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Às sete horas não tinha mais nenhuma alma viva naquele Setor, somente eu. Ainda terminando o segundo relatório. Eu estava exausto e cheio de cafeína no sangue. Até perdi as contas de quantas vezes me levantei para buscar um café. E ainda tinha Emma, que passava para lá e para cá, com aquele salto barulhento da porra. Ela sabia que me incomodava, porque eu revirava os olhos toda vez que ela passava, mas Bright não hesitava em fazer.
Olhei para o relógio, marcava nove e quarenta e cinco da noite. Eu só tinha terminado duas das três revisões. Sabia que Emma iria brigar comigo, mas eu não podia mais ficar. Minha cabeça estava latejando e meus olhos ardendo. Levantei-me da cadeira, peguei o relatório na sala de impressão e fui até a sala dela. Bati duas vezes em sua porta e ela me deu permissão para entrar.
— Você já terminou? — Ela perguntou de imediato, com os olhos fixos em alguns papéis na mesa.
— Sim... e não.
— Explique-se, Snow.
— Eu só consegui terminar dois. As empresas são de dois mil e nove, analisar oito anos de transações em algumas horas não é fácil. E já está bem tarde..., todos já foram embora — diminui o tom de voz na última frase.
Emma colocou os cotovelos na mesa e apoiou o rosto nas mãos, cobrindo-os.
— Você pode ir — disse ela. — Deixe o outro relatório aqui, que eu termino.
— Você pretende terminá-los hoje? — Olhei para mesa dela e vi que tinha mais uns três envelopes fechados, pelo visto ela estava trabalhando neles. — Emma... Senhorita Bright, você tem que descansar — disse, brando, realmente preocupado.
— Não me diga como trabalhar, Snow. Vá embora! — Vociferou, claramente irritada.
Seus olhos enfim se ergueram para mim. Fúria foi tudo que vi.
Ela vai me morder?
— Por que está fazendo tudo isso com pressa? — Perguntei, tentando ignorar o surto dela.
— Não é da sua conta, Harry. — O mesmo tom raivoso. — Vá logo, você já nem deveria estar aqui.
— Mas... — Tentei mais uma vez.
— Mas nada, ande logo! — Ordenou.
— Está bem. — Coloquei o relatório na mesa e saí da sala.
Eu não era idiota para não perceber que ela estava correndo contra ao tempo com aqueles relatórios. Talvez fosse por parte de assumir o cargo do Mike tão de repente. Sabia que era muito trabalho para ela e não podia deixá-la sozinha.
Peguei o paletó na cadeira e minha maleta no chão, mas não fui embora. Entrei na sala da Emma, sem bater.
Meu Deus! Eu seria demitido por querer ajudar.
Quando Emma me viu entrando em sua sala, ignorando toda a educação e não obedecendo às suas ordens, ela me encarou com mais fúria ainda.
— Posso saber o que você quer? — Perguntou, tirando os óculos e colocando-os na mesa com força. — Já não disse para ir embora?
— Eu vou, mas só se a senhorita vier comigo. — Eu provavelmente estou muito fora de mim para ter coragem de dizer isso.
— O que você pensa que está fazendo?
Querendo perder o emprego? Talvez.
— Eu só não quero que você fique se matando fazendo tantos relatórios até essa hora da noite. Por que toda essa urgência? — Disse o mais brando que consegui no momento, e tentando não pensar em outra coisa, pois ela ainda estava me encarando muito fixamente agora.
Não pense, Harry! Não pense!
— Argh! — Emma revirou os olhos, impaciente, então pegou um elástico bem fino em sua gaveta na mesa e prendeu aquela cabeleira cacheada de um jeito agressivo antes de me responder. — O senhor Vegar parou de fazer os relatórios quando soube que iria trocar de Setor, atrasou muitas análises e deixou erros em algumas transações de empresas, agora eu preciso verificar se isso foi apenas um erro ou proposital. Não posso mais perder tempo, preciso manter os empresários atualizados de suas contas, e preciso fazer isso imediatamente.
