Juan CarlosEstava colocando minha filhinha para dormir.— Não esqueça o bichinho — falei, pegando o elefante de pelúcia que ela tem desde que estava na barriga. Comprei quando soube que seria pai, e a Nina adora ele. São inseparáveis.— Papito, eu não estou com sono, e também não quero viajar amanhã — ela choramingou.— Meu anjinho, o papito já te explicou várias vezes que temos que ir. O papai vai trabalhar lá agora — falei, e ela fez bico e sentou, cruzando os braços.— Mas e se a mamãezinha voltar e eu não estiver aqui? Eu sonhei com ela ontem e ela falou que não falta muito para nos encontrarmos. Por favor, papito, fica aqui, por favor — ela pediu com aqueles olhinhos lindos, e me dói vê-la assim.— Filha, já está na hora de dormir — falei, depositando um beijo na testa dela, e a deitei e a cobri.Fiquei fazendo carinho na cabeça dela até ela adormecer.Saí do quarto; a casa já está quase toda vazia. Tem apenas umas caixas e as malas. Estávamos dormindo em colchões no chão.Termi
RosaEu estava encantada com aquela menininha. Como eu podia sentir algo tão grande por um ser que eu nem conhecia direito? Seus olhos brilhavam como estrelas, e seu sorriso era uma luz em meio à minha noite.No elevador, ela segurou na minha mão e sorriu para mim, e eu sorri de volta para ela. Seu toque era quente e reconfortante, como se já nos conhecêssemos há muito tempo.— Então, Rosa, qual é o seu apartamento? — ele me perguntou com um sorriso brincalhão que fazia suas rugas de expressão ficarem ainda mais evidentes.No condomínio, há 15 andares, e apenas dois apartamentos por andar, o que torna os apartamentos espaçosos e privados, quase como pequenas casas suspensas.Saímos juntos do elevador, e ajudei-o com a Nina, que estava segurando na minha mão. Pelo visto, ela não queria me soltar, e eu também não queria me despedir deles. Porém, minha perna estava doendo demais, e eu só queria ir para o meu apartamento, tirar esta roupa e a prótese que me apertava a cada passo.— O meu
Juan Carlos HernandezÀ noite, Nina demorou a dormir, mas não mencionou a mãe. Ela estava muito empolgada e me ajudou a tirar os panos dos móveis e arrumar seu quartinho. Quando finalmente deitamos, já era de manhã, e ela nem queria dormir, queria falar com a nossa vizinha. Não sei o que essa mulher tem de tão mágico.Nina sempre foi muito tímida e não costuma falar com estranhos, mas com a vizinha, tudo fluiu tão naturalmente, como se ela tivesse superpoderes, um toque de magia. Há algo nela que eu não consigo explicar.Acabei dormindo com Nina às cinco e meia da manhã, e nós acordamos às dez. Já sabia que seria uma briga tirá-la de casa.— Papito, não quero ir para o hospital — disse, cruzando os braços e fazendo bico enquanto eu escolhia sua roupa.Ela, que vivia no hospital quando era menor, agora não gosta muito. Provavelmente não terei uma filha médica.Mas hoje nem vamos ao hospital. Tenho uma lista de coisas a fazer antes de começar a trabalhar.— Meu amorzinho, nós não vamos
Rosa FernandezEu queria tanto vir a este lugar. Quando paramos na porta, meus olhos se encheram de lágrimas. A saudade bateu forte e Juan Carlos notou minha emoção, sorriu para mim.Não sei por que os trouxe até aqui, mas quando estou com eles, sinto-me mais forte, mais segura. Mesmo com muita saudade, tenho medo de não encontrar as pessoas certas. O lugar parecia exatamente como me lembrava: a sorveteria ainda tinha o mesmo cheiro doce de baunilha e morango misturados, as cadeiras de madeira envernizada onde costumávamos sentar.Assim que entramos, confirmei meus sentimentos. Realmente deveria estar ali. Nem sabia o quanto sentia saudades até entrar naquele lugar e as lembranças me invadirem. Até o cheiro era igualzinho.— Estão prontos para experimentar o melhor sorvete de suas vidas? — disse, sorrindo.Pude ver meu avô Augustin; ele estava exatamente como me lembrava. Com seus cabelos brancos como a neve e o sorriso gentil que sempre acolhia a todos. Como não adotou meu pai legalm
