A noite estava tempestuosa.
Os raios cortavam o céu e os trovões preenchiam os ouvidos de Thais Santos, enquanto ela lia um artigo científico no notebook sentada em sua cama. Estava terminando mais uma pós-graduação e finalizava um trabalho de conclusão.
As luzes começaram a piscar, uma, duas, até que tudo se apagou.
Um súbito arrepio percorreu toda a sua espinha, não se lembrava se havia salvo as atualizações feita no documento.
Respirou fundo. Naquele momento não podia fazer nada a respeito disso. O som do vento balançando as árvores a deixavam ansiosa, além de que não gostava de ficar na escuridão. Lembrou-se de ter guardado a lanterna em algum lugar do quarto.
Ela começou a tatear, na escuridão, até encontrar a gaveta da mesa de cabeceira. Abriu e retirou a sua lanterna. Acendeu. O facho de luz iluminou o quarto à sua frente. Um trovão ressoou, ela se assustou novamente.
De repente ouviu um sinal de metal caindo no piso frio. O som parecia ter vindo da cozinha.
— Que merda!
Esbravejou assustada com o som. Como morava sozinha, precisava verificar o que poderia ser. Tentou se convencer de que era corajosa.Ficou em pé.
Tentou ser otimista, poderia ter sido seu gato que derrubou alguns utensílios no chão. Ele odiava tempestades e sempre ficava muito assustado, igual a ela.
Foi caminhando em direção a cozinha, com a lanterna tentou iluminar o caminho e deixá-la segura, mas falhou.
Bateu o dedo do pé em uma das cadeiras. Praguejou com veemência. Podia sentir a dor como se fosse um choque elétrico percorrendo seu corpo.
Respirou fundo. Ainda precisava achar seu gato. Direcionou a luz em direção ao chão, encontrou as panelas caídas no chão, próximas à pia. Mas nada do gato.
Decidiu se abaixar em direção ao chão. Iluminou uma pequena fresta entre o fogão e a geladeira. Com os bigodes espetados e com o olhar assustado, lá estava seu gato amarelo.
— Greg,venha aqui agora!
O gato a encarou de volta. Ainda estava assustado. Thais esticou os braços e suavemente carregou no colo. Começou a fazer carinho, apesar do medo, o felino apreciava a companhia da sua tutora.
A chuva aumentou ainda mais a intensidade, os trovões ficavam cada vez mais altos, Thais olhou pela janela da cozinha, pelo visto a rua inteira estava sem energia elétrica.
Lembrou-se de Yara, fazia poucos dias que havia retornado da maternidade, será que ela estava segura? Será que tinha lanternas ou velas na casa dela?
Da sua casa não conseguia ver nenhuma luz advinda da casa da vizinha.
Será que o bebê estava bem?
Thais suspirou. Com a lanterna iluminando o caminho, levou Greg até o quarto. Pegou um cobertor e o enrolou como se fosse um neném, ele parecia ter apreciado e o deixou na cama.
A chuva estava intensa, talvez a sua vizinha precisasse de ajuda, pelo que sabia, ela não tinha muito apoio da família. Se lembrava de uma prima e de um amigo que Yara tinha lhe apresentado.
O vento parecia uivar, lembrou-se de Yara reclamando de goteiras. Thais começou a temer o pior, e se a vizinha precisasse de ajuda com o bebê?
Thais estava decidida, precisava ajudar a jovem mãe, pegou um casaco grosso, calçou um chinelo e muniu-se de um guarda-chuva.
Tomou fôlego, saiu pela porta da frente, com a chuva e o vento açoitando o seu corpo. Tentou manter o guarda-chuva no lado correto, mas o vento o virou.
A chuva estava gelada e cada gota que deslizava sobre o corpo, parecia causar arrepios de frio.
Correu desesperadamente em direção a casa de Yara, mesmo que fosse uma distância curta, chegou ensopada no portão da casa.Num impulso, colocou a mão na maçaneta do portão. Para a sua surpresa, estava aberta.
Thais adentrou na casa, chamando pelo nome da vizinha. A porta da sala estava aberta e podia ver Yara de costas para ela, devia estar amamentando Daniel com uma vela iluminando o ambiente.
Ela respirou, estava aliviada.
Yara virou-se e se deparou com a vizinha, com um gesto com a mão a chamou para se juntar com ela na sala.
