Pedro Hernandez
O aeroporto de Los Angeles está mais movimentado do que eu costumava me lembrar, há pessoas vagando de um lado para o outro com malas de todas as cores possíveis. Tenho dificuldade para atravessar o enorme salão para seguir ao lado de fora. O sol aqui parece ser mais forte, o que me causa a impressão de ser ainda mais quente. Talvez seja devido ao oceano na costa. Há táxis e outros carros de aplicativo parados no estacionamento.
— É bom estar de volta, Bruno. — Comento.
O meu fiel amigo e mordomo está ao meu lado, tentando conter suas emoções. Bruno é um homem sensível. Compreendo. Estou em casa após longos sete anos em Madri. Adoraria ver a cara de Max agora, depois de me controlar naquela cidade horrível por tantos anos, mas a sua sorte é que morreu antes disso.
— Bem-vindo ao lar, jovem Pedro. — Diz, com um tom emocionado.
Sorrio.
É a primeira vez em anos que me sinto bem. Talvez seja a sensação de liberdade.
— Venha, a senhora Sofia está esperando por você. — Bruno segue com a minha mala até um Escalade Preto estacionado em uma das vagas para táxis.
As coisas mudaram, Pedro. Los Angeles não é mais a mesma de quando fui embora.
Esboço um sorriso triste enquanto minha mente viaja em busca da mulher que tanto amei. Ela também deve ter mudado.
Bruno guarda as malas com a ajuda de um homem de terno preto. Sei que é o motorista da minha mãe. Ele também era o motorista de Max. E esteve presente naquela noite. Suspeito que não tenha comentado com ninguém sobre aquilo, ou minha mãe teria movido céus e terra para me encontrar ao invés de sofrer sozinha por todos esses anos.
Há poucos metros de nós, noto uma mulher de cabelos flamejantes. É claro que reconheço esse tom. Até mesmo de costas ainda sou capaz de a reconhecer. Meu coração b**e forte contra o peito, meus dedos tremem com a falta de tocar seu corpo. Tenho sonhado com o dia do nosso reencontro por tantos anos que agora parece um sonho.
No entanto, meu sonho se tornou meu pesadelo. Todas essas lembranças e sentimentos são arremessados do último andar de um enorme edifício quando a vejo beijar suavemente um homem de terno cinza. Já deveria esperar por isso. Adrielle não iria parar sua vida por minha causa. Meu coração é despedaçado outra vez quando a vejo acompanhada de uma garota de cabelos mais escuros que não havia notado antes. O homem a frente delas, com barba e cabelos muito bem desenhados, se ajoelha e toca os ombros da garota, mantendo um sorriso nos lábios. Eles parecem uma família feliz.
Estou incrédulo. Ela se casou. Ela tem filhos com outro homem. Minha raiva por Max cresce cada vez mais quando volto a pensar em como ele estragou minha vida.
— Eu deveria ter contado sobre isso. — A voz de Bruno faz com que eu pare de prestar atenção na família a poucos metros. — Ela se casou.
Engulo em seco, sendo forçado a engolir meus sentimentos junto e guardá-los em um lugar que seja inalcançável no momento. Me viro para Bruno, pensando em como contornar esse assunto, mas não posso contornar.
— Ela parece feliz. — Tento esconder a minha dor. — Um de nós precisa ser feliz.
Abro a porta traseira do carro e adentro, Bruno segue logo atrás de mim. O motorista se senta ao volante e segue em direção à casa dos meus pais. Na verdade, apenas a casa da minha mãe agora. Não quero falar sobre o que acabo de ver. Meus sentimentos por ela retornaram com tudo e não posso evitar isso. A que custo, Max? Com a morte dele, sinto como se tivessem tirado um enorme fardo de todos nós, mas acabou com a minha vida. Me tirou muitos anos.
Los Angeles ainda continua tão movimentada quanto me lembro. As ruas estão lotadas de carros e pessoas que xingam de um lado para o outro palavras sujas. Não há uma palavra trocada entre nós enquanto seguimos para casa. Gosto do silêncio, mas sinto que estamos carregando muitos segredos. No fim, Max não foi enterrado com todos eles, como gostaria. Velho escroto, espero que as larvas corroam suas vísceras.
