MarrentoUma semana…Tenho fome, muita fome e sede também, mas não quero pedir nada para ele. Me sinto fraco e o calor do galpão é quase insuportável. Quero a minha mãe, quero o meu pai e tenho vontade de chorar. Por que eles não me matam logo?— Como ele está hoje? — Cicatriz pergunta adentrando o local sujo e semiescuro.— Ainda não cedeu, Cicatriz. O garoto é valente!— Ele é um idiota, isso sim! Não vai me vencer e sabe disso.— O que quer que eu faça?— Desamarre-o, dê comida e água, e depois leve-o para o topo — ordenou e saiu em seguida. O homem mal-encarado me olhou com um sorriso maldoso e debochado. Não sei o que significa ir para o topo, mas sinto que nada de bom vem por aí. Ele põe um pedaço de pão e um copo de leite na minha frente e a visão chega a me dar água na boca. Como tudo feito um animal faminto sem ao menos lavar as minhas mãos e sem nenhuma educação como me ensinaram, a final já faz dois dias que não como nada. E quando termino sou forçado a sair do galpão. A l
MarrentoCom certeza ele não faria. Penso me forçando a parar a corrida porque realmente está difícil de respirar. Então me sento em um banco de concreto e imediatamente sinto a minha cabeça girar em círculos. Agacho-me e tento recobrar o meu fôlego gradualmente. Isso é o inferno. Ele está morto, porra e mesmo assim eu não consigo viver! Que grande filho da puta! Até quando vai me perseguir? Até quando pretende me assombrar? Meneio a cabeça fazendo não e, agitado sacudo os cabelos molhados de suor. Você não tem mais poder sobre mim, seu desgraçado! Rosno mentalmente e ergo a cabeça para encarar o céu já claro. Preciso voltar para casa. Penso enquanto aguardo a minha respiração volta ao normal. Minutos depois, resolvo voltar todo o trajeto andando e levo um pouco mais de uma hora para chegar em casa. Assim que entro vou direto para o meu quarto, tomo um banho demorado e finalmente sinto o meu corpo relaxar.— Bom dia, senhor Alex! — Fabiana fala adentrando o escritório da minha casa. T
MarrentoBonita, dedicada, determinada e levemente selvagem. Essa é a imagem que eu tenho da minha assistente pessoal. Contudo, é como se ela estivesse em todo o lugar dessa casa e ao mesmo tempo, sempre atenta a tudo. Pela manhã encontro sempre a minha agenda atualizada. Eventos, lembretes de reuniões, horários de almoço comerciais, tudo sincronizado com as atividades do escritório, pois está sempre em contato com a minha secretária na empresa. Por esse motivo, acabo descobrindo que nem sempre preciso estar lá realmente e que posso resolver algumas coisas aqui de casa mesmo. Hoje é sexta-feira e eu só tenho uma reunião na parte da tarde. De alguma forma isso não está me incomodando, pelo contrário, me sinto leve. Me pergunto se os meus demônios resolveram me dá uma trégua? Eu realmente espero que sim. Vou até à cozinha o único cômodo da casa onde eu sei que posso encontrar as únicas mulheres que preenchem o meu dia e com um sorriso largo adentro saudando-as com um bom dia. Eu sei, pa
MarrentoJá estamos na metade da dança quando resolvo erguer a minha cabeça para fitar seus olhos escuros e imediatamente arrebatado por eles. Fabiana tem uma beleza singular, que prende e que me cativa, e sem perceber me inclino fitando os seus lábios até enfim, tocá-los com os meus. Um toque, apenas um leve toque e parece tudo girou, ficando de ponta cabeça. Deus, o que estou fazendo? Me pergunto no mesmo instante que aprofundo um pouco o beijo. Eu deveria recuar, me afastar dela, mas isso é... tão bom! Penso, apertando ainda mais a sua cintura e aprofundo ainda mais o nosso beijo. Meu coração dispara enlouquecido quando sinto o seu sabor no meu paladar. E droga, a sua boca é tão macia e... tão doce! Fabiana está levemente ofegante. Contudo, ela para o beijo bruscamente, fazendo-me encaro os olhos assustados. Ela engole em seco e para a dança. Na verdade, é como se tudo estivesse realmente parado agora e apenas os seus olhos me fitam em um julgamento brutal. O que fiz e errado agora
