Pedro Hernandez
Adie e eu ainda permanecemos na cama durante a tarde. Acho que nenhum de nós desejava sair da cama, mas foi preciso. Era necessário voltar para casa ainda hoje. Ela precisa estar na universidade bem cedo e não quero correr o risco de nos perdemos um no outro a ponto de que se atrase. Minha prioridade é ela, mas quero que sua prioridade seja a faculdade. Ao longo desses anos tenho visto ela se dedicar incansavelmente aos estudos. Seus pais, Joseph e Elizabeth, se orgulham dela, assim como seu irmão mais novo, Jackson. Adrielle é diferente de qualquer mulher que já conheci em toda a minha vida, quero que conquiste o que almeja e quero estar ao lado dela quando isso acontecer.
— Tenho que ir, mas nos veremos amanhã. — Prometo, enquanto acaricio seu rosto.
Adrielle nem ao menos desceu do carro e já está fazendo beicinho, como alguém que não deseja se afastar. É quase como uma criança quando fica sem o doce, embora de inocente, essa mulher não tenha nada.
— Terei Anatomia amanhã de manhã, mas nos veremos depois das dez. — Ela informa, com um tom suave.
— Está bem. Estarei esperando por isso.
Adrielle se aproxima suavemente, enquanto me beija com carinho. Seu beijo se torna algo mais provocativo em meros dois segundos. Sei o que está fazendo. Ela tem a mania de me deixar sedento e depois se afastar como se não provocasse. Adie se afasta antes de beijar minha bochecha uma última vez e abrir a porta do carro. Estou sozinho outra vez. E agora preciso ir para casa. Hoje, acredito, não terei problemas. Meu pai não está em casa, pelo que sei, está em Vegas. Não terei de ouvir seus rosnados e suspiros forçados sobre minhas ações com Adrielle. No entanto, sinto um pressentimento ruim se aproximando e tomando conta de mim, como se algo ruim fosse acontecer essa noite.
Deixei o pressentimento de lado enquanto tomo meu caminho para casa. Assim que atravesso os portões de casa, vejo um Rolls Royce branco estacionado próximo à entrada. Sei que é o carro de Max. É uma das marcas favoritas dele. Temos uma garagem enorme para guardar seus brinquedos. Me aproximo devagar e, assim que me aproximo, vejo que ele está parado com um dos seus seguranças e seu motorista. Há uma mala preta ao seu lado, o que acredito que indique que acabou de chegar. Esse era o pressentimento ruim?
Respiro fundo.
Preciso me acalmar para lidar com ele agora. Sempre preciso.
Desligo meu carro e desço, me aproximando calmamente dos três homens a porta de casa.
— Pai. – Eu o cumprimento.
— Onde esteve? Estive esperando por você!
Seu tom é ríspido, como alguém irritado. Max é sempre assim. Eu o observo, parando no mesmo lugar em que estava.
— De quem é essa mala?
— Sua.
Pisco algumas vezes, tentando entender se ouvi direito sua resposta.
— O quê? — Indago, como alguém que não o compreendeu.
— Você vai para Madri. O avião vai partir assim que tudo estiver pronto. — Sua voz grossa ressoa com impaciência.
Ainda estou confuso demais, buscando entender essa mudança abrupta.
— Não irei para Madri. — Respondo, firme.
Ele faz um gesto com os dedos, apontando em minha direção. Seu segurança e o motorista avançam em minha direção, com um passo. Levam uma mão as contas e posso ver nitidamente dois revolveres sendo engatilhados. Me pergunto se há mesmo capsulas com pólvora ali ou se apenas deseja me assustar.
— Você não tem opção. — Há uma enorme frieza em seu tom, como alguém sem coração como ele diria. — Avisei para ficar longe daquela mulher. Você não me deu escolha.
Franzo o cenho, em irritação.
— Isso é por causa de Adrielle? Ainda estamos nisso? — A minha irritação é palpável.
— Mandei você terminar esse relacionamento, ela não é uma mulher adequada para você! — Ele grita. — Sua mãe criou você como um frouxo, está na hora de seguir o papel de um homem. Você vai concluir sua faculdade longe dela, vai focar nos negócios da família — Max caminha até mim e para a minha frente. — e não vai voltar de lá até que eu queira.
Naquele momento, não podia fazer nada, mas, ainda sim, não havia desistido.
— Vai ter que me amarrar se quiser que eu vá, porque de maneira alguma, irei deixar Los Angeles, deixar Adrielle. — Pressiono meu dedo em seu peito, deixando o mais claro possível minha imposição. — Mamãe vai concordar comigo.
Ele desdenha, jogando sua cabeça para trás. Max passa os dedos pelos fios cumpridos do cabelo e me encara novamente.
— Há essa hora, o sonífero que dei a ela já fez efeito.
Ouço um trovão, indicando que o período chuvoso está prestes a começar. Preciso me controlar para não reclamar sobre o barulho alto ou perderei a postura rígida na frente de Max. Não quero que me veja como um fraco, um frouxo, como disse.
Estou parado, o encarando. Sou incapaz de me mover, meu corpo não responde aos comandos do meu cérebro. Quebre a cara desse canalha. É tudo o que quero fazer, quero acertar o rosto cheio de preenchimentos fúteis que ele fez em uma tentativa estúpida de parecer mais jovial.
— Ela vai saber disso.
— Não vai saber, você não vai estar aqui para contar. — Seu tom é soberbo. Max estende a mão, como se esperasse que eu entregasse algo. Eu o olho confuso. — As chaves do carro, carteira e telefone. Não vai manter contato com mais ninguém, inclusive aquela mulher.
— Você quer me afastar dela a todo custo. — Digo, irritado. — Não pode me impedir de ficar ao lado dela.
Max pareceu perder a paciência. Ele nunca foi um homem muito paciente, de qualquer forma.
— Se não embarcar naquele avião, não será castigado, — Posso ver seus olhos semicerrarem mesmo com a pouca iluminação que temos. — mas ela sofrerá consequências. Não brinque comigo, garoto, sabe que não vou parar enquanto não conseguir o que eu quero.
Engulo em seco.
Isso é verdade, Max não para. Com negociações, ele é muito insistente e sei que j**a baixo para conseguir o que quer. Não estou surpreso por fazer isso comigo.
— Se encostar nela-…
— Não irei encostar nela desde que você vá para Madri. — Seu tom é firme.
Mas não gosto da ideia de ter que confiar em sua mera frase. Max finalmente mostrou suas garras e está usando tudo para me derrubar. Só há uma maneira de conseguir isso e ele já parece saber disso, está usando contra mim a mulher que eu amo.
— Se não embarcar neste avião, se prepare para vê-la na miséria. Mais do que já está. Sua família tem uma casa onde morar, mas as contas chegam, garoto. Ela está hipotecada ao banco, onde eles iriam morar se o banco os despejasse?
Fecho meus olhos, respirando fundo. Há essa altura, Max já tem o banco sob seu poder, é assim que faz as coisas. Estou despedaçado, sem armas, sem chão e sem conseguir ter alguma ação contra meu pai. No fim, ser filho de um magnata rico tem, sim, um fardo enorme.
Merda.
— Como pode priorizar suas vontades acima da felicidade do seu próprio filho? — Meu tom sai como um rosnado afiado.
É dolorido, como se isso rasgasse meu corpo.
— Estou fazendo o que é melhor para você. Verá isso daqui a alguns anos. — Rebate. — Entre na porra do carro. Se fizer alguma gracinha, chegará em Madri com hematomas.
Eu o encaro, incrédulo por ver que esse é realmente Maxwell Hernandez, o meu pai.
