Juan Carlos HernándezSaímos os três juntos em direção à concessionária. O dia estava bonito, e eu gostava da sensação de estar ao lado delas. Rosa e Nina iluminavam minha vida de um jeito que eu nunca imaginaria ser possível.Olhar carros sempre foi algo que me animava, mas hoje parecia diferente. Rosa estava empolgada, talvez até mais do que eu. Era contagiante vê-la desse jeito, analisando os veículos com aquele brilho no olhar.Assim que entramos na concessionária, Nina correu para perto de um dos carros e passou a mão na lataria brilhante.— Papito, esse é bonito! — ela disse animada, apontando para um modelo esportivo.Sorri e balancei a cabeça.— Sim, princesa, mas acho que não serve muito para levar você e sua mamãe confortáveis, né?Ela fez um biquinho e voltou para perto de Rosa, segurando a barra da blusa dela.— E então, Rosa? Gostou de algum? — perguntei, curioso. Eu adorava ouvir a opinião dela sobre qualquer coisa.Ela passou os dedos pelo capô de um dos carros, analisa
Rosa FernándezQuando saímos da concessionária, Juan nos levou para casa. Subimos juntos até nosso andar e, quando eu já estava prestes a entrar no meu apartamento, ele me chamou.— Rosa.Virei para ele, percebendo algo diferente no seu tom de voz.— O que foi?Ele hesitou por um momento, parecendo pensativo.— Podemos conversar?A preocupação se instalou no meu peito. O olhar dele não era dos melhores.— Aconteceu alguma coisa? — perguntei.— Vou dar um banho na Nina e fazer o jantar, mas... que tal você vir jantar com a gente? Podemos conversar depois.— Claro. Mas hoje o jantar é por minha conta. Pode ser?Ele sorriu de leve.— Combinado. Te vejo daqui a pouco.Entramos em nossos apartamentos. Coloquei minhas coisas na mesa e fui direto para o banho. Escolhi um vestido simples e chinelos, sem me preocupar muito com a aparência. Assim que saí do banheiro, meu celular tocou. Olhei no visor e vi o nome de Christopher.Atendi.— Oi, linda. O que está fazendo?— Acabei de tomar banho. V
Rosa Quando Nina finalmente dormiu, saímos do quarto em silêncio, como se qualquer barulho pudesse acordá-la e arruinar a nossa pequena vitória. — Podemos conversar agora? — Juan perguntou, sentando-se no sofá. Assenti e me sentei ao lado dele. Antes mesmo de processar a pergunta, senti seus dedos tocarem a válvula da minha prótese. Ele a removeu com a naturalidade de quem já conhecia cada detalhe meu, e eu tirei o silicone, querendo me sentir mais à vontade. — Pode falar — incentivei, sentindo um friozinho na barriga. Juan se ajeitou, respirando fundo antes de soltar a bomba: — Me ofereceram uma promoção. Minha expressão se iluminou instantaneamente. — Juan, isso é incrível! — Sorri, orgulhosa. — Qual cargo? — Chefe dos Cirurgiões Gerais. — Meu Deus! — bati palmas, empolgada. — Você merece demais! Mas el
Rosa Na manhã seguinte, seguimos nossa rotina como de costume, mas dessa vez fomos de carro. O dia passou tão rápido que, quando percebi, já era a hora da saída. Como na véspera, Juan me esperava no portão e, para minha surpresa, me entregou outra rosa branca. — Você é muito fofo — murmurei, segurando a flor com carinho. Ele sorriu, um pouco sem jeito. — Só queria te ver sorrindo. Assim que ele se afastou, senti um olhar atravessado sobre mim. Senhorita Grey, a professora que sempre tinha um comentário na ponta da língua, estava parada na porta, de braços cruzados. — Dando em cima do pai da minha aluna, senhorita Fernández? Revirei os olhos internamente, mas preferi ficar calada. Engolir sapo às vezes é mais saudável do que discutir. — Oi, meninas! — outra professora apareceu, sorrindo. — Oi! — respondemos juntas. Aproveitei a deixa e escapei para a sala, onde arrumei minhas coisas até que todos os meus alunos fossem embora. Quando fui até a sala dos professores guardar um