Bom, aqui estava a explicação do porquê que eu ficava sem ter o que fazer algumas vezes em que vinha trabalhar. Mas o Mike tinha me dito que só soube que iria trocar de Setor na noite antes da apresentação da senhorita Bright. Ele mentiu?
— Homens sempre fazendo bagunça e deixando para as mulheres arrumarem — ela gesticulou em direção aos papéis. —Então, Snow, se não for me ajudar, faça o favor de sair da minha sala agora. — Emma colocou os óculos e voltou à atenção para o computador.
— Que tal se fizermos assim... — Eu ainda não tinha desistido da minha missão, e meio que me sentia culpado pela Emma ter tanto trabalho, se eu tivesse questionado o Mike, talvez ele me desse alguma coisa para fazer e hoje teríamos menos relatórios para analisar. — Você vem comigo e amanhã nós resolvemos isso. Eu e o senhor Vegar fazíamos os relatórios juntos e terminávamos bem mais rápido. Podemos fazer isso amanhã.
— Snow... — Emma moveu o olhar para mim mais uma vez. Ainda parecia que ela queria me morder.
— Vamos, Bright. Ficar tomando café à noite toda não vai adiantar em nada — insisti.
Emma hesitou por um tempo, mas depois cedeu. O que me fez agradecer a Deus, eu não aguentava mais ela me olhando como se fosse me comer vivo.
— Está bem. Eu vou, mas trate de não arranjar nenhuma desculpa para não me ajudar amanhã. Temos até sexta para entregar isso tudo. — Ela arrumou suas coisas na bolsa e se levantou da cadeira.
Quando entramos no elevador, Emma subitamente ficou quieta. Estranho. Ela começou a se ajeitar no espelho do elevador e volta e meia o meu olhar se encontrava com o dela.
Lembrei-me de como o rosto dela estava com uma coloração bonita depois de gozar ontem.
Merda!
Parei de encará-la e não disse uma única palavra.
— Você está de carro? — Perguntei quando chegamos ao estacionamento.
— Hmm... Não. — Ela pensou? — Pode me dar uma carona? Afinal, você me tirou do trabalho.
— Claro. Vou buscar o carro.
Emma assentiu. Fui até meu carro, que estava estacionado à alguns metros de onde estávamos.
Devo admitir que ganhava bem na empresa. Tanto que consegui comprar um carro à vista juntando meu salário de três meses. Bom, não era um Audi R8, mas era um carro muito bom e ajudava na minha locomoção.
— Senhor Snow, eu acredito que minha porta estupidamente cara custa menos que esse seu carro. E você reclamando que ganha mal… — Ela brincou, sorrindo, assim que entrou no carro.
Humor vindo dessa mulher de repente?
Será que ela tem dupla personalidade?
— Nada que uma bela economia não resolva, senhorita Bright — respondi no mesmo tom.
Emma estava olhando para mim.
Por que ela estava olhando para mim?
— Para onde vamos? — Perguntei, virando o rosto.
Eu queria que ela parasse de me olhar, porque transamos ontem e não estávamos falando desse assunto — que ela parecia estar levando numa boa, enquanto eu estava me fazendo de garotinho apaixonado que não conseguia esquecer seu primeiro beijo.
— Kensington High St, Royal Garden — respondeu Emma.
Claro que ela moraria em um dos bairros mais nobres de toda Londres.
— Eu pensei que você morava com o seu pai na mansão Bright — comentei.
— Prefiro ter a minha própria casa.
— Ah…
E de quem era aquele quarto que a gente estava ontem?
Eu quis perguntar, mas achei melhor ficar calado e seguir a viagem.
Droga!
Eu não deveria ter fodido com ela.
Tudo bem, só passou um dia. Eu vou superar.
