Minha Querida Chefe
Minha Querida Chefe
Por: Chagas
01

HARRY SNOW

Londres, Inglaterra - UK - 2018

A água do mar atingia os meus pés quando as ondas se desfaziam na areia. Não tinha uma pessoa sequer em lugar algum; nem à minha direita, muito menos à esquerda. Eu estava na praia sozinho. Entretanto, eu não estava preocupado com isso, a paz que eu tanto procurava estava ali. 

Só eu e a praia, mais ninguém.  

Deitei-me no chão, esparramando-me na areia, absorvendo toda a energia do sol e ouvindo o som das ondas. Estava tudo tranquilo..., até o som do mar ser substituído por um bip bip ensurdecedor. 

Cacete! Meu despertador.

Então abri os olhos abruptamente e voltei à realidade. Foi apenas um sonho.

Mais um dia comum na vida do assalariado.

Minha cabeça latejou um pouco e eu ainda nem tinha me movimentado. Culpa da ressaca que eu ainda estava administrando.

Tenho que parar de beber aos domingos.

Passei as mãos pelos cabelos, para tirar os fios da minha testa, e, reunindo forças, me levantei da cama. Fui para o banheiro tomar banho.  

*

Eu iniciava o trabalho um pouco mais tarde às segundas-feiras, às dez horas, então sempre tinha tempo de ir ao restaurante da mãe do meu melhor amigo, Landon Thompson, para tomar um delicioso café da manhã — a mãe dele também era melhor amiga da minha mãe.

Quando entrei no estabelecimento, encontrei meu amigo limpando o balcão principal.

— Bom dia, Lan — disse ao rapaz, sentando-me na banqueta, colocando o paletó e a maleta no assento livre ao lado. 

— Oi, Har… Minha nossa senhora! — Suas íris âmbares me fitaram com atenção. — Essa cara é por causa da bebedeira de ontem? — Foi mais uma censura do que uma pergunta.

Não achei que estava tão ruim assim.

— Não exatamente. Estou assim porque não dormi muito à noite… — Contestei. 

— Ocupado demais com a companheira noturna, não é? — Landon parou de limpar o balcão e colocou o pano sobre o ombro. — Cá entre nós… — Ele inclinou o corpo para frente, abaixando-se na altura da minha orelha. — Eu ainda acho que você deveria arranjar uma namorada e gastar o seu dinheiro com outra coisa. 

Não era novidade nenhuma para o meu amigo que às vezes — apenas às vezes — eu aderia ao sexo pago. E ele sempre pegava no meu pé por isso.

— Com o quê, por exemplo? — Indaguei.

— Com… — Ele olhou ao redor — Com comida! 

— Mas eu gasto com comida, fico satisfeito — pontuei. 

— Ter amigo pervertido é foda!  — Landou gargalhou.

— Olha só quem fala. — Dei risada. — Onde está a Joh? 

— Lá dentro — ele apontou para trás por cima do ombro. — Temos uma nova cozinheira, minha mãe quer olhar de perto o trabalho da garota. 

— Entendi — balancei a cabeça.

— Tacos? — Sugeriu, já acostumado com a minha rotina.

— Sim, mas dessa vez me dá em dobro, estou com muita fome. E com uma xícara de café bem forte, não posso aparecer no trabalho com essa cara lamentável.  

— Tacos com café… Arghn! — Ele fez cara de nojo.  

— É uma delícia, você devia experimentar.  

— Dispenso totalmente! — Gritou, indo para cozinha.   

***

Cheguei na empresa às dez e quarenta e cinco.

Atrasado. Passei um tempo desnecessário conversando com o Landon. 

Fui direto para a sala do Mike, o meu chefe — já decorando um discurso para o meu atraso. — Entretanto, a sala dele estava fechada.

Caminhei até o cubículo do Isaac, meu colega de trabalho.

— Onde está o Mike? — Perguntei ao homem. 

— Ainda não chegou — disse ele, inclinando-se na cadeira. 

— Sério? — Franzi o cenho. Mike não era de se atrasar.

— Sim. Ou, se ele chegou, não veio para cá. 

— Que bom. — Sentei-me na cadeira do meu cubículo, aliviado. 

— Se atrasou com o quê dessa vez? 

