Philip
Acordo com uma gritaria no andar de baixo, e sei que as crianças já estão acordadas. Desço para ver o estrago da casa. Desde que a minha irmã e minhas sobrinhas vieram para cá, a casa de manhã cedo é uma zona, como esperando, havia comida espalhada pela cozinha e vários brinquedos no chão. É difícil estar acostumado a viver sozinho e na paz do meu apartamento, e agora ter três bagunceiras para desorganizar tudo. Mas as amo, e sempre ajudo quando precisam. Respiro fundo depois da minha pequena reflexão e vou até elas. — Bom dia, dorminhoco — diz a minha irmã segurando a bebê Liz. — Quando voltar arrumo tudo, vou deixar a Liz na creche, pode levar a Laurinha para a escola? — Claro — falo depois de ser bombardeado com tanta informação. — E bom dia. Me despeço da minha irmã e depois vou até minha sobrinha que já espera sentada no sofá. — Vou só tomar um banho, pequena — aviso antes de me retirar. — Quando voltar não quero um brinquedo no chão. Subo as escadas até o meu banheiro. A minha irmã está passando uns dias por aqui, ela e meu cunhado sempre tem essas brigas onde ela ou ele saem de casa, mas dessa vez esse "tempo" que eles deram já está longo demais. Amo minhas sobrinhas e a minha irmã, mas gosto da minha privacidade e da minha casa organizada e silenciosa. A Laura é a minha sobrinha mais velha, e tem bastante energia, passo mais tempo com ela do que com a Liz, até porque a Liz ainda é um bebê. Desço as escadas e vejo que a Laura já pegou tudo do chão como pedido, agora a bagunça está encima dos móveis. Reviro os olhos. Já prevejo um dia caótico. Hoje a nova gestora vai chegar e tenho como certeza que já vem mandando e mudando tudo. Detesto mudanças. — Tio Phil — a Laurinha fala enquanto a coloco na cadeirinha do carro. — A mamãe falou que você nunca namorou, é verdade. — Mais ou menos isso — digo assim que termino de colocar o cinto nela. — Onde quer chegar com isso? — Na escola, ue — ela revira olhos como se fosse óbvio. — Estou me referindo a sua pergunta — sorri para ela. — Ah! Quero saber como você vai me dá um priminho se nem namorada consegue arrumar. — A senhorita está bem ousada, não acha? — era uma pergunta retórica, mas ela balança a cabeça negando. Dou a volta no carro e sento no banco do motorista, ligo o rádio e ela vai o caminho todo entretida com a música. Deixo ela na escola e corro para o trabalho, já estava atrasado. Entro praticamente correndo e esbarro em alguém. Me assusto quando sinto um líquido em mim, olho para mão da morena que segurava um copo de café, que por sorte, já estava no final. Ela pede desculpas e tenta limpar a sujeira, mas não consegui me concentrar no que ela fala, só consigo olha-lá, nunca a vi por aqui, ela tem os cabelos castanhos, assim como seus olhos, sua pele parece ter pegado bastante sol recentemente, mas não é um bronze exagerado. Saio do transe quando ouço ela falar. — Desculpa, sinto muito — ela diz desesperada. — Esquece — apenas digo. — Da próxima vê se enxerga por onde anda e não sai derramando líquido em ninguém. Ela olha para cima para poder me encarar. Meus olhos se enchem de raiva ao sentir finalmente, o líquido quente na minha barriga. — Tenho mais o que fazer do que perder tempo com você — eu digo. Apenas corro para o elevador e subo para minha sala, onde eu tinha outra camisa limpa. Me troco, sabendo que me atrasaria para reunião com a nova gestora. Entro na sala e me sento no lugar de sempre, quando olho para a pessoa a minha frente tive uma reação involuntária. — Você? — sorri. Quando percebo o que fiz, mudo o semblante. Para Philip, ela é sua chefe e você a odeia, nada de se apaixonar por esse rostinho