*O trânsito estava livre, então foi rápido chegar a Kensington. Sem contar que o bairro não ficava muito longe da empresa. Quando cheguei ao Royal Garden, saí do carro, dei a volta no veículo e abri a porta para a Emma.— Obrigado, Snow — ela disse saindo do carro.— Por nada — sorri brevemente. — Bom, até amanhã.— Você não quer entrar? — Emma perguntou antes que eu entrasse no carro.— Hã… — Olhei rapidamente para o relógio, era dez e vinte da noite, estava muito tarde. Mesmo assim, lá no fundo, fiquei tentado a aceitar. — Você tem que descansar, eu estaria incomodando…— Tomar uma taça de vinho não cansa ninguém, Snow. Vamos, essa é a minha forma de agradecer a carona. — Seu tom foi calmo. Também não notei nenhuma malícia nas entonações das palavras.Ponderei alguns segundos, observando a mulher com um sorriso mínimo nos lábios.— Está bem — aceitei por fim.Fechei a porta do
***Remexi-me na cama ainda sem abrir os olhos. Minha cabeça latejou com o menor movimento.Quando abri os olhos, demorou cerca de dois minutos para as imagens serem filtradas para meu cérebro e eu notar que não estava no meu quarto. Não estava nem na minha casa.Ah, merda!Tirei o lençol do corpo e vi que estava sem roupas.Completamente pelado.Merda! Merda! Merda!Sentei-me na cama e tentei pensar nas minhas últimas horas de consciência.O que foi que eu fiz?Lembrei de estar com Emma, na casa dela. Arregalei os olhos abruptamente, quando recordei que tinha bebido um pouco mais do que devia com a senhorita Bright.Antes que pudesse entrar em pânico, questionando-me o que mais eu fiz, escutei um barulho vindo da porta. Cobri-me rapidamente com o lençol.Uma mulher entrou no cômodo. Ela deveria ser mais velha, apesar de seus cabelos serem totalmente pretos, seu rosto denunc
*O movimento no restaurante estava bastante intenso. Assim que entrei, avistei Lan detrás da bancada, fui direto falar com ele.— Essa roupa valorizou bastante a sua silhueta — brinquei. Ele estava vestido com o uniforme de garçom.— Pode parar, Harry! Você sabe que a minha mãe me obriga a vestir essa droga de roupa quando o restaurante está cheio — reclamou.— Convenhamos né, Lan? Você está trabalhando.Meu amigo revirou os olhos longamente.— Qual é a glória de você estar aqui? — Indagou.— Não comi nada pela manhã, estou morrendo de fome.— Ok. Vou avisar a minha mãe. E… a última mesa foi ocupada por aquela moça. Acho que ela estava de reserva. Não sei, não me interesso por nada aqui mesmo — ele deu de ombros. Se a Joh
EMMA BRIGHT · semanas antes · — Senhorita Bright, pretende ficar com o assistente do senhor Vegar ou quer selecionar outro? — Perguntou Isabella, do RH.Eu mal tinha chegado a Londres e já estava sendo bombardeada com vários trabalhos e problemas.— O assistente do senhor Vegar é tão incompetente quanto ele? — Questionei, organizando algumas pastas na minha sala provisória.A mulher à minha frente ficou sem reação por um tempo.— Hã... Aqui está a pasta dele. — Ela me entregou os papéis. — Ele é formado em Administração na melhor faculdade aqui de Londres, e está aqui na Bright’s há cinco anos. Nunca houve reclamações, então acredito que ele é bom.Assim como o chefe do primeiro Setor?Abri a pasta com as informações do assistente. A primeira coisa que vi foi um par de olhos verdes como esmeraldas me encarando, uma foto do Harry Snow. Antes de terminar de ler as informações, um sorriso animado tomou conta do meu rosto.— Deixe-o comigo por enquanto — informei para Isabela, devolvend
