Minha Segunda Chance - livro 2
Minha Segunda Chance - livro 2
Por: KiolaFritiz
PRÓLOGO

Permita que as mudanças aconteçam e que a vida lhe ensine a ser uma pessoa cada dia mais forte.

VEGA DIAZ

SEIS MESES ANTES | ESPANHA/MADRI

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Hoje tenho um grande evento beneficente no clube próximo ao hospital, minha ala médica  está para receber algumas doações que finalmente vão me proporcionar um upgrade no meu setor. 

Preciso de equipamentos de primeira linha para realizar as cirurgias mais complicadas que venho procedendo às cegas por não ter determinados aparelhos. Sou boa no que faço, mas preciso de melhorias, assim não vivo no fio da navalha a cada cirurgia complicada.

 — Merda! Cadê essa bendita? — sai dos meus devaneios para focar no que realmente importa nesse momento.

Estou na correria para encontrar o sapatinho da Emma, esses dias ela anda bem esquecida e para variar não se lembra de onde colocou o sapato novo.

— Mãe! Vamos nos atrasar! Sabe onde está a sapatilha da Emma? — gritei em sinal de socorro, porque preciso chegar no horário. 

— Mamãe, ta aqui, eu achei! — respirei aliviada quando ela veio toda sorridente até mim —, Estava no meu armário.

— Sua esquecida! — apertei seu narizinho perfeito — Vem, deixe-me colocá-la em você.

— Toma. — achei estranho ela não levantar o braço com a sandália.

— Me dá. — pedi esticando minha mão e senti um grande alívio quando conseguiu me entregar.  

Olhei as horas pela milésima vez sabendo que se ficarmos em casa mais 20 minutos chegaremos atrasadas.

— Mãe! — gritei soltando as cordinhas da sapatilha de unicórnio da Emma — Vamos! 

— Calma, Você é igual seu pai Vega, afoita e escandalosa. — revirei os olhos para a frase corriqueira, visto que ela sabe que não gosto dessa comparação — Vou te ajudar, já estou pronta.

Deixei que colocasse a sandália em meu lugar e foquei em terminar de me arrumar. Passei um batom e segui até minha caixinha de jóias para pegar um cordão. 

— Tomara que os Fagundes doem uma boa quantia, preciso de 38 milhões para os novos equipamentos da cárdio. — murmurei sabendo que posso conseguir esse valor.

Ouvi um barulho estranho, ia me virar para ver o que era, porém o grito da minha mãe quase tirou minha alma do corpo: — Emma! — sua voz aflita me fez direcionar minha atenção para elas.

Prendi o ar em meus pulmões quando vi minha filha caída no chão convulsionando.

 — Vega, ela revirou os olhos e agora está assim.

— Vire-a de lado, anda! Mãe. — peguei minha bolsa e fui em busca da minha lanterna clínica. 

Respirei fundo tentando colocar meu papel de mãe de lado e deixei a médica profissional assumir o controle para checar suas pupilas.

A do olho esquerdo está em miose. Respirei fundo e me coloquei de pé.

A médica que estudou anos para ser quem sou, já tem um possível diagnóstico, contudo, a mãe que a carregou por 42 semanas sofridas, devido a um luto sem um último adeus, não quer aceitar que minha menininha esteja com algo tão grave.

 Peguei as chaves do carro, coloquei um agasalho para ela na mochila e aguardei.

— Vamos levá-la ao hospital. — segurei minha mãe quando tentou pegá-la — Vega!

— Deixe-a parar, neste momento não podemos fazer nada. — expliquei admirando os espasmos intensos chacoalhando o pequeno corpo da minha filha — Ela vai parar, aguardarei para ver se terá outro, caso não, seguimos para o hospital.

— Por quê? Ela não está bem, filha! Não gosto de ver minha neta desse jeito. — neguei com a cabeça e tive que segurar suas mãos — VEGA!

— A formada em medicina aqui é quem? — ela piscou os olhos algumas vezes, se dando conta que sei o que estou fazendo — Convulsões acontecem por algum motivo, deixe-a parar que vou proceder como achar melhor, ok? 

Soltei seus braços e fiquei próximo à Emma, contei os minutos que durou a convulsão. Assim que seu corpo parou por completo, chequei as pupilas que estão Anisocóricas.

Emma está despertando e aos poucos foi reconhecendo o lugar. Esperei que seus olhos focassem em mim.

— Mamãe! — sua voz baixa me trouxe um alívio instantâneo.

— Consegue se levantar? — disse que sim com a cabeça — Pega os ursinhos de unicórnio dela, mãe.

Pedi que saísse e não ficasse chorando no meu ouvido. Sorri para Emma e pedi suas mãos para lhe dar apoio, porém a esquerda não chegou até mim. 

Sabia o que estava acontecendo, só não queria verbalizar.

— Quer saber? Deixa que eu te pego! — levantei seu corpo com dificuldade — Nossa, que criança forte, meu Deus! — fiz uma ceninha até ela sorrir.

— Mamãe! — ela gritou quando lhe fiz cócegas e juntas fomos para a cama.

— Você sabe o que acabou de acontecer? — perguntei alisando seu braço esquerdo.

— Não, cadê a vovó? — informei que foi buscar seus ursinhos.

Belisquei seu bracinho com firmeza e ela me olhou feio.

— Ai! Isso doeu. — começou a chorar e isso me trouxe alívio — por que fez isso, mamãe?

— Desculpa. — beijei seu bracinho várias vezes.

— Está doendo! — minha mãe veio com os unicórnios e ela mudou de feição sorrindo largamente — Me dá.

