05

***

Às sete horas não tinha mais nenhuma alma viva naquele Setor, somente eu. Ainda terminando o segundo relatório. Eu estava exausto e cheio de cafeína no sangue. Até perdi as contas de quantas vezes me levantei para buscar um café. E ainda tinha Emma, que passava para lá e para cá, com aquele salto barulhento da porra. Ela sabia que me incomodava, porque eu revirava os olhos toda vez que ela passava, mas Bright não hesitava em fazer.

Olhei para o relógio, marcava nove e quarenta e cinco da noite. Eu só tinha terminado duas das três revisões. Sabia que Emma iria brigar comigo, mas eu não podia mais ficar. Minha cabeça estava latejando e meus olhos ardendo. Levantei-me da cadeira, peguei o relatório na sala de impressão e fui até a sala dela. Bati duas vezes em sua porta e ela me deu permissão para entrar. 

— Você já terminou? — Ela perguntou de imediato, com os olhos fixos em alguns papéis na mesa.  

— Sim... e não. 

— Explique-se, Snow.  

— Eu só consegui terminar dois. As empresas são de dois mil e nove, analisar oito anos de transações em algumas horas não é fácil. E já está bem tarde..., todos já foram embora — diminui o tom de voz na última frase.

Emma colocou os cotovelos na mesa e apoiou o rosto nas mãos, cobrindo-os.

— Você pode ir — disse ela. — Deixe o outro relatório aqui, que eu termino.

— Você pretende terminá-los hoje? — Olhei para mesa dela e vi que tinha mais uns três envelopes fechados, pelo visto ela estava trabalhando neles. — Emma... Senhorita Bright, você tem que descansar — disse, brando, realmente preocupado.

— Não me diga como trabalhar, Snow. Vá embora! — Vociferou, claramente irritada.  

Seus olhos enfim se ergueram para mim. Fúria foi tudo que vi.

Ela vai me morder?

— Por que está fazendo tudo isso com pressa? — Perguntei, tentando ignorar o surto dela. 

— Não é da sua conta, Harry. — O mesmo tom raivoso. — Vá logo, você já nem deveria estar aqui.

— Mas... — Tentei mais uma vez.

— Mas nada, ande logo! — Ordenou. 

— Está bem. — Coloquei o relatório na mesa e saí da sala.  

Eu não era idiota para não perceber que ela estava correndo contra ao tempo com aqueles relatórios. Talvez fosse por parte de assumir o cargo do Mike tão de repente. Sabia que era muito trabalho para ela e não podia deixá-la sozinha.

Peguei o paletó na cadeira e minha maleta no chão, mas não fui embora. Entrei na sala da Emma, sem bater.

Meu Deus! Eu seria demitido por querer ajudar.

Quando Emma me viu entrando em sua sala, ignorando toda a educação e não obedecendo às suas ordens, ela me encarou com mais fúria ainda.

— Posso saber o que você quer? — Perguntou, tirando os óculos e colocando-os na mesa com força. — Já não disse para ir embora?

— Eu vou, mas só se a senhorita vier comigo. — Eu provavelmente estou muito fora de mim para ter coragem de dizer isso.  

— O que você pensa que está fazendo? 

Querendo perder o emprego? Talvez.  

— Eu só não quero que você fique se matando fazendo tantos relatórios até essa hora da noite. Por que toda essa urgência? — Disse o mais brando que consegui no momento, e tentando não pensar em outra coisa, pois ela ainda estava me encarando muito fixamente agora.

Não pense, Harry! Não pense! 

Argh! — Emma revirou os olhos, impaciente, então pegou um elástico bem fino em sua gaveta na mesa e prendeu aquela cabeleira cacheada de um jeito agressivo antes de me responder. — O senhor Vegar parou de fazer os relatórios quando soube que iria trocar de Setor, atrasou muitas análises e deixou erros em algumas transações de empresas, agora eu preciso verificar se isso foi apenas um erro ou proposital. Não posso mais perder tempo, preciso manter os empresários atualizados de suas contas, e preciso fazer isso imediatamente.

