Adrielle Hale
Estou no hospital geral de Los Angeles, em minha sala. Tenho visitado alguns pacientes durante essa manhã. Alguns passaram por cirurgias e precisam ter um acompanhamento estritamente meticuloso, não posso deixar que tenham problemas com acúmulo de coágulos ou bactérias. Gosto de fazer o meu trabalho direito e não quero ter problemas com nenhum paciente ou perder um deles. A porta da minha sala se abre e vejo Ross com um copo de café. Ela é a minha secretária. É amável e atenciosa.
— Eu trouxe um café, doutora Williams. Do jeito que gosta. — Diz, sorridente, enquanto coloca o copo sobre a minha mesa.
— Obrigada, Ross. — Digo, ao pegar o copo para beber.
Sinto a temperatura quente sobre meus dedos, mesmo que haja uma embalagem de proteção ali. Ouço Ross suspirar enquanto se senta na cadeira a minha frente. Ela é um pouco relaxada em alguns dias da semana. Não posso culpá-la, tenho a sobrecarregado já faz dias com novos pacientes.
— Há algum compromisso hoje, Ross? — Pergunto, interessada em minha agenda, que ela costuma cuidar.
Ross se vira para mim e me olha com atenção.
— Na verdade, seu marido pediu para cancelar seus compromissos mais tarde, disse que era importante. — Ela responde, com um tom calmo, mas com atenção.
Fecho os olhos e respiro fundo, enquanto coloco o copo sobre a mesa outra vez. Já disse a Leonard para me avisar antes de decidir apenas cancelar meus compromissos e já avisei a Ross para me perguntar antes de fazer coisas assim. Leo é sempre tão controlador.
— Ross, — Pelo meu tom, ela sabe que não gostei de sua atitude. — antes de cancelar algo, venha perguntar diretamente para mim.
Vejo ela engolir em seco, sentindo o peso da minha repreensão.
— Sim, doutora. — Acena, concordando, mas sei que não vai fazer isso.
Leonard parece sempre conseguir prender a atenção das mulheres, tanto que elas fazem exatamente o que ele quer. Isso não me deixa enciumada, mas não gosto quando toma decisões por mim. Seja por coisas do trabalho ou em casa, com Abby.
E por falar em minha filha, preciso me lembrar para pedir ao Victor para buscá-la na escola hoje. Nossos filhos estudam na mesma escola e às vezes um de nós pede esse tipo de favor. Sei que Lyla estará ocupada com algumas coisas no hospital, então hoje é o dia de seu marido ir buscá-la.
Sofia deve estar ocupada hoje, parece que terá a leitura do testamento de Max e imagino que esteja em um momento sensível. Sei que deve ser horrível para ela ficar sozinha em um momento como esse. Depois que o filho babaca dela foi embora, desaparecendo sem contar nada a ninguém, apenas decidindo ir com uma nova namorada, Sofia ficou desolada, afastada de todos. Max nunca foi o tipo de marido atencioso, mesmo que tentasse passar uma boa imagem. Enquanto Pedro e eu estávamos juntos, eu vi de perto como Max poderia ser um marido ruim, um pai ausente. Não me surpreende que Pedro não tenha vindo ao enterro dele, mas isso só me fez ver o quão diferente ele era. Para mim, era um bom homem, amoroso, gentil. Mas, na verdade, Pedro não era nada além de um mentiroso de primeira classe. Meu pai me disse uma vez que garotos ricos só gostam de brincar com mulheres e, no fim, isso foi verdade.
Mas Pedro foi mais cruel do que eu imaginei que alguém poderia ser. Ele me deixou ficar perdidamente apaixonada por ele, caída em seus encantos a ponto de ser tão descuidada e engravidar. E ele não estava aqui para ver a nossa filha. Pedro parece ter desaparecido do mapa, como num passe de mágica. Cheguei a pensar que ele tivesse se envolvido em problemas, mas Max deixou claro que o filho dele só era um libertino que se aproveitava das situações.
Entreguei meu coração e o que recebi em troca?
Já se passaram sete anos e nem mesmo Sofia sabe onde ele se meteu. Espero que não pise os pés em Los Angeles nunca mais, para que a nossa filha nunca tenha que ser ligada ao pai. Pedro não merece a chance de conhecê-la. No fim, ele é igual a Max, mas uma versão mais jovem.
— Olha só, estão falando sobre o retorno do herdeiro de Max Hernandez. — Ross diz, com sua voz invadindo meus pensamentos e me trazendo de volta a minha sala para ouvir coisas que fazem meu corpo inteiro se arrepiar.
