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DIONÍSIO MATTIAZZO

CASA DO THOMÁS | 06:40

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Estamos nas esteiras, eu correndo e Thom conduzindo sua caminhada.

— Como anda as coisas com Cibele?

— Na mesma, com ela a cada dia que passa criando uma intimidade absurda comigo. — quase caí da esteira quando parei para admirar seu rosto — Cuidado! 

— Isso significa que talvez também se sinta atraída por você. — comuniquei voltando ao ritmo de antes — Já pensou nessa hipótese?

— Já, só que não vou me declarar, Dionísio!

— Não precisa, do jeito que fala dela, deve deduzir que também está afim, Thom. — diminui a velocidade para caminhar como ele.

— Talvez! — fiquei feliz que concordou comigo — No nosso primeiro dia trabalhando juntos fui pego admirando-a por meu pai, Gil e Antonella.

— Tierry deve ter criado várias suposições. Se dê essa chance meu amigo.

— Não dá! — senti tristeza em suas palavras — Contei que sou infértil, deixei que vissem meu corpo e minha prótese… a feição deles horrorizadas só deixou claro que Cibele também vai achar, então não vou me declarar.

Parabéns, Thom! Você finalmente deixou sua família entrar na sua bolha, estou muito feliz por isso. Agora com relação à Cibele, não a julgue antes do tempo. — elogiei e ganhei um sorriso genuíno de agradecimento.

Depois de todo ocorrido na vida do Thomás e de como acabamos virando grandes amigos, Tierry sempre que pode me agradece por ter salvo a vida do seu filho. 

Ver que meu amigo está se abrindo para sua família depois de quase 3 anos, isso é maravilhoso.

— Seu pai deve está muito feliz com a chegada da Cibele em sua vida. 

— Claro que sim, até abençoou nosso relacionamento — dessa vez não teve jeito e acabei caindo — Porra! Você tomou café hoje, Dionísio?

Perguntou me tirando do chão. Contei que meu desequilíbrio é por causa dele e começamos a rir do puta tombo que tomei. Passamos a manhã e boa parte da tarde em sua casa, fiquei sabendo que até dormiram juntos e que não me contou para não ter mais um torcendo para ele se declarar para Cibele. 

As horas passaram tão rápido que quando vi já estava na hora de ir trabalhar.

— Tenho que ir! — comuniquei seguindo para a porta — Hoje tenho uma cirurgia complicada, talvez dure 6h.

— Bom trabalho, vou descansar e mais tarde irei pro meu pai. — nos despedimos, e segui para casa.

Estava chegando na quadra do hospital quando uma moto surgiu do nada sem sequer ligar a seta para entrar a direita e por pouco não bati na traseira dela.

 — Porra! Esses motoqueiros delinquentes! — bradei socando o volante  — Depois batem de cara com alguma coisa maior que seu ego inflado de donos da rua e dão entrada às pressas no hospital para salvarmos suas vidas, mesmo que eles não estejam nem aí para elas.

Entrei na mesma rua, visto que gosto do estacionamento dos fundos, por não ser lotado como o da entrada principal, sem falar que tenho minha vaga garantida ao lado da entrada. 

Assim que entrei avistei a moto que me fechou estacionada bem na minha vaga.

— Não acredito nisso! — exclamei sabendo que a delinquente e a nova chefe da cárdio — Calma, respira. 

Pedi a mim mesmo para não perder a pouca paciência que tenho. Peguei minha mochila e como sei que minhas residentes estão me esperando, dei a volta, para não descontar meu estresse com quem não merece.

Segui pela lateral e mal entrei, já avistei os cabelos de fogo da Valéria passeando pela ala de emergência, tentei me esconder, mas me achou.

— Boa tarde! — me cumprimentou  — Dio, estou no mesmo plantão que você a semana toda.

— Quer carona? — disse que sim — Ida e vinda?

— Se não for incomodar. 

— Tudo bem, passo na sua casa para te buscar e você sabe que não gosto de atrasos. Bom, depois a gente conversa, visitarei meus pacientes e tenho que me preparar para uma longa cirurgia.  

 — Ok, te vejo no dormitório. — me deu um selinho e segui pelo caminho que veio. 

— Ela não para com essa mania! É por isso que fazem convites de ménage para a gente, o pessoal deve achar que tenho alguma coisa com Valéria, não é possível. — neguei com a cabeça para essas atitudes. 

De modo a me adiantar, fui direto para o dormitório. Com calma troquei de roupa e ao finalizar segui para o banheiro. Parei em frente ao espelho e passei a mão na minha barba que está imensa.  

— Bom, quando tiver tempo e vontade vou apará-la. 

Olhei as horas e vou aproveitar que vim cedo para escolher qual das residentes vai entrar na sala cirúrgica comigo hoje, porque sábado é o único dia que não tem grade. 

— Vamos para mais um plantão! 

Estava saindo quando bati literalmente de frente com alguém.

— Desculpa. — me retratei, já que não estava olhando para frente.

