Yara retornou rapidamente para o quarto.O coração queria sair pela boca, as mãos tremiam e a boca estava seca.
Retirou os fones de ouvido, a imagem da mulher nua no banho havia sido demais para ela, precisava se afastar fisicamente de Thais. quanto mais rápido conseguisse arrumar a casa, mais cedo se afastaria da atração estúpida e sem sentido que não fazia a menor ideia de onde tinha vindo.
Sentou-se na cama. Respirou fundo algumas vezes.
Após se acalmar, percebeu o quanto estava sendo ridícula ao querer repelir Thais, afinal ela foi a única que não mediu esforços para ajudar. Ela havia enfrentado uma tempestade, entrou nos escombros e lhe deu abrigo, ela havia feito mais por ela do sua própria família. Pr
Guilherme dirigia com calma seu carro prata pelas ruas da cidade, até demais para o gosto de Yara. Talvez o amigo estivesse com medo de dirigir com um bebê a bordo. Mas não tinha outra escolha, não tinha com quem deixá-lo, Ariadne estava trabalhando e outras pessoas da família não queriam nem saber dela, inclusive a mãe dela.Como não tinha carro, não achou que fosse necessário comprar um bebê conforto para transportar Daniel. Olhava a todo o momento pela janela e pelos espelhos retrovisores, estava apreensiva com receio de algum policial multá-los pela falta de segurança.Por sorte, não encontraram nenhum policial ou guarda de trânsito pelo caminho, logo o subúrbio de casas antigas foi dando lugar a pequenos prédios de cinco andares,
Thais entrou em sua clínica, um dia longo e trabalhoso iria se iniciar. O balcão estava um caos. Era uma situação incomum. Para a sua surpresa e descontentamento, havia prontuários acumulados, algumas fichas de evolução soltas e canetas espalhadas.Aquilo era estranho, ela se aproximou e observou por alguns instantes em silêncio, Ângelo parecia uma criança animada que ganhou um brinquedo novo de Natal, fazia poses engraçadas e dancinhas. Ela se deu conta, que talvez fosse o celular.Ângelo não se deu conta da chegada da amiga, estava fascinado com seu novo celular, pela primeira vez teria um decente para tirar fotos e se divertir nas redes sociais. Quando foi tirar mais uma, Thais rapidamente o abraçou e sorriu para conseguir ser capturada na fotografia.
A papelada fazia a cabeça de Yara doer. A prefeitura fornecia o serviço, desde que preenchesse inúmeros formulários e fossem carimbados pelo cartório da cidade. Além disso, havia a possibilidade de ter que pagar uma multa caso não fizesse corretamente toda a burocracia. Não seria tão fácil quanto havia se informado, mas ela não poderia se dar ao luxo de desistir. Daniel era apenas um bebê e precisava de um teto para viver. Após sair do guichê de atendimento segurando o filho, Yara percebeu que poderia começar a dar entrada em alguns protocolos, pelo menos poderia facilitar o trabalho que teria. Guilherme estava perplexo, jamais havia pensado que era tão burocrático, algo que era um direito de uma pessoa em situação de vulnerabilidade, afinal, ela era uma mãe solo sem a única casa que chamava de lar. Yara respirou fundo, a cabeça estava latejando mas não
Thais se despediu do último paciente. Suas costas estavam doendo por conta do dia longo de trabalho. O relógio da parede já marcava sete horas da noite. Nem tinha se dado conta do horário, até que o seu estômago roncou. Ela se dirigiu até a recepção e se despediu de Ângelo, que ainda brincava com o celular novo.Pegou o carro no estacionamento para ir embora, quando sentiu um estranho arrepio percorrer a sua espinha. Virou a cabeça para trás, era uma sensação esquisita como se alguém a observasse de longe.A rua parecia deserta. Os postes iluminavam da mesma maneira e nada estava fora do lugar.— Devo estar ficando paranoica — murmurou para si enquanto abria a porta do carro e começou a dir
Yara abria e fechava as mãos embaixo de Daniel, enquanto o segurava no colo para amamentar na sala de estar da casa de Thais.O ambiente aconchegante com as luzes desligadas e o gato dormindo ao lado dela no sofá, havia se tornado o local preferido para a amamentação. Daniel sugava forte e algumas vezes, parecia que ia arrancar uma parte do peito. Ele estava ficando mais pesado, o que era muito bom para um bebê saudável. As bochechas rosadas e os pezinhos minúsculos eram tão fofos, pensou a mãe. Mesmo cansada, não se permitia mover um único músculo para aliviar a tensão.Enquanto beijava as diminutas mãos do bebê, a campainha soou. Ela estranhou, afinal, já era para a amiga ter voltado para casa. Com cuidado, ficou em pé e conti
A tomografia parecia que nunca teria fim, Thais se sentia como uma sardinha em lata jogada dentro de uma máquina de lavar. O barulho interminável fazia seus tímpanos doerem. A equipe cirúrgica já estava se preparando para o caso dela, a perna iria precisar de uma cirurgia de correção da fratura.Quando a tomografia terminou, a equipe de enfermagem a ajudou a transferir do aparelho para a cama hospitalar. Cada respiração gerava dor debaixo das costelas, por mais que administrasse mais analgésicos, a sensação dolorosa persistia.O médico se aproximou da paciente, desta vez com o resultados dos exames, com a cara fechada, expôs secamente o que aconteceu.— Seguinte, teve fratura na sua perna esquerda, ainda hoje vai p
O silêncio assustava Yara, a Capela do hospital parecia um longo corredor estreito e escuro, preenchido com alguns bancos de madeira de cheiro estranho. Ângelo sentado em um dos bancos segurava com cuidado o pequeno Daniel enquanto ela rezava de joelhos.O médico já havia conversado com eles, a situação era grave. Ao que tudo indicava, no fim da cirurgia, Thais havia sofrido um choque anafilático com a medicação que evoluiu para uma parada cardiorrespiratória.“Ela ficou um minuto sem batimentos, agora está na UTI em estado grave” foi o que o cirurgião havia dito enquanto Yara chorava na sala de espera. Martins sugeriu que ela rezasse com Ângelo, enquanto ele iria comprar algo para todos comerem.As l&aacu
Thais sentia o seu corpo pesado. Cada respiração era seguida por uma pontada de dor por debaixo das costelas. A luz forte da UTI incomodava os olhos, o que forçava a manter fechados.Passado três dias incomunicáveis dentro do leito de hospital, a equipe já não parecia mais tão desconhecida.As enfermeiras costumavam ser gentis e até engraçadas, os médicos iam e vinham prescrevendo novas medicações e verificando as consequências. Os fisioterapeutas a ajudavam a manter a musculatura funcionando bem com exercícios.O fixador Ilizarov já não parecia mais tão assustador quanto a primeira vez que tinha visto. Incomodava um pouco