Marrento
No dia seguinte...
Acordo com um dia lindo lá fora e não acredito que dormi um dia inteiro! Isso nunca aconteceu comigo antes. Com um fungado alto saio da cama me sentindo renovado e entro no banheiro da suíte, fitando o cômodo grande e sofisticado. Observo uma banheira quadrada e grande o bastante para quatro pessoas e me pergunto no que Danilo estava pensando quando pôs isso aqui? Sorrio amplamente com alguns pensamentos que povoam a minha cabeça, mas logo esse sorriso morre quando me lembro de que não quero mais isso para mim. Quero me manter longe do submundo do crime, dos seus poderes atrativos, da sua sedução e dos seus falsos amores. Respiro fundo trincando o maxilar. Eu quero ser outro homem e aproveitar ao máximo a minha segunda oportunidade. Me tornarei um megaempresário, terei a vida de rei que os meus pais queriam para mim e não a que o Cicatriz me ensinou a conquistar. Puxo mais uma respiração dessa vez me olhando no enorme espelho acima da bancada de vidro temperado. Tiro o curativo do meu ombro e depois do meu peito, e encaro os ferimentos através do reflexo. Eles estão quase sarados, os médicos fizeram um ótimo trabalho aqui!
Tomo um banho demorado e quando saio do banheiro ponho uma roupa de corrida, e saio empolgado para o meu primeiro dia de recomeço. Sinto-me revigorado, um novo homem com novos hábitos. Quero correr, praticar exercícios, ter um horário para ir às empresas, conhecer os meus funcionários e quem sabe encontrar um novo amor… não! Não quero um novo amor. Amar machuca mais do que levar um tiro no peito. Ainda tenho as lembranças nítidas do seu abandono, lembro-me de suas palavras dizendo que não me amava. Eu não preciso do amor, estou muito bem assim. Abro as portas largas da saída da casa e abraço o lindo dia que começa a nascer. Sorrio para o céu claro e sem nuvens, desço os três degraus na frente da enorme casa e corro pela passarela parando bruscamente quando um homem vestindo um terno negro e muito bem armado para bem na minha frente.
— Bom dia, senhor Fox, está de saída? — Fito o rapaz com confusão e encaro a arma na lateral do seu corpo. — Ah, me desculpe! Eu sou o Jordan e sou o seu segurança pessoal. Se eu soubesse que gostava correr teria me preparado para acompanhá-lo.
Porra, seguranças? Sério, Danilo? Penso contrariado.
— Não precisa me acompanhar, Jordan. Não vejo risco algum em dar uma corrida por aí — ralho tentando me afastar do homem.
— Me desculpe, senhor Fox, mas o Danilo foi taxativo. Ele não quer o senhor saindo desamparado. — Ele insiste e eu abro um sorriso debochado. Desamparado? Que conversa é essa?
— Bom, eu vou correr, Jordan e você ficará bem aqui! — rosno com um tom firme, deixando o homem contrariado para trás.
— Eu posso ser despedido por isso, senhor! — Ele ralha me acompanhando e eu paro respirando fundo.
— Diga-me, rapaz, quem é o chefe dessa porra toda? — Ele balbucia.
— É… o senhor!
— Então fique tranquilo porque não haverá demissões. Agora me deixe ir! — Ele começa a tirar a arma da lateral e eu fico em alerta. Que merda ele pensa que vai fazer?
— Leve-a consigo, senhor, pode precisar. — Encaro o objeto prateado por alguns instantes. Não! Prometi para mim mesmo que nunca mais pegaria em uma arma outra vez. Engulo em seco e volto a olhá-lo nos olhos.
— Melhor não, Jordan!
— É isso, ou terá que esperar eu ficar pronto para segui-lo, senhor. — Engulo em seco e mesmo contra a minha vontade seguro a Glock em minhas mãos e a levo a minha cintura. Contrariado, começo a correr pelas ruas de Gramados. Sim, escolhi esse lugar por sua beleza natural e porque ele foge completamente da minha antiga realidade no Rio de Janeiro. Ainda é muito cedo e as ruas estão quase desertas. E enquanto corro absorvo o perfume suave que vem das flores dos campos que tem por aqui. Minutos depois, entro em uma trilha de um parque de árvores longas e adentro uma mata um tanto densa nas margens. O contato com a natureza é a melhor parte do meu prêmio de sobrevivência.
