Capítulo 07

Sarah

O dia passou bem lento hoje, apesar de ter trabalhado muito. Esbarrei algumas vezes com o Philip e todas as vezes são desagradáveis, apesar de ser um colírio para os meus olhos.

Saio do trabalho indo ao mercado fazer compras, e claro que não vou comprar muitas coisas, já que não sei cozinhar. Escolho algumas comidas congeladas e produtos industrializados, é com isso que irei me virar nos próximos dias.

Ando mais um pouco pelo mercado, e chego na sessão de doce, fico olhando para a lata de leite condensado.

Eu e a minha irmã amávamos comer brigadeiro de colher e assistir filmes juntas. Sorri com a lembrança.

Penso em pegar a lata, mas recuo como se aquela lata fosse a Savana. Não falo com a minha irmã desde que sai de casa para morar em Aracaju. Depois da briga com meu pai ela ficou do lado dele, tentou me ligar algumas vezes, mas depois de uns meses nunca mais tive contato.

Apesar de ter acontecido há anos, ainda me afeta.

Me desfaço dessas lembranças e vou pagar os itens que escolhi.

Chamo o táxi e vou para minha nova casa, que tem a cara da minha casa antiga. Rir ao lembrar o que o meu amigo fez por mim.

Quando cheguei ao prédio, vejo uma pessoa entrar no elevador de serviço e grito para que ela segure a porta para mim.

Corro para entrar, o mais rápido que as sacolas pesadas permitem.

— Obrigada, bom ver que ainda existem pessoas boas por aqui — digo de costas para a pessoa que tinha segurado o elevador.

— Devo entender isso como um elogio? — ouço a voz do insuportável Philip.

— Só pode ser brincadeira — sussurro olhando para cima. Como se fizesse súplicas ao cara lá de cima. — Me lembrava de Porto Alegre maior e com pessoas mais agradáveis, mas encontrar a mesma pessoa grossa em lugares diferentes é o cúmulo — reviro olhos ainda sem olhar para o mesmo.

— Se não gosta da cidade pode ir embora, não queremos você aqui.

— Meu problema não é com a cidade e sim com você — digo virando para ele. — Posso te deportar de volta seja lá de onde veio?

— A princesa está bem alterada hoje — ele diz. — Tanto que nem apertou para que andar queria ir — ele diz.

— Não que seja da sua conta, mas meu andar é o mesmo que você vai — digo e viro de costas.

1, 2 e 3. Foi esse o tempo que levou para ele associar que moramos no mesmo prédio e andar.

— Ah — ele diz zangado. — Só pode ser uma piada — posso o ver revirar os olhos. — Devo ter pecados horríveis a serem pagos.

Respiro fundo e ignoro o que ele diz.

Paro no meu andar e saio.

Estou cheia de sacolas nas mãos e ainda tenho que pegar as minhas chaves. Tento fazer tudo sem soltar as sacolas, mas acabo me atrapalhando toda.

— A princesa não foi feita para carregar sacolas — ele diz e tira umas das minhas mãos. — Se o grosseiro aqui puder te fazer essa gentileza.

Não falo nada. Detesto quando estou errada e quando tenho que aceitar ajuda.

— Obrigada — digo obrigada a agradecer, graças a boa educação que recebi.

Pego minhas chaves e em seguida abro a porta.

— Tenha uma boa noite — ele diz e logo estende as sacolas, me devolvendo as minhas coisas. Em seguida entra na casa que hoje pela manhã vi a Laurinha sair.

Não sei por que, mas me desanimo ao constatar que esse deve ser o pai dela e que ele é casado com a Mônica.

— Não inventa, Sarah — digo a mim mesma. — Por que se importar com isso?

Me desfaço dos meus pensamentos e arrumo minhas coisas.

Coloco um dos congelados no forno e vou terminar de guardar o restante das compras.

Desligo o forno assim a comida fica pronta e vou tomar um banho.

Depois de um dia longo como esse, nada como um banho para relaxar.

Depois do jantar com o que preparei, vou ao meu quarto, que também é idêntico ao de Sergipe, e enfim eu durmo, nem tento desfazer as malas, sei que o cansaço não deixaria.

--♡--

Acordei cedo hoje, pois tinha muita coisa do trabalho para fazer. Meus últimas dias haviam sido assim, trabalho e mais trabalho. Com sorte, no fim, conseguiria alcançar o meu sonhado cargo.

Fazem exatos cinco dias que estou trabalhando aqui, já encontrei vários erros e quase desistir ao tropeçar nos problemas. Mas como toda guerreira, não fugi da batalha.

A semana mais longa da minha vida passou e tenho que confessar, estou muito feliz por hoje ser sábado.

Nem penso em fazer nada além de assistir, ler e dormir. Estou no meu limite de nível de cansaço.

Me levanto da cama e vou ao banheiro. Após um banho relaxante, como apenas uma fatia de pão é uma xícara de café.

Só penso em uma coisa, voltar para cama e só levantar na segunda. Mas tenho alguns papéis que queria adiantar.

São nove da manhã e ouço a campainha tocar. Atendo estranhando o motivo, pois não espero por ninguém.

— Bom dia vizinha — sorri ao ver a Mônica na minha porta. — Desculpa incomodar, é que estou sem muitas opções hoje.

— Quer entrar? Você não incomoda — digo gentil.

— Não posso demorar, as crianças estão sozinhas — ela diz. — Eu tenho que ir rapidinho no trabalho e não posso levar as garotas, meu irmão saiu para correr e estou na berlinda.

— Quer que eu fique com elas?

— Se não for pedir muito, serei rápida — ela fala apreensiva. Entendo que realmente sou sua última e até única opção.

— Claro que fico com elas, a Laura é um amor, vou amar conhecer sua outra filha.

Ela parece feliz e aliviada. Vamos juntas ao apartamento dela e peço licença ao entrar.

A casa estava uma zona, comida e brinquedos espalhados por todo canto, mas posso ver muito potencial nela, por baixo dessa bagunça toda tem um apartamento muito bonito.

— Me desculpa a bagunça — ela fala percebendo que os meus olhos percorrem todo lugar.

Ela me explicou que achava melhor ficar no apartamento dela, porque o irmão dela poderia voltar a qualquer momento e iria surtar se não as visse lá.

— Eu volto em uma hora no máximo — ela diz antes de sair.

Logo ela sai me entregando a pequena Liz nos braços.

Olho para baixo e vejo a Laurinha me olhar curiosa.

— Tia — ela diz me cumprimentando.

— Oi pequena — digo. — O que acha dá gente fazer uma surpresa para a mamãe e arrumar tudo?

— Sim! — ela grita animada. — Só não sei por onde começar — ela diz fazendo careta. Ri dela.

Ainda com a Liz nos braços começo a tirar os brinquedos do chão e guardar onde a Laurinha disse ser o lugar certo.

Depois dos brinquedos guardados e a sala arrumada, começo a pegar todos os pratos de comida e levo até um balcão que dividia a cozinha da sala. 

— O tio vai ficar muito feliz — ela diz.

— E o seu pai? — puxo o assunto por curiosidade, já que o vi ontem entrando no apartamento. 

Quando a mesma iria me responder a porta é aberta e vejo uma cara curiosa e confusa nos olhando. O Philip acabará de entrar.

Meu dia não tinha como ficar melhor — penso e me imagino revirar os olhos.

Continua...

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Beijo, Larissa.

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