Sarah
O dia passou bem lento hoje, apesar de ter trabalhado muito. Esbarrei algumas vezes com o Philip e todas as vezes são desagradáveis, apesar de ser um colírio para os meus olhos. Saio do trabalho indo ao mercado fazer compras, e claro que não vou comprar muitas coisas, já que não sei cozinhar. Escolho algumas comidas congeladas e produtos industrializados, é com isso que irei me virar nos próximos dias. Ando mais um pouco pelo mercado, e chego na sessão de doce, fico olhando para a lata de leite condensado. Eu e a minha irmã amávamos comer brigadeiro de colher e assistir filmes juntas. Sorri com a lembrança. Penso em pegar a lata, mas recuo como se aquela lata fosse a Savana. Não falo com a minha irmã desde que sai de casa para morar em Aracaju. Depois da briga com meu pai ela ficou do lado dele, tentou me ligar algumas vezes, mas depois de uns meses nunca mais tive contato. Apesar de ter acontecido há anos, ainda me afeta. Me desfaço dessas lembranças e vou pagar os itens que escolhi. Chamo o táxi e vou para minha nova casa, que tem a cara da minha casa antiga. Rir ao lembrar o que o meu amigo fez por mim. Quando cheguei ao prédio, vejo uma pessoa entrar no elevador de serviço e grito para que ela segure a porta para mim. Corro para entrar, o mais rápido que as sacolas pesadas permitem. — Obrigada, bom ver que ainda existem pessoas boas por aqui — digo de costas para a pessoa que tinha segurado o elevador. — Devo entender isso como um elogio? — ouço a voz do insuportável Philip. — Só pode ser brincadeira — sussurro olhando para cima. Como se fizesse súplicas ao cara lá de cima. — Me lembrava de Porto Alegre maior e com pessoas mais agradáveis, mas encontrar a mesma pessoa grossa em lugares diferentes é o cúmulo — reviro olhos ainda sem olhar para o mesmo. — Se não gosta da cidade pode ir embora, não queremos você aqui. — Meu problema não é com a cidade e sim com você — digo virando para ele. — Posso te deportar de volta seja lá de onde veio? — A princesa está bem alterada hoje — ele diz. — Tanto que nem apertou para que andar queria ir — ele diz. — Não que seja da sua conta, mas meu andar é o mesmo que você vai — digo e viro de costas. 1, 2 e 3. Foi esse o tempo que levou para ele associar que moramos no mesmo prédio e andar. — Ah — ele diz zangado. — Só pode ser uma piada — posso o ver revirar os olhos. — Devo ter pecados horríveis a serem pagos. Respiro fundo e ignoro o que ele diz. Paro no meu andar e saio. Estou cheia de sacolas nas mãos e ainda tenho que pegar as minhas chaves. Tento fazer tudo sem soltar as sacolas, mas acabo me atrapalhando toda. — A princesa não foi feita para carregar sacolas — ele diz e tira umas das minhas mãos. — Se o grosseiro aqui puder te fazer essa gentileza. Não falo nada. Detesto quando estou errada e quando tenho que aceitar ajuda. — Obrigada — digo obrigada a agradecer, graças a boa educação que recebi. Pego minhas chaves e em seguida abro a porta. — Tenha uma boa noite — ele diz e logo estende as sacolas, me devolvendo as minhas coisas. Em seguida entra na casa que hoje pela manhã vi a Laurinha sair. Não sei por que, mas me desanimo ao constatar que esse deve ser o pai dela e que ele é casado com a Mônica. — Não inventa, Sarah — digo a mim mesma. — Por que se importar com isso? Me desfaço dos meus pensamentos e arrumo minhas coisas. Coloco um dos congelados no forno e vou terminar de guardar o restante das compras. Desligo o forno assim a comida fica pronta e vou tomar um banho. Depois de um dia longo como esse, nada como um banho para relaxar. Depois do jantar com o que preparei, vou ao meu quarto, que também é idêntico ao de Sergipe, e enfim eu