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A vida é feita de ilusões, escolha a sua e divirta-se

Vega Diaz

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Despertei com meu telefone tocando e atendi nervosa achando que era minha mãe.

— Como estão as coisas aí, Vega?

— É sério isso, Diógenes? 3h da manhã? — com meu coração batendo na garganta, exclamei.

 — Desculpa, achei que estava acordada. — me coloquei de pé, visto que estou com meu corpo tremendo — Vou desligar.

Respirei fundo tentando acalmar meus nervos.

— Estou bem! Quer falar comigo, me ligue de manhã, tarde ou de noite, mas de madrugada nunca mais, sabe o que estou passando, tem noção de como fiquei agora? — ele ficou mudo.

Olhei à minha volta e vi Dionísio me analisando enquanto estava abraçado com a Valéria em uma cama ao fundo. De alguma forma isso me deixou incomodada.

— Me desculpa. — me retratei e saí do quarto para não atrapalhar o sono deles.

— Me perdoa, não sabia que ficaria assim. Falei com Lorenzo mais cedo e me disse como são as grades de horários, perguntei por você e comentou que ficou chateada com o Dionísio. — bufei por saber que esses dois ficam fazendo fofoca ao meu respeito — Vou a uma conferência em Roma em um mês ou dois, não lembro ao certo.

— Não se mete nisso, a gente mal se conheceu — compartilhei a verdade —, se ficamos 2 minutos na presença um do outro foi muito — desabafei sincera enquanto me encosto na porta — E outra, eu não fiquei chateada com ele, Lorenzo é um fofoqueiro e ainda fala as coisas errado.

Revirei os olhos pela vergonha que passei, visto não fazer ideia que o carro que ultrapassou era o dele. 

— Se quiser posso conversar com o Dr. Mattiazzo, é só dizer, de certo modo o conheço, já que fizemos faculdade juntos.

— Pode deixar que na hora certa falo com ele. Com relação a vir à Itália, assim que acabar o congresso jantará lá em casa, por enquanto só tenho uma cama bem grande… 

— Ficarei em um hotel, sei que não tem espaço para mim. — sorri da sua vozinha triste — Estou com saudades e o Dr. Lucca, bom… ele não é você! — achei graça dele dizer isso — Sério, estou com muita saudade.

— Também estou com saudades, sabe que é o meu melhor amigo Diógenes, se não fosse você estava perdida quando tudo aconteceu. — escutei-o grunhindo. 

— Tá bom, logo estará cheia de amiguinhos e esquecerá de mim! 

— Para de reclamar, não conheço ninguém aqui e ainda estou tentando me enturmar, preciso fazer amigos. 

— Vai conseguir, sei que vai. — sua voz está estranha, ia questionar quando continuou: — Tem muitos médicos aí?

— Tem! Aqui é um grande hospital escola, minhas novas residentes são bem tranquilas, já gostei muito de uma, não são como as que você me arrumava! — falei em um tom brincalhão — Outra coisa bem legal, Lorenzo tem como chefe de setores somente 3 homens, o resto tudo mulher. 

— Muito bom saber disso, os dormitórios são bons como os daqui?

— Sim, são separados dos residentes, então dar para dormir e não ficar ouvindo as fofocas das suas futuras médicas. — minha voz saiu carregada de cinismo. 

— Se não fossemos amigos diria que está com ciúmes, Vega. — preferi não responder suas brincadeiras.

— Beijos, tenho que dar uma olhada nos meus pacientes e quando chegar em Florença me liga para marcarmos algo, faz tanto tempo que não bebo, preciso relaxar.

— Pode deixar que fico responsável por essa parte. — achei graça da sua animação — Logo as coisas voltam ao normal, afinal, está bem perto do neuro que vai operar a Emma.

—  Talvez sua vinda me dê um momento de lazer, uma vez que estou tão próximo dele. — declarei acreditando fielmente nisso.

— Pode ter certeza que sim. — sorri com sua animação — Beijos, se cuida.

— Você também, beijos — finalizei e fui monitorar meus pacientes. 

Às 4h da manhã chegou um atendimento e fui às pressas para a cirurgia. Uma briga de família resultou em três atendimentos, um para mim, a Dra. Giordanno e o Dr. Mattiazzo. 

O meu chegou com uma facada e quando entrei na sala cirúrgica o objeto ainda estava alojado em seu peito. Foram necessárias 3h para remover a mesma sem danificar mais do que o inevitável. Após a remoção foram mais 3h para reparar o estrago. 

Quando saí da sala estava tão exausta que tropecei em meus próprios pé, caí de cara no chão.

