4

Marrento

No dia seguinte...

Acordo com um dia lindo lá fora e não acredito que dormi um dia inteiro! Isso nunca aconteceu comigo antes. Com um fungado alto saio da cama me sentindo renovado e entro no banheiro da suíte, fitando o cômodo grande e sofisticado. Observo uma banheira quadrada e grande o bastante para quatro pessoas e me pergunto no que Danilo estava pensando quando pôs isso aqui? Sorrio amplamente com alguns pensamentos que povoam a minha cabeça, mas logo esse sorriso morre quando me lembro de que não quero mais isso para mim. Quero me manter longe do submundo do crime, dos seus poderes atrativos, da sua sedução e dos seus falsos amores. Respiro fundo trincando o maxilar. Eu quero ser outro homem e aproveitar ao máximo a minha segunda oportunidade. Me tornarei um megaempresário, terei a vida de rei que os meus pais queriam para mim e não a que o Cicatriz me ensinou a conquistar. Puxo mais uma respiração dessa vez me olhando no enorme espelho acima da bancada de vidro temperado. Tiro o curativo do meu ombro e depois do meu peito, e encaro os ferimentos através do reflexo. Eles estão quase sarados, os médicos fizeram um ótimo trabalho aqui!

Tomo um banho demorado e quando saio do banheiro ponho uma roupa de corrida, e saio empolgado para o meu primeiro dia de recomeço. Sinto-me revigorado, um novo homem com novos hábitos. Quero correr, praticar exercícios, ter um horário para ir às empresas, conhecer os meus funcionários e quem sabe encontrar um novo amor… não! Não quero um novo amor. Amar machuca mais do que levar um tiro no peito. Ainda tenho as lembranças nítidas do seu abandono, lembro-me de suas palavras dizendo que não me amava. Eu não preciso do amor, estou muito bem assim. Abro as portas largas da saída da casa e abraço o lindo dia que começa a nascer. Sorrio para o céu claro e sem nuvens, desço os três degraus na frente da enorme casa e corro pela passarela parando bruscamente quando um homem vestindo um terno negro e muito bem armado para bem na minha frente.

— Bom dia, senhor Fox, está de saída? — Fito o rapaz com confusão e encaro a arma na lateral do seu corpo. — Ah, me desculpe! Eu sou o Jordan e sou o seu segurança pessoal. Se eu soubesse que gostava correr teria me preparado para acompanhá-lo.

 Porra, seguranças? Sério, Danilo? Penso contrariado.

— Não precisa me acompanhar, Jordan. Não vejo risco algum em dar uma corrida por aí — ralho tentando me afastar do homem.

— Me desculpe, senhor Fox, mas o Danilo foi taxativo. Ele não quer o senhor saindo desamparado. — Ele insiste e eu abro um sorriso debochado. Desamparado? Que conversa é essa?

— Bom, eu vou correr, Jordan e você ficará bem aqui! — rosno com um tom firme, deixando o homem contrariado para trás.

— Eu posso ser despedido por isso, senhor! — Ele ralha me acompanhando e eu paro respirando fundo.

— Diga-me, rapaz, quem é o chefe dessa porra toda? — Ele balbucia.

— É… o senhor!

— Então fique tranquilo porque não haverá demissões. Agora me deixe ir! — Ele começa a tirar a arma da lateral e eu fico em alerta. Que merda ele pensa que vai fazer?

— Leve-a consigo, senhor, pode precisar. — Encaro o objeto prateado por alguns instantes. Não! Prometi para mim mesmo que nunca mais pegaria em uma arma outra vez. Engulo em seco e volto a olhá-lo nos olhos.

— Melhor não, Jordan!

— É isso, ou terá que esperar eu ficar pronto para segui-lo, senhor. — Engulo em seco e mesmo contra a minha vontade seguro a Glock em minhas mãos e a levo a minha cintura. Contrariado, começo a correr pelas ruas de Gramados. Sim, escolhi esse lugar por sua beleza natural e porque ele foge completamente da minha antiga realidade no Rio de Janeiro. Ainda é muito cedo e as ruas estão quase desertas. E enquanto corro absorvo o perfume suave que vem das flores dos campos que tem por aqui. Minutos depois, entro em uma trilha de um parque de árvores longas e adentro uma mata um tanto densa nas margens. O contato com a natureza é a melhor parte do meu prêmio de sobrevivência.