Adrielle HaleEstou no hospital geral de Los Angeles, em minha sala. Tenho visitado alguns pacientes durante essa manhã. Alguns passaram por cirurgias e precisam ter um acompanhamento estritamente meticuloso, não posso deixar que tenham problemas com acúmulo de coágulos ou bactérias. Gosto de fazer o meu trabalho direito e não quero ter problemas com nenhum paciente ou perder um deles. A porta da minha sala se abre e vejo Ross com um copo de café. Ela é a minha secretária. É amável e atenciosa. — Eu trouxe um café, doutora Williams. Do jeito que gosta. — Diz, sorridente, enquanto coloca o copo sobre a minha mesa. — Obrigada, Ross. — Digo, ao pegar o copo para beber. Sinto a temperatura quente sobre meus dedos, mesmo que haja uma embalagem de proteção ali. Ouço Ross suspirar enquanto se senta na cadeira a minha frente. Ela é um pouco relaxada em alguns dias da semana. Não posso culpá-la, tenho a sobrecarregado já faz dias com novos pacientes. — Há algum compromisso hoje, Ross? — Pe
Pedro Hernandez— Estou tão feliz que esteja em casa. Foram tantos anos, tanto tempo longe de você. O tom da minha mãe revela o quanto sofreu com minha ausência, embora não tenha sido a única. — Sim, foram. Mas estou de volta e Max não vai me tirar daqui outra vez. — Afirmo. Ela me olha, com os olhos marejados. — Você está tão bonito. Um homem forte e adulto. — Sua mão toca suavemente meu rosto coberto pela barba. — Me desculpe por demorar tanto tempo para trazer você de volta, mijo. Esboço um pequeno sorriso, na tentativa de confortá-la. Isso não é culpa dela. O único culpado é Maxwell Hernandez.— Como descobriu? — Ele nos deixou um vídeo explicando o que fez com você. — Seu tom é solene e pesado. — Também deixou algo para você, em um pen-drive. Não quis invadir isso, é assunto de vocês. Mas, quando eu soube onde você estava, enviei Bruno imediatamente. Eu aceno, em concordância.— Mesmo depois de sete anos, eu não consigo entender as razões para ele querer me afastar de Adri
Pedro HernandezA empresa continua a mesma, no mesmo lugar, embora os funcionários tenham mudado. Max nunca permanecia com os mesmos por mais de cinco anos. Tivemos um pequeno imprevisto para entrar, já que os jornalistas pareciam cientes do que estava havendo. Eles cercaram minha mãe como gaviões atrás da caça. Estou feliz por não me reconhecerem, ou seria abatido com enormes questionamentos sobre o meu sumiço. Adrielle também teria um choque ao saber que voltei, assim como Victor, embora eu acredite que sua esposa já tenha contado.O hall ainda continua enorme, com mármores escuros para decorar o piso e as paredes da recepção. Estamos na sede, a empresa matriz, onde é coordenado tudo sobre as outras filiais. Se bem me recordo, alguns andares acima de nós ficam os cassinos e no topo do prédio, a parte administrativa da empresa. O manobrista levou nosso carro enquanto minha mãe, Bruno e eu entravamos. Nós caminhamos em direção a uma das salas de reunião que ficavam no hall de entrada
Adrielle Hale — Você sabia sobre isso? — Minha pergunta é direta. Lyla não desvia o olhar de mim, mas suspira profundamente, entregando-me respostas para minhas dúvidas. — Ele chegou em Los Angeles hoje de manhã. Ótimo, que belos amigos tenho! — Você devia ter me contado! — Como poderia contar algo a você? — Lyla indaga, gesticulando em minha direção. — Não é algo que eu tenha que te contar, isso é com o Pedro. Estamos no hospital. Sofia se sentiu mal durante a leitura do testamento e desmaiou nos braços do estúpido babaca do filho dela. Há dias que a aviso sobre a pressão alta, ela não pode se estressar ou passar por momentos como esse. A leitura do testamento de Max a deixou assim. Ainda estou tentando compreender que ele deixou quase metade dos seus bens para Amanda e seus filhos. Leonard pareceu muito feliz por isso, satisfeito. Não compreendo por quais motivos Max deixaria seus bens para as pessoas que trabalharam com ele, ao invés de entregar tudo a família, mas