Thais retirou os chinelos molhados e se sentou na frente dela. Daniel sugava o seio de Yara com força, e nem se importava com os sons da tempestade. A mãe sorria ao alimentar o seu bebê.
Thais notou que Yara parecia cansada, havia olheiras em seu rosto, mas mesmo assim ela estava radiante. A imagem despertava algo nela, se perguntou se a vela que estava iluminando toda a sala ou o que semblante de sua vizinha que causava este efeito.
O encantamento desapareceu quando notou um brilho metálico na mão direita, a aliança. Tinha que se lembrar que cada pessoa tinha o direito de escolher como viver a sua vida, por mais que não concordasse.
Com a tranquilidade na voz, Thais tentou tirar esses pensamentos sem sentido e perguntou:
— Yara, vocês estão bem?
— Está tudo bem...— ela começou a ninar o seu filho com uma canção bem baixinho—...por que veio até aqui? Tá chovendo demais.
Thais estava encantada com a cena, Yara parecia tão forte enquanto alimentava seu bebê sem temer o que acontecia ao seu redor.
Yara ergueu os olhos do filho e os pousou na sua vizinha ensopada e preocupada. Apesar dela estar tremendo de frio, com os cabelos emaranhados e vestida com pijamas surrados, ainda sim, parecia linda. Lembrou-se dos comentários ditos pelo Guilherme e pela Ariadne. Pessoa gentil, inteligente e agora percebeu que era uma mulher corajosa e preocupada. Thais não parecia ser o tipo de pessoa que iria abandonar as outras quando mais precisarem. Talvez fosse o momento de se abrir para as possibilidades, de se relacionar com alguém que fosse um porto seguro.
Os grandes olhos de Thais pareciam preocupados e com semblante envergonhado.
—Yara, eu fiquei com medo de que algo ruim pudesse ter acontecido — ela sussurrou — não sabia que você estava tranquila e amamentando, desculpe…não quis atrapalhar, pensei que precisasse de algo.
Thais estava enrubescendo, parecia uma criança se desculpando.
Yara sorriu, Thais parecia acanhada e constrangida.
— Thais, estamos bem, só estou amamentando Daniel e você não atrapalha em nada— ela garantiu tranquilizando as preocupações da amiga.
Thais apesar de constrangida, estava relutante em ir embora, tinha medo de que algo ruim pudesse acontecer.
— Tive uma ideia— afirmou Yara com entusiasmo— assim que colocar Daniel para dormir, vamos tomar um cafézinho e comer uns biscoitinhos, que tal?
Thais se acomodou um pouco mais no sofá, começou a olhar para o recinto iluminado. A sala era bem simples, com dois pequenos sofás, uma mesinha de centro e uma TV.
— Yara, quando a energia acabou— ela explicou— fiquei com medo de que tivesse algum problema, já que não faço ideia de como cuidar de um bebê e não sei como eles se comportam sem eletricidade.
Yara não pode deixar de rir, apesar da vizinha ser uma profissional da saúde, deu para notar que ela não sabia como cuidar de uma criança.
— Ah, não se preocupe, os bebês da nova geração vêm com bateria recarregável de fábrica— ela ironizou— Daniel tem o modelo avançado.
— Que engraçadinha— Thais respondeu o comentário e sorriu.
Yara abriu um lindo sorriso.
— Depois que Daniel nasceu, me dei conta de que existem inúmeras situações que podem ser prevenidas, como esse apagão, então comecei a me precaver— explicou Yara— mas eu realmente agradeço por ter se preocupado comigo.
Thais se sentiu mais aliviada, estava esperando encontrar a casa mergulhada em um caos, o bebê chorando por conta dos trovões e Yara tendo uma crise de ansiedade. Mas havia se surpreendido ao se deparar com a situação oposta. Ela devia ter adivinhado que Yara era capaz de tomar conta de si mesma e do seu bebê.
Thais se lembrou das vezes que a viu montada na garupa de uma moto Suzuki Savage 650, com um babaca dirigindo, que sempre a xingava e a tratava mal, um relacionamento abusivo em que todos os vizinhos conheciam. Ela já havia chegado a furar escondida os dois pneus da moto uma vez, como uma retaliação a uma das humilhações da vizinha que presenciou.