Não tenho noção do tempo que corri ou do quão longe estou de casa e quando os meus pulmões, e pernas começam a protestar eu finalmente me permito parar, olho para trás e encontro apenas uma trilha vazia ladeada de matos e de árvores. Puxo uma respiração pesada e ofegante, e penso em voltar, porém, um som estrangulado me faz parar. É um choro, seguido de um gemido feminino. Será que ela entrou na mata e de alguma forma se machucou? Solto mais uma respiração profunda e resolvo seguir esse som afastando-me da trilha e quando me aproximo um pouco mais escuto outro som. Parece que alguém está cavando o chão. Cauteloso, paro atrás de uma árvore de tronco grosso e uma garota amordaçada, com as mãos atrás do seu corpo entra no meu campo de visão. Droga, ela está de joelhos no chão de folhas secas e mesmo amordaçada implora por sua vida. Mais afastado dali tem um homem cavando um buraco e outro homem está ao seu lado apontando uma arma para a sua cabeça. Meu coração b**e forte demais, tão forte que é possível ouvir os seus escândalos dentro dos meus ouvidos. Volto a engolir em seco. É uma queima de arquivo, ou uma traição? Me pergunto. Não importa, Alex! Isso não tem nada a ver com você! Repreendo-me. Saia daqui como se nada tivesse acontecido. Você não vive mais nesse mundo, lembra? Aconselho-me, respiro fundo e dou meia volta. Preciso voltar para a trilha. Penso, Contudo, paro de andar quando a escuto implorar por sua vida outra vez. Fecho os meus olhos bem apertados e penso em voltar.
— Não! Não! Não! Não! Por favor! — Ela pede desesperadamente e o som sai abafado por conta da mordaça. Agoniado, fecho as minhas mãos em punho e hesito. É só dar as costas e sair daqui, Alex. É bem fácil! — Meu subconsciente diz e me forço a andar na direção da saída.
— Sinto muito linda! O Marrony mandou avisar que não é nada pessoal, Fabi, mas você viu o que não devia e precisa desaparecer. — Uma voz áspera chega a me causar um arrepio. Lembro-me do meu pai, dos tiros, do seu sangue se derramando. Eu não pude protegê-los, não pude salvá-los e posso deixar mais um inocente morrer. Penso e puto da vida comigo mesmo volto na direção dos três, tiro a arma do cós da minha calça e encaro os homens alheios a minha presença.
— Bom dia, senhores! — falo os alertando da minha presença e assustado um deles aponta a arma para mim. Dois contra um é covardia! Penso sentindo a costumeira adrenalina percorrer as minhas veias. Ágil, atiro no homem que está segurando a pá e o tiro certeiro perfura o seu crânio. Extasiado o observo cair na própria cova. O outro larga a arma e ergue as mãos em redenção assim que aponto a pistola em sua direção.
— Quem é você? — Ele pergunta nervoso.
— Digamos que sou o anjo salvador da Fabi e o demônio exterminador do Marrony — ralho e aperto o gatilho. Mais um tiro certeiro apaga o outro cara e devolvo a arma ao cós da minha calça. Desamarro a garota em seguida e a ajudo a se levantar, e inesperadamente ela me abraça e começa a chorar. Sem saber o que fazer fico parado ali apenas sentindo o seu corpo trêmulo junto ao meu. Eu não retribuo o seu gesto, simplesmente não consigo fazer isso e ela percebe a minha indiferença. — Está livre agora, garota. Vá para casa — digo com frieza assim que ela se afasta. Contudo, os seus olhos escuros e molhados não escondem o medo, e pavor que sente. E merda, eles chegam a penetrar a minha alma!
— Se eu voltar, ele vai me matar! — sussurra apavorada e inquieto-me com o som da voz doce e arrastada.
— Olha, eu te libertei. O que mais você quer que eu faça?
— É que... eu não tenho onde me esconder. Eu... não tenho para onde ir — suplica e percebo o quanto ela está nervosa. Aaaaah, drogaaaa! Rosno internamente.
— Tudo bem! Eu te levo para minha casa, mas só enquanto encontramos um lugar pra você ficar — rosno com impaciência e saímos dali quanto antes.