Sua animação voltou com força total. Me afastei um pouco deixando as duas na minha cama brincando e segui para ligar para o Diógenes. 

— Cadê você? Os Fagundes estão loucos para saber em que vão investir e já adianto, vão custear toda a reforma da cardiologia. Depois que operou o coração do Antônio e o trouxe de volta, ele está louco para retribuir. — respirei fundo — Vega?

— Sei que desde quando virou chefe-geral do Hospital não trabalha mais na oncologia…

— Sua mãe está bem? — tentei segurar o choro, mas foi impossível — Alba está bem?

— É a Emma, possível…

— Respira — me interrompeu sabendo que é algo sério —, Vá para o Tavera agora mesmo que estou indo para lá, vou somente explicar aos Fagundes e estarei à sua espera.

— Vou esperar para ver se terá outra convulsão. — ele disse que tudo bem e que vai se adiantar.

Cinco horas depois, minha vida mudou bruscamente. Descobri que minha filha está com Astrocitomas de grau 1. O único problema é que mesmo sendo de crescimento desacelerado, a pessoa que podia realizar essa operação jogou um balde de água fria na minha esperança.

 Diógenes afirmou ser muito perigoso devido à localidade, um mínimo toque fora do lugar pode prejudicar a qualidade de vida da minha filha e declarou que não tem coragem de operá-la, já que a única cura é a remoção.

SEIS MESES DEPOIS

Os meses seguintes foram um verdadeiro tormento, visto que fui atrás dos melhores neuros da Espanha e todos me deram a mesma resposta. 

Nesse período vi minha filha se abatendo cada vez mais, porque não permiti que fosse mais à escola devido às convulsões e às dores de cabeça, tanto eu quanto minha mãe fizemos uma redoma de vidro imaginária envolta dela.

Acabei de chegar no hospital para um plantão de 24h, pois vivo trocando com meu colega de trabalho quando Emma não está bem. 

Coloquei meus pés no dormitório e fui abordada por Diógenes.

— Vega, vem comigo. — não tive como negar e fui arrastada para sala dele — Toma, assine sua demissão.

— O quê? Não, que isso? — meu coração estava batendo em minha garganta e um chiado no meu ouvido esquerdo me anunciava um possível infarto.

— Calma! Você vai trabalhar no UNIVERSITY HOSPITAL MEYER em Florença na Itália. — permiti que meu corpo colidisse contra a cadeira devido ao grande susto — Olha para mim! — estalou os dedos na minha frente — Eu não tenho coragem de operar a Emma, mas o Dr. Mattiazzo sim. 

— Quem? — ainda me recuperando do susto, esperei que me desse explicações.

— Ele vem fazendo sucesso nesses últimos dois anos e meio como o médico das possibilidades. Fizemos faculdade juntos e bom, não sabia da sua fama até um amigo em comum me pedir ajuda. — balancei a mão no ar para que continuasse.

—  Lorenzo, veio me perguntar se tinha algum médico que falasse italiano fluentemente para ocupar a vaga de chefe da cárdio e em troca me mandaria outro, visto que ele vinha tendo problemas com um colega de trabalho. Como o Dr. Lucca é igual a você, digo, um excelente profissional, aceitei a troca, porque sei que fala italiano muito bem, devido ao Eliot. 

A menção do meu falecido marido me fez lacrimejar os olhos. 

— Bom, assine e vá para casa fazer suas malas, está com passagem só de ida para Florença, já que está com seu emprego garantido.

— Você falou da minha situação?

— Não, porém dará tudo certo, o Dr. Dionísio não recusa nenhuma cirurgia por mais difícil que seja, em seu currículo nesse curto período de 28 meses fez mais de 2 mil cirurgias e todas com sinais positivos e 100% de recuperação.

— Obrigada. Vou comprar passagens agora mesmo. — ele me deu o número do meu futuro chefe e me olhou de um jeito estranho.

— Não tive coragem, no entanto, fiz o que pude para não perder a esperança. Prefiro mil vezes que vá para longe de mim do que ter que lidar com outro luto junto contigo — me deu um abraço sincero — Assina que já deixei tudo preparado.

Conduzi como pediu. Após ser oficialmente demitida, segui para esvaziar meu armário. Durante o processo fiz algumas pesquisas de casas para alugar e encontrei uma, não é tão perto do trabalho, mas tem tudo que preciso.

Já fiz algumas viagens para Roma antes de ter a Emma,  por ser 20 horas de carro optei por minha mãe ir dirigindo o meu e eu minha moto. Assim não tenho que vender os dois, somente a casa e o carro dela, mas isso Diógenes pode ver para mim.

Em casa, após contar as novidades, minha mãe correu para fazer as malas, dado que optamos por ir o mais rápido possível. Por mais que tenha quatro dias para chegar em Florença, quero ter tempo de me organizar, poder comprar móveis e abastecer minha despensa.

— Que esse Dionísio não tire de mim essa nova esperança! — murmurei fazendo minhas malas — Deus, por favor… — me ajoelhando para realizar mais uma das milhares preces que tenho feito diariamente — Toca o coração desse homem, ele precisa me ajudar, faça com que me enxergue. 

Passei as horas seguintes idealizando os longos anos de vida da minha filha, entre um plano e outro pedia a Deus para Dionísio não me dar as costas.

No dia seguinte o caminhão da transportadora chegou bem cedo para pegar o que separamos, mesmo não levando móveis nem tudo deu no carro. Assim que o caminhão se foi, seguindo sentido a Florença, com Emma e minha mãe no carro e eu na minha moto.

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