa descansar.

— Mas você não vai morar com a gente? — ela perguntou para mim, seus olhinhos começando a se encher de lágrimas.

— Oh, meu amorzinho, eu sou sua vizinha. Nós vamos nos ver sempre. Eu moro aqui na frente — expliquei, sentindo meu coração apertar ao ver a tristeza nos olhos dela.

— É, filha, ela é nossa vizinha. Ela mora na nossa frente. Vamos vê-la outras vezes, pelo menos espero — Juan falou, e acho que fiquei um pouco vermelha. Era algo novo. Nenhum cara me olhou como ele. Seus olhos eram gentis, mas havia algo mais, uma profundidade que me puxava para dentro.

Juan abriu a porta e tirou o lençol do sofá. Já era mais de meia-noite. Ele colocou as malas deles para dentro, e a Nina não soltou minha mão de jeito nenhum.

— Você vai aparecer no meu sonho hoje? — ela me perguntou, seus olhos cheios de esperança.

— Eu não sei, mas você deve estar cansada. Que tal você ir conhecer o seu apartamento... — tentei muda o foco pós não entendi a pergunta.

— Você vem também, né? — ela perguntou com aquela carinha fofa que derreteria o coração de qualquer um.

— Filha, deixa a nossa vizinha em paz.

— Mas, Papito...

— Rosa, você precisa de ajuda para levar as suas malas? — ele ofereceu, sua voz cheia de preocupação.

— Não precisa, Juan. Eu posso fazer isso sozinha. E moro em frente — disse, tentando parecer forte.

Tentei me virar, mas acho que machuquei o ferimento, porque senti uma dor insuportável.

Eu quase caí, mas ele me segurou antes. Ficamos nos olhando. Tinha algo especial no seu olhar, uma mistura de gentileza e força. Estávamos a apenas um palmo de distância um do outro. Ficamos ali em silêncio por uns 10 segundos, que pareceram uma eternidade.

— Está tudo bem? — a Nina perguntou, e ele me ajudou a ficar em pé.

Se

— Estou, muito obrigada — e, por impulso, dei um passo para trás. — Tenho que ir — falei, afastando-me dele e pegando minhas malas. — Ah, muito obrigada pelo táxi.

— Não foi nada — ele falou sorrindo, e eu senti que ele realmente queria dizer isso.

— Tchau, princesa. Nós nos vemos outra hora. Descanse — falei para a Nina, que sorriu para mim com uma doçura que derretia meu coração.

— Tchau — ela falou sorrindo e murmurou algo que eu não consegui entender.

Entrei no meu apartamento e sorri, sentindo uma estranha mistura de cansaço e felicidade. Fui até o meu quarto e estava tão cansada que só tirei a roupa e a prótese. Peguei minhas muletas para ir até o banheiro. Peguei minha bolsa para colocar sais de banho na banheira. Precisava de um banho relaxante para aliviar a tensão do dia.

Depois do banho, passei o remédio no meu machucado e fui dormir. Eu precisava descansar.

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No dia seguinte, acordei com meu celular tocando. Olhei no visor e vi que era uma chamada de vídeo da Rosângela. Atendi o celular ainda bocejando, tentando afastar o sono.

— Oi — falei assim que a vi, passando uma mão no rosto.

— Oi nada! Você já esqueceu que tem irmãs? Nem ligou quando chegou... — ela falou toda dramática, com um olhar repreensivo.

— Cheguei muito tarde, Angel. Não tive como ligar. Além disso, estava muito cansada. Peguei chuva e cheguei só querendo cama.

— Hum — ela murmurou de cara feia.

— Melhore essa cara, por favor. Juro que estou muito cansada. Ontem, quando a vovó me empurrou, cortei minha perna e dói toda vez que coloco a prótese.

— Por que você não falou antes? Eu poderia ter te levado ao hospital...

— Não vou precisar de pontos nem nada. Só preciso cuidar do ferimento.

— Não acredito que você está falando com a ingrata da Rosa! — escutei minha avó gritar ao fundo.

— Tenho que ir, não esquece de mim — Rosângela falou, desligando o telefone rapidamente.

Me levantei lentamente e fui tomar um banho. O apartamento estava vazio e silencioso, uma sensação mista de conforto e solidão. Depois de me arrumar, decidi tomar café em uma padaria perto de casa. Fiquei feliz ao ver que ela ainda estava ali. Lembranças dos domingos com meu pai em Buenos Aires aqueceram meu coração. Em seguida, fui para a universidade, onde à tarde teria uma entrevista em um colégio. Estava empolgada e ansiosa, afinal, queria viver pelas minhas próprias pernas.

Seria incrível conseguir um emprego, mas já estava acostumada a não ser contratada quando mencionava minha condição. Posso não ter uma perna, mas sou uma profissional competente. Só preciso de uma chance.

Peguei um táxi para a universidade, evitando andar muito para não piorar o machucado. Ao chegar, fiquei admirando o local. Era maior do que parecia nas fotos. De repente, esbarrei em um homem muito bonito, com um ar charmoso e confiante.

