03

***

— Levou uma surra? Meu Deus, que cara é essa? — Perguntou Lan. 

Não consegui ir direto para casa, fui para o restaurante da Joh, precisava comentar sobre a minha indignação com o meu amigo. 

— Antes fosse uma surra — murmurei com desgosto. — Essa é a cara de quem passou as últimas três horas com o cu sentado numa cadeira, escrevendo um relatório de cinco páginas com fonte Times New Roman, tamanho doze e texto justificado. Tudo para atender ao capricho de uma vaca

— Explica isso aí. — Ele deu a volta no balcão e se sentou ao meu lado. 

— Hoje eu fiquei sabendo que tenho uma nova chefe. Ela é a filha mais velha do senhor Bright, o dono da empresa. E é uma chata, insuportável, cretina… — Reclamei. — Logo no primeiro dia ela já me deu três relatórios para entregar em quatro dias. 

— Mas esse não é o seu trabalho? — Landon franziu o cenho.

— Vai ficar do meu lado ou do dela? 

— Eu só estou fazendo uma pergunta.

— Sim, Lan, esse é o meu trabalho. Porém, não costumo fazer esse tipo de coisa de uma vez só. Isso dá trabalho, requer atenção.

— Entendi. — O homem balançou a cabeça, mas não parecia muito interessado. — Vai ver ela não gostou de você — deu de ombros, por fim. 

— Ela me odiou no primeiro segundo que entrei na sala dela, então. 

— Diz aí, ela é uma senhora de idade feiosa ou uma mulher gostosa? 

Revirei os olhos — já prevendo que a pergunta viria mais cedo ou mais tarde —, mas respondi.

Sim, ela é gostosa. — Não tinha como mentir com esse fato, por mais que a senhorita Bright fosse uma cretina comigo, ainda era uma mulher muito bonita.

— Sério? — Seu interesse no assunto pareceu crescer depois dessa revelação. Balancei a cabeça para afirmar. — Então você está fodido. Sua chefe é gostosa e ainda te odeia. Você não vai poder tirar uma casquinha dela e ainda vai ter que trabalhar como um escravo.  

— Eu não poderia tirar uma casquinha dela nem se ela gostasse de mim, Lan. Qual parte do “ela é a minha chefe” você não entendeu? — Franzi o cenho para o homem, que se limitou a dar de ombros. — Estou me sentindo um estagiário — lamentei.

— Irei orar por você, meu amigo. — Ele deu dois t***s de leve no meu ombro.

— Você nem vai à igreja, Lan — pontuei o óbvio.

— Não significa que eu não possa orar — sorriu cinicamente. Deus claramente não escuta mais nada que sai da boca dele. — Você vai para o bar com o pessoal? 

— Não, eu estou cansado e estressado. 

— Vamos, Harry, vai ser bom para você tirar o trabalho da cabeça. 

— Eu o estou levando para casa, como vou tirar? — Apontei para os envelopes em cima da minha maleta. Só de olhar para os papéis, minha cabeça voltou a latejar.

— Você não vai começar nada agora de noite, então vamos lá, se distrair enquanto há tempo.

Ponderei por um tempo. Em uma coisa Landon tinha razão; eu não iria começar trabalho nenhum pela noite.

— Amanhã eu trabalho mais cedo, não posso encher a cara — informei. 

— Não vamos encher a cara hoje, é só um encontro de amigos.  

— Eu ainda vou ter que ir para casa tomar um banho. 

— Toma banho aqui, você pode vestir uma roupa minha. Vamos! — Ele se levantou da cadeira, animado.

— As suas calças ficam folgadas em mim. Você tem bunda de mulher gostosa — sorri para provocar. Lan odiava esse fato.

— Não começa, porra. Você passa muito tempo na minha casa, deve ter uma roupa sua lá. Acho até que vou começar a te cobrar aluguel.

Apenas ignorei seu comentário e o segui até a casa, que ficava em cima do restaurante.

***

Admito que foi bom ter saído para ver meus amigos. A noite estava sendo bem divertida, estávamos conversando e rindo que nem idiotas — como era de costume —. Eu estava indo com calma na bebida porque teria que trabalhar cedo no dia seguinte. 

Tudo estava indo muito bem.

Divinamente bem.

Tão bem que eu achei até que estava em um sonho maravilhoso.  

Mas essa felicidade só durou até eu desproporcionalmente olhar para a porta do estabelecimento e ver Emma Bright passar por ela.

Deus me odeia e eu posso provar. Quais as chances de isso acontecer?

Ela entrou com outras duas mulheres ao seu lado, provavelmente amigas. Estava vestida com calça moon jeans de lavagem clara — meu conhecimento de roupas também é aprimorado —, camiseta estampada com logo de banda e nos pés, tênis all start. Seu cabelo estava solto e volumoso. Comparando com a Emma que eu estava vendo agora e a que eu vi no trabalho, elas não pareciam a mesma pessoa.

Ela ainda não tinha me visto. Desejei, com todas as minhas forças, que a situação continuasse assim.

O tempo foi passando e o sorriso sumindo do meu rosto. Eu não conseguia mais socializar sabendo que a minha chefe estava no mesmo ambiente que eu.

Isso nem faz sentido!

Isaac ainda não tinha a visto, e toda hora eu olhava para a mesa em que a Emma estava, para saber se ela estava me encarando com o seu olhar julgador. Talvez ela dissesse: “Então é por isso que você não quer trabalhar, não é, Snow?” quando enfim notasse minha presença ali.

— Estou exagerando, sem dúvidas — murmurei para mim mesmo.

Nesse momento, o olhar de Emma Bright se encontrou com o meu. Ela sorriu.

Maldição!

Meu sangue gelou no corpo. Me senti como um adolescente que tinha sido pego fazendo algo imoral e ilegal. 

— Eu já volto — avisei aos meus amigos e me levantei da cadeira rapidamente. Fui ao banheiro.  

Não devia estar tão incomodado com a presença dela, mas estava. Talvez fosse porque ela era muito intimidadora.

Joguei água no rosto e enxuguei com papel. Fiquei bastante tempo me encarando no espelho, repetindo a mesma frase para que meu subconsciente entendesse o recado: Você vai sair do banheiro e não vai dar a mínima para a Emma. Ela não tem o direito de dizer nada sobre você fora do trabalho.

Eu estava pronto.  

Saí de perto do espelho e caminhei até a porta. Quando fui colocar a mão na maçaneta, tinha alguém a abrindo por fora, então me afastei um pouco para a pessoa entrar. 

Deus me deu mais sinais de que me odeia.

A senhorita Bright apareceu. 

— Esse é o banheiro masculino — falei, completamente assustado. 

— Eu sei. — Ela entrou de vez e fechou a porta.

Oh, porra!

— O que você está fazendo aqui? — Parecia que eu estava encarando um assassino de tão assustado que me encontrava.  

— Vim falar com você. — Ela se encostou à porta. 

— E tem que ser justamente aqui? — Comecei a ficar nervoso. — Estamos no banheiro masculino — enfatizei, caso não tivesse ficado claro na primeira vez que falei.

— Por que não? — Ela deu de ombros, como se não fosse nada demais. Estava me encarando de forma estranha, até o seu tom de voz estava diferente (não vociferando ou dando ordens).

Essa segunda-feira precisa acabar logo.

— O que você quer, senhorita Bright? — Perguntei.

— Pare com essa formalidade, não estamos no trabalho. — Ela sorriu e mordeu o próprio lábio inferior.

Puta merda! Foi sexy pra caralho.

Quer dizer..., não. Nem prestei atenção.

Eu devo ter batido a cabeça na porta quando entrei e estava inconsciente no chão. Isso não era possível.

— O que você quer, Emma? — Dei um passo para trás, por segurança, não queria ser acusado de nada. Emma permaneceu onde estava.

Chupar você. 

Engoli seco. Eu não estava bêbado, e não ingeri álcool o suficiente para confundir qualquer palavra que ela tenha dito com chupar

— O que… o que você disse? — balbuciei.

— Você precisa passar no otorrino, Harry. Tenho quase certeza de que está ficando surdo. — Ela não foi rude (o que era estranho, vamos deixar claro). — Eu disse que quero chupar você. 

Ai meu Deus. 

Arregalei os olhos, depois soltei um riso nervoso.

Eu estou ficando maluco.

Tenho apenas vinte e cinco anos e já estou ficando maluco.

 — Você só pode estar bêbada — concluí.

Se eu não estivesse beirando à loucura, essa seria a única resposta para ela me oferecer esse favor sexual que eu claramente não pedi (embora, não serei hipócrita, minha mente me deu um breve vislumbre dela ajoelhada à minha frente). 

 — Não ingeri uma gota de álcool, Harry. Estou em plena consciência. — E mais uma vez aquele sorriso. — Você quer? — Perguntou, lambendo os lábios.

Depois disso, eu quase respondi: quero. Mas consegui segurar a minha boca.

Isso estava muito errado.  

Não faz o menor sentido!

Pensando bem, isso poderia ser um teste. Emma poderia estar me testando para poder me demitir; ela não gostava de mim, era uma explicação plausível. 

Forças dos céus, por que vocês tiraram o Mike de mim? 

 — Então, Harry, vai querer? — Ela insistiu. E dessa vez saiu da porta e deu três passos curtos em minha direção.

Tomado pelo pavor da demissão, corri até a porta, que agora estava livre, abri e saí rapidamente do banheiro. Deixando minha chefe, que provavelmente foi possuída, sozinha no cômodo.

Que loucura!

 Voltei para minha mesa mais nervoso que qualquer pessoa desse mundo.  

— O que foi, Harry? — Thomas, um dos meus amigos, perguntou. — Você está vermelho.

— O que foi o que? Não aconteceu nada! — Disse, apressado.  

— Você está vermelho. Estava batendo uma no banheiro? — Landon gargalhou.

— Não seja besta, Lan. — Peguei um copo de Vodka que estava na minha frente e bebi em um gole só.

— Opa! Você não pode beber. Trabalha amanhã, esqueceu? — Disse Lan, tirando o copo da minha mão. 

— Eu sei. É, está tarde, vou para casa. — Levantei-me da mesa abruptamente. Eu só queria sair do bar antes que a Bright voltasse para sua mesa.

— Então eu também vou para casa, afinal, você é minha carona — disse Lan. — Tchau, pessoal, até sábado.  

Despedi-me do pessoal e, em passos apressados, saí do bar com o Landon atrás de mim.

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