Os portões de casa agora estão com um tom mais escuro do que eu costumava me lembrar. As árvores plantadas ao longo do muro estão muito maiores e bem desenvolvidas. Ao lado de dentro, a casa continua igual. As paredes ainda possuem cores frias, isso reflete bem o ambiente em que vivíamos. O motorista estaciona o carro próximo à fonte que há bem no centro do jardim, feita de pedras brutas, que agora se encontra suja e vazia. Não desço de imediato, ainda há algo que quero dizer antes que minha mãe esteja presente, embora sei que ela vai desejar saber da história.
— Bruno, — Eu o chamo, com meus olhos focados no homem de terno preto, cujo nome me esqueci. Seu nome não é relevante, tudo o que me interessa é que ele estava lá, ao lado de Max. Sinto os olhares de Bruno, meu fiel mordomo, queimarem, talvez pensando que algo estava errado. E está certo. — como ele se chama?
Viro minha cabeça em sua direção. Bruno está com uma expressão confusa, talvez pela minha pergunta abrupta, ou por não me lembrar o nome do homem a nossa frente.
— Mitchel, jovem Pedro. — Responde.
Eu aceno, em concordância.
Bruno ainda tem uma expressão confusa, como quem espera por explicações.
— Demita-o. — Meu tom não é de um pedido, mas sim de uma ordem.
Não espero por questionamentos, abro a porta traseira do carro - onde estávamos sentados - e desço. O jardim não é mais o mesmo. Nada aqui é, nem mesmo eu. Caminho em direção a enorme porta de madeira escura que há na entrada da casa. Não espero que alguém abra, apenas adentro em passos firmes a casa que um dia considerei um lugar sombrio. Nunca foi sobre a casa, mas sim sobre alguém.
Procuro por minha mãe em todos os cômodos, esperando que ela estivesse em casa. Sei que ficará feliz por meu retorno. Bruno comentou durante o voo de volta que ela se sentia sozinha. Max afastou todos dela e depois que ficou doente, ele a sobrecarregou.
— Talvez a encontre na biblioteca de seu pai, jovem Pedro. — A voz de Bruno ressoa atrás de mim, com um tom melancólico. — Ela tem estado na sala dele, como se sentisse saudades.
Meu corpo deseja reagir e soltar toda a raiva que possui por esse homem, mas não farei isso aqui, não quando acabo de retornar para casa.
— O corpo dele já foi enterrado? — Há frieza em meu tom e não há nenhum sentimento por Max que eu deseje demonstrar.
Não me viro para Bruno. Não quero prolongar essa conversa, apenas desejo encontrar minha mãe.
— Foi enterrado há três semanas. — Responde, com firmeza.
— Ótimo, assim não há chances de que volte a vida.
Tomo meu caminho em direção à biblioteca. As portas estão fechadas, como se alguém lá dentro não quisesse ser incomodado. Hesito antes de tocar as maçanetas da porta dupla. Não quero a incomodar, mas tenho vivido tanto tempo sozinho, isolado das pessoas que amo. Tudo o que desejo agora é receber seu carinho e cuidado.
Ao abrir a porta, vejo uma mulher parada em frente a enorme foto de família que tiramos há alguns anos. Ela está pendurada bem acima da lareira, que não possui indícios ou brasas de fogo. Essa mulher, de cabelos escuros, se vira para mim e não consegue esconder suas emoções ao me ver. Eu a observo com cuidado. Seus olhos tristes carregam dor, não há mais o brilho que costumavam ter. Os cabelos escuros estão apontando alguns fios cinzas, o deixa claro seu envelhecimento. Há pequenas rugas em seu rosto, como marcas de sofrimento. Meus pés me levam em sua direção, enquanto minha mente ainda raciocina que estou aqui, em casa, depois de anos.
— Mijo. — Sua voz é embargada por emoção, sendo um reflexo da saudade e solidão que deve ter sentido durante todos esses anos. Seus braços se abrem em minha direção, e em um piscar de olhos, estou preso em seu abraço. — Oh, você está em casa. Finalmente, em casa.
Abro um pequeno sorriso, havendo lagrimas brotando em meus olhos.
— Estou em casa, mamãe.