— Emma… — Sua voz saiu rouca, mas ele não se afastou.— Está melhor assim ou você quer que eu continue? — Indaguei. Já decidida, sentei-me em seu colo, colocando uma perna em cada lado de seu corpo. Senti o volume (ele é rápido) e aproveitei o momento para fazer fricção.— Emma… — Agora foi um gemido.Calei sua boca com um beijo, movendo as minhas mãos para abrir sua camisa. Não demorou muito para Harry ser vencido e aproveitar o que estava acontecendo, seus dedos se emaranharam nos meus cachos, puxando-os moderadamente, enquanto seus lábios devoravam os meus com mais intensidade no beijo.Não fiquei muito tempo ali, pois queria ir para a melhor parte. Saí do colo dele e o puxei pela mão. Quando se levantou, Harry voltou a me beijar. Fui conduzindo-o até o meu quarto, sem pararmos de nos beijar
HARRY SNOWLondres, Inglaterra - UK - 2018A água do mar atingia os meus pés quando as ondas se desfaziam na areia. Não tinha uma pessoa sequer em lugar algum; nem à minha direita, muito menos à esquerda. Eu estava na praia sozinho. Entretanto, eu não estava preocupado com isso, a paz que eu tanto procurava estava ali. Só eu e a praia, mais ninguém. Deitei-me no chão, esparramando-me na areia, absorvendo toda a energia do sol e ouvindo o som das ondas. Estava tudo tranquilo..., até o som do mar ser substituído por um bip bip ensurdecedor. Cacete! Meu despertador.Então abri os olhos abruptamente e voltei à realidade. Foi apenas um sonho.Mais um dia comum na vida do assalariado.Minha cabeça latejou um pouco e eu ainda nem tinha me movimentado. Culpa da ressaca que eu ainda estava administrando.Tenho que parar de beber aos domingos.Passei as mãos pelos cabelos, para tirar os fios da minha testa, e, reunindo forças, me levantei da cama. Fui para o banheiro tomar banho. *Eu ini
***Fiquei no meu cubículo esperando minha nova chefe me chamar. Ainda não tinha trocado uma palavra com ela e confesso que estava ansioso por isso.Com certeza iríamos nos dar bem.A porta da sala, que antes era a do Mike, se abriu e Emma apareceu. — Harry Snow? — Ela me chamou com a voz amigável.— Aqui — disse, levantando-me da cadeira com uma velocidade desnecessária. — Você pode vir aqui, por favor?Assenti, caminhando em sua direção.Quando entrei na sala, Emma já estava sentada em sua cadeira. E por Deus! Ela era ainda mais bonita de perto.— Snow, eu gostaria de saber se você já enviou o contrato para o dono da Boate K'kiss — disse ela. Pude notar uma mudança significativa em seu tom de voz. Também não estava me encarando.— Enviei hoje pela manhã, como foi combinado. — Cancele. — O quê? — Acabei falando um pouco alto, devido ao susto. — Você é surdo? Eu disse cancele — repetiu ela, concentrada na tela do computador. Franzi o cenho, um pouco atônito.— Eu não posso faz
***— Levou uma surra? Meu Deus, que cara é essa? — Perguntou Lan. Não consegui ir direto para casa, fui para o restaurante da Joh, precisava comentar sobre a minha indignação com o meu amigo. — Antes fosse uma surra — murmurei com desgosto. — Essa é a cara de quem passou as últimas três horas com o cu sentado numa cadeira, escrevendo um relatório de cinco páginas com fonte Times New Roman, tamanho doze e texto justificado. Tudo para atender ao capricho de uma vaca. — Explica isso aí. — Ele deu a volta no balcão e se sentou ao meu lado. — Hoje eu fiquei sabendo que tenho uma nova chefe. Ela é a filha mais velha do senhor Bright, o dono da empresa. E é uma chata, insuportável, cretina… — Reclamei. — Logo no primeiro dia ela já me deu três relatórios para entregar em quatro dias. — Mas esse não é o seu trabalho? — Landon franziu o cenho.— Vai ficar do meu lado ou do dela? — Eu só estou fazendo uma pergunta.— Sim, Lan, esse é o meu trabalho. Porém, não costumo fazer esse tipo de