Juan Carlos Hernandez Depois da conversa com Rosa, eu tinha certeza de três coisas: a primeira, ela nos colocava sempre em primeiro lugar; a segunda, eu estava certo em recusar a promoção; e a terceira, eu não podia perdê-la de jeito nenhum. Com essa certeza, fui dormir mais tranquilo. Mas, por algum motivo, uma menininha invadiu meus pensamentos. Pequena demais, frágil demais… Se tivesse quatro anos, era muito. Sozinha nas ruas com a mãe, que ainda por cima estava grávida. Meu coração apertou. Tive uma noite péssima de sono. De manhã, levantei cedo, arrumei a Nina para a escola e me preparei para o trabalho. Mas, mesmo ocupado, aquela menina não saía da minha cabeça. Na hora do almoço, resolvi ir ao mesmo lugar onde as tinha visto no dia anterior. E lá estava ela, segurando uma cestinha de flores. Me aproximei devagar. — Oi, princesinha, lembra de mim? — perguntei, sorrindo. Ela me olhou desconfiada e logo virou o rosto na direção da mãe. Resolvi ir até a mulher. — Mãe! — a
"Rosa"— Rosa, Rosa — ouvi gritos estridentes e pancadas na porta que faziam as paredes do meu minúsculo quarto estremecerem.Quem me vê neste quarto, onde só cabe uma cama de solteiro e eu muitas vezes tenho que ficar curvada para não bater a cabeça, já que fica debaixo da escada, pensaria que sou pobre ou vivo de favor neste lugar. Mas a verdade é que tudo nesta casa é meu, e o lugar é muito grande, tem seis quartos. Porém, minha avó não me deixa dormir no andar superior; na verdade, ela nem gosta quando fico aqui.Saí do meu cubículo com cuidado, não podia fazer barulho e não queria bater a cabeça novamente, muito menos cair.— Finalmente você acordou — minha avó falou, já toda elegante.— Desculpa, eu fui dormir um pouco mais tarde...— Só espero que não tenha ido falar com um namoradinho. Você sabe que nenhum homem vai te amar. Afinal, quem vai querer namorar uma assassina e uma deficiente? — ela falou e me empurrou, fazendo-me cair.— Vovó! — Ramona gritou de cima da escada e ve
RosaFui diretamente falar com o meu advogado e tive uma ótima notícia: finalmente consegui mudar os laudos que minha avó tinha feito, dizendo que eu não tinha capacidade de cuidar do meu próprio dinheiro.Finalmente saiu o resultado da minha pós-graduação. Eu queria estudar no México, onde morei há alguns anos e sou apaixonada, mas acho que chegou a hora de voltar para minhas raízes. Estou tentando voltar para Buenos Aires.Eu nem acreditei quando vi que consegui a vaga.— Parabéns, Rosa — disse meu professor Gabriel, com os olhos brilhando de orgulho. — Você conseguiu a vaga, e a concorrência estava acirrada.— Obrigada, professor. Nem acredito que vou voltar para a Argentina — falei, tentando conter as lágrimas de emoção que ameaçavam cair. Meu coração batia acelerado, uma mistura de excitação e alívio.— Sei que você está bem empolgada, e é muito bom te ver sorrir. Eu sei que você só fez trabalhos como estagiária, e você precisa de vivência em sala de aula. Por isso, te indiquei p
Juan CarlosEstava colocando minha filhinha para dormir.— Não esqueça o bichinho — falei, pegando o elefante de pelúcia que ela tem desde que estava na barriga. Comprei quando soube que seria pai, e a Nina adora ele. São inseparáveis.— Papito, eu não estou com sono, e também não quero viajar amanhã — ela choramingou.— Meu anjinho, o papito já te explicou várias vezes que temos que ir. O papai vai trabalhar lá agora — falei, e ela fez bico e sentou, cruzando os braços.— Mas e se a mamãezinha voltar e eu não estiver aqui? Eu sonhei com ela ontem e ela falou que não falta muito para nos encontrarmos. Por favor, papito, fica aqui, por favor — ela pediu com aqueles olhinhos lindos, e me dói vê-la assim.— Filha, já está na hora de dormir — falei, depositando um beijo na testa dela, e a deitei e a cobri.Fiquei fazendo carinho na cabeça dela até ela adormecer.Saí do quarto; a casa já está quase toda vazia. Tem apenas umas caixas e as malas. Estávamos dormindo em colchões no chão.Termi