Pedro HernandezSete anos antesAdie e eu estamos na casa de campo fora da cidade. Com o fim das aulas, conseguimos um tempo para nós. Tem sido dias corridos para ela por causa do semestre carregado de atividades extracurriculares do curso de medicina. Pensei em termos um fim de semana romântico para escapar das nossas obrigações na universidade. Ela está no terceiro ano de medicina, enquanto estou estudando administração. É o meu segundo ano e só estou fazendo isso por causa de Max. Ainda estava perdido quando terminei o ensino médio, eu não sabia no que poderia me formar, mas meu pai sempre me disse que deveria estudar para assumir a empresa, Industrias Max. Considero esse nome um tanto presunçoso, quem daria seu próprio nome a empresa? Bom, meu pai fez isso. As Indústrias Max não operam apenas nos setores industriais, temos uma porcentagem com empresas de carros elétricos, CIO, e com redes de cassinos espalhadas em muitas cidades, inclusive em Vegas, a cidade das apostas. Meu pai
Pedro HernandezAdie e eu ainda permanecemos na cama durante a tarde. Acho que nenhum de nós desejava sair da cama, mas foi preciso. Era necessário voltar para casa ainda hoje. Ela precisa estar na universidade bem cedo e não quero correr o risco de nos perdemos um no outro a ponto de que se atrase. Minha prioridade é ela, mas quero que sua prioridade seja a faculdade. Ao longo desses anos tenho visto ela se dedicar incansavelmente aos estudos. Seus pais, Joseph e Elizabeth, se orgulham dela, assim como seu irmão mais novo, Jackson. Adrielle é diferente de qualquer mulher que já conheci em toda a minha vida, quero que conquiste o que almeja e quero estar ao lado dela quando isso acontecer. — Tenho que ir, mas nos veremos amanhã. — Prometo, enquanto acaricio seu rosto. Adrielle nem ao menos desceu do carro e já está fazendo beicinho, como alguém que não deseja se afastar. É quase como uma criança quando fica sem o doce, embora de inocente, essa mulher não tenha nada.— Terei Anatomia
Adrielle HaleEstou no hospital geral de Los Angeles, em minha sala. Tenho visitado alguns pacientes durante essa manhã. Alguns passaram por cirurgias e precisam ter um acompanhamento estritamente meticuloso, não posso deixar que tenham problemas com acúmulo de coágulos ou bactérias. Gosto de fazer o meu trabalho direito e não quero ter problemas com nenhum paciente ou perder um deles. A porta da minha sala se abre e vejo Ross com um copo de café. Ela é a minha secretária. É amável e atenciosa. — Eu trouxe um café, doutora Williams. Do jeito que gosta. — Diz, sorridente, enquanto coloca o copo sobre a minha mesa. — Obrigada, Ross. — Digo, ao pegar o copo para beber. Sinto a temperatura quente sobre meus dedos, mesmo que haja uma embalagem de proteção ali. Ouço Ross suspirar enquanto se senta na cadeira a minha frente. Ela é um pouco relaxada em alguns dias da semana. Não posso culpá-la, tenho a sobrecarregado já faz dias com novos pacientes. — Há algum compromisso hoje, Ross? — Pe
Pedro Hernandez— Estou tão feliz que esteja em casa. Foram tantos anos, tanto tempo longe de você. O tom da minha mãe revela o quanto sofreu com minha ausência, embora não tenha sido a única. — Sim, foram. Mas estou de volta e Max não vai me tirar daqui outra vez. — Afirmo. Ela me olha, com os olhos marejados. — Você está tão bonito. Um homem forte e adulto. — Sua mão toca suavemente meu rosto coberto pela barba. — Me desculpe por demorar tanto tempo para trazer você de volta, mijo. Esboço um pequeno sorriso, na tentativa de confortá-la. Isso não é culpa dela. O único culpado é Maxwell Hernandez.— Como descobriu? — Ele nos deixou um vídeo explicando o que fez com você. — Seu tom é solene e pesado. — Também deixou algo para você, em um pen-drive. Não quis invadir isso, é assunto de vocês. Mas, quando eu soube onde você estava, enviei Bruno imediatamente. Eu aceno, em concordância.— Mesmo depois de sete anos, eu não consigo entender as razões para ele querer me afastar de Adri