E agora, lá estava Yara, com uma aparência saudável, os cabelos castanhos iluminados presos em uma trança longa, o rosto suave e ela parecia mais sensual do que antes.
Após Daniel se afastar do bico do peito, ela o ergueu e deu alguns pequenos tapinhas nas costas do garoto até ouvir o som do arroto.
Os olhos das duas se encontraram. Foi naquele momento que algo que Thais desconfiava, mas era incapaz de admitir, ficou claro em sua mente. Estava apaixonada por Yara.
E o pior, era incapaz de pensar em alguma solução para isso, era evidente que Yara deveria ser hétero e agora como uma mãe solo, jamais iria se interessar por ela.
Daniel arrotou e Yara pegou uma pequena flanela clara para limpar ao redor da boca, ela arrumou a posição do bebê em seus braços, esticou um pouco os ombros para trás.
— Thais, em cinco minutos ele estará dormindo, ele já terminou o jantar.
Thais sorriu, claramente Yara tinha um senso de humor. A mãe pegou a vela e caminhou com o bebê em seus braços até o quarto. Colocou no berço e cobriu com uma diminuta coberta o corpinho.
Yara foi até a cozinha para fazer o café. Pegou uma leiteira e encheu com a água da torneira, ligou o fogo do fogão utilizando a chama da vela.
Thais seguiu para a cozinha onde estava a amiga. Ela observou silenciosamente o processo de preparação do café. A fervura da água, a quantidade de pó de café adicionada no coador de papel, as colheres de açúcar despejadas no bule.
Tudo parecia tão familiar. Tudo parecia tão mágico. Mas Thais precisava se certificar que tudo estava realmente bem.
— Ya , como você está se sentindo com tudo que aconteceu?
Ouvir seu apelido causou um sobressalto, desde o nascimento de seu filho, apenas era chamada pelo nome completo.
— Estou bem…— era difícil formar uma frase que pudesse mostrar tudo em que sua vida havia se transformado, o que estava vivendo parecia inexplicável — ...não sei como dizer o quanto estou feliz.
— Está falando a verdade? — Thais perguntou— Eu não consigo te ver muito por conta do trabalho, mas eu posso me colocar no seu lugar, se precisar de ajuda com qualquer coisa, como limpeza na casa, te levar para consultas no pediatra e até se o Leo…
— Leo não está mais na jogada — declarou Yara com firmeza— se ele não quer ser pai, eu não me importo com isso.
A fisionomia de Thais mudou, as sobrancelhas arquearam de surpresa, apenas conseguiu dizer.
— Que bom…
Yara tirou os olhos da preparação de café e os pousou na visitante, talvez pudesse ter sido rude demais, mas não estava nem entendendo sua própria mente e corpo. Após o nascimento, seu corpo estava com os hormônios tumultuados, sentia que ia da tranquilidade para a raiva em frações de segundos. Além de que sentia que existia uma emoção que se aflorava às vezes, não sabia se era tensão sexual ou algo relacionado, mas pensar em um contato mais íntimo com outra pessoa a assustava. Se fosse com um homem, poderia sentir dores, se fosse com uma mulher, não saberia como agir.
— Thais, os biscoitos estão no pote na prateleira atrás de você, pode pegar por favor?
Thais fez o que foi pedido, enquanto Yara colocava uma toalha na mesa e duas canecas. O café já estava pronto.Ambas se sentaram nas cadeiras em torno da mesa.
— Eu sei que não é da minha conta, mas onde está Leonardo ? — Thais perguntou
Aquilo ainda a machucava mas precisava enfrentar o questionamento, tentou parecer alheia a este sentimento ao responder.
— Eu liguei para a mãe dele e ela disse que ele se mudou para outro estado e não me contou qual.
A resposta chocou Thais, então ele era mais canalha do que ela havia pensado.
— Mas ele sabe do bebê?
— Sim.
Enquanto se servia de um biscoito, Yara percebeu que Thais pretendia se embrenhar ainda mais sobre o fim do relacionamento com Leonardo.Não estava disposta a conversar sobre o assunto, nem mesmo pretendia ir atrás dele e exigir seus direitos como mãe.
Para a sua sorte, ouviu um resmungo de Daniel, ficou em pé em segundos, pegou a vela e foi verificar se estava tudo bem.
Quando chegou no quarto, seguiu em direção ao berço. Iluminou a carinha dele com a vela, colocou a mão livre no abdômen dele para verificar se estava respirando. Ele se agitou e resmungou um pouco.