Meus olhos focam nela, que está de cabeça baixa e os olhos focados no celular em suas mãos. Engulo em seco. O herdeiro de Max Hernandez. Não acredito que possa ter retornado para Los Angeles depois de sete anos. Meu coração dispara. Coração teimoso, prometemos que isso não aconteceria. Mas não sei dizer se estou surpresa ou com raiva por ter voltado. Prefiro pensar que não é o Pedro, Max deve ter tido outro filho que não contou e a mídia descobriu agora.
— Doutora, você e ele não tiveram um relacionamento há vários anos? — Ross questiona, com o cenho franzido em minha direção.
Merda. Ele realmente voltou.
Ross se inclina em minha direção e vira a tela do celular para mim, me deixando ver nitidamente a matéria sobre ele no I*******m.
“O retorno de Pedro Hernandez”
Há uma foto dele dentro do carro de Sofia. Julgo ser na entrada de sua casa e não sei quem o acompanha agora. Sei que deve ter voltado por escolha própria e de surpresa. Se Sofia soubesse de algo, sei que teria me avisado para não ter um choque como esse.
Pedro Hernandez— Estou tão feliz que esteja em casa. Foram tantos anos, tanto tempo longe de você. O tom da minha mãe revela o quanto sofreu com minha ausência, embora não tenha sido a única. — Sim, foram. Mas estou de volta e Max não vai me tirar daqui outra vez. — Afirmo. Ela me olha, com os olhos marejados. — Você está tão bonito. Um homem forte e adulto. — Sua mão toca suavemente meu rosto coberto pela barba. — Me desculpe por demorar tanto tempo para trazer você de volta, mijo. Esboço um pequeno sorriso, na tentativa de confortá-la. Isso não é culpa dela. O único culpado é Maxwell Hernandez.— Como descobriu? — Ele nos deixou um vídeo explicando o que fez com você. — Seu tom é solene e pesado. — Também deixou algo para você, em um pen-drive. Não quis invadir isso, é assunto de vocês. Mas, quando eu soube onde você estava, enviei Bruno imediatamente. Eu aceno, em concordância.— Mesmo depois de sete anos, eu não consigo entender as razões para ele querer me afastar de Adri
Pedro HernandezA empresa continua a mesma, no mesmo lugar, embora os funcionários tenham mudado. Max nunca permanecia com os mesmos por mais de cinco anos. Tivemos um pequeno imprevisto para entrar, já que os jornalistas pareciam cientes do que estava havendo. Eles cercaram minha mãe como gaviões atrás da caça. Estou feliz por não me reconhecerem, ou seria abatido com enormes questionamentos sobre o meu sumiço. Adrielle também teria um choque ao saber que voltei, assim como Victor, embora eu acredite que sua esposa já tenha contado.O hall ainda continua enorme, com mármores escuros para decorar o piso e as paredes da recepção. Estamos na sede, a empresa matriz, onde é coordenado tudo sobre as outras filiais. Se bem me recordo, alguns andares acima de nós ficam os cassinos e no topo do prédio, a parte administrativa da empresa. O manobrista levou nosso carro enquanto minha mãe, Bruno e eu entravamos. Nós caminhamos em direção a uma das salas de reunião que ficavam no hall de entrada
Adrielle Hale — Você sabia sobre isso? — Minha pergunta é direta. Lyla não desvia o olhar de mim, mas suspira profundamente, entregando-me respostas para minhas dúvidas. — Ele chegou em Los Angeles hoje de manhã. Ótimo, que belos amigos tenho! — Você devia ter me contado! — Como poderia contar algo a você? — Lyla indaga, gesticulando em minha direção. — Não é algo que eu tenha que te contar, isso é com o Pedro. Estamos no hospital. Sofia se sentiu mal durante a leitura do testamento e desmaiou nos braços do estúpido babaca do filho dela. Há dias que a aviso sobre a pressão alta, ela não pode se estressar ou passar por momentos como esse. A leitura do testamento de Max a deixou assim. Ainda estou tentando compreender que ele deixou quase metade dos seus bens para Amanda e seus filhos. Leonard pareceu muito feliz por isso, satisfeito. Não compreendo por quais motivos Max deixaria seus bens para as pessoas que trabalharam com ele, ao invés de entregar tudo a família, mas