durmo, nem tento desfazer as malas, sei que o cansaço não deixaria. --♡-- Acordei cedo hoje, pois tinha muita coisa do trabalho para fazer. Meus últimas dias haviam sido assim, trabalho e mais trabalho. Com sorte, no fim, conseguiria alcançar o meu sonhado cargo. Fazem exatos cinco dias que estou trabalhando aqui, já encontrei vários erros e quase desistir ao tropeçar nos problemas. Mas como toda guerreira, não fugi da batalha. A semana mais longa da minha vida passou e tenho que confessar, estou muito feliz por hoje ser sábado. Nem penso em fazer nada além de assistir, ler e dormir. Estou no meu limite de nível de cansaço. Me levanto da cama e vou ao banheiro. Após um banho relaxante, como apenas uma fatia de pão é uma xícara de café. Só penso em uma coisa, voltar para cama e só levantar na segunda. Mas tenho alguns papéis que queria adiantar. São nove da manhã e ouço a campainha tocar. Atendo estranhando o motivo, pois não espero por ninguém. — Bom dia vizinha — sorri ao ver a Mônica na minha porta. — Desculpa incomodar, é que estou sem muitas opções hoje. — Quer entrar? Você não incomoda — digo gentil. — Não posso demorar, as crianças estão sozinhas — ela diz. — Eu tenho que ir rapidinho no trabalho e não posso levar as garotas, meu irmão saiu para correr e estou na berlinda. — Quer que eu fique com elas? — Se não for pedir muito, serei rápida — ela fala apreensiva. Entendo que realmente sou sua última e até única opção. — Claro que fico com elas, a Laura é um amor, vou amar conhecer sua outra filha. Ela parece feliz e aliviada. Vamos juntas ao apartamento dela e peço licença ao entrar. A casa estava uma zona, comida e brinquedos espalhados por todo canto, mas posso ver muito potencial nela, por baixo dessa bagunça toda tem um apartamento muito bonito. — Me desculpa a bagunça — ela fala percebendo que os meus olhos percorrem todo lugar. Ela me explicou que achava melhor ficar no apartamento dela, porque o irmão dela poderia voltar a qualquer momento e iria surtar se não as visse lá. — Eu volto em uma hora no máximo — ela diz antes de sair. Logo ela sai me entregando a pequena Liz nos braços. Olho para baixo e vejo a Laurinha me olhar curiosa. — Tia — ela diz me cumprimentando. — Oi pequena — digo. — O que acha dá gente fazer uma surpresa para a mamãe e arrumar tudo? — Sim! — ela grita animada. — Só não sei por onde começar — ela diz fazendo careta. Ri dela. Ainda com a Liz nos braços começo a tirar os brinquedos do chão e guardar onde a Laurinha disse ser o lugar certo. Depois dos brinquedos guardados e a sala arrumada, começo a pegar todos os pratos de comida e levo até um balcão que dividia a cozinha da sala. — O tio vai ficar muito feliz — ela diz. — E o seu pai? — puxo o assunto por curiosidade, já que o vi ontem entrando no apartamento. Quando a mesma iria me responder a porta é aberta e vejo uma cara curiosa e confusa nos olhando. O Philip acabará de entrar. Meu dia não tinha como ficar melhor — penso e me imagino revirar os olhos. Continua... - - -♡- - -♡- - -♡- - -♡- - -♡- - -♡- - -♡- - - Beijo, Larissa.Ele me olha e depois para as meninas, a Liz estava no sofá, que agora estava limpo, e brincava com o seu mordedor. Claro que rodeada de almofadas para não cair. A Laura estava a minha frente, em pé onde decidíamos o que iríamos fazer agora.— Devo ter entrado na casa errada — ele diz virando para sair. — Não seja bobo — Laurinha diz. Me admiro pela forma que ela fala com o pai. — O que está acontecendo aqui? — ele pergunta voltando a olhar para nós.— A Mônica, mãe das meninas, teve que sair e pediu para ficar com elas — respondi como se fosse óbvio. — Mas no meu apartamento? — ele aponta para si com a mão.— Ela ficou com medo do irmão dela chegar e não as ver aqui — digo. — Só esqueceu de avisar que o pai também era surtado - sussurro a última parte para apenas eu escutar.— Olha, arrumamos a casa — Laurinha fala quebrando o clima ruim que estava ali. — Falta a cozinha.Ele parece finalmente voltar a si.— Ficou muito boa — ele diz para a pequena. — A cozinha pode deixar comigo —