Marrento— Garçom, mais uma por favor! — peço sentindo a minha voz enrolar.— Pra você já chega, meu jovem, está na hora de ir para casa. — Rio debochado. Sério? Ele está ditando a porra do meu tempo?— Eu estou pagando, caralho e quero mais uma bebida! — rosno irritado. Levanto-me com dificuldade do banco alto e encaro o homem de perto. Ele faz um gesto com o olhar para os seguranças em pé na porta e segundos depois estou sendo arrastado para fora do estabelecimento, e jogado como o lixo que sou na calçada. Solto alguns xingamentos e me levanto cambaleante. E mesmo sentindo a minha cabeça girar, subo na moto e logo escuto o ronco do motor. Destino. Uma vez me falaram sobre ele. É algo predestinado. Você nasceu para aquilo e não tem como escapar dele. Eu nasci para ser um homem mal, para trazer o medo e espalhar o terror. A final, eu sou o Marrento a porra de um delinquente. Sou e sempre serei a porra de um traficante e um assassino. Não importa a droga do carro luxuoso na minha garag
MarrentoNo dia seguinte abro os olhos sentindo uma dor de cabeça infernal e me dou conta de que ainda estou deitado no tapete que fica perto da cama e em meio aos destroços de móveis e de vidros que quebrei durante a madrugada. Levanto-me devagar, me sento e me encosto na lateral da cama, esfregando o meu rosto e deslizo as mãos pelos cabelos em seguida. Lembro-me da noite passada, do evento de gala, do pequeno beijo roubado, a revelação de Fabiana e a bebedeira. O que eu fiz? Puta que pariu, o que eu fiz?! Levanto-me do chão com dificuldade e vou para o banheiro, tomo um banho frio e demorado, muito demorado. Por fim, visto uma roupa casual, calço chinelos de dedo e saio do quarto. Na cozinha encontro Anita e Fabiana, e inevitavelmente fito a garota que tem o olhar baixo e fixo em suas próprias mãos.— Bom dia, Senhor Alex! — Anita diz com sua costumeira animação.— Bom dia! — digo seco demais. Meus olhos ainda estão fixos na garota sentada no banco alto. — Como foi a festa ontem?
MarrentoAlguns dias…— Bom dia, senhor presidente! Acabamos de fazer a contagem dos veículos que serão exportados essa semana. Gostaria de verificá-los agora? — Fábio Stefano, um dos dirigentes de exportação da empresa pergunta entrando na minha sala.— Claro! Reúna o pessoal no pátio, por favor! Eu quero ter certeza de que estará tudo certo.— Claro, Senhor Fox!— E, Fábio?— Sim?— Não aceito imprevistos ou qualquer tipo de atrasos. Avise que cabeças irão rolar se isso acontecer. — O rapaz engole sutilmente em seco, mas assente e sai.Mandar é a melhor parte dessa minha nova vida. Dessa vez eu não sinto o medo apenas o domino e a sensação é incrível. Aqui não sou a porra de um pau-mandado, eu ordeno e eles obedecem com um diferencial, ninguém sai machucado de verdade. Respiro fundo quando a lembrança de um certo bichinho do mato invade a minha mente. Perceber que Fabiana melhorou bastante depois da nossa última conversa é satisfatório. Ela ainda não confia em mim e isso é um fato q
MarrentoEstou a horas trancado no meu quarto fazendo nada em especial além de andar de um lado para o outro igual um animal enjaulado e a ponto de explodir de ansiedade. Tenho vontade de ir até o quarto dela, mas não sei qual será a sua reação diante disso. Da última vez não foi algo muito agradável. Perto das onze da noite estou embolando de um lado para o outro da cama e impaciente me levanto, visto uma roupa confortável e decido ir de uma vez até lá. Chego perto da madeira e simulo algumas batidas na porta, mas a coragem não chega nunca então apenas encosto a minha testa nela e respiro fundo algumas vezes. No segundo seguinte encarando a madeira pintada de branco por um tempo e me encho de coragem para acabar logo com essa agonia. Dois toques. Dois toques leves e sutis e ela abre uma brecha da porta, encarando-me especulativa.— Senhor Alex? — Consigo sentir o receio fluir com intensidade na sua voz.— Oi! — digo e em seguida as palavras parecem fugir da minha boca. Vamos lá, Alex