Não tenho noção do tempo que corri ou do quão longe estou de casa e quando os meus pulmões, e pernas começam a protestar eu finalmente me permito parar, olho para trás e encontro apenas uma trilha vazia ladeada de matos e de árvores. Puxo uma respiração pesada e ofegante, e penso em voltar, porém, um som estrangulado me faz parar. É um choro, seguido de um gemido feminino. Será que ela entrou na mata e de alguma forma se machucou? Solto mais uma respiração profunda e resolvo seguir esse som afastando-me da trilha e quando me aproximo um pouco mais escuto outro som. Parece que alguém está cavando o chão. Cauteloso, paro atrás de uma árvore de tronco grosso e uma garota amordaçada, com as mãos atrás do seu corpo entra no meu campo de visão. Droga, ela está de joelhos no chão de folhas secas e mesmo amordaçada implora por sua vida. Mais afastado dali tem um homem cavando um buraco e outro homem está ao seu lado apontando uma arma para a sua cabeça. Meu coração b**e forte demais, tão forte que é possível ouvir os seus escândalos dentro dos meus ouvidos. Volto a engolir em seco. É uma queima de arquivo, ou uma traição? Me pergunto. Não importa, Alex! Isso não tem nada a ver com você! Repreendo-me. Saia daqui como se nada tivesse acontecido. Você não vive mais nesse mundo, lembra? Aconselho-me, respiro fundo e dou meia volta. Preciso voltar para a trilha. Penso, Contudo, paro de andar quando a escuto implorar por sua vida outra vez. Fecho os meus olhos bem apertados e penso em voltar.

— Não! Não! Não! Não! Por favor! — Ela pede desesperadamente e o som sai abafado por conta da mordaça. Agoniado, fecho as minhas mãos em punho e hesito. É só dar as costas e sair daqui, Alex. É bem fácil! — Meu subconsciente diz e me forço a andar na direção da saída.

— Sinto muito linda! O Marrony mandou avisar que não é nada pessoal, Fabi, mas você viu o que não devia e precisa desaparecer. — Uma voz áspera chega a me causar um arrepio. Lembro-me do meu pai, dos tiros, do seu sangue se derramando. Eu não pude protegê-los, não pude salvá-los e posso deixar mais um inocente morrer. Penso e puto da vida comigo mesmo volto na direção dos três, tiro a arma do cós da minha calça e encaro os homens alheios a minha presença.

— Bom dia, senhores! — falo os alertando da minha presença e assustado um deles aponta a arma para mim. Dois contra um é covardia! Penso sentindo a costumeira adrenalina percorrer as minhas veias. Ágil, atiro no homem que está segurando a pá e o tiro certeiro perfura o seu crânio. Extasiado o observo cair na própria cova. O outro larga a arma e ergue as mãos em redenção assim que aponto a pistola em sua direção.

— Quem é você? — Ele pergunta nervoso.

— Digamos que sou o anjo salvador da Fabi e o demônio exterminador do Marrony — ralho e aperto o gatilho. Mais um tiro certeiro apaga o outro cara e devolvo a arma ao cós da minha calça. Desamarro a garota em seguida e a ajudo a se levantar, e inesperadamente ela me abraça e começa a chorar. Sem saber o que fazer fico parado ali apenas sentindo o seu corpo trêmulo junto ao meu. Eu não retribuo o seu gesto, simplesmente não consigo fazer isso e ela percebe a minha indiferença. — Está livre agora, garota. Vá para casa — digo com frieza assim que ela se afasta. Contudo, os seus olhos escuros e molhados não escondem o medo, e pavor que sente. E merda, eles chegam a penetrar a minha alma!

— Se eu voltar, ele vai me matar! — sussurra apavorada e inquieto-me com o som da voz doce e arrastada.

— Olha, eu te libertei. O que mais você quer que eu faça?

— É que... eu não tenho onde me esconder. Eu... não tenho para onde ir — suplica e percebo o quanto ela está nervosa. Aaaaah, drogaaaa! Rosno internamente.

— Tudo bem! Eu te levo para minha casa, mas só enquanto encontramos um lugar pra você ficar — rosno com impaciência e saímos dali quanto antes.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo