06

*

O trânsito estava livre, então foi rápido chegar a Kensington. Sem contar que o bairro não ficava muito longe da empresa. Quando cheguei ao Royal Garden, saí do carro, dei a volta no veículo e abri a porta para a Emma.  

— Obrigado, Snow — ela disse saindo do carro.  

— Por nada — sorri brevemente. — Bom, até amanhã.

— Você não quer entrar? — Emma perguntou antes que eu entrasse no carro.  

— Hã… — Olhei rapidamente para o relógio, era dez e vinte da noite, estava muito tarde. Mesmo assim, lá no fundo, fiquei tentado a aceitar. — Você tem que descansar, eu estaria incomodando… 

— Tomar uma taça de vinho não cansa ninguém, Snow. Vamos, essa é a minha forma de agradecer a carona. — Seu tom foi calmo. Também não notei nenhuma malícia nas entonações das palavras.

Ponderei alguns segundos, observando a mulher com um sorriso mínimo nos lábios.

— Está bem — aceitei por fim.

Fechei a porta do carro e acompanhei a mulher até a entrada do edifício.  

O Royal Garden parecia ter o dobro do tamanho por dentro. Tudo era tão bem arrumado, brilhante e esbanjava riqueza. Emma segurou meu braço e me guiou até o elevador, ela apertou o botão para chamá-lo e logo ele apareceu. Sua mão soltou o meu braço assim que entramos no elevador.

Apenas nesse momento, minha mente clareou por completo e eu me dei conta de que estava sozinho com a Emma mais uma vez. E agora estava indo para casa dela.

Comecei a ficar nervoso.

Essa será a nossa “próxima vez”?

Bright apertou o botão para subir ao trigésimo andar. O último. Ela pegou o celular e digitou uma mensagem rápida, sorrindo para a tela.

Forcei-me a relaxar. Emma não tinha dito nada suspeito. Se ela foi direta na primeira vez que transamos, seria direta em uma segunda vez também.

Eu iria entrar no apartamento, tomar uma taça de vinho, apenas para não fazer desfeita, conversar um pouco e ir para casa.

É isso.

O elevador parou no oitavo andar, algumas pessoas entraram. Bright passou para minha frente, deixando as pessoas se acomodarem no equipamento. Com mais alguns segundos, o elevador parou no décimo segundo andar e mais seis pessoas entraram. Parou no décimo quinto andar e mais três pessoas entraram, nenhuma desceu. Com o elevador cheio, Emma se encostou em mim, para dar mais espaço para as pessoas. Com isso, sua bunda ficou próxima a minha virilha. Eu não tinha como me afastar, já estava colado nas paredes do elevador.

Emma continuou encostada em mim até o vigésimo segundo andar, quando todos que estavam no elevador, incrivelmente, saíram. Eu me afastei imediatamente dela.

Está tudo sob controle, foi só um elevador cheio. Pensei.

Chegamos ao trigésimo andar e saímos do elevador. Caminhamos por um longo corredor, parando em frente a uma grande porta de vidro escuro com dois vasos de flores, um em cada lado.

Achei um pouco estranho. O andar deveria ter mais portas.

Por onde é que os outros moradores do andar entravam?

Fiquei olhando de um lado para o outro, tentando entender aquela arquitetura.  

— Aqui só tem um apartamento. O meu — disse Bright. Acho que notando a minha cara de espanto e confusão.  

Fiquei boquiaberto. Como uma única pessoa poderia morar nesse apartamento enorme? 

— Tem certeza de que você mora sozinha? — Perguntei quando a mulher abriu a porta, ainda boquiaberto.  

— Tirando a Elena, que é quem cuida da casa e de mim, sim. Eu moro sozinha. Por quê?  

— Nada. Só curiosidade — balancei a cabeça.  

Dei um passo para frente e entrei no apartamento, aproveitando a oportunidade para olhar tudo que os meus olhos pudessem ver. O cômodo era bem iluminado e os móveis eram estupidamente brilhantes e harmoniosos uns com os outros.  Não era muito diferente da mansão dos Bright, mas esse apartamento tinha mais cor.  

— Sua casa é bonita — falei.  

— Obrigada. Sente-se, eu vou trocar de roupa e trazer algo para bebermos.  

— Ok.  

Tirei o paletó, coloquei no braço do sofá e me sentei. Continuei observando o cômodo.

Meu Deus! Só a sala dela era meu apartamento todo.

Depois de alguns minutos, Emma apareceu. Ela estava com um vestido preto, não muito justo, mas curto, e descalça.

Eu me peguei olhando para as pernas dela.

Que as forças dos céus estejam ao meu lado essa noite.  

— Tem preferência de vinho? Quero começar com vinho branco — ela disse. 

Começar? 

— Pode ser — concordei, confuso.   

Emma foi para a cozinha e rapidamente voltou com duas taças e uma garrafa de vinho. Um Romanée-Conti. A mulher colocou o vinho na taça e me serviu, sentando-se ao meu lado. Eu tomei o primeiro gole, saboreando o quão boa a bebida era.

— Qual a sua idade mesmo, Harry? — Emma perguntou de repente.

Achei a pergunta estranha, afinal, se ela era a minha chefe, deveria ter visto a minha ficha e já tinha essa informação. Todavia, achei melhor responder e não questionar.

— Vinte e cinco — respondi, encarando-a. Tomei mais um gole do vinho. Tão bom.

— Você tem irmãos? — Mais uma pergunta desnecessária.  

— Tenho uma irmã mais velha — respondi novamente. Meu olhar saiu do seu rosto e foi para o seu torso. Pude observar seu peito subir e descer lentamente.

— Legal... — Emma tomou um pouco de vinho. — Você não tem namorada mesmo, não é? — Essa pergunta soou um pouco mais rápida.

— Não. — Limpei a garganta, desviando o olhar da mulher.

Isso está tão estranho.

— Que bom. — Emma cruzou as pernas, fazendo seu vestido subir mais um pouco.  

Era bom mesmo. Porque seria lamentável ter que explicar para minha companheira que minha chefe me chupou e eu deixei que as coisas chegassem até esse ponto.

— E você? — Reuni toda a coragem no meu corpo para questionar.

— Não se preocupe com isso — respondeu ela.

Aquilo não foi nem um sim nem um não.

Fui forçado a encará-la novamente. A mulher sorriu, mas não se explicou.

Você também não facilita, Emma.

— Então... Quando estava fora, você trabalhou em outro lugar antes de vir para Bright’s? — Continuei com as perguntas, querendo manter o assunto e focar em meus lábios, não em suas pernas bonitas.

Mas foi com a boca dela que tudo começou…

Emma hesitou um pouco antes de responder.

— Sim. Um pequeno Setor da Bright’s em Paris. Com empresas menores e duas no mesmo nível do Shopping em Dublin.

— E por que decidiu vim para Londres tão de repente? — Virei-me de lado, para encará-la melhor.

— Não foi de repente, Harry. Minha vinda para Londres já estava programada há muito tempo, eu apenas adiei até não poder mais. — Seu tom ficou sutilmente mais grave, como se estivesse perto de se irritar, mas eu estava curioso demais para não fazer mais perguntas.

— Então significa que você não queria assumir a presidência aqui?

Bright tomou todo líquido da sua taça e colocou o objeto vazio na mesa de centro. Ela me lançou um sorriso amargo antes de responder.

— Não sou o tipo de mulher que quer passar a vida fazendo fortuna para homens que mal sabem administrar os próprios negócios, e ainda ousam dizer que mulheres não entendem do assunto. — Sua expressão se tornou mais amarga. — Mas o que posso fazer? Sou a única herdeira da Bright Enterprises no momento, se levarmos em conta que o meu irmão mais novo só tem dez anos. A empresa precisa ficar nessa família por mais alguns séculos, então preciso ficar no comando... Assim eu vou ter o que quero.

— Você não pode só não aceitar? — Franzi o cenho, um pouco confuso.

Emma sorriu, um sorriso de verdade dessa vez. Ela ergueu a mão e tocou o meu rosto, suas unhas afiadas arranharam minha bochecha.

— Gosto da sua inocência, Snow. Mas você precisa abrir os seus olhos se quiser sobreviver nesse mundo. — Ela afastou a mão. — Às vezes, é necessário se submeter à algumas situações para alcançarmos os nossos objetivos. E, não é querendo ser militante nem nada, é apenas a verdade: para nós mulheres, as situações são bem piores.

— Eu... sinto muito. — Foi tudo que consegui dizer no momento.

Eu nunca tinha sido assistente de uma mulher antes, mesmo com a Bright’s tendo cinquenta por cento do pessoal na presidência sendo mulher. Apesar disso, nunca duvidei da capacidade de nenhuma delas, me abstenho desse pensamento tão retrógrado. Mas entendia o que a Emma estava dizendo, nem todo mundo pensava como eu, e mais da metade dos empresários, administradores e CEO’s eram uns idiotas.

— É, mas chega de falar disso. — Emma ergueu a mão e pegou a garrafa de vinho. — Deixe-me encher o seu copo.  

— Não posso beber muito, vou voltar para casa dirigindo — lembrei-a, tentando negar.

— Não se preocupe com isso, Snow. — Ela pegou a minha taça e encheu.

Por que estou sentindo que isso não vai dar certo?

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