Bom, aqui estava a explicação do porquê que eu ficava sem ter o que fazer algumas vezes em que vinha trabalhar. Mas o Mike tinha me dito que só soube que iria trocar de Setor na noite antes da apresentação da senhorita Bright. Ele mentiu?

— Homens sempre fazendo bagunça e deixando para as mulheres arrumarem — ela gesticulou em direção aos papéis. —Então, Snow, se não for me ajudar, faça o favor de sair da minha sala agora. — Emma colocou os óculos e voltou à atenção para o computador.

— Que tal se fizermos assim... — Eu ainda não tinha desistido da minha missão, e meio que me sentia culpado pela Emma ter tanto trabalho, se eu tivesse questionado o Mike, talvez ele me desse alguma coisa para fazer e hoje teríamos menos relatórios para analisar. — Você vem comigo e amanhã nós resolvemos isso. Eu e o senhor Vegar fazíamos os relatórios juntos e terminávamos bem mais rápido. Podemos fazer isso amanhã.  

— Snow... — Emma moveu o olhar para mim mais uma vez. Ainda parecia que ela queria me morder.

— Vamos, Bright. Ficar tomando café à noite toda não vai adiantar em nada — insisti.   

Emma hesitou por um tempo, mas depois cedeu. O que me fez agradecer a Deus, eu não aguentava mais ela me olhando como se fosse me comer vivo.

— Está bem. Eu vou, mas trate de não arranjar nenhuma desculpa para não me ajudar amanhã. Temos até sexta para entregar isso tudo. — Ela arrumou suas coisas na bolsa e se levantou da cadeira.

Quando entramos no elevador, Emma subitamente ficou quieta. Estranho. Ela começou a se ajeitar no espelho do elevador e volta e meia o meu olhar se encontrava com o dela.

Lembrei-me de como o rosto dela estava com uma coloração bonita depois de gozar ontem.

Merda!

Parei de encará-la e não disse uma única palavra.

— Você está de carro? — Perguntei quando chegamos ao estacionamento. 

— Hmm... Não. — Ela pensou? — Pode me dar uma carona? Afinal, você me tirou do trabalho.

— Claro. Vou buscar o carro.

Emma assentiu. Fui até meu carro, que estava estacionado à alguns metros de onde estávamos.  

Devo admitir que ganhava bem na empresa. Tanto que consegui comprar um carro à vista juntando meu salário de três meses. Bom, não era um Audi R8, mas era um carro muito bom e ajudava na minha locomoção.  

— Senhor Snow, eu acredito que minha porta estupidamente cara custa menos que esse seu carro. E você reclamando que ganha mal…  — Ela brincou, sorrindo, assim que entrou no carro.

Humor vindo dessa mulher de repente?

Será que ela tem dupla personalidade?

— Nada que uma bela economia não resolva, senhorita Bright — respondi no mesmo tom.

Emma estava olhando para mim.

Por que ela estava olhando para mim?

— Para onde vamos? — Perguntei, virando o rosto.

Eu queria que ela parasse de me olhar, porque transamos ontem e não estávamos falando desse assunto — que ela parecia estar levando numa boa, enquanto eu estava me fazendo de garotinho apaixonado que não conseguia esquecer seu primeiro beijo.

— Kensington High St, Royal Garden — respondeu Emma.

Claro que ela moraria em um dos bairros mais nobres de toda Londres.

— Eu pensei que você morava com o seu pai na mansão Bright — comentei.

— Prefiro ter a minha própria casa.

— Ah…

E de quem era aquele quarto que a gente estava ontem?  

Eu quis perguntar, mas achei melhor ficar calado e seguir a viagem.  

Droga!  

Eu não deveria ter fodido com ela.

Tudo bem, só passou um dia. Eu vou superar.

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