Adrielle HaleMeu corpo custa obedecer aos comandos de se virar e caminhar para longe de Pedro, até parece que há um ímã entre nós, que me prende no mesmo ambiente que ele. Consigo girar meus calcanhares e caminhar para fora da sala. Deixo Pedro sozinho, não quero ficar ali. Meus olhos estão começando a marejar. Oh, não. Estou revivendo aquela dor outra vez. A dor de ser abandonada por um homem que eu amava cegamente. Um homem que pensei me amar. Mas, acontece que Pedro só amava a si mesmo. No fim, ele é idêntico ao pai dele. No corredor, noto pessoas familiares. As duas crianças estão contentes, com palitos de picolés nas mãos. Victor caminha atrás deles, com calma. Não sei ao certo o motivo de estarem aqui, mas acredito que Lyla deve ter contado sobre Sofia. Abby é muito apegada a ela. Acho que foi isso que manteve Sofia lucida por todos esses anos, ela quase enlouqueceu pensando que tivesse perdido o filho, Max nem mesmo disse algo sobre isso a ela, ou Pedro, que deveria ter deixa
Pedro HernandezTenho dificuldade para respirar. Sinto que minha respiração está presa em minha garganta, arranhando as paredes com um objeto cortante, como uma faca. Tento absorver mais ar, mas é impossível, estou sufocado. Não consigo falar, ou grita, embora queira muito, para que todos - até o outro lado do oceano - ouçam meu desespero. Desconsolo. Quero socar algo, quebrar algo, mas não faria isso em um hospital, ou acho que enfrentaria uma acusação por destruir patrimônios públicos. Estou tremendo. Adrielle não me dá uma resposta, apenas se mantém em silêncio, como se isso fosse uma resposta. Porra, isso não é uma resposta! Acabo de descobrir que temos uma filha e não sei se isso é algo bom ou não. Não seja tonto, Pedro, é algo ótimo! A única coisa problemática e desagradável nisso é que a minha filha foi criada por outro homem. Estou sentindo minha pressão oscilar, como se eu fosse despencar a qualquer instante. Isso deve ser de família. Adrielle e eu temos uma filha. Meu cor
Pedro Hernandez Vejo de canto uma pessoa se posicionar bem ao meu lado. Sei que é Bruno, que possui um copo de café quente em suas mãos. — Bruno, meu amigo. — Leonard diz, como se fossem velhos amigos. Ele não é seu amigo, Leonard. Adoraria que sofresse a mesma solidão que eu sofri, assim manteria você distante dela. Minha mãe iria me repreender por desejar que as pessoas sofressem o mesmo que passei. Mal o conheço e já o odeio. Se não fosse ele o marido dela, seria outro e eu o odiaria da mesma maneira. Não é pessoal, Leonard. Adrielle e eu esboçamos a mesma expressão de confusão ao ouvir sua frase, que carrega um tom de provocação a Bruno. Pelo visto, nenhum de nós sabia sobre essa proximidade. E estou me questionando como ele pode ser tão descarado ao ponto de fazer esse tipo de piada, como se fossem velhos amigos.— Não somos amigos. — O tom de Bruno é frio, carregado de repulsa. Sinto que nós dois o odiamos. Boa, Bruno. Parte de mim deseja sorrir e pular de alegria por isso,
Pedro HernandezNunca entrei em casa tão rápido quanto agora. Bruno não me disse nada além de repetir a frase “Leia a carta e veja o pen-drive”. Essa busca por respostas, esses conflitos que me afogam repetidamente sob o oceano profundo, me causa uma enorme confusão. Minhas mãos tremem e não sei o que fazer para controlar. Meu coração está acelerado, cada pulsação é semelhante a um terremoto que parece abrir uma fenda e me engolir a qualquer instante. Sinto que estou fora do meu próprio corpo, como se não pudesse controlar meu cérebro. Que péssima hora para ele decidir fazer piadas comigo. O eco da batida da porta é alto, ressoando por todo o hall. Não me preocupo se assustei os empregados, tomo meu caminho em direção à biblioteca. Sei que Bruno deve estar bem atrás de mim. Rosita aparece na entrada da porta da cozinha, com um semblante assustado. Devo estar vermelho agora, meu corpo está concentrando todas as suas energias para conter a raiva que me devora. — Está tudo bem? — A voz
Adrielle Hale Passo as mãos pelo rosto e tento disfarçar meu incomodo, enquanto retorno para a sala de espera. Abby continua carrancuda. Austin tem um videogame portátil nas mãos e movimenta os dedos com precisão. Victor está ocupado com o telefone nas mãos, quando me vê, o abaixa e deixa em seu colo. Posso ver que está lendo alguma reportagem. — Leonard foi embora? — Sim. Ele corrige a postura relaxada e me olha com atenção. Posso notar que há uma certa ansiedade em seu rosto, mas não consigo entender o motivo. — Podemos falar sobre a aparição repentina dele? Estou um pouco confuso. — Coça a parte de trás da cabeça como se realmente precisasse juntar as peças desse quebra-cabeças. Me sento na poltrona ao lado de Abby, enquanto toco suavemente seus ombros na tentativa de fazer com que relaxe. — Eu não sei se quero voltar a esse assunto, Victor. — Meus olhos estão focados em Abby, que se esquiva do meu toque. — Sete anos. — Memorizo esse numero. — Sete anos desde que