SarahFiquei com as meninas brincando na sala até o Philip voltar do banho.Seu perfume chegou invadindo todo o ambiente me deixando um pouco zonza. — Não ac... — espirro. — Acha que... — espirro novamente. — Está tudo bem? — ele pergunta preocupado.— Tá, é que... — mais uma onda de espirro. — Não parece bem, me deixe te ajudar — ele diz e se aproxima de mim.O cheiro do seu perfume ficou ainda mais forte quando ele se aproximou. Comecei a espirrar sem parar. — Foi a água que te deixou assim, não é? Acho melhor você trocar de roupa — ele diz.— Não... — espirro. — Seu perfume...— Você é alérgica? Não sabia — ele diz dando uns passos para trás. — Vou tomar banho de novo. — Não precisa — digo finalmente começando a respirar de novo. — É só ficar longe, o excesso vai já embora.Depois de falar isso, sinto que seu rosto muda de expressão, não estava mais preocupado, mas sim desapontado. — Ele ama perfume tia, a mamãe diz que ele exagera — Laurinha fala. — Acho que sua mãe tem raz
SarahEu voltei a cortar a salada e eles a fazer a parte difícil. O macarrão já estava no fogo e o Philip estava fazendo o molho caseiro. Tenho que admitir?, até que estava divertido fazer isso com eles.— Deixa eu experimentar — Laurinha diz se referindo ao molho que o Philip fez. Ela pega o seu banquinho e leva para perto do fogão, fica em pé sobre o banco e espera seu tio te oferecer. — Só um pouquinho — ele diz dando a colher para ela experimentar. Ela abre a boca para provar o molho e faz uma expressão contente ao provar. — Igual o da vovó — ela diz. — Quer experimentar, tia? — Obrigada, meu amor — agradeço e nego com a cabeça. Ele pega a colher de madeira e enche de molho e vem até mim.— Não precisa ficar vermelha — ele diz sorrindo fraco. — Pode experimentar. Abri a boca e ele despeja o líquido da colher. E nossa, que molho maravilhoso.Fecho os olhos para saborear. Assim que abro meus olhos, tem lindos olhos castanhos me olhando, eles estão me fitando de tal maneira
Philip Essa morena não sai da minha cabeça, além do mais, meus amigos não param de falar da Sarah, porque a Sarah fez isso, porque ela é linda, porque é muito inteligente. Ouço e vejo aquele rosto perfeito todos os dias, mas não esperava ver ela aqui no prédio. Não basta ser minha chefe, ainda mora no mesmo prédio, ou pior, ao lado do meu apartamento?Só pode ser uma piada. Aproveito que é final de semana e que não trabalhamos para correr um pouco, mas o que era para espairecer e me livrar desse mulher, teve efeito contrário, já que não parava de pensar nela. Ao invés de desocupar a mente, percebi que o melhor a se fazer é ocupar a mente com outras coisas diferentes dela.Quando cheguei em casa e vi a Sarah na minha sala com minhas sobrinhas quase que enlouqueço, só poderia está delirando, mas era ela.Percebi o rosto de alívio ao saber que eu era o tio da Laurinha e não o pai, me questiono o porquê, mas logo ela disfarçou. E coincidentemente, ela era a tal tia legal que a Laura nã