MarrentoAlguns chamariam isso de sorte, ou um acaso, quem sabe de destino. Mas eu chamaria de azar. Justo quando decido sair do meu lado mais obscuro isso me acontece? Mas que merda! Era só ter dado meia volta, Alex, meia volta e você estaria livre! Agora estou aqui sentado no sofá da minha sala e olhando para uma garota assustada que não para de andar de um lado para o outro do cômodo, enquanto olha para cada detalhe da minha decoração. Sinto que a minha escuridão só aumentou com a atitude de hoje. Ela está tentando me sufocar, me oprimir e me dominar outra vez. Não, eu não posso me permitir viver nessa escuridão outra vez. Eu não quero voltar pra lá nunca mais! Sim, estou apavorado, estou com medo e tão assustado quanto aquela garota desconhecida no meio da minha sala. Por que eu não fiquei na minha cama hoje? Por que eu tinha que dar uma de senhor saúde e sair de casa? Eu devia ter esperado pelo Jordan, ele jamais permitiria que eu fizesse essa merda. Respiro fundo algumas vezes.
Marrento— Sim, senhor! O Jordan irá levá-lo para a empresa e ficará lhe aguardando até a hora que precisar voltar — informa prontamente. — Ótimo! — rosno e caminho para a porta.— Aqui, Senhor! — Ele diz me fazendo parar e encaro a pasta de papel grosso estendida em minha direção.— O que é isso?— São alguns documentos que precisa ler no caminho. O senhor terá uma reunião de início com os funcionários. É algo que precisa ser feito, senhor! — bufo.— Eu preciso de uma secretária que me ajude a organizar essas coisas — retruco.— Sim, Senhor! Vou providenciar uma.— Faça isso, Danilo! — digo e saio de casa.***Nunca pensei que vida de empresário fosse para mim. Nem mesmo no submundo cheguei a ser dono de algo. Contudo, estou gostando dessa sensação, mas por outro lado estou a horas trancado no escritório e perdido em meus próprios pensamentos. Eles estão preenchidos com uma única imagem: Jasmine, quando eu deveria estar atento a reunião com os sócios executivos da minha empresa. Pen
MarrentoÉ quase meia-noite e ainda estou acordado, trabalhando com afinco no meu Macbook, avaliando algumas propostas na minha caixa de e-mails e ainda preciso analisar alguns documentos para o dia seguinte. Confesso que estou começando a gostar dessa minha vida de empresário. Ela mantém a minha mente ocupada por muito tempo e não sobra espaço para lamentar o meu passado, e quando termino, o cansaço cobra o seu preço e eu sempre durmo como uma pedra até o dia seguinte. Estranhamente o meu antigo celular começa a tocar dentro de uma das gavetas do criado mudo e curioso o pego para olhar o número desconhecido, e faço isso por algum tempo. Penso em ignorar essa ligação, e trinco o maxilar me perguntando por que mantenho esse guardo esse maldito aparelho comigo. Essa foi única coisa que restou do meu passado obscuro. Nesse minúsculo chip tem centenas de contatos de provedores do melhor material que o submundo pode oferecer, sem falar nos milhares de nomes de compradores, viciados no pó e
MarrentoUma semana…Tenho fome, muita fome e sede também, mas não quero pedir nada para ele. Me sinto fraco e o calor do galpão é quase insuportável. Quero a minha mãe, quero o meu pai e tenho vontade de chorar. Por que eles não me matam logo?— Como ele está hoje? — Cicatriz pergunta adentrando o local sujo e semiescuro.— Ainda não cedeu, Cicatriz. O garoto é valente!— Ele é um idiota, isso sim! Não vai me vencer e sabe disso.— O que quer que eu faça?— Desamarre-o, dê comida e água, e depois leve-o para o topo — ordenou e saiu em seguida. O homem mal-encarado me olhou com um sorriso maldoso e debochado. Não sei o que significa ir para o topo, mas sinto que nada de bom vem por aí. Ele põe um pedaço de pão e um copo de leite na minha frente e a visão chega a me dar água na boca. Como tudo feito um animal faminto sem ao menos lavar as minhas mãos e sem nenhuma educação como me ensinaram, a final já faz dois dias que não como nada. E quando termino sou forçado a sair do galpão. A l
