Capítulo 3

Juan Carlos

Estava colocando minha filhinha para dormir.

— Não esqueça o bichinho — falei, pegando o elefante de pelúcia que ela tem desde que estava na barriga. Comprei quando soube que seria pai, e a Nina adora ele. São inseparáveis.

— Papito, eu não estou com sono, e também não quero viajar amanhã — ela choramingou.

— Meu anjinho, o papito já te explicou várias vezes que temos que ir. O papai vai trabalhar lá agora — falei, e ela fez bico e sentou, cruzando os braços.

— Mas e se a mamãezinha voltar e eu não estiver aqui? Eu sonhei com ela ontem e ela falou que não falta muito para nos encontrarmos. Por favor, papito, fica aqui, por favor — ela pediu com aqueles olhinhos lindos, e me dói vê-la assim.

— Filha, já está na hora de dormir — falei, depositando um beijo na testa dela, e a deitei e a cobri.

Fiquei fazendo carinho na cabeça dela até ela adormecer.

Saí do quarto; a casa já está quase toda vazia. Tem apenas umas caixas e as malas. Estávamos dormindo em colchões no chão.

Terminei de arrumar umas coisas que estavam faltando, já que vamos viajar cedo amanhã.

— PAPITO! — Nina gritou, e fui até o quarto dela. Ela estava chorando.

— O que aconteceu? — perguntei, colocando-a no colo e ninando-a.

— A mamãe não apareceu no meu sonho. Eu a chamei e ela não veio — ela falou chorando.

Toda vez que a Nina fala da mãe, meu coração se parte. Mas não posso fazer nada. Não foi minha decisão ir para a Argentina. Mas a Nina está precisando de um novo ambiente. Espero que seja bom para ela. Aqui, ela não consegue fazer amigos na escola e sempre acaba se sentindo sozinha.

Ela sempre me fala que sonha com a mãe, coisa que eu não entendo. Ela não conheceu a mãe. Afinal, a Nicole nos abandonou quando ela tinha apenas três dias de vida. E me dói muito quando ela me pede para ver a mãe ou fala que a mãe disse algo no sonho. A Nicole nem quis registrar nossa menina e me deu todos os documentos para que ela não fosse mais considerada mãe dela.

Ela quis cortar qualquer vínculo que pudesse ser ligado com a minha filha.

— Ela deve estar arrumando as coisas dela, filha. Afinal, vamos viajar muito cedo amanhã — falei para amenizar a angústia dela.

— Posso dormir com o senhor hoje? — ela pediu.

— Pode sim, meu amorzinho — falei, indo para o meu quarto e colocando-a no colchão.

Arrumei a roupa que vamos usar amanhã e organizei todos os documentos. Quando você está com aquela sensação boa de estar fazendo a coisa certa, é tão tranquilo. Eu já fui para vários lugares do mundo, mas quando me tornei pai, meu foco se voltou para esse serzinho e para o trabalho.

E essa oportunidade será muito boa para a minha filha.

Deitei-me com ela, fazendo carinho. Ela é a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Só não soube escolher a melhor mãe para ela. Minha menina merecia ter uma mãe que a amasse de verdade e desse todo o carinho que ela merece.

Demorei a pegar no sono vendo meu anjinho dormir. Quando finalmente adormeci, meu alarme tocou, então tive que me arrumar e arrumar a Nina.

— Papai, eu não quero ir — ela falou novamente chorando. E eu não entendo. Ela não tem nenhum amigo, não temos família, na verdade não temos nada neste lugar.

— Filhinha, o papai vai trabalhar na Argentina, e vai ser bem legal. Você vai para um colégio só de garotas, pertinho do hospital, e nosso apartamento fica perto de uma praça...

— E a minha mãe vai aparecer nos meus sonhos? — ela perguntou muito preocupada.

— Vai sim, filha. Vamos nos arrumar para ir — falei com ela, alisando o seu cabelo, e ela fez isso.

Fomos para o aeroporto. Nosso voo ia ser muito cansativo. De Cancún, vamos para a Cidade do México, depois para Manaus e de lá para São Paulo, onde vamos passar cinco horas, para só depois ir para Buenos Aires, na Argentina.

O voo durou mais de 12 horas. Com uma criança pequena, é muito cansativo. Depois tive que passar por toda a papelada por estar entrando em outro país. Quando saí, vi o quanto estava chovendo e coloquei a Nina dentro do meu casaco. Quando consegui chegar no táxi, uma moça chegou também. Nossas mãos se encontraram e não sei como explicar a sensação que tive. Algo que nunca senti antes. Olhei para ela e fiquei sem acreditar. Que mulher bonita! E não sei, ela me lembrava alguém.

Íamos brigar pelo táxi, mas quando a minha filha falou, ela desistiu, e isso mostra que ela tem um bom coração. Afinal, estava chovendo muito e não havia outro táxi.

E não sei o que aconteceu. Ela fez uma careta e se desequilibrou. Notei que ela estava sentindo muita dor e tentei ajudá-la.

Então resolvi propor dividir o táxi com ela e não pude acreditar que íamos para o mesmo lugar o tempo todo, e estávamos ali discutindo por um táxi. Coloquei minha princesa dentro e ajudei-a a sentar. Notei que ela estava com muita dificuldade em uma das pernas. Fui ajudar com as malas e guardei as minhas e as dela.

— Nem acredito que íamos brigar pelo táxi, sendo que vamos para o mesmo bairro — falei entrando, mas parei quando vi uma cena inusitada.

Minha filha estava com a cabeça deitada no peito da moça, toda aconchegada nela.

Uma coisa que não é normal, a Nina mal fala com as pessoas e nunca se aproxima de ninguém, e está ali deitada no peito da moça, meio que abraçando-a. Não acredito naquilo.

— Eu sou o Juan Carlos, qual é o seu nome? — perguntei, me apresentando e sorrindo para ela.

— O meu é Rosa, muito prazer — ela sorriu de volta e não sei explicar a sensação que tenho ao vê-la sorrindo. Saí do transe quando a Nina começou a se tremer, mas antes que eu fizesse alguma coisa, a Rosa pegou uma manta pequena que estava em sua bolsa e a enrolou.

— Obrigado — agradeci e ela fez carinho com cuidado na cabecinha da minha filha.

— Não foi nada — ela falou, e parecia emocionada. — E qual é o nome desta princesa? — ela perguntou, e antes de eu responder, a Nina levantou a cabeça, se cobrindo com a manta e abraçando um elefante de pelúcia.

— Nina, e obrigada — ela falou para Rosa.

— De nada, anjinho — Rosa disse, olhando para minha filha com um carinho que me fez sorrir.

Quando o táxi parou, percebi que o destino era o mesmo para nós dois. Insisti em pagar a corrida, apesar das tentativas de Rosa de dividir a conta. Pegamos nossas malas e seguimos juntos para o prédio.

Depois de falar com o porteiro, entramos no elevador. Nina, sentindo-se à vontade, segurou a mão de Rosa.

— Rosa, pode apertar o 8º andar para mim? — pedi, já notando que ela tinha apertado o botão. — Imagina se alugamos o mesmo apartamento?

— Seria engraçado, especialmente se você tivesse alugado o meu — ela respondeu com um sorriso amigável.

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Continua...

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