PhilipPenso no que dizer, não poderia contar a ela que penso nela quando estou sozinho, com pessoas, com a mente vazia, ou até com a mente cheia.— É... bem... — começo a gaguejar. Ela cruza os braços na altura do peito e fica me encarando. Do nada ouço um barulho, estranho e busco o lugar de onde veio, mas percebo que era ela assim que ela põe uma das mãos na barriga alisando. — Ainda não almocei — ela diz sem graça. — Ainda tem um pouco da lasanha da vovó — digo dando de ombros. — Vamos entrar que te sirvo.Digo e abro a porta do meu apartamento dando espaço para que ela entre. Ela parece relutante com a ideia, mas sua barriga ronca de novo a fazendo entrar. — Não quero incomodar — ela diz sem graça.— Está tudo bem, afinal, você também ajudou a fazer — pisco para ela, o que a deixa vermelha. Ela me segue para cozinha e senta na bancada.Coloco a lasanha que sobrou no microondas para ela. Ficou um silêncio constrangedor enquanto esperamos esquentar, mas logo ela o quebra. — S
Sarah Caminho até o restaurante com a barriga clamando por um pouco de comida, mas assim que entro no estabelecimento e vejo a minha tia, a fome some, e só penso em uma coisa: tenho que sair daqui.Logo eu dou meia volta tentando sair antes que ela me visse, mas já era tarde demais.— Oh, Sarah? — ela me vê e parece surpresa, mas não tão surpresa. Ela vem até a porta do restaurante, onde eu ainda estava.— Tia Safira — dou um meio sorriso tentando parecer surpresa em vê-la ali. Na verdade eu até que estava surpresa, mas uma parte de mim sabia que mais cedo ou mais tarde esse encontro iria acontecer.— Não faz essa cara comigo — ela diz e revira os olhos. — Você me lembra tanto a sua mãe, vem cá — diz ela me puxando para um abraço, ignorando totalmente o quão estranho era nos ver depois de tantos anos.A tia Safira sempre foi muito próxima da família, ela era irmã da minha mãe e depois que nossa mãe faleceu, a tia Safira se tornou o exemplo mais próximo de mulher para mim.— Por que
SarahPassar a tarde com o Philip foi surpreendente bom, até que ele não é o gaúcho grosseiro que pensei, é até adorável. Acho até que ficar com meus vizinhos hoje foi o ponto alto do meu dia.Volto para casa assim que a Mônica volta, ela não parecia muito bem e não quero me intrometer na vida deles. Assim que consigo sair, venho para o meu apartamento.Olho ao redor e entristeço em perceber que estou sozinha de novo.Ligo a TV e nada está passando na TV aberta, nenhuma programação me interessa. Pego um livro para ler, mas passa um mosquito e logo me perco nos pensamentos de novo. Resolvo ligar para o Antony, falar com eles sempre é a melhor opção a se fazer.Ligação on.— Lembrou que tem família? — fala Antony ao atender o telefone.— E você lembra de mim quando? — questiono ao perceber que ele pouco me liga.— Vocês dois são uns desnaturados. Se não sou eu para ligar, a gente nunca se fala — Sami entra na conversa.— Oi Sami.— Oi Sarah, me conta as novidades do seu amigo bonitão d
SarahAssim que acabou o meu horário de expediente sai quase que correndo, para não ficar nem um segundo a mais ali. Depois de um mês intenso de trabalho, só quero minha cama, minha casa, meu cantinho para descansar.Chego em casa mais rápido que o comum, na verdade, nem sei como consegui chegar de tão cansada que estou. Chego já tirando os sapatos, casaco e a bolsa, depois vou direto para pia do banheiro e lavo as mãos, sem ao menos tomar um banho e trocar de roupa, vou direto para a cozinha.Hoje irei fazer um doce de leite, passei o dia desejando isso, ou seja, ou como esse doce hoje, ou ficarei até mesmo louca.Pego os ingredientes e começo a misturar. Não sou boa na cozinha, mas até que com doce eu sei me virar. Pelo menos, nunca me queimei ou queimei algo, quando estou fazendo meus doces.Não demorou muito para eu terminar, e quando vou colocar no recipiente para deixar descansando, ouço a campainha. Assim que ouço vou atender a porta. Sabia que iria ser um dos vizinhos, já q