Adrielle HaleMeu corpo custa obedecer aos comandos de se virar e caminhar para longe de Pedro, até parece que há um ímã entre nós, que me prende no mesmo ambiente que ele. Consigo girar meus calcanhares e caminhar para fora da sala. Deixo Pedro sozinho, não quero ficar ali. Meus olhos estão começando a marejar. Oh, não. Estou revivendo aquela dor outra vez. A dor de ser abandonada por um homem que eu amava cegamente. Um homem que pensei me amar. Mas, acontece que Pedro só amava a si mesmo. No fim, ele é idêntico ao pai dele. No corredor, noto pessoas familiares. As duas crianças estão contentes, com palitos de picolés nas mãos. Victor caminha atrás deles, com calma. Não sei ao certo o motivo de estarem aqui, mas acredito que Lyla deve ter contado sobre Sofia. Abby é muito apegada a ela. Acho que foi isso que manteve Sofia lucida por todos esses anos, ela quase enlouqueceu pensando que tivesse perdido o filho, Max nem mesmo disse algo sobre isso a ela, ou Pedro, que deveria ter deixa
Pedro HernandezTenho dificuldade para respirar. Sinto que minha respiração está presa em minha garganta, arranhando as paredes com um objeto cortante, como uma faca. Tento absorver mais ar, mas é impossível, estou sufocado. Não consigo falar, ou grita, embora queira muito, para que todos - até o outro lado do oceano - ouçam meu desespero. Desconsolo. Quero socar algo, quebrar algo, mas não faria isso em um hospital, ou acho que enfrentaria uma acusação por destruir patrimônios públicos. Estou tremendo. Adrielle não me dá uma resposta, apenas se mantém em silêncio, como se isso fosse uma resposta. Porra, isso não é uma resposta! Acabo de descobrir que temos uma filha e não sei se isso é algo bom ou não. Não seja tonto, Pedro, é algo ótimo! A única coisa problemática e desagradável nisso é que a minha filha foi criada por outro homem. Estou sentindo minha pressão oscilar, como se eu fosse despencar a qualquer instante. Isso deve ser de família. Adrielle e eu temos uma filha. Meu cor
Pedro Hernandez Vejo de canto uma pessoa se posicionar bem ao meu lado. Sei que é Bruno, que possui um copo de café quente em suas mãos. — Bruno, meu amigo. — Leonard diz, como se fossem velhos amigos. Ele não é seu amigo, Leonard. Adoraria que sofresse a mesma solidão que eu sofri, assim manteria você distante dela. Minha mãe iria me repreender por desejar que as pessoas sofressem o mesmo que passei. Mal o conheço e já o odeio. Se não fosse ele o marido dela, seria outro e eu o odiaria da mesma maneira. Não é pessoal, Leonard. Adrielle e eu esboçamos a mesma expressão de confusão ao ouvir sua frase, que carrega um tom de provocação a Bruno. Pelo visto, nenhum de nós sabia sobre essa proximidade. E estou me questionando como ele pode ser tão descarado ao ponto de fazer esse tipo de piada, como se fossem velhos amigos.— Não somos amigos. — O tom de Bruno é frio, carregado de repulsa. Sinto que nós dois o odiamos. Boa, Bruno. Parte de mim deseja sorrir e pular de alegria por isso,
Pedro HernandezNunca entrei em casa tão rápido quanto agora. Bruno não me disse nada além de repetir a frase “Leia a carta e veja o pen-drive”. Essa busca por respostas, esses conflitos que me afogam repetidamente sob o oceano profundo, me causa uma enorme confusão. Minhas mãos tremem e não sei o que fazer para controlar. Meu coração está acelerado, cada pulsação é semelhante a um terremoto que parece abrir uma fenda e me engolir a qualquer instante. Sinto que estou fora do meu próprio corpo, como se não pudesse controlar meu cérebro. Que péssima hora para ele decidir fazer piadas comigo. O eco da batida da porta é alto, ressoando por todo o hall. Não me preocupo se assustei os empregados, tomo meu caminho em direção à biblioteca. Sei que Bruno deve estar bem atrás de mim. Rosita aparece na entrada da porta da cozinha, com um semblante assustado. Devo estar vermelho agora, meu corpo está concentrando todas as suas energias para conter a raiva que me devora. — Está tudo bem? — A voz