bonito, afinal, ela deve te odiar também. --♡-- Depois da reunião vou direto para minha sala. Tento não pensar muito na reunião, pois já me deixa irritado. Que ela pensa que é para já chegar mudando tudo. Ainda por cima é grossa. Ouço o meu telefone tocar e o atendo de imediato. Ligação on. — Phil — minha irmã fala do outro lado da linha. — Oi Mônica — Aconteceu um acidente na escola, não posso ir buscar a Laurinha, será que você... — Já estou indo buscá-la, quando chegar lá te dou notícias. Ligação off. Saio desesperado até a escola e nem me lembro de avisar sobre a minha saída, mas sei que não terá problema, porque tenho bastante horas no banco de horas da empresa. Entro quase que correndo na escola atrás da minha pequena. — Sou o tio da Laura, ligaram para minha irmã, ela sofreu um assistente? — Calma senhor, a Laurinha está bem, só uma dor de barriga repentina e uns arranhões no joelho. Ele fala me levando até ela. Estava no lado de fora da diretoria. — Seu tio chegou Laurinha — a professora fala. — Depois diz para sua mãe vim aqui na escola, está bem? Ela concorda e agradeço a professora. — O que aconteceu? — Cai no pátio e ralei o joelho, e também acho que tomei leite estragado, minha biga tá doendo tio. — Vou te levar comigo e vamos cuidar disso, tudo bem? Ela balança a cabeça afirmando. Ligo para minha irmã, que fica mais tranquila ao saber que não foi algo tão grave, estava a caminho de casa quando ouço meu telefone tocar. Estaciono o carro e atendo a ligação. Era do trabalho, precisam de mim na empresa e não posso tirar o dia de folga. — O tio vai ter que trabalhar, promete se comportar, juro que não vou demorar — ela concorda. Volto o caminho em direção a empresa, quando chegamos, tiro ela da cadeira, pego na sua mão e adentramos no prédio que trabalho. Levo até minha sala, mas tinha outra reunião agora, então tive que deixá-la sozinha. Deixei ela brincando no meu tablete e fui para sala de reuniões. --♡-- Acabei nem podendo sair mais cedo hoje, e a Dani, uma das estagiárias da empresa, ficou com a minha sobrinha o dia todo. Quando pego a Laurinha, ela não estava mais com sua farda, ela estava vestida em um blazer, que com alguns ajustes coube bem nela. — Tio, seu trabalho é muito legal. — Fez o que hoje? — Pintei, a tia nova me ajudou no dever e ajudei ela no trabalho também, ela cuidou de mim e me deu o casaco dela, porque vomitei na minha farda. — A Dani fez isso tudo? — perguntei. Não sabia que a Dani sabia cuidar tão bem de criança. — Não né tio, a tia Dani foi embora e fiquei com a outra tia. — De quem está falando? — Da tia — ela para por um instante. — Esqueci o nome dela. Sorri com aquilo. — Tudo bem, outro dia você pergunta. Quando estávamos saindo, uma das meninas da recepção nos entrega a farda da Laurinha, e vi que estava limpa. — Acabou de chegar da lavanderia — ela diz percebendo minha estranheza. Fico um pouco confuso. Quem era a mulher que cuidou da minha sobrinha hoje? Continua... - - -♡- - -♡- - -♡- - -♡- - -♡- - -♡- - -♡- - - Beijos, Larissa.SarahAntes de ir ao trabalho passo na cafeteira perto do trabalho, sim, a cafeteira que ouvi meus novos colegas falando mal de mim. Peço um café expresso e um pão de queijo. Amo pão de queijo.— Aqui senhora — o atendente me entrega.— Grata — agradeço.Penso em apenas ir ao trabalho e comer lá, mas ao mesmo tempo, penso em ficar e socializar com as pessoas. Mas mudo de ideia assim que penso naquela garota falsa, Britney o nome dela. Reviro os olhos só de pensar.Vou ao trabalho, e lá realizarei minha refeição matinal, e dessa vez, tomo cuidado para não esbarra em ninguém.Assim que chego, subo ao meu escritório e sento na minha cadeira colocando o saquinho com o pão de queijo na mesa e o café no meu porta copos, na minha mesa também. Após me organizar, entre alguns goles de café, abro o saquinho onde o meu pão estava. Sorri logo que o vi.Uma curiosidade sobre o pão de queijo Sergipano. Ele é diferente a maioria dos pães de queijo do restante do país. Não digo todos, pois ainda n