— Aí está você! — ouvi a voz do Lorenzo e direcionei minha atenção para ele — Boa tarde, essa aqui é a Doutora Diaz, nova chefe da cárdio.

— Sei quem é, na verdade, meu carro quase que beijou a traseira da moto dela a minutos atrás, podendo causar um grave acidente, mas como nada aconteceu é um prazer te conhecer. — ofereci minha mão e ela não apertou — Bom, já que não aceitou minha cordialidade, com licença.

— Dionísio! — Lorenzo me gritou quando já estava virando no corredor.

— Deixe-me trabalhar!  — respondi e fui para a porta dos fundos atrás das minhas residentes 

Agora vai querer falar no meu ouvido até dizer chega!

Avistei as quatro conversando, Penélope como sempre falta pouco gritar, para chamar atenção.

— Boa tarde!

Tomaram um susto comigo e fiquei esperando se aproximarem. 

— Estávamos à sua espera.  — foi Penélope a comunicar.

Notei sua maquiagem bem exagerada, Contudo, preferi não mencionar, já que adora chamar atenção.

— Meus pacientes, como estão? — questionei olhando as 4 à minha frente — E o pós-operatório de ontem? 

— A paciente Dolores passa bem, sem nenhuma complicação no quadro e já realizei as checagens necessárias como nos instruiu. Toquei cada parte do seu lado esquerdo e me confirmou que estava tudo bem, reclamou de dor de cabeça e pedi ao Dr. Sebastian que ainda estava no plantão para me dizer qual era a medicação e junto a enfermeira Megan acompanhei tudo de perto. — a residente Amélia foi a única a se pronunciar.

— E vocês? — as três que faltavam não me disseram nada — Tenho 6 pacientes que precisam de monitoramento e só a Amélia quem fez seu trabalho?

— Cheguei no horário, meu carro quebrou…

— Não quero saber de coisas externas, justificativa como essa, vocês dão ao RH. Comigo só explicações dos meus pacientes! Alguém aqui checou o quadro de cirurgia e pode me explicar se tenho alguma para hoje? — Amélia levantou o dedo — Você não, quero saber se elas sabem.

— Dionísio! — a voz do Lorenzo me fez revirar os olhos antes de direcionar minha atenção a ele — O que eu te pedi?

— Não lembro, no presente momento estou tentando dar o incentivo certo para minhas residentes fazerem o trabalho delas, porque só aprende quem exerce seu dever, correto?

— Sim, mas…

— Faço meu trabalho certinho? — disse que sim — Chego no horário?

— Sim, na verdade, sempre chega antes, mas…

— Então é o que importa, não é? Um médico dedicado que cuida e faz de tudo para manter a vida dos seus pacientes fora de perigo, não é isso?

— Sim, mas…

— Ouviram o chefe, né? — em um lindo coral disseram que sim — Vamos trabalhar, uma vez que tempo é vida. Boa tarde, até mais. 

Dei as costas para Lorenzo que grunhiu por ser enrolado. Segui para meu andar e dei de cara com a Suh. 

— Boa tarde! Meninas e doutor. — pedi que elas fossem checar o quarto 56 e segurei Amélia comigo. 

— Suh, você vai ao aniversário de casamento dos nossos pais esse ano? — disse que sim — Preciso de ajuda com o presente.

 — Já comprei, está lá em casa. — respirei aliviado — Esteve com o Thom essa manhã?

— Nem começa, sabe que ele não quer sair contigo! — afirmei, ela revirou os olhos e saiu andando.

Estava distraído observando minha irmã sumir nos corredores quando Amélia me trouxe a realidade.

— Desculpa, mas tenho que te avisar — pedi que continuasse —, o senhor tem uma remoção de um glioblastoma na Claudia Cortez, atualmente está com 67 anos, pesando…

— Eu sei e você vai me auxiliar. — fiquei contente, pois sua felicidade é nítida — se prepara, farei algumas perguntas.

— Tudo bem, obrigada pela oportunidade. — agradeceu e convoquei-a para encontrá-la.

Durante as visitas fui anotando o comportamento de cada uma e deixei que interagissem com os pacientes, próximo à cirurgia fui informado que a paciente Cortez recebeu a visita de um dos seus filhos que não via a anos e após conversar com ele fechou os olhos sentindo uma dor aguda na cabeça levando a uma convulsão, seguido de parada respiratória. 

Segui para prestar condolências aos parentes e tentar amenizar o sofrimento da família.

A conversa foi breve e como não tinha muito o que fazer fui me deitar um pouco. Estava cochilando quando alguém entrou no cômodo. Fiquei quieto tentando buscar meu sono, até sentir as mãos da Valeira me abraçando.

— Não é possível! — reclamei e sua risada me fez rir — Tem 16 camas aqui nesse dormitório, mais 14 no dos residentes e você quer dormir logo comigo!

— Dio, não consigo dormir sozinha e você é meu melhor amigo, mesmo que o Lucca tenha saído e não vai mais me atormentar para sair com ele, me acostumei a dormir contigo. — fiquei de frente para ela, que me abraçou e juntos pegamos no sono. 

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