Pedro HernandezA empresa continua a mesma, no mesmo lugar, embora os funcionários tenham mudado. Max nunca permanecia com os mesmos por mais de cinco anos. Tivemos um pequeno imprevisto para entrar, já que os jornalistas pareciam cientes do que estava havendo. Eles cercaram minha mãe como gaviões atrás da caça. Estou feliz por não me reconhecerem, ou seria abatido com enormes questionamentos sobre o meu sumiço. Adrielle também teria um choque ao saber que voltei, assim como Victor, embora eu acredite que sua esposa já tenha contado.O hall ainda continua enorme, com mármores escuros para decorar o piso e as paredes da recepção. Estamos na sede, a empresa matriz, onde é coordenado tudo sobre as outras filiais. Se bem me recordo, alguns andares acima de nós ficam os cassinos e no topo do prédio, a parte administrativa da empresa. O manobrista levou nosso carro enquanto minha mãe, Bruno e eu entravamos. Nós caminhamos em direção a uma das salas de reunião que ficavam no hall de entrada
Adrielle Hale — Você sabia sobre isso? — Minha pergunta é direta. Lyla não desvia o olhar de mim, mas suspira profundamente, entregando-me respostas para minhas dúvidas. — Ele chegou em Los Angeles hoje de manhã. Ótimo, que belos amigos tenho! — Você devia ter me contado! — Como poderia contar algo a você? — Lyla indaga, gesticulando em minha direção. — Não é algo que eu tenha que te contar, isso é com o Pedro. Estamos no hospital. Sofia se sentiu mal durante a leitura do testamento e desmaiou nos braços do estúpido babaca do filho dela. Há dias que a aviso sobre a pressão alta, ela não pode se estressar ou passar por momentos como esse. A leitura do testamento de Max a deixou assim. Ainda estou tentando compreender que ele deixou quase metade dos seus bens para Amanda e seus filhos. Leonard pareceu muito feliz por isso, satisfeito. Não compreendo por quais motivos Max deixaria seus bens para as pessoas que trabalharam com ele, ao invés de entregar tudo a família, mas
Adrielle HaleMeu corpo custa obedecer aos comandos de se virar e caminhar para longe de Pedro, até parece que há um ímã entre nós, que me prende no mesmo ambiente que ele. Consigo girar meus calcanhares e caminhar para fora da sala. Deixo Pedro sozinho, não quero ficar ali. Meus olhos estão começando a marejar. Oh, não. Estou revivendo aquela dor outra vez. A dor de ser abandonada por um homem que eu amava cegamente. Um homem que pensei me amar. Mas, acontece que Pedro só amava a si mesmo. No fim, ele é idêntico ao pai dele. No corredor, noto pessoas familiares. As duas crianças estão contentes, com palitos de picolés nas mãos. Victor caminha atrás deles, com calma. Não sei ao certo o motivo de estarem aqui, mas acredito que Lyla deve ter contado sobre Sofia. Abby é muito apegada a ela. Acho que foi isso que manteve Sofia lucida por todos esses anos, ela quase enlouqueceu pensando que tivesse perdido o filho, Max nem mesmo disse algo sobre isso a ela, ou Pedro, que deveria ter deixa
Pedro HernandezTenho dificuldade para respirar. Sinto que minha respiração está presa em minha garganta, arranhando as paredes com um objeto cortante, como uma faca. Tento absorver mais ar, mas é impossível, estou sufocado. Não consigo falar, ou grita, embora queira muito, para que todos - até o outro lado do oceano - ouçam meu desespero. Desconsolo. Quero socar algo, quebrar algo, mas não faria isso em um hospital, ou acho que enfrentaria uma acusação por destruir patrimônios públicos. Estou tremendo. Adrielle não me dá uma resposta, apenas se mantém em silêncio, como se isso fosse uma resposta. Porra, isso não é uma resposta! Acabo de descobrir que temos uma filha e não sei se isso é algo bom ou não. Não seja tonto, Pedro, é algo ótimo! A única coisa problemática e desagradável nisso é que a minha filha foi criada por outro homem. Estou sentindo minha pressão oscilar, como se eu fosse despencar a qualquer instante. Isso deve ser de família. Adrielle e eu temos uma filha. Meu cor