— O quê? Eu me atrasei? Não — debochei, cinicamente.

O homem bufou, mas não disse mais nada. Ciente de que os meus raros atrasos eram sempre por ficar conversando demais com o Thompson.

— Sabia que hoje vão apresentar a nova Presidente do Setor? — Disse ele de supetão.

— Qual setor? — Franzi o cenho, confuso.

— Não faço a mínima ideia — Isaac deu de ombros. — Ouvi as meninas do RH comentando, e pelo que soube, a nova Presidente será a filha do senhor Bright. 

— Sério? — Franzi o cenho mais uma vez. — A filha dele não estava em Paris?

— Pelo visto, não mais. A apresentação será à uma e meia. 

Achei tudo repentino demais, afinal era a filha do CEO da empresa — que ninguém nunca viu (na verdade, eu nunca vi), pois ela estava morando em Paris — assumindo um cargo importante na Bright Holdings. Porém, me abstive de comentários mais profundos.

*

Fiquei duas horas sem fazer nada — exceto por algumas vezes em que ajudava Isaac com alguns relatórios, não tínhamos o mesmo chefe, mas o trabalho era praticamente o mesmo. Mike não apareceu e ninguém do Setor sabia do paradeiro dele, então minha única opção era continuar esperando. 

À uma e meia da tarde, todo o pessoal se reuniu para a pequena cerimônia de apresentação da nova Presidente do Setor — que eu ainda não sabia qual era —, no auditório. No palco, estavam o senhor e a senhora Bright, algumas pessoas importantes na empresa, os sócios e os Presidentes de outros Setores.  

Apesar de muita gente no local, uma pessoa em particular me chamou a atenção. Ela estava conversando com o senhor Collon, o Presidente do Setor Seis. Usava saltos pretos bem altos, uma blusa de cetim prata — quando se tem uma irmã mais velha que cursa moda, você acaba aprendendo a reconhecer os tecidos — e uma saia preta bem justa do mesmo material. Seu cabelo era castanho escuro, todo cacheado, e sua pele era negra. Quando ela se virou em minha direção, mas não olhando para mim, pude ver seu rosto. Meu batimento cardíaco fraquejou. Ela era muito bonita. Muito mesmo. Seus olhos castanhos percorreram a multidão à sua frente, ela sorriu e voltou a atenção para o homem ao lado.

Eu não fazia ideia de quem ela era, nunca a vi na empresa. Certo que eu não conhecia todos da Bright Holdings, afinal a empresa era gigante. Mas uma mulher com uma beleza como aquela não passaria despercebida pelos meus olhos.

Minha atenção foi roubada pelo senhor Bright, que pegou o microfone na mesa e começou a falar. 

— Eu agradeço a todos que se deslocaram até aqui. Gostaria de adiantar para que isso não atrapalhe o trabalho de ninguém. Como alguns já sabem, a minha filha será a nova Presidente do Setor Um. — Era o meu Setor. — O senhor Mike Vegar foi transferido para o Setor Três. E…, o assistente do senhor Vegar se encontra?

Levantei minha mão, surpreso.

— Ótimo. Você será o novo assistente da Emma Bright. Filha, por favor, venha até aqui. — A mulher que estava ao lado do senhor Collon dirigiu-se até o senhor Bright. 

Cacete!

Ela não podia ser a Emma Bright, filha mais velha do senhor Bright. De acordo com as informações que eu tinha — obtidas após ficar vagando pelo RH —, a Emma Bright já estava caminhando para terceira idade — exagero da minha parte, a Bright tinha 33 anos —, e a mulher que eu estava vendo neste momento não tinha absolutamente nada de velha, parecia ter a minha idade.

— Oi, pessoal — disse a mulher com uma voz doce, acenando para a plateia.

Todos aplaudiram e saudaram com boas-vindas.

— Que sorte, hein? — Disse Isaac, ao meu lado. — A filha do CEO é a sua nova chefe. 

— Estou começando a amar o meu emprego — falei, sorrindo como um tolo. 

Era uma oportunidade e tanto na minha carreira trabalhar com a filha do dono da empresa, que obviamente seria a próxima CEO, mas não era só por isso que eu estava feliz.

— Todos já podem voltar para seus respectivos trabalhos, exceto os Presidentes — continuou o senhor Bright. 

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