— O que foi meu amorzinho? — A voz de Yara era doce quando se inclinava ainda mais para ver seu filho — Está tudo bem, logo a tempestade vai passar e estamos seguros, a tia Thais está com a gente.
Talvez fosse sua imaginação, mas jurava que viu um sorriso discreto quando disse o nome “Thais”.
— Meu anjinho, será que foi influenciado pelo Tio Gui e pela Tia Ariadne? — ela riu— não pretendo seguir por este caminho com a Tia Thais, ela não faz o meu tipo .
Yara permaneceu mais alguns instantes ao lado do berço, pensou que foi uma grande besteira ter investido tanto dinheiro em um berço e não ter reservado nada para um carrinho de bebê.Lembrou-se da vizinha ensopada que estava em sua cozinha, foi até o armário e tateou até encontrar algo que pudesse ser útil, achou uma toalha, uma calça de moletom e uma blusa, mesmo com a vela, era difícil supor que serviriam nela. Resolveu arriscar.
Depois, ela saiu do quarto na ponta dos pés e seguiu até a cozinha. Thais permanecia sentada olhando fixamente para a sua caneca de café.
— Certo, não quero que fique com essas roupas molhadas — ela disse, gentilmente. — Pegue e pode se trocar onde quiser, eu devia ter te emprestado uma toalha assim que chegou.
Retomou seu lugar na mesa, enquanto Thais foi até a sala para se trocar.
Yara começou a imaginar o que escondia por debaixo daquelas roupas, sempre a via com roupas brancas e que permitiam mais mobilidades, mas sabia que ela fazia bastante exercícios como corridas matinais, lembrou-se até da menção a ir na academia que Thais fez uma vez.Ai, aqueles pensamentos intrusivos tinham que ir embora pela sua própria sanidade mental.
Thais retornou da sala vestida com o que lhe foi dado e com a toalha enrolada na cabeça para secar os cabelos platinados.
— Acho que a chuva diminuiu, agradeço as roupas e o café— disse Thais— preciso descansar, amanhã tem agenda cheia.
— Claro, eu esqueci completamente das coisas — respondeu Yara— mas toma cuidado na hora de voltar para a casa, usa as árvores como abrigo se precisar.
Após retornar a sua casa, Thais foi trocar de roupa e depois procurou o seu gato, encontrou-o deitado parecendo uma bolinha no sofá da sala. Ela pegou um cobertor do quarto e se aconchegou perto dele. Apesar da chuva ter dado uma trégua, o vento congelante ainda açoitava a rua. Foi bom ter ficado próximo da Yara e de Daniel durante o pior momento da tempestade, aquilo tinha garantido um imenso alívio em seu coração. A verdade é que desde que se mudou para o bairro, vivia solitária com seu gato. Sabia que alguns vizinhos a chamavam de a”a velha dos gatos”, embora ela apenas tivesse um.Antes de se mudar, Thais já viveu cinco anos casada com a mulher da sua vida. Alexandra era o seu nome, a garota por quem havia se apaixonado ainda no ensino médio, a garota mais extraordinária de todas havia sido sua primei
Yara despertou pela manhã com os sons metálicos de máquinas cortando alguma coisa. Forçou-se a raciocinar sobre tudo que tinha ocorrido na noite anterior. Daniel ainda dormia na cama ao seu lado.Após chegar na casa de Thais, ela lhe ofereceu a sua própria cama para que pudessem dormir e foi dormir no sofá com o gato.Ela se lembrou da tragédia da noite anterior e imaginou como estaria a sua casa. Com certeza o conserto ficaria uma fortuna, por mais que estivesse recebendo sua licença-maternidade, provavelmente não conseguiria realizar a reforma e lidar com as novas despesas. Ela se sentou na cama, precisava ter um plano. Não podia mais levar a vida como se não houvesse amanhã. Forçou-se a pensar, talvez tivesse algum direito ou garantia para ao menos a
