Adrielle HaleMeu corpo custa obedecer aos comandos de se virar e caminhar para longe de Pedro, até parece que há um ímã entre nós, que me prende no mesmo ambiente que ele. Consigo girar meus calcanhares e caminhar para fora da sala. Deixo Pedro sozinho, não quero ficar ali. Meus olhos estão começando a marejar. Oh, não. Estou revivendo aquela dor outra vez. A dor de ser abandonada por um homem que eu amava cegamente. Um homem que pensei me amar. Mas, acontece que Pedro só amava a si mesmo. No fim, ele é idêntico ao pai dele. No corredor, noto pessoas familiares. As duas crianças estão contentes, com palitos de picolés nas mãos. Victor caminha atrás deles, com calma. Não sei ao certo o motivo de estarem aqui, mas acredito que Lyla deve ter contado sobre Sofia. Abby é muito apegada a ela. Acho que foi isso que manteve Sofia lucida por todos esses anos, ela quase enlouqueceu pensando que tivesse perdido o filho, Max nem mesmo disse algo sobre isso a ela, ou Pedro, que deveria ter deixa
Pedro HernandezTenho dificuldade para respirar. Sinto que minha respiração está presa em minha garganta, arranhando as paredes com um objeto cortante, como uma faca. Tento absorver mais ar, mas é impossível, estou sufocado. Não consigo falar, ou grita, embora queira muito, para que todos - até o outro lado do oceano - ouçam meu desespero. Desconsolo. Quero socar algo, quebrar algo, mas não faria isso em um hospital, ou acho que enfrentaria uma acusação por destruir patrimônios públicos. Estou tremendo. Adrielle não me dá uma resposta, apenas se mantém em silêncio, como se isso fosse uma resposta. Porra, isso não é uma resposta! Acabo de descobrir que temos uma filha e não sei se isso é algo bom ou não. Não seja tonto, Pedro, é algo ótimo! A única coisa problemática e desagradável nisso é que a minha filha foi criada por outro homem. Estou sentindo minha pressão oscilar, como se eu fosse despencar a qualquer instante. Isso deve ser de família. Adrielle e eu temos uma filha. Meu cor
Pedro Hernandez Vejo de canto uma pessoa se posicionar bem ao meu lado. Sei que é Bruno, que possui um copo de café quente em suas mãos. — Bruno, meu amigo. — Leonard diz, como se fossem velhos amigos. Ele não é seu amigo, Leonard. Adoraria que sofresse a mesma solidão que eu sofri, assim manteria você distante dela. Minha mãe iria me repreender por desejar que as pessoas sofressem o mesmo que passei. Mal o conheço e já o odeio. Se não fosse ele o marido dela, seria outro e eu o odiaria da mesma maneira. Não é pessoal, Leonard. Adrielle e eu esboçamos a mesma expressão de confusão ao ouvir sua frase, que carrega um tom de provocação a Bruno. Pelo visto, nenhum de nós sabia sobre essa proximidade. E estou me questionando como ele pode ser tão descarado ao ponto de fazer esse tipo de piada, como se fossem velhos amigos.— Não somos amigos. — O tom de Bruno é frio, carregado de repulsa. Sinto que nós dois o odiamos. Boa, Bruno. Parte de mim deseja sorrir e pular de alegria por isso,
Pedro HernandezNunca entrei em casa tão rápido quanto agora. Bruno não me disse nada além de repetir a frase “Leia a carta e veja o pen-drive”. Essa busca por respostas, esses conflitos que me afogam repetidamente sob o oceano profundo, me causa uma enorme confusão. Minhas mãos tremem e não sei o que fazer para controlar. Meu coração está acelerado, cada pulsação é semelhante a um terremoto que parece abrir uma fenda e me engolir a qualquer instante. Sinto que estou fora do meu próprio corpo, como se não pudesse controlar meu cérebro. Que péssima hora para ele decidir fazer piadas comigo. O eco da batida da porta é alto, ressoando por todo o hall. Não me preocupo se assustei os empregados, tomo meu caminho em direção à biblioteca. Sei que Bruno deve estar bem atrás de mim. Rosita aparece na entrada da porta da cozinha, com um semblante assustado. Devo estar vermelho agora, meu corpo está concentrando todas as suas energias para conter a raiva que me devora. — Está tudo bem? — A voz