Juan Carlos Eu sei que eu deveria ter deixado a Rosa falar a verdade; afinal, são a família dela. Mas não me pareceu certo, o que é meio louco, afinal a verdade tem que ser o correto, mas não tem como dizer a verdade que pode tirar a felicidade da minha filha, ela estava tão feliz com os "avós". Fiquei observando a Rosa; notei que ela ficou meio sem graça quando me mostrou a prótese, e estou preocupado com ela, ela machucada e se esforçando muito, pegou até a minha filha no colo, ela com certeza é uma pessoa única, o jeito dela é tão doce. Eu fiquei meio curioso para saber a história toda, entender como ela perdeu a perna porque ela tem essa sobra no olhar, porque ficou longe da família por tantos anos que puderam deduzir que ela tem uma filha de quase seis anos, mas não podia ser tão intrometido, a única coisa que eu poderia ter certeza é que aquela mulher é maravilhosa, e muito forte. — Rosa, vamos embora, eu preciso ir ao mercado. — falei para ela. — Certo, tem problema eu ir c
Juan Carlos Acordei com uma dor horrível na coluna; acabei dormindo no sofá com a minha filha em cima de mim.Eu deveria ter um sofá mais confortável.Levantei-me com cuidado, peguei a Nina no colo e a levei para o quarto, colocando-a na cama. Fui tomar um banho e me arrumar, pois hoje preciso me apresentar no hospital e levar todos os documentos que estão faltando para confirmar a matrícula da Nina na escola nova.Arrumei minha pasta e estava mentalmente listando se já estava quase tudo pronto quando lembrei de uma coisa.— Ai meu Deus, a Nina! Eu simplesmente esqueci... com quem vou deixá-la? Com certeza sou o pior pai do mundo, quem esquece da própria filha?Entrei no quarto dela e vi que ela ainda dormia. Ela é um anjinho e uma menina tão esperta, mas só tem cinco anos. Não posso deixá-la sozinha.— Filhinha — chamei, fazendo carinho no rosto dela para acordá-la.— Já vou, Papito — ela falou com os olhos fechados.— Vou fazer o café da manhã. Não demoro e já venho te chamar de no
Liam Rodrigues Vou andando para o hospital, que não é muito longe do meu apartamento. Assim que chego, vejo que é exatamente o que esperava. Dirijo-me à recepção, o hospital não estava até bem tranquilo, e me informaram para me encaminhar para o sexto andar. Assim que entrei no elevador ouvi uma voz desesperada. — Segura o elevador, por favor! — Uma médica muito linda entra apressada.A— Obrigada. Aperta o quarto para mim, por favor — ela pede, sorrindo. Aperto o botão e seguimos calados por um tempo até ela interromper o silêncio. — Hum, sexto andar... Você é o novo cirurgião? — Sou sim — respondo, olhando para frente. Ela não fala mais nada e sai quando paramos no quarto andar. Não demora muito e chego ao sexto andar. O andar, aparentemente administrativo, é mais sério que os outros. Vou até a mesa da secretária. — Bom dia, eu sou o Juan Carlos Hernández. — Bom dia. Você é o novo cirurgião geral do hospital? — ela pergunta. Afirmo com a cabeça. — Seja bem-vindo — ela sorri. É
Rosa Fernandez Às vezes, fico olhando para a Nina e me perco em pensamentos. Não sei como explicar o que sinto por essa menininha. Eu sempre amei crianças, o amor delas é o mais puro que existe. Trabalhar ao redor delas sempre me trouxe alegria. Mas com a Nina, é diferente. Ela me completa de uma maneira que nunca imaginei. O vazio que carrego dentro de mim é preenchido a cada segundo que passo com ela, trazendo uma paz tão profunda. Eu mal a conheço, mas já a amo tanto que chega a doer. Não entendo como isso é possível, mas sei que ela me faz sentir bem e feliz de uma maneira que ninguém mais consegue. Hoje estou radiante. Quase não acreditei quando me disseram que eu era a mais nova professora. Sei que vou dar o meu melhor. A Nina ficou tão feliz quanto eu, e fomos juntas para a escola. Ela ficou quentinha ao meu lado enquanto eu conversava com a diretora, que até me deu a lista de material escolar dela, já que o Juan havia esquecido. Quando saímos da escola, voltamos para nossa