— Me perdoe — falei, notando sua presença imponente. Ele tinha cerca de 1,78m, olhos castanhos e cabelos castanhos claros, bem musculoso.

— Tudo bem, isso acontece. Mas você é nova por aqui, né? Nunca te vi.

— Sim, está tão na cara? — perguntei meio receosa.

— Não, mas acredito que você esteja perdida, acertei? — ele perguntou com um sorriso de lado.

— Está certíssimo. Estou procurando a reitoria. O lugar é bem maior do que parecia no site — falei, sorrindo meio sem jeito.

— Posso te levar até lá, assim você não se perde — ele falou com um ar brincalhão.

— Se não for te atrapalhar, eu aceito, viu? Não quero demorar muito — falei, sorrindo, e ele começou a andar, e eu fui o acompanhando.

— Meu nome é Christopher. Qual é o seu nome? — ele perguntou, andando ao meu lado.

— Rosa — falei, sorrindo.

— Bonito nome. Você não é daqui, né? Só não reconheço esse sotaque — ele perguntou. Parecia ser bem simpático e educado.

— Sou brasileira, mas já morei em tantos países que acho que meu sotaque se bagunçou — falei, e ele começou a rir.

— Espero que goste do meu país — ele disse.

— Na verdade, também sou argentina. Meu pai era argentino, e eu morei a maior parte da minha infância aqui...

— Ah, então você tem dupla nacionalidade?

— Isso aí, cara — falei, e ele começou a rir.

— Então, pelo jeito, além de linda, é engraçada — ele falou.

— Obrigada — falei meio sem graça.

— Desculpe, não quis ser indiscreto. É que você é uma mulher muito bonita...

— Obrigada, mas não precisa mesmo, Christopher. Sei que foi um elogio.

— Então, esta é a reitoria. Espero te ver mais vezes, Rosa. Foi um prazer te conhecer.

— Também foi um prazer te conhecer, Christopher. Nos vemos por aí — falei e depositei um beijo na bochecha dele. Notei que ele ficou assustado. — Ah, desculpa, é costume no Brasil. Me desculpa.

— Tudo bem, só achei novo. Mas você não consegue achar a saída?

— Acho que posso correr esse risco — falei sorrindo e fui entrando. Eu tinha uma hora com o reitor.

Graças a Deus, estava tudo certo e pude fazer minha matrícula. Achei o reitor um senhor bem agradável. Ele foi super educado. Ao sair da sala, fui tentar sair da universidade. Aquele lugar parecia mais um labirinto.

Demorei mais de 30 minutos para conseguir chegar à entrada, e não havia nenhum táxi no ponto. Como tinha uma entrevista de emprego às 11:30, precisava sair correndo o mais rápido possível, já que eram 11:00.

Vi um táxi e tentei andar ainda mais rápido. Quando entrei, vi meus novos vizinhos entrando ao mesmo tempo pela outra porta, e a menininha sorriu para mim. Parecia feliz com minha presença.

— Pelo visto, você vai ficar tentando tomar meu táxi — Juan falou com um sorrisinho de lado, mas eu nem liguei. Estava tão cansada de ter ficado andando em círculos para conseguir sair do campus.

— Me desculpa, mas estou quase atrasada. Por favor, não vamos começar com essa de "eu cheguei primeiro, você chegou primeiro". Aí, ficamos uns 8 minutos nisso e depois vamos dividir o táxi do mesmo jeito. Então, me desculpa, mas estou quase atrasada — falei um pouco alterada.

Entreguei o endereço ao taxista, e ele ficou me olhando chocado. Acho que fui um pouco grossa, mas estou nervosa. Preciso muito dessa oportunidade para provar para mim mesma que não sou um estorvo.

Eu sei que eles não têm culpa do que estou pensando. Juan parece uma pessoa boa. Não deveria falar assim. Ele ficou calado e deu o endereço ao taxista. Estávamos em silêncio, um silêncio tão desconfortante.

— Pega o Biju, ele sempre me ajuda — Nina falou, me oferecendo seu elefantinho de pelúcia. Quando ela fez isso, sorri, e pude ver a cara espantada do Juan ao ver a atitude da filha.

Realmente, ela é uma criança muito fofa e gentil. Tem uma luz tão única.

— Muito obrigada, princesa, mas não posso aceitar. Ele é muito importante para você — assim que disse isso, ela me abraçou apertado e voltou a me oferecer.

— O Biju fica com você. Ele disse que você está muito nervosa e precisa de carinho — ela falou toda fofa. Como um serzinho pode ser tão especial?

Abracei o elefante de pelúcia, e ela sorriu para mim.

— Está melhor agora? — ela falou sorrindo, e me deu vontade de apertar aquelas bochechas fofas.

— Estou sim — falei, abraçando-a. — E me desculpe, Juan. Não deveria ter dito nada, ainda mais dessa maneira com você. É que estou nervosa. Não posso perder esta chance. É uma oportunidade de trabalho, e mesmo que seja pequena, para mim ela é importante.

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Continua...

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