SarahTerminamos de comer e eu peço a conta.Após pagar por nosso almoço, voltamos para o escritório. Ela estava super tagarela, brincamos, cantamos e conversamos o caminho inteiro. Acha que é cedo demais para me apaixonar por essa criança? Ela me lembra a minha afilhada, tão esperta quanto ela. Que saudade dela.Assim que chegamos ao escritório ela olha para mim com uma cara de dor.— Tia, minha biga tá doendo — ela fala alisando a barriga. — Vamos ao banheiro — digo pegando sua mão. Quando chegamos ao banheiro ela vomita tudo o que comeu. Seguro seu cabelo e a ajudo a se limpar depois. — Não deveria ter te dado macarrão, a Dani falou que você tinha passado mal na escola. — Acho que tomei leite estragado no café da manhã — ela resmunga enquanto a limpo. Coloco ela sentada no mármore da pia e limpo a sua farda que havia sujado de vômito. — Acho melhor trocar de roupa — digo vendo que o cheiro da roupa não está nada bem.— Só tenho essa roupa, tia. — Tudo bem, vamos dar um je
SarahAcordo cedo e vou me arrumar, em seguida arrumo todas as minhas coisas na mala novamente. Faço check-out no hotel antes de sair.Vou fazer a mudança antes de ir trabalhar, para ter o privilégio de chegar em um lar depois do trabalho e descansar. Um lugar que realmente parecesse um lar, e não um hotel, onde tinha estranhos circulando os corredores, e pouco espaço no quarto para respirar.Meus chefes disseram que escolheram especialmente para mim, imaginei que seria perto da casa da minha família, mas não, para minha sorte era um apartamento próximo ao trabalho, o que iria me poupar tempo.Subo com as malas após pegar a chave com o porteiro do prédio. É um lugar bonito, tem apenas uma torre, o que significa que são menos vizinhos para circular no hall do prédio, e o meu apartamento fica no 12° andar. — Lar doce lar — digo ao abrir a porta. O apartamento está todo mobiliado, e a decoração é igual a da minha casa em Aracaju. Fico surpresa. Mais aconchegante que isso, só estendo
Sarah O dia passou bem lento hoje, apesar de ter trabalhado muito. Esbarrei algumas vezes com o Philip e todas as vezes são desagradáveis, apesar de ser um colírio para os meus olhos. Saio do trabalho indo ao mercado fazer compras, e claro que não vou comprar muitas coisas, já que não sei cozinhar. Escolho algumas comidas congeladas e produtos industrializados, é com isso que irei me virar nos próximos dias.Ando mais um pouco pelo mercado, e chego na sessão de doce, fico olhando para a lata de leite condensado. Eu e a minha irmã amávamos comer brigadeiro de colher e assistir filmes juntas. Sorri com a lembrança.Penso em pegar a lata, mas recuo como se aquela lata fosse a Savana. Não falo com a minha irmã desde que sai de casa para morar em Aracaju. Depois da briga com meu pai ela ficou do lado dele, tentou me ligar algumas vezes, mas depois de uns meses nunca mais tive contato. Apesar de ter acontecido há anos, ainda me afeta.Me desfaço dessas lembranças e vou pagar os itens qu