MarrentoCom certeza ele não faria. Penso me forçando a parar a corrida porque realmente está difícil de respirar. Então me sento em um banco de concreto e imediatamente sinto a minha cabeça girar em círculos. Agacho-me e tento recobrar o meu fôlego gradualmente. Isso é o inferno. Ele está morto, porra e mesmo assim eu não consigo viver! Que grande filho da puta! Até quando vai me perseguir? Até quando pretende me assombrar? Meneio a cabeça fazendo não e, agitado sacudo os cabelos molhados de suor. Você não tem mais poder sobre mim, seu desgraçado! Rosno mentalmente e ergo a cabeça para encarar o céu já claro. Preciso voltar para casa. Penso enquanto aguardo a minha respiração volta ao normal. Minutos depois, resolvo voltar todo o trajeto andando e levo um pouco mais de uma hora para chegar em casa. Assim que entro vou direto para o meu quarto, tomo um banho demorado e finalmente sinto o meu corpo relaxar.— Bom dia, senhor Alex! — Fabiana fala adentrando o escritório da minha casa. T
MarrentoBonita, dedicada, determinada e levemente selvagem. Essa é a imagem que eu tenho da minha assistente pessoal. Contudo, é como se ela estivesse em todo o lugar dessa casa e ao mesmo tempo, sempre atenta a tudo. Pela manhã encontro sempre a minha agenda atualizada. Eventos, lembretes de reuniões, horários de almoço comerciais, tudo sincronizado com as atividades do escritório, pois está sempre em contato com a minha secretária na empresa. Por esse motivo, acabo descobrindo que nem sempre preciso estar lá realmente e que posso resolver algumas coisas aqui de casa mesmo. Hoje é sexta-feira e eu só tenho uma reunião na parte da tarde. De alguma forma isso não está me incomodando, pelo contrário, me sinto leve. Me pergunto se os meus demônios resolveram me dá uma trégua? Eu realmente espero que sim. Vou até à cozinha o único cômodo da casa onde eu sei que posso encontrar as únicas mulheres que preenchem o meu dia e com um sorriso largo adentro saudando-as com um bom dia. Eu sei, pa
MarrentoJá estamos na metade da dança quando resolvo erguer a minha cabeça para fitar seus olhos escuros e imediatamente arrebatado por eles. Fabiana tem uma beleza singular, que prende e que me cativa, e sem perceber me inclino fitando os seus lábios até enfim, tocá-los com os meus. Um toque, apenas um leve toque e parece tudo girou, ficando de ponta cabeça. Deus, o que estou fazendo? Me pergunto no mesmo instante que aprofundo um pouco o beijo. Eu deveria recuar, me afastar dela, mas isso é... tão bom! Penso, apertando ainda mais a sua cintura e aprofundo ainda mais o nosso beijo. Meu coração dispara enlouquecido quando sinto o seu sabor no meu paladar. E droga, a sua boca é tão macia e... tão doce! Fabiana está levemente ofegante. Contudo, ela para o beijo bruscamente, fazendo-me encaro os olhos assustados. Ela engole em seco e para a dança. Na verdade, é como se tudo estivesse realmente parado agora e apenas os seus olhos me fitam em um julgamento brutal. O que fiz e errado agora
Marrento— Garçom, mais uma por favor! — peço sentindo a minha voz enrolar.— Pra você já chega, meu jovem, está na hora de ir para casa. — Rio debochado. Sério? Ele está ditando a porra do meu tempo?— Eu estou pagando, caralho e quero mais uma bebida! — rosno irritado. Levanto-me com dificuldade do banco alto e encaro o homem de perto. Ele faz um gesto com o olhar para os seguranças em pé na porta e segundos depois estou sendo arrastado para fora do estabelecimento, e jogado como o lixo que sou na calçada. Solto alguns xingamentos e me levanto cambaleante. E mesmo sentindo a minha cabeça girar, subo na moto e logo escuto o ronco do motor. Destino. Uma vez me falaram sobre ele. É algo predestinado. Você nasceu para aquilo e não tem como escapar dele. Eu nasci para ser um homem mal, para trazer o medo e espalhar o terror. A final, eu sou o Marrento a porra de um delinquente. Sou e sempre serei a porra de um traficante e um assassino. Não importa a droga do carro luxuoso na minha garag