Depois de se despedir do último paciente, Thais tirou o jaleco longo e branco, alongou a coluna que fez alguns estalos, sentiu a tensão muscular na região lombar. Havia atendido muitos pacientes complexos e agora começava a pagar o preço. Ela sabia que se não se cuidasse poderia começar a ter dores na coluna. Mas antes de ir embora, a sala de atendimento precisava ser limpa e arrumada para o dia seguinte, algo que Thais realizava com muito esmero.Estava exausta, sempre se perguntava o por quê lotava tanto agenda, tinha chego num ponto da carreira que poderia se dar ao luxo de ter mais tempo livre para, quem sabe, desenvolver um hobbie. Sempre quis aprender pole dance Yara afastou-se rapidamente, com o rosto avermelhado, conseguia sentir as bochechas queimando como se alguém tivesse jogado brasas em sua pele.Thais empalideceu, por um segundo duvidou de sua sanidade, perguntou se realmente por milésimos de segundos ela havia sido beijada.As duas ficaram se entreolhando, por sorte, Daniel resmungou e Yara ficou aliviada por ter uma desculpa para sair da cozinha.Thais observou enquanto saía e deu um sorrisinho levando uma das mãos aos lábios, estava contente e um pouco envergonhada. Pegou o celular e mandou uma mensagem de áudio sussurrando para Ângelo.— Acho que minha vizinha me beijou.De repente começou a sentir oNegação
Yara retornou rapidamente para o quarto.O coração queria sair pela boca, as mãos tremiam e a boca estava seca.Retirou os fones de ouvido, a imagem da mulher nua no banho havia sido demais para ela, precisava se afastar fisicamente de Thais. quanto mais rápido conseguisse arrumar a casa, mais cedo se afastaria da atração estúpida e sem sentido que não fazia a menor ideia de onde tinha vindo.Sentou-se na cama. Respirou fundo algumas vezes.Após se acalmar, percebeu o quanto estava sendo ridícula ao querer repelir Thais, afinal ela foi a única que não mediu esforços para ajudar. Ela havia enfrentado uma tempestade, entrou nos escombros e lhe deu abrigo, ela havia feito mais por ela do sua própria família. Pr
Guilherme dirigia com calma seu carro prata pelas ruas da cidade, até demais para o gosto de Yara. Talvez o amigo estivesse com medo de dirigir com um bebê a bordo. Mas não tinha outra escolha, não tinha com quem deixá-lo, Ariadne estava trabalhando e outras pessoas da família não queriam nem saber dela, inclusive a mãe dela.Como não tinha carro, não achou que fosse necessário comprar um bebê conforto para transportar Daniel. Olhava a todo o momento pela janela e pelos espelhos retrovisores, estava apreensiva com receio de algum policial multá-los pela falta de segurança.Por sorte, não encontraram nenhum policial ou guarda de trânsito pelo caminho, logo o subúrbio de casas antigas foi dando lugar a pequenos prédios de cinco andares,
Thais entrou em sua clínica, um dia longo e trabalhoso iria se iniciar. O balcão estava um caos. Era uma situação incomum. Para a sua surpresa e descontentamento, havia prontuários acumulados, algumas fichas de evolução soltas e canetas espalhadas.Aquilo era estranho, ela se aproximou e observou por alguns instantes em silêncio, Ângelo parecia uma criança animada que ganhou um brinquedo novo de Natal, fazia poses engraçadas e dancinhas. Ela se deu conta, que talvez fosse o celular.Ângelo não se deu conta da chegada da amiga, estava fascinado com seu novo celular, pela primeira vez teria um decente para tirar fotos e se divertir nas redes sociais. Quando foi tirar mais uma, Thais rapidamente o abraçou e sorriu para conseguir ser capturada na fotografia.
A papelada fazia a cabeça de Yara doer. A prefeitura fornecia o serviço, desde que preenchesse inúmeros formulários e fossem carimbados pelo cartório da cidade. Além disso, havia a possibilidade de ter que pagar uma multa caso não fizesse corretamente toda a burocracia. Não seria tão fácil quanto havia se informado, mas ela não poderia se dar ao luxo de desistir. Daniel era apenas um bebê e precisava de um teto para viver. Após sair do guichê de atendimento segurando o filho, Yara percebeu que poderia começar a dar entrada em alguns protocolos, pelo menos poderia facilitar o trabalho que teria. Guilherme estava perplexo, jamais havia pensado que era tão burocrático, algo que era um direito de uma pessoa em situação de vulnerabilidade, afinal, ela era uma mãe solo sem a única casa que chamava de lar. Yara respirou fundo, a cabeça estava latejando mas não