  — Caramba, Vega! — murmurei para mim mesma e tomei um susto com os braços do Dionísio me suspendendo do chão — Ai!

Meu coração acelerou com a aproximação e reconheci o perfume, é o mesmo da cama. 

— Se machucou? — super envergonhada, disse que não — Vem, vamos tomar um café.

Descartei meu avental cirúrgico e segui junto a ele que estava com uma voz bem sulista comparada a de hoje cedo. 

— Puro ou pingado? — disse puro e sem açúcar — Senta aí, vou pegar para gente.

— Obrigada. — respirei fundo achando que agora seria o momento certo para conversar com ele.

Estralei meu pescoço e fechei os olhos para recordar do perfume e das mãos fortes me tirando do chão. 

Nota mental: que pegada!

Não deveria pensar dessa forma! Dionísio é um idiota e não posso me sentir atraída por ele, caramba! Será o médico da minha filha! 

Estava divagando quando escutei grunhido. Abri meus olhos e já tinha voltado. Me deu o café e agradeci com um sorriso, visto que preciso muito de cafeína.

— Poderíamos conversar um pouco? — concordei levando o café forte aos lábios e como ficou de pé convidei a se sentar — Desculpa se fui rude.

— Tudo bem. Também lhe devo desculpas devido ao ocorrido de ontem. — ele tombou a cabeça para o lado como se não entendesse — A moto.

— Ah! Deveria tomar cuidado. — disse que faria isso — As ruas estreitas de Florença podem ser um grande perigo.

— Você tem razão, nunca fui tão imprudente. — fui sincera.

Sentindo meu pescoço doer devido ao peso do meu cabelo preso em um coque e os soltei para aliviar o latejar. 

— Pode deixar, serei mais prudente, prometo.

—  Muito obrigado. Bom, espero que possamos trabalhar em harmonia, porque não me dava bem com o Lucca e por ser mulher acho que não teremos esse problema.

— O que você quer dizer com isso? — me senti ofendida — Poderia me explicar?

— Calma, não há nenhum machismo rolando aqui, ok? — olhei para ele confusa — Lucca era uma pedra do sapato da Valéria, vivia chamando-a para sair.

Essa informação me deixou bem desconfortável e me levantei desconhecendo meus ciúmes.

— Tenho que ir, estou muito cansada. — tentei sair, porém, segurou minha mão e lá está aquele calor novamente.

— Termine seu café, é falta de educação sair da mesa com alguém fazendo sua refeição, doutora. — respirei exageradamente e voltei a me sentar — Obrigado.

Lhe dei um aceno com a cabeça enquanto bebo meu café.

— Que horas são? — questionei e informou ser quase 11:00 — Tenho que ir, já era para estar em casa. 

— Por quê? Seu marido brigará contigo?  — o ignorei e sai apressada sentido ao dormitório.

Cansada e como ainda não conheço bem o lugar, levei um tempinho até achar o mesmo. Quando entrei nem troquei de roupa, peguei meu capacete e minha mochila, quando me virei para sair fiquei tão próxima do Dionísio que deu para sentir seu perfume novamente. 

— Com licença! — pedi e aquele sorriso lindo dividiu seus lábios novamente antes de me deixar passar. 

Mesmo cansada e com as vistas ardendo de sono, fui com cuidado para casa e quando cheguei Emma estava sentada na porta com os olhos vermelhos.

— Ei! O que aconteceu? — coloquei a mochila no chão e fui para perto dela — MÃE! — gritei, para ter mais explicações.

—  Viu! Ela não te abandonou, Emma. — olhei assustada para minha filha — Você não chegou no horário combinado, tentei explicar que poderia ter tido uma cirurgia de emergência, contudo, ela pensou ter nos abandonado.

— Oh! Filha, porque faria isso? — ela me apertou tão forte que comecei a chorar devido ao seu desespero — Nunca faria isso contigo, somos só nós três, um elo forte que nunca vai se quebrar.

— Porque estou doente, sei que mudou nossas vidas por causa da minha cabeça, mamãe, eu achei que… — seu soluço alto me deixou preocupada.

— Olha para mim — levantei seu rostinho, com seus olhos bem vermelhos, indicando um choro extenso — Nunca vou te abandonar, tive uma cirurgia de emergência só isso e pelo que percebi tem bastante atendimento durante a madrugada. 

Ela concordou e mesmo cansada, fiz de tudo para dar a ela o máximo de atenção possível, pois queria eliminar da sua cabeça a hipótese de que a abandone algum dia.

Depois de um banho longo, me deitei com ela no sofá para ver o desenho dos unicórnios e acabei pegando no sono.

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