Ele me olha e depois para as meninas, a Liz estava no sofá, que agora estava limpo, e brincava com o seu mordedor. Claro que rodeada de almofadas para não cair. A Laura estava a minha frente, em pé onde decidíamos o que iríamos fazer agora.— Devo ter entrado na casa errada — ele diz virando para sair. — Não seja bobo — Laurinha diz. Me admiro pela forma que ela fala com o pai. — O que está acontecendo aqui? — ele pergunta voltando a olhar para nós.— A Mônica, mãe das meninas, teve que sair e pediu para ficar com elas — respondi como se fosse óbvio. — Mas no meu apartamento? — ele aponta para si com a mão.— Ela ficou com medo do irmão dela chegar e não as ver aqui — digo. — Só esqueceu de avisar que o pai também era surtado - sussurro a última parte para apenas eu escutar.— Olha, arrumamos a casa — Laurinha fala quebrando o clima ruim que estava ali. — Falta a cozinha.Ele parece finalmente voltar a si.— Ficou muito boa — ele diz para a pequena. — A cozinha pode deixar comigo —
SarahFiquei com as meninas brincando na sala até o Philip voltar do banho.Seu perfume chegou invadindo todo o ambiente me deixando um pouco zonza. — Não ac... — espirro. — Acha que... — espirro novamente. — Está tudo bem? — ele pergunta preocupado.— Tá, é que... — mais uma onda de espirro. — Não parece bem, me deixe te ajudar — ele diz e se aproxima de mim.O cheiro do seu perfume ficou ainda mais forte quando ele se aproximou. Comecei a espirrar sem parar. — Foi a água que te deixou assim, não é? Acho melhor você trocar de roupa — ele diz.— Não... — espirro. — Seu perfume...— Você é alérgica? Não sabia — ele diz dando uns passos para trás. — Vou tomar banho de novo. — Não precisa — digo finalmente começando a respirar de novo. — É só ficar longe, o excesso vai já embora.Depois de falar isso, sinto que seu rosto muda de expressão, não estava mais preocupado, mas sim desapontado. — Ele ama perfume tia, a mamãe diz que ele exagera — Laurinha fala. — Acho que sua mãe tem raz
SarahEu voltei a cortar a salada e eles a fazer a parte difícil. O macarrão já estava no fogo e o Philip estava fazendo o molho caseiro. Tenho que admitir?, até que estava divertido fazer isso com eles.— Deixa eu experimentar — Laurinha diz se referindo ao molho que o Philip fez. Ela pega o seu banquinho e leva para perto do fogão, fica em pé sobre o banco e espera seu tio te oferecer. — Só um pouquinho — ele diz dando a colher para ela experimentar. Ela abre a boca para provar o molho e faz uma expressão contente ao provar. — Igual o da vovó — ela diz. — Quer experimentar, tia? — Obrigada, meu amor — agradeço e nego com a cabeça. Ele pega a colher de madeira e enche de molho e vem até mim.— Não precisa ficar vermelha — ele diz sorrindo fraco. — Pode experimentar. Abri a boca e ele despeja o líquido da colher. E nossa, que molho maravilhoso.Fecho os olhos para saborear. Assim que abro meus olhos, tem lindos olhos castanhos me olhando, eles estão me fitando de tal maneira
Philip Essa morena não sai da minha cabeça, além do mais, meus amigos não param de falar da Sarah, porque a Sarah fez isso, porque ela é linda, porque é muito inteligente. Ouço e vejo aquele rosto perfeito todos os dias, mas não esperava ver ela aqui no prédio. Não basta ser minha chefe, ainda mora no mesmo prédio, ou pior, ao lado do meu apartamento?Só pode ser uma piada. Aproveito que é final de semana e que não trabalhamos para correr um pouco, mas o que era para espairecer e me livrar desse mulher, teve efeito contrário, já que não parava de pensar nela. Ao invés de desocupar a mente, percebi que o melhor a se fazer é ocupar a mente com outras coisas diferentes dela.Quando cheguei em casa e vi a Sarah na minha sala com minhas sobrinhas quase que enlouqueço, só poderia está delirando, mas era ela.Percebi o rosto de alívio ao saber que eu era o tio da Laurinha e não o pai, me questiono o porquê, mas logo ela disfarçou. E coincidentemente, ela era a tal tia legal que a Laura nã