Adrielle Hale Passo as mãos pelo rosto e tento disfarçar meu incomodo, enquanto retorno para a sala de espera. Abby continua carrancuda. Austin tem um videogame portátil nas mãos e movimenta os dedos com precisão. Victor está ocupado com o telefone nas mãos, quando me vê, o abaixa e deixa em seu colo. Posso ver que está lendo alguma reportagem. — Leonard foi embora? — Sim. Ele corrige a postura relaxada e me olha com atenção. Posso notar que há uma certa ansiedade em seu rosto, mas não consigo entender o motivo. — Podemos falar sobre a aparição repentina dele? Estou um pouco confuso. — Coça a parte de trás da cabeça como se realmente precisasse juntar as peças desse quebra-cabeças. Me sento na poltrona ao lado de Abby, enquanto toco suavemente seus ombros na tentativa de fazer com que relaxe. — Eu não sei se quero voltar a esse assunto, Victor. — Meus olhos estão focados em Abby, que se esquiva do meu toque. — Sete anos. — Memorizo esse numero. — Sete anos desde que
Pedro Hernandez— Eu tentei esconder isso o máximo que pude. Tentei evitar Amanda, mas ela foi muito insistente com suas ameaças. Eu não conseguiria lidar com isso se ela dissesse a Sofia o que aconteceu. Eu amo a sua mãe, Pedro. E sei que o que eu fiz não tem perdão. Mas tive muito medo de que Sofia descobrisse tudo e me deixasse. Eu já sei que fui um pai ruim, e também não fui um bom marido. — Quando Max olhou para a câmera, foi quase como se ele encarasse meus olhos. Era possível notar seu sofrimento. Se é que ele realmente se sentia arrependido. — Amanda é uma mulher cruel. Ela me perseguiu durante meses exigindo que eu desse ao filho dela o mesmo tratamento que dei a você. Não tive outra opção a não ser fazer isso. Ela iria destruir meu casamento com Sofia. Criei Leonard escondido de todos, em uma casa em San Diego. Mas eu sabia que havia muitas coisas erradas com ele. Leo sempre se mostrou diferente das outras crianças e Amanda não fez nada para mudar isso. Quando ele afogou Hel
Adrielle HaleLeonard entrega a Abby a sacola e ela a abre, puxando uma caixa pequena de dentro. Ela me encara, como se buscasse uma explicação, mas apenas encolho os ombros e esboço um sorriso gentil. Seus olhos focam em Leo, que está ajoelhado em sua frente, esperando sua reação. — Você gostou, pequena? — Pergunta, em um tom suave. Abby não o responde, apenas acena levemente com a cabeça. Não acho que sua reação seja positiva. Me aproximo o suficiente para tocar seus joelhos, já que está sentada em uma das poltronas acolchoadas.— O que houve? Se não gostar, pode dizer ao tio Leo, ele não vai ficar chateado. — Toco o ombro do meu marido, para que concorde com o que estou dizendo. — Sua mãe está certa. — Concorda, falando em um tom tão suave e caloroso quanto poderia. — Se não gostou, mandarei trocar. Abby abaixa a cabeça e posso notar que há lagrimas escorrendo pelas bochechas rosadas. Chego mais perto, para acalmar a minha filha. Beijo sua cabeça e a aconchego em meu peito. —
Pedro HernandezAinda estou um tanto perdido com as localizações dessa cidade. Eu costumava conhecê-la com a palma da minha mão, mas agora mal sei chegar no hospital. Vaguei pela cidade por alguns minutos até finalmente ceder ao GPS e pedir para que me guiasse. Por algum motivo, acabei esquecendo que o hospital não é tão longe da minha casa, apenas três milhas de distância. Ele não era tão perto assim antes. Mas não vou bagunçar ainda mais a minha mente. Bruno está parado na frente do hospital, assim que estaciono meu carro. Deve imaginar que me perdi com as ruas. Desligo o motor e desço. Caminho em direção a ele, que me olha levemente confuso. Pressiono os lábios, sendo forçado a admitir que me perdi pela cidade. — Fiquei perdido nas ruas. Ele ri, levemente divertido por isso, como se já imaginasse. — Foi o que pensei. Venha, vamos entrar. Aceno, em concordância. Bruno e eu adentramos o hospital. Me sinto melhor ali dentro, Los Angeles ainda está quente. Por sorte, decidi vestir